13
DÉCIMO TERCEIRO DIA FAZENDO HISTÓRIA
Vamos lá, sinta o som
Garotas, agitem seus rapazes
Vamos ficar selvagens, selvagens, selvagens
(Cum on feel the noize, Slade)
Hyoyeon chegou cedo , mas uma fila se formava na calçada, ainda que apenas poucos minutos tivessem passado desde o pôr do sol.
Não conseguiu esconder sua surpresa ao chegar no local onde realizaríamos o Éden naquela noite. Quando soube sobre a festa, imaginou que era algo pequeno, para no máximo trinta pessoas. Mesmo sabendo a quantidade de dinheiro que arrecadamos da outra vez, tinha suas dúvidas sobre o tamanho e a procura dos eventos. E, sendo sincero, todos nós duvidávamos. Ninguém estava com as esperanças altas para aquela edição no começo.
Chegou na bilheteria improvisada quase se atirando em cima de Joy e Jongin, que organizavam as pulseiras da entrada e se preparavam para iniciar a venda. Não estava nem aí para todos os adolescentes e jovens que empurrou no caminho enquanto avançava a fila até lá, mas a gritaria chamou atenção dos meus amigos que a olharam com medo.
— Hyo! — cumprimentou Joy com um sorriso amarelo. — Que... surpresa? O que veio fazer aqui?
Hyoyeon revirou os olhos, segurando a risada. Eu esqueci de dizer a eles que ela compareceria ao Éden, depois de muitas noites de insistência até eu dizer que poderia garantir uma entrada por minha conta. Por isso eles tinham medo. O Éden era nosso segredo e Sehun era o único adulto conhecido que sabia sobre, já que não precisávamos nos preocupar com ele contando aos nossos pais tudo o que fazíamos quando não estavam vendo. Mas eu confiava em Hyo o suficiente para deixa-la participar dessa parte da minha vida.
— Chanyeol me chamou. — Ajeitou a franja recém cortada, assim como os cachos temporários que fez em todo o cabelo. — Quero um ingresso.
— São mil wones — respondeu Jongin, voltando a enfileirar as pulseiras. Minha irmã o encarou desacreditada.
— Tá louco? Eu sou irmã do Chanyeol, tenho direito a um ingresso.
Cruzou os braços, fazendo suas milhares de pulseiras tilintarem com seus movimentos. Hyoyeon escolheu aquela noite para vestir suas melhores roupas. Um blazer rosa por cima de um vestido brilhoso que ia até suas coxas. Ela ficava com os ombros mais largos, mas também era barulhenta. Foi preciso muito esforço para sair de casa sem que ninguém notasse. Principalmente Taeyeon.
— Bem, mas temos que cobrar o ingresso porque...
Ele tentou argumentar, mas Hyoyeon o segurou pelo colarinho da blusa, puxando-o para perto.
— Escuta aqui, Jonginzinho. — Inclinou a cabeça para o lado de forma ameaçadora. — Eu vi vocês andarem pela rua com as fraldas sujas de merda. Se quiser cobrar meu ingresso, escolha qualquer trouxa dessa fila e faça ele pagar o dobro.
Ela o soltou e Jongin voltou cambaleante para o lugar. Joy apenas riu. Já estava com a pulseira de Hyoyeon nas mãos e a entregou para que ela pudesse entrar no galpão. Esses segundos de distração permitiram que mais pessoas furassem a fila e logo um grupo bem familiar de meninas estava de frente para os três.
Joohyun, Yerim e Seungwan andavam com roupas combinando, cada uma de uma cor. Foi a vez de Jongin segurar a risada. Ela quase saiu, mas a piscadela que Seungwan lançou em sua direção o deixou nervoso e surpreso o bastante para esquecer suas roupas esquisitas. Joy estava perdida demais encarando a própria namorada para se dar conta do que as três haviam feito e talvez só não tenha achado graça porque era Yerim.
— O que está rolando? Já pode entrar? — Joohyun perguntou e Joy, ainda abobada, negou com a cabeça.
— É só a irmã do Chanyeol — apontou para Hyo, parada encarando as meninas da cabeça aos pés. — Ela tem passe livre.
O rosto de Joohyun se iluminou. Uma risada nervosa escapou da sua boca e ela se curvou de forma educada para Hyo, tentando causar uma boa impressão.
— Muito prazer em te conhecer! Me chamo Joohyun, mas imagino que Chanyeol já tenha comentado sobre mim. — Pigarreou, surpreendendo todo mundo com a próxima frase. — Sou a namorada dele.
Joy arregalou os olhos e Jongin precisou disfarçar, virando para o lado. Hyoyeon, no entanto, não temia e nem se sentia intimidada por ninguém. Franziu o cenho, estudando bem a aparência de Joohyun. Observou com atenção desde os cabelos ondulados, presos num único rabo de cavalo no alto, a blusa justa ombro a ombro rosa choque, saia tubinho e cinto da mesma cor. Joohyun parecia a personagem de algum filme. Linda, mas reluzente como um holofote. As amigas vestindo as mesmas peças, mas em cores diferentes, apenas para completar o cenário.
Hyoyeon apenas riu. Ela tinha uma risada escandalosa, que logo chamou a atenção de vários outros na fila.
— Namorada? — perguntou entre as risadas e meus amigos apenas deram de ombros. — Por Deus! Se Chanyeol namorasse, eu saberia, com certeza.
Joohyun abriu a boca em choque, um tanto sem graça por causa da cena. Seungwan e Yerim tentaram puxá-la para trás, de volta para a fila. No entanto, permaneceu como uma estátua no lugar, buscando formas de se defender daquele constrangimento.
— Isso... Ele provavelmente não te contou ainda. É bem recente!
Hyoyeon concordou de forma irônica, se recuperando das risadas. Jongin e Joy ficavam em silêncio, torcendo para tudo só acabar logo e Hyo entrar de uma vez no galpão. Joy não conseguia nem olhar para Yerim, que ainda insistia para a amiga se afastar.
— Claro, claro. — Hyoyeon fingiu pensar sobre o assunto. — Ou vai ver ele nem sabe que vocês dois namoram!
Aquele foi o auge. Joohyun ficou vermelha e finalmente cedeu a força que as amigas faziam para tirá-la do lugar. Jongin finalmente voltou a respirar normalmente e Joy se jogou em uma das cadeiras atrás da bilheteria, escondendo um sorriso atrás da mão.
— Essas garotinhas são sempre dramáticas assim? — perguntou Hyo. — Meu Deus, imagina quantas opções ela deve ter para ter escolhido justo o meu irmão? Gosto nem de pensar!
— A pose de rockstar ajuda — disse Jongin entre risadas. Joy o repreendeu com um tapa na parte de trás da coxa.
Hyoyeon franziu o cenho.
— O que quer dizer com isso?
— Nada! — interrompeu Joy. — É melhor você entrar logo, Hyo. Daqui a pouco vamos abrir a bilheteria e esse lugar vai encher!
Jongin concordou, ainda com uma careta de dor pelo tapa, mas não abriu mais a boca para falar. Hyoyeon os encarou desconfiada por longos segundos, até que desistiu e entrou de uma vez no Éden.
O galpão estava diferente da última vez. Tentamos dar nosso máximo para melhorar a aparência sem gastar rios de dinheiro. Forramos todas as paredes com tecido preto barato e colocamos uma cortina pendurada a partir do mezanino, para criar mais um ambiente privado atrás do palco. Não tínhamos dinheiro para os refletores, então compramos mais luzes de natal e penduramos em todo lugar.
O ambiente era uma mistura de vermelho, verde e roxo, mas o plano era colocar todas para piscarem na hora dos shows. Sorte a nossa que o natal ainda estava longe e podíamos encontrar as luzes com o preço mais baixo. Penduramos nas paredes como cortinas luminosas e nos cabos de aço para que ficassem em cima da cabeça de quem estivesse na pista de dança. O globo de espelhos ainda estava lá e não funcionava de modo automático, mas se o girassem manualmente, o efeito ficava incrível.
Vacation estava no palco e Taemin fazia os últimos ajustes no seu sistema de som. Foi uma sorte eles terem aceitado emprestar aquelas coisas para a festa, já que Seulgi quase os convenceu de que era um absurdo uma festa não oferecer seu próprio suporte. Minho sugeriu a votação e, como os outros integrantes da banda estavam animados com o evento, vencemos.
Estávamos no bar. Eu, Sehun, Baekhyun e Kyungsoo. A missão da vez era tentar preparar algo bom o bastante quanto o suco com vodka e que rendesse o suficiente para a manada de adolescentes que esperavam do lado de fora. Encarávamos uma enorme caixa de plástico cheia de gelo e frutas dentro e Sehun explicava porque ponche batizado era a ideia perfeita.
— E aí, minhas crianças? — Hyoyeon se aproximou e apertou minha bochecha. — Eu disse que ia ficar um gato nessa jaqueta! Agora entendi porque tem garotinhas choramingando lá fora!
Eu não entendi na hora o que ela queria dizer, mas ri da mesma forma. Hyoyeon me convenceu a comprar minha primeira jaqueta com um pouco do dinheiro que pegamos das finanças de mamãe. Ela guardou os noventa mil wones que entreguei a ela, mas era justo eu ter algo para mim depois de tudo. Enchemos a jaqueta com bottons de bandas e ela penteou meu cabelo para que meu rosto ficasse mais amostra. Ele estava crescido e a parte de trás já batia no final da nuca. Minha franja era indomável, mas Hyoyeon colocou tudo no lugar com um pouco de gel.
— E aí, Hyo? — A abracei de lado e os rapazes a cumprimentaram em uníssono. — O que você acha de ponche batizado?
Hyoyeon me olhou estranho, enquanto todos aguardávamos a opinião dela. Seu olhar variou entre as vodkas baratas, o soju de pêssego, refrigerante soda, as frutas e o suco que colocaríamos misturados na caixa e uma risada nasalada escapou.
— Álcool? Vocês vendem álcool barato para esses adolescentes? — Dei de ombros. — Por Deus, Chanyeol, isso é crime!
— Mas dá dinheiro — respondi e ela se calou. — Não queria saber como consegui aquilo tudo? Foi assim! Mil wones a entrada e cinco mil wones um copo disso ou de cerveja. Ninguém liga, todos se divertem e ninguém tem coragem de denunciar porque nenhum outro lugar faz o que a gente faz.
Hyo suspirou, ainda sem se dar por convencida. Seu olhar caiu novamente na caixa com gelo e frutas.
— O que vai fazer quando ficar quente? — perguntou.
— Tem mais um isopor cheio aqui embaixo. Só colocar mais gelo quando começar a derreter. — Kyungsoo sorriu, chutando a caixa de isopor atrás do bar para demonstrar o que havia dito.
Hyoyeon acenou com a cabeça.
— Então o ponche. Vai ser melhor do que beber essas coisas puras.
Sehun comemorou por ela ter concordado e não perdeu tempo na hora de virar duas garrafas de vodka de uma vez ali no meio. Entreguei uma de soju para minha irmã e ela nos ajudou a preparar tudo. No final, foi a escolhida para experimentar um pouco no copo descartável.
— Horrível! — Riu de si mesma. — Mas essa juventude vai adorar. Vou ficar com a cerveja mesmo.
Rimos do seu comentário. Era fácil sorrir com Hyoyeon, sempre extrovertida, cheia de piadinhas e expressões cômicas. Ela contagiava as pessoas ao redor com facilidade.
Sehun encheu seis copos e pediu para alguém da banda ficar na bilheteria e chamar Joy e Jongin.
— É nosso ritual! — explicou para Seulgi que, mesmo contra sua vontade, assistiu Jonghyun e Minho saírem do galpão.
— Você é um folgado!
Cruzou os braços e foi com os outros integrantes para o mezanino, onde esperariam até a festa começar. Joy e Jongin entraram ofegantes no mesmo momento.
— Vocês não têm ideia do que está acontecendo lá fora! Vamos precisar de ajuda, estão todos loucos para entrar logo — disse Joy se aproximando e apoiando no balcão.
— Pode deixar que vou lá depois — respondeu Baekhyun, rindo do drama que fizeram.
— Não, é sério! — insistiu Jongin. — Você não tem a menor ideia, Baekhyun. Eu nunca vi tanta gente assim antes da festa começar.
Sehun franziu o cenho. Se nos concentrássemos, dava para ouvir a gritaria das conversas altas na entrada. Aquele som fez meu coração acelerar. Trocamos um olhar significativo. Hyoyeon era a única que não entendia bem o que se passava pela nossa cabeça, mas era surpreendente. Era como uma pequena euforia que vem ao estar próximo da vitória. Você tenta não se iludir, com medo de ser surpreendido no final, mas fica abalado o suficiente para imaginar os cenários em que dá certo.
Naquele momento eu senti que o Éden realmente poderia dar certo.
— O que será que aconteceu? — perguntou Sehun.
Sua raiz estava retocada, mas ele ainda se parecia com quem não dormia bem há dias. Olhou preocupado para Joy e Jongin, que não eram capazes de responder sua pergunta.
— Eles só gostaram? E voltaram com amigos, eu acho — arriscou Jongin.
Um sorriso surgiu no rosto de Sehun. Um sorriso que não víamos há dias.
— Então vamos dar a melhor festa das nossas vidas — prometeu, levantando seu próprio copo e nos incentivando a fazer o mesmo.
— Vou fingir que não estou vendo vocês, crianças, bebendo essa coisa! — disse Hyoyeon, tapando os próprios olhos.
Nós apenas rimos e viramos todo o líquido doce e avermelhado, que descia de forma suave, mas queimava nossa garganta no final. Hyoyeon estava certa, era horrível. Mas a euforia se espalhou por todo o nosso corpo sem que tivéssemos controle e, de repente, era como andar nas nuvens.
Eram sete horas da noite e aquela já era a hora oficial do paraíso. Sem o mundo exterior, sem preocupações. Apenas noites mágicas de música e liberdade, como tudo deveria ser.
2
Em pouco tempo, havia música para todos os lados.
Visto de cima, o Éden era uma linda paisagem de corpos dançantes e luzes brilhantes, piscando como estrelas coloridas por cima de todos. Não era nada profissional, mas funcionou perfeitamente e passava a energia exata do que era o Éden: uma brincadeira amadora. Era lindo e eu não conseguia tirar meus olhos de lá.
Ninguém além de mim e de Baekhyun estava no mezanino. Todos os nossos amigos se perderam no meio da multidão assim que o Éden fechou as portas e a bilheteria, atingindo capacidade máxima. As pessoas não pararam de chegar até o último minuto e tudo parecia um sonho. Taemin começou logo com suas músicas e a mixtape não deixava ninguém parado. Hyoyeon sumiu da minha vista assim como Joy. Kyungsoo, Sehun e Jongin ficaram no bar, mas não por muito tempo.
Não havia nada que eu pudesse reclamar. Bebia meu ponche batizado com um sorriso no rosto, aproveitava as músicas que gostava e me divertia apenas assistindo tudo dali de cima. Baekhyun estava em silêncio, sentado em um dos pallets com sua própria bebida em mãos. Pensei em puxar algum assunto, já que estávamos num clima tão bom no dia anterior. Foi impossível, no entanto. Todas as vezes que virei em sua direção, ele fez questão de virar para o outro lado, me ignorando. Então apenas desisti.
Em dado momento, senti um par de braços envolvendo minha cintura. Tomei um susto com aquilo, quase virando toda a minha bebida em Joohyun ao me deparar com seu rosto sorridente. Forcei um sorriso de volta. Ainda não tinha visto ela por aí, apesar de ouvir Jongin rir contando para Sehun sobre suas roupas combinando.
— Finalmente achei você! — disse ela, me puxando para perto e me arrancando uma risada.
Olhei de relance por cima do seu ombro, a tempo de ver o exato momento em que Baekhyun se levantou do lugar e chutou um dos pallets ao ir para longe, descendo do mezanino. Tentei não me importar, mas quando percebi já estava acompanhando cada um dos seus passos enquanto ia embora. Joohyun foi quem me fez voltar para a Terra, deixando um beijo no meu rosto.
— Precisava te ver — continuou. — Estava com medo de estar com outra pessoa!
Franzi o cenho, sem entender como tais pensamentos chegaram nela. Ninguém além de Joohyun demonstrava interesse em ficar comigo naquela época.
— Claro que não — respondi. — Por que pensou isso?
Joohyun mordeu o lábio inferior e pareceu pensar um pouco no que dizer, até que desistiu. Negou com a cabeça, rindo um pouco até encostar a testa no meu ombro e murmurar um "deixa para lá". Ficamos daquele jeito um tempo, eu ainda tentando entender se havia feito algo de errado, até que ela pareceu se recompor. Ergueu a cabeça com um sorriso sugestivo e deixou a ponta dos dedos vaguearem pelos bottons da minha jaqueta.
— Que horas você sobe no palco? Estou louca para te ver cantar.
Ela pressionou seu corpo contra o meu, fazendo com que eu ficasse encostado na grade de segurança. Me forcei a esquecer Baekhyun e focar ali, na pessoa que me queria por perto. Levei uma das mãos até seu rosto e fiz um carinho delicado com o polegar, da melhor maneira que pude.
— Só depois da outra banda. Tem bastante tempo até lá.
Ela sorriu ainda mais e ficou na ponta dos pés, tomando minha boca com mais um dos seus beijos. Beijar Joohyun era incrível. Não tinha muita experiência com beijos, mas o dela fazia com que eu me sentisse incrível, como se não existisse mais ninguém no mundo inteiro. O tempo passava de forma diferente e os segundos pareceram minutos durante todo o tempo em que ficamos grudados.
— Então temos bastante tempo? — Ela sorriu ao partir o beijo, enrolando os braços ao redor do meu pescoço.
Assenti. Não era nenhuma mentira. Eu gostava de estar ali e gostava de poder fazer todas aquelas coisas com ela. Eu poderia aproveitar todo o tempo que ainda me restava, me afogando nos seus beijos e ouvindo música boa até o momento de encarar toda a plateia. Joohyun pareceu satisfeita e voltou a me beijar, mais rápido e intenso.
Eu poderia passar horas daquela forma, mas fomos interrompidos pelo som metálico de anéis se chocando contra o corrimão da escada. Joohyun se afastou um pouco assustada e nós dois viramos para a entrada do mezanino, encontrando Minho parado no topo da escada com um sorriso no rosto. Quase revirei os olhos pela interrupção, mas ele foi mais rápido na hora de falar.
— O show vai começar! Você não vai assistir? — Ele estava com muita expectativa para saber se realmente iríamos gostar da Vacation.
Os caras da banda eram incríveis e, apesar de Seulgi não parecer muito amigável nos momentos em que interagimos, sua voz era bonita apenas falando. Imaginava tudo o que ela podia fazer com um microfone em um palco e estava curioso para assistir a performance deles depois de encontrar a setlist escrita num bloco de notas antes da festa começar.
Meu olhar caiu para Joohyun, como um questionamento mudo para saber se ela queria descer. Apenas deu de ombros e segurou na minha mão. Parecia meio chateada por termos sido interrompidos, mas não disse nada.
Minho comemorou.
— Vai ser incrível! Você vai ver e amar!
— Tá bom, tá bom. — Dei risada da sua empolgação. — Vamos ver.
Descemos os três e atravessamos a cortina que separava a parte de trás do palco do resto da festa. Estava completamente escuro ali embaixo, mas consegui reconhecer silhuetas e sussurros próximos de pessoas se escondendo ali. Provavelmente se drogando. Era preciso fazer uma vista grossa para aquelas coisas e manter o Éden funcionando. Então ignorei, me focando nos sons da plateia.
Minho subiu no palco, onde o resto da Vacation já se preparava. Taemin interrompeu a música e cada um estava a postos no próprio instrumento designado. Minho atrás do microfone de apoio e com sua guitarra; Jonghyun tinha a sua própria e era simplesmente uma das mais maneiras que eu já tinha visto, decorada com uma espiral branca e vermelha imitando um pirulito. Ele faria seus solos nela e só de imaginar eu ficava nervoso. Kibum na bateria, Jinki no baixo, Taemin com seu teclado e outros instrumentos de mixagem e, por fim, Seulgi no microfone central e uma pandeireta meia-lua nas mãos.
O instrumento se chocava contra sua minissaia enquanto ela chacoalhava a mão próxima ao corpo. Se vestia com tantas camadas de roupa que era difícil saber onde uma começava e outra terminava, mas seu estilo era o mais autêntico do palco. Uma verdadeira vocalista que, mesmo sem holofotes na sua direção, conseguia ser o maior foco do local.
Guiei Joohyun pela mão até que estivéssemos no bar, onde Kyungsoo, Sehun e Baekhyun já aguardavam o show. Ela sentou em um dos bancos altos e eu fiquei de costas, me apoiando entre suas pernas. Mesmo ali, a festa borbulhava com pessoas por todos os lados e vozes altas conversando. Nunca imaginei que aquele galpão pudesse estar tão cheio e só de imaginar que logo seria eu de frente para todos, meu estômago se retraía de nervoso.
— Isso aqui tá uma loucura — comentei chamando a atenção dos outros. Joohyun apertou meus ombros.
— Nem me fale. — Sehun tinha um sorriso no rosto. — Soo abriu a bilheteria de novo porque tinha mais fila na entrada, acredita?
Arregalei os olhos em sua direção. Ouvi a risada de Kyungsoo, que provavelmente já sabia daquilo, enquanto ele entregava mais uma rodada de ponche batizado para todos nós. Baekhyun virou metade do dele de uma vez só, mas tentei não olhar muito, voltando a prestar atenção na conversa com Sehun.
— E vai caber todas essas pessoas aqui? — perguntei.
Sehun deu de ombros.
— Se não couber, que fiquem na rua. Vamos ser legais e deixar a porta aberta.
Ri desacreditado e comecei a beber. O ponche já estava meio aguado naquela hora, mas eu nem me importei. Joohyun me cutucou quando Seulgi testou o microfone com tapinhas curtos e sorriu para a plateia assim que esta se encheu de gritos. Apesar de dar a impressão de que falaria algo, Seulgi apenas piscou um dos olhos para a multidão e eu tenho certeza que vi alguns rapazes indo a loucura naquele momento.
As vozes pesadas de Minho e Jonghyun, com uma alteração especial de Taemin, ocuparam os microfones. Step inside, walk this way, you and me babe, hey hey! Era a introdução de "Pour some sugar on me", do Def Leppard. Os instrumentos pesados tomaram conta do local e os gritos se intensificaram ainda mais. Era uma escolha ousada, o tipo de música que pais ouvem e ficam horrorizados. Por isso mesmo era a cara do Éden. Caótico, jovem e depravado. A partir de então, minha empolgação se duplicou.
A Vacation era sensacional.
— Love is like a bomb, baby, c'mon get it on — Seulgi cantou.
Sua voz era doce e pesada na medida certa. Ela acompanhava a percussão com sua pandeireta, mexendo os quadris no ritmo da música e o misto de toda a visão com a letra e a sua voz criavam uma das cenas mais sensuais que eu já presenciei em um palco. Ela esbanjava confiança nos seus movimentos, como se tivesse ensaiado cada um deles para a performance, ao mesmo tempo em que eram naturais.
Conseguia entender o motivo de Minho se admitir louco por ela. Seulgi era tudo o que um roqueiro da nossa idade desejava em uma mulher. Fascinante.
Eu nunca gostei dela no sentido romântico ou sexual. Minha relação com Seulgi se desenvolveu numa amizade específica, principalmente depois de conhece-la melhor. Mas naquela noite, Seulgi era uma estrela. Apreciá-la era como estudar obras de arte num museu. Ela nunca pertenceu aos locais sujos e esquecidos como um pequeno galpão nas docas do canal. Seulgi merecia Seul, merecia a plateia aos seus pés gritando o seu nome e era fácil de entender o motivo de ela querer ser sempre mais. Era, simplesmente, o que ela merecia.
Os meninos eram tão incríveis quanto. Ainda que Seulgi roubasse as atenções, eu conseguia reparar em cada um e nas suas particularidades. Jonghyun trocava os acordes com tanta maestria que me senti tentado a pedir para ele me ensinar. Kibum não ficou com a camisa por muito tempo, como me avisaram, mas ele e a bateria se transformavam em um só. A música vinha de dentro dele.
Eu já ouvi muitas pessoas falarem atrocidades sobre o rock e as bandas. Sobre como locais como o Éden corrompe seus filhos e os ensinam a fazer coisas erradas. No entanto, eu nunca enxerguei isso. É claro, sempre haveria um lado escuro no meio de tudo. Todas as coisas são assim. Mas bandas como a Vacation transformavam esse discurso em arte. Era barulhento, pesado, depravado? Sim, mas era lindo. A música sempre seria linda aos meus olhos.
Assistindo-os ali, minha paixão apenas aumentou. Tenho certeza de que meus olhos brilhavam ao constatar que não havia nada no mundo que eu pudesse amar mais que a música.
Quando acabou, foi como se toda a gravidade voltasse para a Terra. Eu aplaudi com força, gritando em aprovação junto com a plateia que pedia por mais. Sehun, ao meu lado, assobiava alto e sorria como nunca tinha visto.
— Squid Boys não estão com nada — ele gritou e eu concordei, rindo junto.
Não demoraram muito para engatar a introdução de mais uma música, "One way or another", do Blondie. Seulgi estava de costas. Ela ergueu o braço com sua pandeireta e a sacudiu no ritmo, virando por cima do ombro e sorrindo para todos. Em passos lentos, se aproximou do microfone.
— Ouvi dizer que aqui no Éden todos amam dançar — disse. — Vamos ver se isso é verdade.
E com mais gritos de aprovação, ela começou a cantar. Não havia ninguém ao nosso redor que estivesse parado. Dançavam em grupo, sozinho ou em par, mas dançavam sem se importar com mais nada. Mexiam seus corpos da forma que bem entendiam, beijavam estranhos, bebiam até quase caírem de tão tontos e ninguém se importava. Era estranho e até engraçado, mas estavam livres. O Éden era sobre aquele tipo de liberdade.
De repente, senti vontade de estar lá também.
Olhei em volta na esperança de encontrar Joy. Sempre dançávamos juntos e ela era minha parceira favorita para tais ocasiões, mas não a vi em lugar algum. Meus olhos encontraram com os de Baekhyun e eu ofereci um sorriso. Era meio besta e eu sabia que ele não iria ligar, mas Baekhyun virou o rosto para outra direção. Parecia com raiva e aquilo me preocupava. Eu não queria pensar muito sobre, no entanto. Por isso desisti de ficar ali e ergui uma mão para Joohyun.
— O que foi? — ela gritou.
— Vem dançar comigo — pedi.
Seu sorriso cresceu tanto que me senti um pouco culpado, sem entender a razão. Vi pelo canto dos olhos quando meus amigos olharam em nossa direção e fiz muito esforço para não olhar de volta. Joohyun desceu do banco alto e envolveu as mãos no meu pescoço para beijar minha boca. Ao contrário de como imaginei que me sentiria, fiquei com vergonha.
— Vamos!
Ela me puxou pela mão e a última coisa que eu vi foi Sehun virando para Baekhyun antes deles sumirem no meio da multidão.
Joohyun me arrastou até o meio da pista, segurando-me pelos ombros e começando a dançar animada ao meu lado. Tentei acompanhar e esquecer tudo o que acontecia, mas parecia impossível. Ela passeava com suas mãos pelos meus braços e por dentro da minha jaqueta. Cheguei a imaginar que ela a tiraria em algum momento e mal me mexi do lugar.
Joohyun tentou me acordar e me sacudiu um pouco. Sorri em sua direção. Me mexi de um lado para o outro, mas meus movimentos pareciam robóticos. Ela não demonstrava muito incômodo. Gostava de me exibir ao seu lado da mesma forma que eu gostava de tê-la comigo.
— Me responde uma coisa? — perguntou com a boca próxima ao meu ouvido, para que pudesse ouvi-la. Acenei que sim com a cabeça. — Você me dedicaria uma música no palco?
Ela se afastou e me encarou com expectativa. Por um longo momento, não soube o que responder. Encarei seus olhos brilhantes ali embaixo de todas aquelas luzes coloridas e, quando me dei conta, estava rindo da situação.
Era engraçado relembrar como cheguei até aquele momento. Cantando no clube, na rua e no Éden, sem que Joohyun sequer olhasse para mim quando eu era só mais um colega de classe. Minha música sempre foi para que eu pudesse aproveitar com meus amigos. Eu sempre cantei para eles e ninguém mais, o que deixava a questão de dedicar uma música para Joohyun um tanto engraçada. Nunca me imaginei fazendo isso, então cheguei à conclusão de que não sabia a resposta.
— Me dedica uma música. Uma que faça você lembrar de mim!
E eu só ri em resposta, me movendo lentamente no ritmo da música e pensando sobre o assunto. Se eu fosse dedicar algo para alguém algum dia, teria que ter um motivo muito especial para isso. No entanto, Joohyun pareceu satisfeita e eu não estendi mais o assunto.
Na parte lenta antes do refrão, ela virou de costas e dançou lentamente com o corpo contra o meu. Guiou minhas mãos pela sua cintura e fez com que eu a segurasse com força. Meus olhos se arregalaram ao sentir o local específico onde ela rebolava e tentei afastá-la um pouco. Sem entender muito bem minha intenção, Joohyun se virou de frente e beijou meus lábios por longos segundos.
Partiu o beijo com um sorriso, ela me olhava de uma forma diferente e eu praticamente previ que falaria mais alguma coisa. Ela chegou perto do meu ouvido, então, e eu me concentrei para ouvi-la. Estava barulhento, mas nunca conseguiria esquecer do que eu ouvi naquela noite:
— Chanyeol, namora comigo?
E foi como se a voz de Seulgi ficasse muda de repente. Aquilo era uma surpresa e totalmente diferente do pedido anterior. Meus olhos se arregalaram tanto que eu senti ambos doerem. Era uma loucura o que ela estava sugerindo, mas era o sinal vermelho que eu precisava para entender que certas coisas haviam ido longe demais.
Sem pensar muito, neguei com a cabeça e vi o momento exato em que o sorriso dela se desfez.
— Sinto muito — tentei dizer para amenizar, mas o barulho da banda voltou ainda mais alto com uma nova música que não reconheci.
Inconsolável, Joohyun me empurrou. Vi seus olhos lacrimejarem sob as luzes coloridas de natal e, então, ela também desapareceu na multidão.
3
Sehun se virou para Baekhyun no momento em que saí com Joohyun.
Kyungsoo disse algo como "preciso mijar" e deixou o bar sem que os dois dessem muita atenção. Era pura sorte que ninguém tentou se aproximar e tirar vantagem naquele momento, tentando pegar bebida sem pagar. Vacation era tão inebriante que as pessoas nem prestaram atenção na oportunidade. Baekhyun e Sehun, no entanto, tinham outras coisas em mente. Outros pensamentos que conseguiam nublar o mundo em volta. Um, imerso em raiva e outro em preocupação.
Baekhyun suspirou. Sabia que Sehun não iria desistir de tentar falar com ele e continuaria ali, olhando-o até que recebesse atenção. Por isso decidiu acabar com tudo de uma vez.
— O que você quer? — gritou, tentando passar por cima do som da banda.
Sehun riu, negando com a cabeça como se não acreditasse no que via.
— Cabelo novo, roupas novas... — Olhou Baekhyun dos pés a cabeça. Ele vestia uma camiseta do David Bowie azul escura e uma preta de mangas compridas por baixo. Não se esforçou muito em pentear o cabelo loiro, mas delineou os olhos com um pouco de lápis de olho que pegou emprestado de Joy. — E você ainda não entendeu nada do que eu queria dizer, não é?
Baekhyun revirou os olhos, sem acreditar que Sehun iria iniciar mais uma daquelas conversas. Não estava no clima para nada daquilo, só queria que a noite acabasse logo e ele pudesse voltar para casa.
— Ouvi muito bem. Minha mãe brigou comigo e eu provavelmente vou ter que pintar o cabelo de novo — respondeu com o tom de voz entediado, ainda que alto para Sehun poder ouvir.
— É muito mais do que só o cabelo, Baekhyun, e você sabe disso.
Baekhyun bufou. Esfregou as mãos nos olhos e pensou seriamente em subir para o mezanino e ficar sozinho. Voltou-se para Sehun uma última vez, querendo dar um fim naquela conversa.
— Eu não ligo, tá bem? Não ligo para o que você pensa ou fala. Eu estou vivendo minha vida e estou muito bem com ela, obrigado!
Sehun riu. Cruzou os braços e encarou Baekhyun como se ele fosse o ser mais inocente do mundo.
— Ele pode não ter reparado, mas vi a forma como olha para ele. — Mesmo sob as luzes coloridas, Baekhyun ficou vermelho. — Você finge muito mal e enquanto tiver medo de admitir que quer ficar com ele, vai se arrepender.
As palavras fugiram da sua boca, daquela forma que apenas Sehun conseguia fazer e ele tanto odiava. De repente, seus pés fixaram-se no chão como chumbo e ele não conseguia sair do lugar. O olhar perdido em um ponto do chão, os lábios entreabertos e a mente nublada. Baekhyun não conseguia pensar, então se afundou em si mesmo, torcendo para tudo acabar logo, torcendo para ser só mais um dos seus sonhos ruins onde revelavam seus segredos para todos.
— Não sei sobre o que tá falando. — Nenhuma desculpa vinha na sua cabeça para negar, então achou que enrolar Sehun era uma boa saída.
Sehun se abaixou, ficando na altura dos seus olhos.
— Você pode tentar, se quiser — sugeriu. — Porque eu percebi a forma como ele olha para você, também. Mesmo que ele fique com aquela menina, ele também pode querer te beijar de vez em quando. Isso é normal.
Baekhyun se indignou. Sua vontade era de afundar o rosto de Sehun no ponche, mas logo deixou aquela ideia de lado. Não sabia se estava mais irritado pela sugestão ridícula ou por ter dado a entender que ele precisaria dividir algo com Joohyun. Nervosamente, bebeu todo o restante do seu copo esquecido no balcão e se arrependeu por estar meio quente. O álcool queimou sua garganta no final, mas ele não ligou.
— Você é um idiota e não sabe nada. — Baekhyun amassou o copo descartável nas mãos, mas não olhava nos olhos de Sehun enquanto falava. Não tinha coragem. — Chega de repente, rouba os amigos que eu tenho desde que nasci e quer mandar na rua. Quer que todos ajam da forma que bem entende, quer andar por aí sem fazer nada se fingindo de sábio e nos aconselhando a fazer coisas depravadas que vamos nos arrepender depois!
Baekhyun estava ofegante. Fez uma pausa, tentando organizar os pensamentos barulhentos, mas não conseguiu. Ofensas foram sussurradas pela sua boca como um mantra enquanto ele tentava se acalmar. Sehun se manteve imóvel, apenas ouvindo. O sorriso sumiu do seu rosto, mas ele não impediu Baekhyun de expor tudo o que pensava dele.
— Você pode estragar sua própria vida — continuou Baekhyun, depois de um tempo de silêncio entre os dois. — Mas não faz isso com a nossa. Seja esse merda que você é sozinho e não me mete no meio disso.
Sehun assentiu, coçando levemente o nariz antes de encher o próprio copo mais uma vez e continuar bebendo. Baekhyun ficou parado no lugar, tentando se recuperar depois da enxurrada de coisas que disse na cara de Sehun, mas nenhuma respiração funda era capaz de fazê-lo parar de tremer. Por isso aceitou beber mais um pouco. Era melhor do que aguentar aquela realidade.
Sehun riu ao devolver um copo cheio de ponche para ele.
— Parabéns, irmãozinho. — Baekhyun ergueu uma sobrancelha. — Você falou tudo o que pensa e agora eu tô orgulhoso. De verdade, ok?
Baekhyun revirou os olhos e riu, desacreditado, enquanto bebia. Não entrava na sua cabeça que, mais uma vez, caiu no papinho de Sehun apenas para provar que ele estava certo. Era irritante e feria de forma grave o seu orgulho imaculado.
— Você é um merda mesmo.
— Eu sei. — Sehun fez uma reverência exagerada, como se agradecesse.
Baekhyun ameaçou virar a bebida nele e riu quando Sehun se protegeu com as mãos. Ao ver que se tratava de uma brincadeira, Sehun riu junto. Alguns jovens já se aglomeravam para comprar mais coisas para beber durante a troca de músicas e os dois se afastaram um pouco.
Baekhyun se sentou em um dos bancos, observando a multidão dançante sem a mínima vontade de se juntar a eles. Seus pés balançavam no ar e ele cantarolava a música, distraído até ouvir o assobio de Sehun em sua direção. Kyungsoo estava de volta e reparou isso quando se virou.
— A propósito, gostei da escolha. — Sehun apontou para a estampa da camiseta de Baekhyun e riu sugestivo uma outra vez. — Bowie... é incrível.
Era o meu cantor favorito e Sehun sabia. Todos sabiam. Baekhyun revirou os olhos e, mais uma vez, ficou com raiva. Jamais admitiria o motivo de ter escolhido justo aquela na loja de roupas.
— Vai se foder — disse descendo do banco e se afastando do bar.
Se ficasse perto de Sehun por mais tempo, explodiria. As verdades eram uma arma cruel contra seus muros inquebráveis.
Mas, naquela noite, foram suficientes para gerar rachaduras e mudar tudo de uma vez por todas.
4
Desde o momento em que Joohyun saiu da pista de dança, fiquei perdido no meio de tantas pessoas sem saber para onde ir. No final, me escondi atrás do palco e da cortina, no escuro e sozinho. Não queria que ninguém me achasse até a hora de cantar, então me martirizei sozinho por ter sido tão insensível com a única pessoa que demonstrou certo interesse em ficar comigo.
Eu sabia que ali, no canto escuro onde ninguém podia ver, algumas pessoas se juntavam para fazer coisas que se arrependeriam depois. Ouvia o som dos narizes fungando e das risadas, assim como as conversas baixas e o barulho do dinheiro sendo trocado por pequenos pacotes com as drogas.
No Éden, precisávamos fazer vista grossa para muita coisa. As pessoas só queriam se divertir e era nosso trabalho proporcionar esta diversão, independente dos meios. Eu sabia que não era santo. Bebia mesmo sem ter idade e já havia fumado maconha com meus amigos, sabendo que é algo proibido. De qualquer forma, batia um pouco de culpa e nosso principal dever era ignorar.
Não faço ideia de quanto tempo fiquei ali, com a cabeça encostada na parede e de olhos fechados, sem que ninguém me incomodasse. Mas logo ouvi a banda saindo do palco e Taemin assumindo com seu aparelho de som, para que não faltasse música até a minha vez chegar.
Levantei do chão e sai para a festa, bem a tempo de ver a Vacation descendo do palco para um descanso. Seulgi passou direto por mim, indo em direção ao mezanino. Tentei parabeniza-la pela performance, mas não consegui. Ignorando este fato, fui falar com os outros caras que já sorriam animados com copos de cerveja na mão. Sehun estava com eles e carregava a bandeja que, provavelmente, usou para levar as bebidas até lá.
— Chanyeol! — Minho veio até mim, envolvendo um dos braços no meu pescoço e me puxando para um abraço lateral. — Viu só? Eu falei que éramos bons!
Esfregou a mão em punho no meu cabelo, desfazendo todo o trabalho de Hyoyeon. Eu apenas ri, me afastando e concordei com a cabeça.
— É verdade. Eu já sabia que ia ser incrível, mas me surpreendi totalmente. Vocês são demais — elogiei, recebendo ainda mais sorrisos.
— E vocês vão ver como vai ser ainda mais irado quando esse garoto estiver lá em cima — disse Minho para os outros integrantes. — Só não deixa a Seulgi saber disso.
Eles riram e nos sentamos na lateral do palco, esperando a hora de subir nele novamente. Alguns minutos depois, Hyoyeon apareceu. Ela estava ofegante, o cabelo um pouco bagunçado e o rosto vermelho molhado de suor. Não segurei a risada ao vê-la e ela se jogou em cima da gente sem nem se importar. Suas pernas foram parar no colo de Jonghyun e Kibum, mas a maior parte do peso veio para cima de mim quando me apertou num abraço. Não demorei mais que um minuto para entender que ela estava bêbada.
— Você sumiiiiiiiu, Chanyeol! — dramatizou, escondendo o rosto no meu pescoço. — A festinha de vocês tem gente demais!
A acolhi num abraço e ri da sua postura, sendo a primeira vez que a vi naquele estado. Hyoyeon levantou o rosto apenas para me encarar com o cenho franzido. Empurrou meu ombro sem muita força e murmurou um xingamento baixinho quando o movimento mal feito forçou suas unhas, machucando-a.
— Onde você estava? — perguntou.
— Por aí. — Dei de ombros. — Tá gostando da festa?
Ela assentiu.
— Acho que bebi demais. Vai ter que me carregar até em casa hoje.
— Não vamos dormir em casa, você sabe disso, não é? Vai ter que dormir no clube. — Mostrei a língua para ela porque sabia que ela odiava a ideia. Hyo revirou os olhos.
— Junto com todos os ratos? Vocês me pagam.
Mais risadas preencheram o local, mas fomos interrompidos por Sehun gesticulando como se tivesse um relógio no pulso. No mesmo instante, fiquei nervoso. Olhei por cima do ombro para toda a plateia da festa, sendo a maior que eu já tinha enfrentado até então. Eram centenas de pessoas animadas esperando um show tão bom quanto o da Vacation. Muita pressão para que eu conseguisse lidar.
Notando meu olhar de pânico, Sehun apoiou uma mão firme no meu ombro.
— Você vai se sair bem — me confortou. — Sabe que não menti quando disse que é o melhor.
Seu sorriso me fez sorrir junto, mas uma Hyo confusa entre nós dois nos interrompeu.
— Melhor em quê?
Sehun me encarou confuso e eu sorri amarelo para os dois, tentando segurar a risada nervosa que me atingiu. Até então, não tinha dito nada a Hyo sobre tocar e cantar no Éden. Na sua cabeça eu era apenas um dos organizadores e não a atração principal. Porém, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Sehun tomou a frente.
— O melhor artista dessa cidade, lógico — disse como se fosse óbvio. — Ninguém canta ou toca como seu irmão, gatinha.
Hyoyeon o encarou como se Sehun fosse louco, não durando nem cinco segundos antes de rir escandalosamente, quase caindo do meu colo.
— Chanyeol? Cantando? Vocês estão me zoando, né?
Ninguém riu. Pelo contrário, encaravam Hyoyeon como se a louca fosse ela. Me encarou incrédula quando percebeu que era verdade, o queixo quase chegando ao chão de tão aberta que sua boca ficou.
— Me explique isso agora, Park Chanyeol!
— Desculpa, eu... — Tentei dizer, mas Sehun já nos puxava para que levantássemos do lugar.
— Mais tarde vocês têm sua reunião familiar. — Já comigo de pé, ele me ajeitou e arrumou meu cabelo bagunçado. — Tá na hora do show.
Eu ri, ainda tremendo só de pensar no que estava prestes a fazer. Sehun colocou a guitarra azul nas minhas mãos e Minho me entregou o cabo que eu deveria conectar no amplificador. Naquele momento, Sehun olhou nos meus olhos uma última vez antes de eu dar as costas. Suas mãos ainda estavam nos meus ombros e ele me ofereceu um sorriso gentil, com um carinho quase fraternal.
Toda a raiva que senti dele durante aquela semana se desfez.
— Você é o maior desse lugar. Não se esquece, tá?
Assenti.
Dei um beijo no rosto de Hyo e subi no palco, mesmo que ela ainda me olhasse estranho. O resto da banda veio comigo e cada um se acomodou no próprio instrumento. Me distraí o máximo possível ali, conectando e guitarra e testando o volume, botando o microfone no pedestal e dando batidinhas para ver se estava tudo certo. É claro que estava. Seulgi havia usado o mesmo microfone há poucos minutos e não tinha nada de errado com ele.
Ainda assim todo cuidado era pouco para que nada saísse errado.
Nos poucos segundos que me restavam antes do show começar, olhei para a plateia.
Era muita gente. Para onde meus olhos olhavam, havia uma pessoa gritando ou acenando. Naquela bagunça, consegui reconhecer Joy e Jongin não muito longe do palco. Eles sorriam na minha direção e senti que o peso nos meus ombros ficou mais leve. Tentei focar nos dois, porque tocar para amigos era sempre mais fácil. No entanto, Baekhyun logo se juntou a eles. Ele não sorria, mas ver seu cabelo dourado refletindo as luzes brilhantes me deixava nervoso.
— Ainda dá tempo para mais uma dança, Éden — falei sem perceber, incentivando ainda mais gritos.
Com as bochechas vermelhas, olhei para Kibum e dei o sinal para ele começar. A música escolhida tinha sua introdução apenas na bateria. Respirei fundo, não tinha muito tempo para pensar porque precisava cantar logo. Era "Cum on feel the noize", do Slade, mas no arranjo da regravação feita pelo Quiet Riot que, na minha opinião, era muito inferior a original. No entanto, a melhor opção para uma festa como o Éden.
Kibum começou a tocar e, logo, minha voz já ecoava por todo o galpão.
— Come on, feel the noise. Girls, rock your boys. We'll get wild, wild, wild. — Para minha surpresa, todos na festa continuaram o coro " wild wild wild" e um sorriso surgiu no meu rosto, me enchendo de confiança.
Deixei o meu foco nos meus amigos, que já dançavam animados no ritmo da música. Até Baekhyun se rendeu a energia caótica de Joy e se mexia sendo guiado por ela. Aquilo fez meu sorriso aumentar. Dancei com a minha guitarra como se estivesse ao lado deles naquele momento. No nosso clube, rodopiando pela sala vazia com essa mesma música tocando no rádio.
Éramos apenas um grupo de pessoas esquecidas apoiando umas as outras no dia a dia difícil.
Dançávamos juntos todas as músicas que fariam nossos pais chorarem porque aquele tipo de rebeldia fazia com que nos sentíssemos donos dos nossos próprios narizes. Em uma festa como o Éden, éramos delinquentes juvenis e todos os boatos se tornavam reais.
Se não íamos para o paraíso cristão? Aquilo não importava mais. Dávamos o jeito de trazer nosso próprio paraíso até a Terra e bebíamos dele numa caixa cheia de gelo e suco de fruta.
Isso fazia com que qualquer lugar longe do Éden se parecesse com o inferno.
No refrão, foi como se o mundo inteiro cantasse dentro daquela festa. As pessoas dançavam sem se importar se faziam direito, derrubavam bebidas umas nas outras e riam até as barrigas se contraírem. Vi, inclusive, meninas dançando só de sutiã em cima do bar, sentindo-se lindas e poderosas como nunca. Era maravilhoso ver tudo tão de perto e participar daquilo. Sentir que, pela primeira vez em muito tempo, eu tinha uma casa para onde retornar.
Aquele palco e aquelas pessoas caóticas ao meu redor eram meu lar.
Toquei guitarra junto de Jonghyun e ele permitiu que eu fizesse o solo da música. Meus dedos doeram, os gritos me ensurdeciam, mas eu terminei ajoelhado ao lado dele, tocando como se o mundo fosse acabar naquela noite.
Não havia sensação mais indescritível. Era como ter os poderes de todos os super-heróis conhecidos correndo pelas minhas veias e, ainda assim, parecia ser pouco para chegar aos pés do que era tocar no Éden e ser aplaudido. De uma coisa eu tinha certeza:
Quando o dia amanhecesse e todos voltassem para suas casas, se lembrariam mesmo com o álcool causando amnesia na maior parte das lembranças. Não importava como, mas aquele momento entraria para a história.
5
Depois que "Cum on feel the noize" acabou e outras músicas da setlist começaram, meus amigos foram saindo aos poucos da pista de dança.
Jongin já estava cansado. Subiu para o mezanino e se jogou entre os pallets tentando lutar contra o sono. Baekhyun simplesmente voltou para o bar, desacostumado a dançar da forma como Joy o obrigou. Mas a própria não estava nem um pouco cansada, como se suas necessidades humanas não tivessem importância.
Joy arrastou Yerim para atrás do palco, rindo como uma criança. As duas cambaleavam, tão bêbadas que mal conseguiam falar. Joy sentia como se o álcool e seu sangue tivessem se convertido em uma coisa só. Ainda assim, precisava de mais. De algo que apenas Yerim poderia oferecer.
Estava cheio e barulhento o bastante para que conseguissem se esconder atrás da escada para o mezanino. Ninguém passaria por ali comigo no palco e, mesmo que passassem, não conseguiriam enxergar as duas meninas juntas ao menos que prestasse atenção. Com a quantidade de bebida que já tinha sido vendida naquela noite, atenção era algo que ninguém teria.
Por isso, Joy não pensou duas vezes antes de prensar a namorada contra a parede, tomando seus lábios com devoção em um beijo demorado. Yerim sorriu com aquilo, puxando-a cada vez mais para perto como se fossem capazes de se fundir numa coisa só.
Nada mais importava para Joy quando ela estava nos braços de Yerim. Sentia-se tão completa e apaixonada que todo o seu corpo agia como imã, sendo atraído pelo magnetismo que emanava dela. Não sabia mais viver sem seus beijos e seu carinho. Como se precisasse apenas daquilo para que tudo voltasse a ser colorido na sua vida.
Seus pais mortos ou sua avó severa não existiam mais. Eram apenas elas duas e o resto do mundo. Elas e o seu amor incontrolável como fogo numa trilha de gasolina.
Separaram-se com um estalo, as respirações ofegantes.
— Você trouxe? — perguntou Joy. Yerim riu, assentindo.
Assistiu hipnotizada enquanto ela tirava o pequeno pacote de plástico de dentro do decote. Por um momento, chegou a acreditar que não aguentaria passar o resto da noite tão longe de seu corpo. Precisava de Yerim como precisava de ar para respirar. Afundou o rosto no seu pescoço, beijando cada pedaço de pele que pudesse alcançar.
— Vamos ter que fazer na mão, não tem onde apoiar — explicou Yerim com a voz fraca. Joy apenas concordou, imersa demais para entender sobre o que ela falava. — Vem cá, anda.
Afastou Joy e os seus beijos um pouco e despejou o pó branco da cocaína na palma da mão. Joy sorriu no seu reencontro, já ansiosa para sentir a mesma euforia da outra vez. A festa ficaria muito melhor daquele jeito e ela poderia ter energia o suficiente para aproveitar até o fim.
Sem esperar muito, se curvou e inalou o pequeno monte que Yerim separou para ela. Fechou os olhos, esperando fazer efeito enquanto sua namorada fazia o mesmo. Logo, as duas estavam sorridentes. Os corações aceleraram e bastou uma mísera troca de olhares para queimarem mais uma vez.
Joy não se importou se deixaria o pacote com todo o resto do pó cair no chão. Prensou Yerim mais uma vez contra a parede e a beijou com força, querendo descontar todo o amor avassalador que sentia dentro dela. Imaginou que poderia transpassar o sentimento em suas ações, de forma que Yerim conseguisse sentir sem que palavras precisassem ser utilizadas.
Estavam perdidas uma na outra, sem a noção dos perigos do mundo exterior. Joy só conseguia pensar em beijá-la sem parar, até que o mundo se reduzisse ao pó. Moraria para sempre em seus braços, abraçando-a com força e esmagando sua boca contra a dela como se mais nada importasse. Sua mente viajava nos cenários que ela criava, imaginando como seria estar ao lado de Yerim para sempre. Perdida e atordoada, não percebeu quando foi afastada de forma brusca enquanto passos soavam contra a escada de metal.
Joy não conseguiu ter muita noção do que acontecia ao redor. Sua cabeça rodou com o empurrão e Yerim continuou encolhida embaixo da escada, torcendo para a escuridão ser o suficiente para escondê-la. Joy tentou se aproximar de novo, mas no meio do caminho esbarrou em alguém, quase levando a pessoa ao chão.
Por sorte, conseguiram se segurar apoiando no corrimão da escada. Joy sentiu seus dedos agarrarem a roupa alheia, enroscando em finas correntes presas ao tecido. Tateando um pouco para voltar a ficar de pé, pode perceber que era uma menina ao seu lado. Automaticamente se encolheu, envergonhada pelo o que tinha acontecido.
— O que foi isso? — A voz melódica perguntou, claramente estressada pelo o que havia acontecido. — Quem está aí?
Joy fechou os olhos com força, tentando colocar a cabeça no lugar para responder. A menina começou a tatear o ar com impaciência, tentando alcançar quem estivesse perto dela. Não era possível enxergar quase nada no escuro, mas Joy sentia quando suas mãos cortavam o ar, ventilando de forma leve contra seu rosto.
— Se não me responder, vou gritar — ameaçou. — Seu pervertido!
Joy mordeu a língua, completamente envergonhada, mas decidiu se revelar de uma vez antes que tudo piorasse.
— Sou eu! — Apressou-se em dizer. — A Joy. Só Joy! Esbarrei sem querer, desculpa.
Sua voz saiu embolada e quase manhosa enquanto tentava responder qualquer coisa coerente. Sentiu-se sortuda por conseguir dizer aquelas poucas palavras sem vacilar e percebeu que havia deixado a menina um pouco mais tranquila, já que pôde ouvir seu suspiro aliviado. Então, uma risada baixa.
— Não conheço nenhuma Joy. Você tem certeza se pode transitar nessa área da festa, Joy?
Ela não conseguiu ver, mas ouviu o farfalhar das correntes e braceletes, imaginando que a menina estaria cruzando os braços ou movendo-os para gesticular. Joy ainda sentia sua cabeça rodar e tudo o que queria era sentar no chão para esperar o efeito passar, mas sabia que não podia fazer isso e deixar a garota ali, sem resposta. Por este motivo, se esforçou para continuar a conversa e poder voltar para os braços de Yerim.
— Sou organizadora. Posso ir onde eu quiser.
Ouviu um "ah" satisfeito e sentiu as mãos quentes tateando seus braços até encontrar a sua. A garota apertou sua mão em um cumprimento.
— Me chamo Seulgi. Sou sua contratada. — Mais uma risada. Joy riu junto sem entender o motivo. Apenas achou contagiante.
Se lembrou, então, de Kang Seulgi no palco junto da banda. Era uma cantora incrível, do tipo que só estava acostumada a ver pela televisão. Sorriu mais uma vez, ainda que não pudesse ser vista e só percebeu que precisava afastar a mão quando a própria Seulgi a soltou.
— Você está bem? — ela perguntou. — Sua voz está esquisita. Precisa que eu chame alguém? Sehun?
— Não! — Se apressou em dizer, se arrependendo em seguida por não ter soado sutil, mas as substâncias no seu corpo não permitiam que ela controlasse certos impulsos. — Eu estou bem! Juro que estou bem.
Seulgi ficou em silêncio, como se analisasse a veracidade daquilo.
— Tem certeza?
Impaciente, Joy revirou os olhos. Sentiu-se sortuda por não poder ser vista.
— Absoluta certeza de que estou bem, ótima e em perfeito estado — falou de uma vez, tão rápido que quase atropelava as palavras. — Vou lá para cima e quero ficar sozinha um pouco, para descansar.
Seulgi concordou.
— Tudo bem. Tem um amigo seu lá, de qualquer forma. Está dormindo no chão há um bom tempo, mesmo com a barulheira toda. — Ela riu mais uma vez e respirou fundo. — Então vou indo ver a festa. Vejo você por aí, Joy.
Joy assentiu, esquecendo-se totalmente que Seulgi não conseguia ver nada. Só percebeu seu silêncio quando ouviu o som dos sapatos pesados se chocando no chão. Seguiu os passos de Seulgi sem perceber e a única coisa que conseguiu ver foi a silhueta dela de costas, saindo da área privada, quando abriu a cortina para passar.
Sozinha com Yerim, Joy relaxou. Suas pernas amoleceram e seu corpo foi de encontro ao chão. Percebeu que tremia e, ainda que o galpão fosse abafado, sentiu um pouco de frio.
— Essa foi por pouco — sussurrou.
Yerim saiu de trás da escada, abaixando-se na sua frente e estalando os dedos com pressa na frente do seu rosto.
— Ei! Tá ouvindo? — Joy assentiu e Yerim, desistindo de tentar descobrir com palavras, tocou as mãos da namorada. — Você tá gelada!
Joy tentou murmurar alguma coisa, mas se sentia fraca como se não comesse há dias. Yerim estalou a língua e a chacoalhou em busca de respostas, mas só conseguiu tirar novos murmúrios de sua boca. Aquilo a fez perder a paciência.
— Você tem noção do que aconteceu aqui? — continuou segurando nos ombros de Joy com força, buscando reações. — Podíamos ter sido pegas, Sooyoung. Ou coisa pior! Você tem noção de que quase estragou tudo?
Yerim gritava. Ou, pelo menos, era o que parecia. Sua voz soava pela cabeça de Joy como se estivesse com um alto-falante apontado para seu ouvido. Fechou os olhos e tentou pedir para ela parar. Estava bêbada, drogada e sensível. Sentia o estômago revirando e lágrimas surgindo no canto dos olhos, mas não conseguia dizer uma palavra sequer.
— Você é uma irresponsável. Primeiro as fotos, agora isso de me beijar em público! O que vai acontecer quando formos pegas, Sooyoung? O que vai acontecer se descobrirem?
Não sei, quis dizer. O que era a verdade. Ela era incapaz de saber. Conhecia a maldade do mundo e já tinha ouvido falar no que as pessoas faziam com quem era diferente. Tinha medo todos os dias, mas Yerim dava força para que conseguisse agir com coragem. Na sua opinião, era tudo o que importava. Queria que ela entendesse, mas não conseguia falar.
— Desse jeito, não vou conseguir ficar com você.
O medo fez com que seu coração acelerasse mais. Joy estava ao ponto de gritar. Yerim, finalmente, soltou seus ombros e se afastou. Fez com que tudo ao redor de Joy se tornasse ainda mais frio e ela desejou, desesperadamente, ter mais do seu calor. A distância deixava tudo pior. Mas Yerim ficou de pé e seus passos começaram a se afastar.
Joy contou todos eles. Não sentiu quando seu choro começou, até que um soluço escapou pela sua garganta. Estava engasgada com as próprias palavras. Quando Yerim deixou a área privada, foi como se tudo desentalasse. Apoiou as mãos no chão e vomitou, sentindo o alívio quase imediato do enjoo.
Seu estômago, no entanto, continuou doendo assim como seu coração. Se encolheu até que suas costas tocassem a parede e continuou chorando alto, sabendo que ninguém seria capaz de ouvir. Chorou por se sentir burra, chorou por sentir falta de Yerim e, principalmente, chorou por acreditar em tudo o que lhe foi dito.
6
Não tinha a noção de que horas eram quando saí do palco.
As pessoas ainda estavam enérgicas, gritando felizes quando me despedi e guardei a guitarra de volta na case. Taemin não demorou um minuto para deixar outra música tocando e eu me atirei na lateral do palco, morto de cansaço. Sehun ainda estava lá, junto de Seulgi. Os dois riam na minha direção e eu não consegui evitar a surpresa. Pensei em perguntar sobre Hyo, mas Sehun começou a falar:
— Eu disse que você ia se sair bem. — Ele me entregou um copo de água, que bebi em poucos segundos. — Como está se sentindo? Foi a sua maior plateia até hoje!
Eu apenas sorri da maneira que pude, totalmente sem graça por ele dizer aquelas coisas na frente dos outros. Dei de ombros, sem conseguir disfarçar minha expressão ao lembrar de como me sentia incrível momentos antes. Seulgi apertou minha bochecha. Os outros membros da banda se aglomeravam na roda, alguns sentando ao meu lado e outros ficando de pé.
— Você é fofo, garoto — disse Seulgi. Vendo-a de perto, me lembro de associar sua aparência com uma mistura exótica entre Cindy Lauper e Joan Jett. — Me surpreendeu, de verdade.
Fiquei um pouco nervoso com o sorriso que ela me dirigiu. Receber um elogio daqueles vindo de Seulgi era uma das maiores honras da noite e eu nem consegui me importar quando me dei conta de que sorria de volta, abobado. Não demorou muito para os rapazes tirarem sarro da situação, fazendo Seulgi revirar os olhos.
— Não acredito que ele te conquistou rápido assim, enquanto eu tento isso há semanas! — reclamou Minho, recebendo um tapa de Kibum na sua nuca, que ria ao ponto de estar vermelho.
Seulgi ficou séria e cruzou os braços, voltando a postura endurecida de antes.
— Quantas vezes tenho que dizer, hein? — perguntou, estalando os dedos na frente de Minho para ele prestar atenção. — Eu gosto de mulher, Minho, mu-lher!
Arregalei os olhos sem querer. Não por achar aquilo estranho, mas surpreendente. Seulgi foi a primeira pessoa conhecida que vi falar sobre algo do tipo tão abertamente. Além dela, só haviam as meninas no cinema, mas eu não as conhecia e não era capaz de dizer o quanto que as admirava por aquela coragem. Naquele momento, Seulgi virou uma espécie de ícone aos meus olhos. Ela era tão confiante, tão artística e tão ela mesma que tudo o que eu senti foi vontade de ser igual. Queria ser corajoso e forte como ela, também.
Nossos olhares se encontraram e pude ver um pequeno sorriso se formando nos seus lábios. Imaginei que ela tinha entendido o motivo de a encarar daquela forma. De certo modo, éramos diferentes de uma forma parecida. Piscou um dos olhos na minha direção e me senti acolhido, mesmo que nenhuma palavra fosse necessária. Nos entendemos ali.
Os rapazes ainda tiravam sarro de Minho. Nenhum deles se importava com o que Seulgi havia dito. Eles a respeitavam como igual e a apoiavam como uma família. Era o que eu esperava quando pudesse dizer abertamente aos meus amigos que gostava de meninos também. No entanto, ainda não era a hora. Eu saberia o momento certo de compartilhar aquilo com eles e, além do mais, não via a necessidade ainda.
Baekhyun chegou com a mesma bandeja que Sehun usava antes. Nela haviam copos cheios de cerveja para toda a banda, como cortesia pelo show incrível que fizeram. Comemorações interromperam as brincadeiras contra Minho. Todos aceitaram, menos Seulgi, o que fez com que sobrasse um copo.
Tentei erguer a mão para pegar, mas Baekhyun foi mais rápido e começou a beber. Não consegui disfarçar a decepção. Ainda estava morrendo de calor e sede.
— Ei — chamei sua atenção. Seus olhos me fuzilaram da mesma forma típica de sempre e eu não consegui segurar meu sorriso. — Eu não ganho nada?
Fiz a pergunta em tom de brincadeira e alguns até riram baixinho, mas Baekhyun continuou sério. Seu olhar variou entre o copo nas suas mãos e o meu rosto, como se decidisse de qual forma iria me alfinetar de volta. Suas mãos tremeram um pouco e eu vi quando o plástico amassou levemente pelo seu aperto. Tentei dizer que não precisava mais, mas Baekhyun simplesmente atirou toda a cerveja no chão próximo aos meus pés.
Demorei um pouco para assimilar o que ele havia feito. A bebida espirrou para todos os lados e molhou a barra da minha calça.
Todos ficamos em choque. Ainda que o resto da festa explodisse em música e vozes, era como se uma redoma de silêncio tivesse se instalado ao redor de nós. Eu não fiquei bravo. Estava acostumado com Baekhyun e, no fundo, já esperava que ele fizesse algo do tipo. No entanto, ninguém da Vacation tinha presenciado algo do tipo antes.
Baekhyun deixou a roda, batendo os pés com força. Quando ele estava distante o suficiente, não aguentei segurar a risada.
— Isso... é normal? — perguntou Jonghyun. Assenti com a cabeça.
— Infelizmente.
Então eles riram junto comigo, ainda desacreditados com o que tinham acabado de ver. Sehun se aproximou silenciosamente, sentando ao meu lado e apoiando o cotovelo no meu ombro. Olhei para ele, buscando entender o motivo daquela aproximação repentina, mas então ele começou a falar:
— Você sabe porque ele está assim, não sabe?
— É o Baekhyun. — Dei de ombros. — Existe algum dia que ele não esteja assim?
Sehun riu, negando com a cabeça. Percebi que ele falava mais baixo, não queria ninguém participando daquela conversa.
— Eu acho que a culpa é minha — revelou. — Falei algumas coisas mais cedo e acho que ele ficou confuso.
Me ajeitei para que pudesse ficar de frente para ele, olhando-o diretamente. Não conseguia segurar minha curiosidade, principalmente quando se tratava de algo sobre Baekhyun. Assenti lentamente, num pedido mudo para ele continuar, porém Sehun não fez isso de primeira. Parecia ponderar se deveria ou não me contar o que tinha em mente. Aquilo me deixava louco. Estava prestes a pedir verbalmente para que me dissesse de uma vez, quando cortou qualquer coisa que eu pudesse dizer:
— Digamos que Baekhyun queira um beijo — contou. — Ver tantas pessoas por aí se agarrando umas nas outras pode ter deixado ele carente.
Ri daquilo e Sehun me acompanhou.
— Isso me lembra uma conversa que tivemos antes. Quando ele descobriu que eu não tinha beijado ninguém e me zoou por isso.
Foi no último Éden, mas parecia uma época distante conforme eu lembrava por causa da quantidade de coisas que mudaram depois daquela noite.
— Ele fez isso?
— Aham. E na mesma noite eu fiquei com Joohyun.
Sehun estalou a língua, negando com a cabeça com um sorriso convencido no rosto. Me perguntei o motivo de ele ver tanta graça no assunto. Claro que a raiva de Baekhyun sempre seria engraçada, mas eu ainda não entendia onde ele queria chegar.
— Posso ser sincero? — pediu. Concordei sem dizer nada. — Acho que o Baekhyun quer um beijo seu.
Então, de repente, foi como se tudo ficasse turvo.
Senti meu rosto queimar e os olhos arderem quando os arregalei em surpresa. Uma sensação elétrica surgiu no meu estômago, subindo como se eu fosse vomitar meu nervosismo. Aquilo, sim, era uma surpresa. Eu acreditava fielmente que meu interesse por ele permaneceria unilateral até que eu o esquecesse. Eu ignorei a sensação nova, deixando apenas a admiração visível enquanto escondia minhas reais intenções por trás de tudo.
Afinal, Joohyun existia. Eu nunca me apaixonei por ela, mas não teria coragem de me envolver com outra pessoa ao mesmo tempo.
Mas Joohyun foi bem clara, sem que restassem dúvidas de que ela ainda poderia querer estar comigo depois que neguei seu pedido.
Mas aquilo era apenas um achismo de Sehun. Não era a realidade e Baekhyun podia sentir muitas coisas por mim. Ódio, rancor, indiferença. Nenhuma delas era interesse. Ainda que ele pudesse gostar de beijar meninos, o último menino da Terra que ele beijaria sou eu.
Você está longe da minha lista de prioridades , ele disse.
— Isso é impossível — falei depois de um bom tempo em silêncio, apenas pensando sobre todas aquelas questões. — Baekhyun me odeia. A única coisa que ele quer de mim é distância.
— Quer distância porque não suporta a ideia de ficar perto de você sem poder te ter — respondeu, fazendo minha garganta secar.
— Isso... Não! — Busquei incansavelmente por provas de que ele estava errado, mas minha cabeça estava em branco. Então, lembrei de um detalhe importante. — Como você deduz assim que eu gostaria de beijar ele?
Sehun riu, como se a resposta fosse a coisa mais óbvia do universo.
— Eu não sou burro. Sou como vocês. — Apertou a mão no meu ombro, o que me fez entender que ele queria mesmo que eu acreditasse no que dizia. — E está tudo bem se vocês quiserem se beijar. Vou guardar o segredo...
A última parte foi dita com a voz baixa e eu me vi perdido. Parte de mim queria aceitar, enquanto a outra me dizia que acabaríamos na mesma e, talvez, com um pouco mais de constrangimento. Sehun não vacilou. Me encarou com intensidade e continuou com a mão em meu ombro, dando a entender que não falaria aquelas coisas à toa.
De alguma forma, ele tinha certeza das suas palavras.
Então comecei a ficar nervoso.
— Está falando sério? — quis confirmar, mesmo já sabendo a reposta.
Sehun apenas sorriu.
— Vai lá, garoto. Acho que ele foi lá para fora. — Piscou um dos olhos. — Depois você me agradece.
Respirando fundo, me levantei do lugar. Meus pés pareciam chumbo no chão, mas continuei dando um passo atrás do outro sem olhar para trás e correr o risco de desistir. Ignorei todos a minha volta e mantive meu olhar fixo na porta da saída. De repente, ela estava ao alcance dos meus dedos e não havia mais volta.
Eu saí do galpão.
A brisa gelada da noite me recebeu. Era uma sorte que ventasse bastante perto das praias, dessa forma o calor não se tornava insuportável. Haviam algumas pessoas na rua. Amigos bêbados e cambaleantes tentando seguir seu caminho para casa. Nenhum sinal de Baekhyun. Ignorei todos e comecei a andar, querendo dar a volta no galpão para me certificar se ele ainda estava por perto.
Meu coração batia tão forte que eu conseguia senti-lo nos ouvidos. Por incrível que pareça, foi o barulho ensurdecedor dele que não me deixou desistir. Eu me concentrei nisso, tentando bloquear qualquer situação externa que pudesse me fazer desistir. Andei firme, um pé atrás do outro, deixando pelo caminho qualquer coisa que pudesse me empurrar para trás.
Eu já estava ali, afinal de contas. As consequências viriam depois.
Havia um beco ao lado do galpão, onde deixamos a kombi estacionada para não atrapalhar a entrada do Éden. Estava tudo escuro e os postes mal iluminavam, mas ao entrar nele consegui visualizar a chama tímida de um cigarro aceso e uma silhueta encostada no veículo. Era Baekhyun. Não precisei de mais de dois segundos para reconhecer sua postura que era única e inconfundível. Quis correr, mas não permiti que meus pés realizassem essa vontade. Continuei firme, me aproximando devagar.
— Você tá fumando — observei, chamando sua atenção.
Baekhyun virou para mim, ainda à alguns passos de distância e soprou a fumaça em direção ao meu rosto. O cheiro de nicotina preencheu minhas narinas, mas não me importei. Estava me acostumando com ele. Continuei me aproximando devagar sob seu olhar sério. Não demonstrava reação alguma e aquilo me dava vontade de correr.
— Peguei o maço do Sehun — disse, voltando a tragar.
Encostei na kombi ao seu lado e fiquei em silêncio. Tentei olhar para o céu estrelado e me distrair, mas era difícil. Sua presença marcante me atraía demais e eu não era capaz de manter minha visão longe por muito tempo. Observei com cuidado os seus movimentos. A forma como seus dedos longos seguravam o cigarro e levavam até seus lábios. Ele parecia fazer tudo com uma experiência desconhecida. Tragava de forma lenta e segurava por uns bons segundos antes de soltar a fumaça.
Me perguntei o que o levou a começar a fumar, mas logo espantei minha curiosidade. Não estava ali para deixa-la assumir.
Com cuidado, pigarreei para que me olhasse de volta.
— Ele me contou que você queria uma coisa e por isso estava chateado.
Não sabia como começar aquilo e senti que minha escolha foi péssima, uma vez que Baekhyun franziu o cenho. Estava perdido e não duvidava que ele não soubesse do que eu estava falando.
— Ah é? — perguntou com tédio na voz, desistindo de me olhar. — E o que eu quero?
Engoli em seco. A coragem ia embora como água numa torneira aberta, descendo pelo ralo. Senti minhas mãos suando e tentei limpá-las na minha calça, sem muito sucesso. Respirei fundo algumas vezes e o olhar de Baekhyun voltou a queimar na lateral do meu rosto. Eu estava muito, muito ferrado, mas resolvi continuar.
— Ele disse que você quer um beijo — falei de uma vez, sem olhá-lo de volta.
Silêncio.
Nem mesmo o som das suas tragadas podia ser ouvido. Baekhyun congelou no lugar e eu também. Os dois estáticos olhando a parede pichada do outro lado do beco, as latas de lixo, um pequeno lagarto que rastejou até se esconder na escuridão. Foram como horas passando. Fiquei tão nervoso que mal conseguia respirar de novo, esperando qualquer reação de Baekhyun. Qualquer uma.
Então ele atirou o resto do cigarro no chão e pisou em cima.
— Eu, honestamente, espero que você esteja me zoando, Park Chanyeol. — Tentei responder, mas ele interrompeu. — Sehun passou todos os limites agora. Ele é um merda e você é mais!
— Ele não falou com más intenções, ele só...
— Só o quê? Decidiu dizer justo para você para que pudesse vir tirar uma com a minha cara de vingança? — Ele andou até estar na minha frente e cruzou os braços.
Não entendia mais nada. Então ele, realmente, estava admitindo que o que Sehun disse era verdade? O meu nervosismo me atingiu no estômago como um chute. Não tinha colocado fé nenhuma, mas eu já estava ali parado e desejando ser a pessoa que Baekhyun beijaria naquela noite. A veracidade das coisas me deixou perdido naquele momento, mas tentei me recompor e justificar da melhor forma que pude.
— Eu nunca usaria isso como vingança, Baekhyun! Eu só... Eu só pensei que...
Tapei o rosto com as mãos, tentando colocar os pensamentos no lugar e conseguir falar de uma vez por todas o que eu queria.
— O quê? — Riu com escárnio. — Que poderia vir aqui matar minha vontade?
Não respondi nada. Decidi que meu silêncio seria a melhor resposta que eu poderia dar. Torci para que Baekhyun entendesse. Ele continuou ali, me encarando como se fosse um absurdo, mas a verdade é que não era. Era algo esquisito e recente, mas tão real quanto estar na sua frente naquele momento.
Ele negou com a cabeça. Sua mão foi em direção a boca, como se quisesse tragar o cigarro já inexistente. Então, a confusão deixou seus olhos, dando lugar para a raiva. Me encolhi sem nem perceber quando apontou o indicador na minha direção.
— Me responde uma coisa. — Aquilo não era uma pergunta. Ele me faria falar de um jeito ou de outro. — Você tem noção do que está falando, Chanyeol?
O encarei sem reação alguma. Não sabia o que dizer. Minha noção já havia me deixado desde o momento em que resolvi me levantar e vir até ele. Dei de ombros, sem saber como usar as palavras e aquilo fez com que Baekhyun perdesse ainda mais a paciência.
— Para você deve ser muito fácil, não é? — Sua voz saiu baixa e ele riu sem humor, fungando o ar. — É só aparecer sendo você e todos já caem de amores. Está tão acostumado a ter todos aos seus pés que você com certeza não sabe nem o que significa o peso da rejeição.
Tentei negar e corrigi-lo. Ainda que eu tivesse alguns amigos que me consideravam, não era daquele jeito que as coisas funcionavam para mim. No entanto, seu tom de voz aumentava e ele apenas continuou falando como se nada pudesse impedir.
— Por onde você passa, você atrai olhares. Você tem talento, você cativa todo mundo ao seu redor e o pior é que não precisa fazer nada por isso! Não se esforça nem um pouco para fazer amizades, as pessoas simplesmente querem estar perto de você! Em poucos dias você conquistou o Sehun, todos do grupo te amam, tem uma garota linda aos seus pés e mais uma fila esperando a vez delas e até a vocalista da Vacation que eu nunca tinha visto sorrir estava sorrindo para você. — Ele parou um pouco, tentando recuperar o ar e continuar. Imaginei que, se estivéssemos com mais luz, conseguiria ver suas bochechas vermelhas de raiva. — E, então, existem pessoas que nem eu. Que fazem de tudo para agir da forma certa e não conquistam nada nem ninguém.
Seu olhar vacilou e ele começou a encarar nossos pés. Sem resistir, o segurei pelos ombros e o puxei para perto em busca de passar algum conforto. Baekhyun, de repente, parecia frágil de novo. Seus muros caíram de uma só vez e ele se expôs de uma forma que jamais presenciei. Naquele momento, dividíamos muitas coisas. Vontades oprimidas, frustrações e um abraço desajeitado que ele não fez o mínimo esforço para corresponder.
— As coisas são difíceis para todo mundo, mas cada um de uma forma — respondi baixinho. Era a única coisa que conseguia pensar e torcia para ser o bastante. — E, se quer saber, Joohyun me deu um pé na bunda.
Baekhyun afastou minhas mãos com um sorriso irônico.
— É por isso que você veio aqui? Quer que eu te console pelo seu coração partido?
Ele não se afastou. Estávamos próximos de uma forma que sua respiração batia no meu queixo. Não desgrudei os olhos dos seus. Mesmo à pouca luz do poste da rua, eles brilhavam na minha direção. Aos pouquinhos, Baekhyun ficava pacífico novamente e o meu coração parecia ao ponto de explodir dentro do peito. Nunca, em toda minha vida, havia presenciado algo tão forte quanto aquilo.
Neguei com a cabeça quando me dei conta do tempo que demorava para dar uma resposta.
— Nunca gostei dela o bastante para me importar com isso.
Percebi quando ele segurou o ar e engoliu em seco. Só conseguia notar esses pequenos detalhes porque estávamos perto o suficiente para aquilo. Ali, eu tinha cada vez mais certeza de que era onde eu queria estar. Queria beijá-lo. Um garoto. Eu queria mesmo beijar um garoto. Queria sentir o sabor da nicotina que deixou o cheiro na sua pele, queria saber qual era a sensação de estar próximo de um corpo tão parecido com o meu, de forma que não existisse nenhum espaço restante.
Eu queria muito beijá-lo, mas não tomaria nenhuma iniciativa.
— Você... é um idiota.
Ele sussurrou fechando os olhos. Fiquei hipnotizado pela forma lenta como seus lábios se moveram, mas durou pouco. No segundo seguinte, Baekhyun me beijou.
Não movemos as bocas de início. Suas mãos pressionaram a minha nuca e eu anulei qualquer distância que pudesse existir entre nós quando segurei em sua cintura e o mantive por perto. Percebi como que minhas mãos se encaixavam bem ali e não tive vontade alguma de soltá-lo. Pelo contrário. Foi apenas um selar, mas era o suficiente para que todo meu corpo implorasse por mais.
Ele se afastou minimamente, apenas para que eu pudesse ver os seus olhos. Então sorriu do seu jeito maldoso e eu me derreti por aquele sorriso, esquecendo todas as outras vezes em que ele me foi dirigido junto das suas ofensas. Baekhyun voltou a me beijar e eu aprofundei o beijo no segundo em que tive chance.
A sensação de tê-lo tão próximo de mim, enquanto explorava seu gosto e sentia seu corpo junto ao meu, era a de flutuar. O encaixe veio de uma forma certeira, de um jeito que nunca pensei que fosse possível. Sabíamos o ritmo certo e os locais certos para deixar nossas mãos. Me aventurei em morder seu lábio inferior, algo que nunca tentei fazer antes, e me deliciei com o murmúrio satisfeito que ele deixou escapar.
Existem muitas palavras que somos incapazes de encontrar a definição exata. São coisas como certeza, perfeição ou sentimentos complexos, como o amor. Existem milhões de interpretações ao redor do mundo e, de certa forma, todas estão certas. O que importa é parecer certo para quem assume a definição para si. Com aquele beijo, muitas definições foram estabelecidas no meu dicionário pessoal. Eu poderia definir aquele momento como qualquer uma delas. No entanto, escolhi a palavra "satisfação", como se eu não precisasse de mais nada naquela noite.
Vozes altas vindas da rua nos separaram.
Nos encaramos com as respirações ofegantes. Baekhyun olhou por cima do ombro assustado porque os passos estavam próximos e logo passariam em frente ao beco. Tive medo de que ele se afastasse e o momento anterior virasse apenas uma memória distante. Mas Baekhyun sempre me surpreendia.
— Merda... — praguejou baixinho.
Com uma das mãos, abriu a porta da kombi e começou a me empurrar para que eu entrasse. Não consegui parar de pensar que era uma sorte Sehun sempre se esquecer de trancar a porta de trás, mas Baekhyun tinha pressa em me fazer sentar no banco, o que não deixava brechas para mais nada cruzar minha mente.
Ele fechou a porta e fomos envolvidos pelo o escuro no interior do carro. Apenas alguns feixes de luz nos guiavam em direção ao outro, mas era o suficiente. Baekhyun se sentou no meu colo, deixando uma perna de cada lado e voltou a me beijar antes de dar tempo de eu falar qualquer coisa. Eu não era nem louco de interromper aqueles beijos para dizer qualquer coisa que fosse.
Minhas mãos começaram a explorar embaixo da sua camisa — camisa tão bonita do David Bowie —, e senti sua pele arrepiar abaixo dos meus dedos. Moveu o quadril para frente, como se quisesse nos fundir em um só e, só então, percebi como estava dolorosamente duro lá embaixo. Aquilo arrepiou meu corpo inteiro. O estímulo era uma das melhores que eu já tinha experimentado até então, por isso não resisti em incentivá-lo a se mover mais uma vez apenas para sentir de novo.
Para minha infelicidade, Baekhyun partiu o beijo. Ele continuou sorrindo da sua forma maldosa enquanto eu tentava alcançar seus lábios mais uma vez, mas sem sucesso.
— Quer saber de uma coisa? — sussurrou com o rosto rente ao meu.
Quis responder que não queria saber de nada além dele, mas não tive forças. Ele começou a mover o quadril de forma lenta, fazendo movimentos circulares certeiros em cima do meu pau e me levando a grunhir baixinho, então continuou a falar:
— Ela pode ter roubado seu primeiro beijo. — Começou a beijar meu rosto, descendo pela mandíbula até o pescoço, sem deixar de se mover. — Mas eu quero fazer algo que nenhuma das meninas que vivem atrás de você é capaz.
Eu aceitaria qualquer coisa que ele me oferecesse com aquela voz, mas Baekhyun não me deu nem a chance de falar. Me olhou com intensidade, sem quebrar o contato visual enquanto suas mãos ágeis abriram o botão da minha calça. Ele se afastou do meu colo e eu ergui o quadril para que pudesse descer o cós, junto da cueca. Quase fiquei tímido com aquilo, mas meu corpo inteiro estava quente e implorando por ele. Aproveitei o momento para tirar minha jaqueta de couro, mas ainda não era o suficiente para evitar a combustão.
Baekhyun voltou a beijar meu pescoço de um jeito que me fazia derreter em suas mãos da forma mais louca. Ele mordiscou minha pele e chupou como um verdadeiro experiente, o que me surpreendia. Não tinha, no entanto, do que reclamar. Aquilo era maravilhoso e só melhorou ainda mais quando sua mão escorregou entre nós dois, chegando no meu pau ereto.
— O que... O que você vai fazer? — perguntei quando o vi se ajoelhar no espaço entre os bancos, mas nenhuma palavra da sua parte foi necessária. — Ah...
Aquela noite, sem sombra de dúvidas, entraria pra história.
#MyDearHeaven
Quando o Quiet Riot regravou Cum on feel the noize nos anos 80, foi uma jogada cheia de riscos. Em uma época onde o pop começava a dominar as paradas, a banda não tinha seu cenário mais favorável. No entanto, a regravação foi o que colocou o álbum deles no topo das paradas! Nesse capítulo, Chanyeol comentou muito sobre fazer história e o legado deles na cidade e, por isso, foi a escolha perfeita. Uma música que convida os outros a participarem e que, cantada por um garoto qualquer numa festa, marcou uma geração inteira de adolescentes em Hyegung.
Sugiro, também, que ouçam a versão original do Slade! É a minha favorita <3
Você pode encontrar essa e outras músicas na playlist! Link na bio <3
Antes de tudo, quero agradecer minha beta @yxinsg!! Você é a melhor de todas, eu juro!!
Mais de 70 mil palavras até esse beijo, meu deus como fui forte!! Claro que esses bebês tem muito caminho pela frente, mas podemos comemorar as pequenas vitórias, certo? Eu guardo essa cena deles HÁ ANOS SÉCULOS ERAS e é quase um crime eu, uma pobre coitada, não ter direito de chegar pras pessoas e dizer "O BAEKHYUN AJOELHOOOOOU" simplesmente porque manter o segredo é mais gostoso :(
Enfim, foi um capíutlo bem longo e cheio de surpresinhas bobas e gostosas! Daqui pra frente o ritmo continua intenso, hein? Na verdade eu gosto de brincar dizendo que "daqui pra frente é só pra trás" o que é verdade... Mas não é hora disso! Prometo um verão do jeitinho que tem que ser, beleza? Bem divertido e com experiências novas, eles merecem um descansinho <3
Não deixem de me dizer o que acharam, ok? Eu fico doida caçando vocês depois pra ler o que estão falando da fic!! Eu amo as reações, não nego!! Espero, de verdade, que toda a espera dos chanbaekists tenha valido a pena hehe
Com amor, Sandman <3
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