Ela foi ao jardim, apropriando-se da terra fofa dos canteiros para fincar a ponte de seus dedos ao solo, um cintilar verde emanou dos trapézios em acelerada movimentação as pontas de suas unhas. Não muito tempo após um pequeno tremor recorreu por debaixo daquele plano, fazendo o corpo de Aurora alçar-se apoiada numa enorme raiz de planta que crescia pela coluna do castelo.

A magia ascendeu a curiosa até onde ela queria ir, deixando-a em bom suporte para andejar sobre o teto, o barulho de suas sapatilhas sobre os tijolos denunciaram rapidamente a Rex a presença de mais alguém em seu recanto. Ela pode ver o rei virando de canto — não o suficiente para se encararem — e sorrindo logo após, voltando a cabeça para a direção anterior.

Delicadamente ela caminhou, com medo de escorregar naqueles pedaços empoeirados, ou até mesmo de quebrá-los.

"Ai! Ai! Ai." Eram as únicas coisas ditas pela medrosa.

Conseguiu sentar-se próxima ao rei, esticando suas pernas para o beiral e deixando-as soltas, penduradas exclusivamente por suas articulações.

— Estamos encrencados? — Inocentemente deu um sorriso falso ao seu mestre, tentando cortejá-lo com sua doçura.

— Estarão se continuar com essa cara — Rex sorri — Você deve ser péssima contando mentiras.

— É... — Aurora fecha a cara — Já me disseram isso...

— Mesmo que não tenham vindo a aula, não significa que deixaram aprender, é nítido nas auras de vocês uma singela evolução. Por isso estou em paz. — Rex respirou fundo, puxando todo o ar para seus pulmões, forçando o úbere soerguido como um leve toque de força sobre seu torso. Soltando-o por consequente — Está bem?

Aurora refletiu sobre seu atual estado, no que havia passado e no primeiro e último encontro com seu pai. Da raiva esboçada e a velocidade de um encontro familiar — que para ela — teve o único valor de seguir adiante.

— O que fazem os símbolos? — Ela mostrou a Rex o seu braço com a simbologia tribal de Gasoc e a posta por seu pai.

— Você possui dois? Isso é bem interessante... — O domador de fogo segurou delicadamente nos braços da jovem — Os símbolos são liberadores de fluxo, auxiliam na facilitação para uso de magia. Colocado em um ponto onde você constantemente usa do fluxo. Auxilia na amplificação e liberação de energia para que o poder de seu ataque, ou defesa, seja mais eficiente.

— Você tem nas costas né? — Ela tocou nas costas nuas de seu mestre, detalhando com o toque o desenho da fênix que o cobria como uma pintura.

— É porque o meu fluxo de impacto surge no diafragma, e os músculos que mais utilizo para execução das magias são o romboide maior — Ele colocou levemente o dedo sobre a parte de trás do tecido de sua aluna, indicando onde ficava, pressionando no mediano do tronco da garota. — E o levantador de escápula. — Desta vez pressionou próximo à espinha cervical.

— Incrível! — Instintivamente ela sorriu e olhou para seus braços. — Então isso significa que meu maior ponto de concentração está por aqui?

— Sim! — Delicadamente o homem toca sobre a palma de sua aluna — Você usa as mãos de Soperico, é um tipo utilitário de magia um pouco mais complexa e mais difícil devido à esquematização dos músculos. Quanto mais músculos você utiliza para expor da magia, mais difícil é do fluxo se coordenar de uma maneira em que possa expelir todo seu poder. O ponto no seu pulso faz com que suas magias estejam conectadas a cada músculo vinculado a ponta de seus dedos.

— Então eu... — Se espantou consigo mesma — USO DE DEZ MÚSCULOS?

— Na verdade, há dezessete em suas palmas, e dezoito no antebraço. — Rex riu da surpresa da jovem — Só a sua família faz essa atrocidade, é muito complexo para qualquer mago usar de tantas fontes.

Faltou apenas brilhar seus olhos de tanto orgulho que emanou em seu corpo.

Família

A palavra tocou na mente como um singelo timbre de emoções e revoltas, recordou-se da infância ao lado de seus avós, até o trágico dia do perecimento deles. Das aventuras com o lobo preto, e do reencontro aprazente com a garota que ama. Aurora sentiu-se tocada por cada sentimento antigo de entrelaço aos novos. A felicidade tocou a calma, assim como o desespero tocou a paz, além do toque da surpresa junto a saudade. Por fim, o medo que tocou o amor.

— O senhor está bem? — A garota perguntou tímida, talvez algo que o próprio Rex não esperava, um questionamento que há muito tempo não ouvira.

O rei contemplou a paisagem — Quando sai da guerra e da carnificina de Danagor, procurei um lar. Contudo, onde poderia achar um lar? Cometi mais atrocidades do que imaginava ter feito, sem as mortes, seu mestre não passava de um simples pedaço vazio. Até vim a Myan, acolhido por algumas pessoas, desprezado por outras. Um império tão destruído como a minha alma, então decidi fazê-lo ser algo novo, um lugar mais acolhedor, para pessoas que amam como amo, e como você ama. A questão é que ainda existem coisas em meu passado mal resolvido. Coisas que eu ainda devo executar...