𝕸𝖊𝖚 𝕾𝖆𝖑𝖛𝖆𝖉𝖔𝖗
-Há quanto tempo você e Morpheus se conhecem?
Mirante finalmente começa a primeira rodada de suas perguntas, curiosa para saber mais sobre aquele misterioso e carrancudo rapaz. A jovem balançava suas pernas, um pouco inquieta, tentando conter sua ansiedade que se tornava cada vez mais crescente. Ela cruzava seus dedos, torcendo para que ele a respondesse.
Contudo, o homem apenas a "responde" olhando brevemente para ela, antes de se concentrar completamente em seu próprio copo de água. Como se pouco se importasse com suas dúvidas.
-Ah...Isso faz muito tempo. Muito tempo mesmo.- Morpheus responde sua pergunta, não querendo a deixar sem respostas.
A moça assente, balançando sua cabeça de forma afirmativa ao ouví-lo, porém um pouco irritada com Marduk. Seu semblante se tornava colérico, ao mesmo tempo em que ela fincava suas unhas negras na carne de sua perna, torcendo para que não sangrasse, embora houvesse pressão.
Persistente, ela então decide interrogá-lo novamente, mas dessa vez em relação à algo pessoal, algo que poderia o deixar envergonhado ou orgulhoso dependendo de sua situação. Ela agora o chamaria por seu nome, para que ele não houvesse escolhas e pudesse a responder:
-...Marduk...Você também consegue se transformar em kanshin? Por que pelo o que eu sei a maioria de nós meio-humanos consegui...
-Desde quando o jantar virou um interrogatório?!
Marduk aumenta seu tom de voz, a interrompendo antes de terminar sua frase, ele lança um olhar quase mortal para a garota, querendo dar um basta em todas aquelas indagações.
No fim das contas, Mirante o obedece e se cala, temendo o pior, ela fica cada vez mais pálida, com seus olhos claros amedrontados.
Por outro lado, o homem desvia seu olhar, voltando a comer normalmente, com seu semblante rabugento.
Um silêncio desconfortável se segue na mesa, até que Morpheus pergunta à jovem:
-...Bom... De onde você veio, senhorita?
A meio-humana demora para responder, ainda encarando Marduk de forma atônita, até que ela encara e responde o senhor:
-Nasci e cresci aqui em Infertile Lands...
A garota então volta seu olhar para o prato de comida, agora completamente vazio, as mechas de cabelo caíam em seu rosto.
-Oh...Julgando pela sua mala, pensei que fosse de fora!
-Ah, não!...É que eu decidi sair da casa de uma amiga minha para...Encontrar um novo lugar para me instalar...
Ela diz levantando sua cabeça e encarando Morpheus. A meio-humana completa:
-Eu ainda não tenho grandes ideias do que fazer e para onde ir...
A jovem, em tédio, pega seu garfo e começa a brincar, balançando ele, quase como um gato que brincava com sua presa.
-Hm...Você pode ficar aqui pelo tempo que quiser.
Aquele corvo kanshin, sorri de forma agradável, fazendo com que Mirante arrumasse sua postura e também retribuísse o sorriso, ao receber o convite do senhor.
-Eu...agradeço, Sr. Morpheus!
×××⚔×××
O jantar continuou por mais um tempo, em meio ao silêncio da cozinha, até que o barulho de um sino pôde ser ouvido, extraindo a quietude do local, fazendo com que todos que estavam à mesa, olhassem surpresos em sua direção.
Seriam intrusos? Kanshins?
-Morpheus. -Marduk o chama, também curioso.
-Fiquem aqui. Eu atendo.- Morpheus finalmente se pronuncia, se retirando da mesa com uma rara seriedade em seu olhar.
Sem demoras, ele logo parte, deixando os dois jovens, a sós.
Porém, Mirante não parecia se preocupar com o ocorrido por muito tempo, voltando seu olhar para Marduk, cruzando os dedos de suas mãos que estavam na mesa e virando seu rosto para ele:
-Bem...Agora que o jantar acabou, podemos abrir o interrogatório?
Marduk olha sério para ela, estando ainda sentado à mesa:
-O que?- Ele questiona, a encarando enquanto segurava seu copo.
-...Você não acha que eu deveria saber mais sobre o meu "salvador"? Ou seja, mais sobre você? Nem nos conhecemos muito bem, ainda...
Mirante responde, seus olhos brancos brilhantes encaravam os olhos laranjas e sombrios do homem.
-...Salvador? Ha ha...Me poupe. -O rapaz debocha, se levantando e indo em direção a pia de pratos.
A garota, o encara partindo, com uma expressão derrotada e um pouco impaciente. Ela decide se levantar da cadeira e o acompanhá-lo, levando os dois pratos consigo para a pia, ficando ao seu lado:
-Olha...por que você não quer conversar comigo? Eu te garanto que eu não sou tão ruim quanto você pensa...
-Ah....- O homem suspira, já não aguentando mais estar ali. - Deixe os pratos aí, eu lavo...
Ele praticamente a ignora.
Mirante ficando cada vez mais irritada, cerra seus punhos, e dá uma leve cotovelada em seu ombro, o que faz com que ele se afaste levemente, surpreendido com sua atitude impulsiva.
-Ei. Por que fez isso?!- Marduk finalmente volta toda a sua atenção para ela, a encarando com olhos flamejantes.
A jovem dá de ombros, sorrindo de forma travessa, ao receber o que queria:
-Hm...eu não sei, talvez por que eu tive vontade de fazer isso, já que você estava sendo chato!
Após um minuto de silêncio por parte de Marduk, ele se manifesta:
-....O que eu tenho que responder para você me deixar finalmente em paz? -Ele responde enquanto se concentrava em lavar os pratos, sem a encarar.
Mirante parece refletir por um momento em silêncio, coçando seus cabelos, os remexendo:
-O que você realmente queria de mim quando me salvou?...
Marduk para de repente, pensando brevemente antes de responder.
-Eu já não disse? Eu queria algo seu em troca. Ninguém em Infertile Lands é idiota pra deixar uma oportunidade dessas passar.
-Algo meu?...
Ela indaga, sua voz surpresa, enquanto seus olhos o encaravam:
-Mas, como assim algo meu?
Marduk parece impaciente.
-Éh...Algo...Algo que você tenha de mais precioso. -Ele esclarece, quase como um impulso.
Mirante coça seus cabelos novamente, agora arrependida de suas perguntas, soltando um longo suspiro, ela assente e se vira, correndo em direção ao seu quarto, e fechando sua porta.
Marduk para de lavar os pratos e os outros utensílios de cozinha por alguns instantes, ainda de costas para a garota que havia sumido, contudo, ele conseguia ouvir a porta se abrindo novamente e os passos que se aproximavam lentamente em sua direção, passos desconfiados, quase que incertos de suas escolhas.
Mirante então chega ao seu lado com passos incertos, segurando em suas mãos que tremiam de anseio, o pequeno violino de família que ela havia escolhido como presente para o rapaz, a única coisa que ela havia imaginado que poderia ser uma recompensa digna para ele, pois ela não havia muitas opções:
-Para você...
Ela fecha seus olhos que queriam cair em lágrimas, se curvando para ele, como um ato de respeito e gratidão:
-Isso era algo muito importante para mim...
Ele então se vira para ela, encontrando-a naquele estado lamentoso:
-...Um violino quebrado? Isso é o que você tem de maior valor?
Ele cruza seus braços, enquanto olhava para a garota, com um olhar não muito convencido.
Mirante fica estressada e solta um breve suspiro, revirando seus olhos, logo, ela começa a mexer em um dos bolsos de seu vestido branco, enquanto ela dizia:
-Eu já sabia que você iria recusar...então eu tenho isso, caso você não goste de instrumentos musicais com valor sentimental.
A meio-humana tira e segura em suas mãos, uma maçã velha e apodrecida, a mesma fruta roubada que foi a razão de ela ter sido envenenada e levada para lá.
Marduk estreita os olhos, já impaciente com a garota.
-Ah...! Que seja...-Ele diz pegando o violino.
Mas havia algo de errado.
Ao pegá-lo, o rapaz sente algo se debatendo dentro do instrumento. Olhando confuso para o item, um curioso e atrevido "rato" sai de dentro da abertura em F do objeto e sobe rapidamente na mão de Marduk.
-QUE PORRA..?!
Ele grita, derrubando o instrumento, atordoado com a pequena e audaciosa criatura que cai no chão de madeira, correndo desesperado pelo chão, enquanto Marduk o perseguia dando pisões e falhando em acertá-lo.
Mirante se apavora não apenas pelas atitudes de Marduk, mas também com a presença daquele indefeso bichinho que não deveria estar ali, ela então grita:
-Não, não, não! Pare com isso, seu retardado!
Ela fica em sua frente, bloqueando sua passagem, enquanto o ratinho se escondia em baixo de um móvel.
-É apenas o Kodi!
-O QUE?!- Ele fica um pouco alterado, principalmente ao ser cercado por Mirante.
A garota o encara por um momento, sem o responder, e se vira para o local onde o rato havia se escondido, se agachando:
-Eu sei que você tá aí, só...saia logo!
A jovem o chamava, estralando seus dedos diversas vezes. Em pouco tempo, aquele pequeno roedor sai de seu esconderijo, encarando os dois jovens de maneira assustada e desconfiada. Contudo, Mirante o acaricia, fazendo com que ele se derretesse, fechando seus olhinhos por um momento, apreciando o afeto, até que ele sobe em sua mão de maneira rápida:
-Kodi é o meu musaranho de estimação...
A moça se dirige para Marduk, mostrando a criaturinha, agora relaxada em suas mãos.
Entretanto, o homem se afasta enquanto franze o cenho.
-Ko...-Ele interrompe com um suspiro. -Olha, eu realmente não quero saber...
Ele levanta seus braços, como se sentisse nojo.
A confusão não dura por muito tempo, logo, o som da velha maçaneta rompe a tensão do quarto e Morpheus entra olhando com curiosidade:
-Está tudo bem por aqui?...
Mirante ao ver Morpheus, rapidamente esconde o musaranho em seus bolsos, que a repreende soltando um ruído irritado. A jovem tenta se explicar escondendo suas mãos atrás das costas:
-Está...foi só uma confusão com um violino...
-Está tudo ótimo... -Palavas firmes saem da boca de Marduk.
-É apenas essa pirralha que não consegue nem segurar um violino direito.- Ele desdenha, desviando seu olhar de Mirante.
Tentando tratar tudo aquilo de maneira cômica e leve, disfarçando a confusão que os dois tiveram, Mirante se aproxima de Marduk e dá um abraço nele, rindo como uma jovem criança:
-Hahaha, diz o outro que teve medo de um pequeno musaranho!
Ainda assim, a moça se aproxima do ouvido do rapaz e cochicha:
-Finja que está tudo bem mesmo...
Os olhos do homem se voltam para a garota, o brilho do olhar dele era cheio de algo indecifrável:
-Rhm...-Ele ri com a boca fechada.
Em seguida, ele coloca uma de suas mãos na cabeça de Mirante e a empurra levemente para longe dele.
-Só uma maluca para adotar um rato de rua como bichinho... - O tom irônico em sua voz era evidente mas ainda carregava um pouco da sua raiva habitual.
Porém, Morpheus olha para eles com um olhar não muito convencido:
-Ah... Bom, vocês estão bem grandinhos para brigarem como crianças.
A jovem mestiça se afasta do "abraço" e encara o kanshin, com um olhar meio arrependido, cruzando os braços:
-É...sim
O kanshin em resposta, solta um longo suspiro, e de forma abatida, continua:
-Seja como for, só tentem fazer um pouco de silêncio por hoje...
Marduk olha de modo curioso para Morpheus, ao reparar em sua mudança de expressão, Mirante encara ambos por um momento e também nota, preocupada, ela questiona:
-Morpheus...está tudo bem?
-Ah... Está tudo bem. A enxaqueca é bastante comum em uma mente velha...
O senhor então sai da vista dos dois, batendo à porta de seu quarto do outro lado do corredor, sem se despedir.
-Você...poderia me mostrar o esconderijo meio-humano, como nós combinamos, amanhã?
Mirante pergunta para Marduk, se virando para ele, parecendo bastante ansiosa, enquanto cerrava suas próprias mãos.
O homem entretanto, coça levemente seu pescoço com seu rosto expressando impaciência:
-Não vou estar aqui amanhã...
Ao reparar bem, Mirante percebe que havia algo de estranho nele, algo que brilhava discretamente entre sua nuca e garganta:
A moça se aproxima e observa as estranhas e fascinantes escamas escuras que ali haviam, elas se misturavam com pequenas gotículas de sangue que se formavam aos poucos:
-O que é isso?...V-você é metade lagarto?
A garota parecia interessada e impressionada, prestes a tocá-las.
Surpreso, o rapaz desfere um leve tapa na mão de Mirante, afastando seus dedos:
-Quem você pensa que é para me tocar assim?- Ele pergunta sério e irritado, enquanto tampava seu pescoço de seus olhos.
Entretanto a garota não o responde, o que faz com que os olhos de Marduk se estreitem, encarando-a durante um bom tempo, enquanto ela encarava o chão, sem saber o que responder.
Ele suspira com irritação, cansado da demora de Mirante e se vira para a porta de seu quarto, sem soltar uma única palavra.
Porém, ao chegar na saída, ele se escora no batente da porta, segurando sua cabeça com uma das mãos.
Mirante, ao ver o declive do rapaz, o observa, e incomodada, ela vai em sua direção:
-Ei!...Está tudo be...?
Antes que ela pudesse terminar de falar, Marduk de repente fecha a porta em sua cara. O som do impacto ecoa por toda a casa, e depois o único som que resta é do silêncio.
A meia-humana fica atônita, mas não insiste, se voltando para o violino que estava caído no chão da cozinha e observando Kodi em um de seus bolsos, que agora cochilava tranquilamente. Ela então pega aquele violino, o reparando, e suspira ao ver que uma de suas cordas estavam arrebentadas:
-Maldição...
Ela olha para a porta do quarto por alguns minutos, e arrumando seus cabelos, fazendo uma trança simples, ela vai em sua direção, para entregar o presente para o "Salvador". A garota andava calmamente, sem fazer barulhos.
Assim que ela empurra a porta o barulho das dobradiças rangendo se tornam evidentes. Ela olha para dentro com o olhar baixo, ainda sobre o violino, mas assim que ela levanta seu olhar...
Não era um homem que estava lá, ou pelo menos, não totalmente...
×××⚔×××
Para quem não conhece, este aqui é o Musaranho-Elefante!
Eles possuem esse nome por conta do formato de seu nariz, que é comprido como de um elefante. Eles são bem pequenos tendo em média, 10 a 30 cm de comprimento. E são nativos da África!
ੈ✩‧₊˚E aí? O que acharam do novo capítulo?
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