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03

TERCEIRO DIA COM PROBLEMAS

Você adora bandas quando elas tocam bem

Você quer mais e quer rápido

Eles te colocam para baixo, dizem que estou errado

Sua coisa brega, você os engana

(Rebel Rebel, David Bowie)


Ele escapava das minhas mãos como o vento e ainda assim caminhava como se o mundo o pertencesse. Ele era a luz e a escuridão, a pessoa mais forte que já andou por aquelas ruas, mas não forte por aguentar muita coisa. Baekhyun aguentou, de fato, mas ele sempre foi forte porque lutava como ninguém.

Sehun estava encostado no muro da sua casa, fumando um cigarro quando Baekhyun apareceu enrolado no cobertor e abraçado ao travesseiro. Um riso sarcástico saiu dos seus lábios.

— Festa do pijama?

— Cala boca.

Ele soprou a fumaça contra seu rosto e Baekhyun faltou engasgar. No entanto, não queria dar o gostinho a ele. Não queria se mostrar fraco.

— Deveria tratar melhor seu irmão mais velho, irmãozinho.

Aquilo o fez ferver. Suas mãos se fecharam em punho, coçando para se encontrar com o nariz de Sehun. Estava no limite desde a manhã daquele dia e era só o primeiro dia.

— Eu prefiro morrer do que ser irmão de alguém igual a você. Um bandido.

Sehun desencostou do muro. Jogou o que sobrou do cigarro longe, sem o mínimo remorso de sujar a rua limpa. Eles ficaram cara a cara. Ao ponto de suas respirações se encontrarem e o cheiro de nicotina invadir as narinas de Baekhyun.

— Cuidado com as palavras — ameaçou num tom baixo, quase sussurrando. — Pode se arrepender de todas elas.

— Então faça com que eu me arrependa.

Empurrou Sehun com o indicador e se afastou, pronto para entrar em casa. Já de costas, ele ouviu uma risada cheia de escárnio.

— Logo vai perceber que somos mais parecidos do que você pensa, Baekhyun. Na sua idade eu também não passava de um moleque numa rua qualquer. A diferença é que a vida do lado de fora dessa ilha é diferente... Um dia você vai se arrepender e o único a causar isso vai ser você mesmo.

Aquele foi o estopim. Baekhyun só teve noção do que fez quando Sehun se curvou, segurando o nariz ensanguentado depois do soco certeiro que o atingiu.

— Eu não sou igual a você — disse, ainda chocado e com a mão latejando de dor pelo seu impulso.

Na manhã seguinte, Sehun diria que só estava inchado porque pisou em falso num buraco na rua e Baekhyun o encararia na mesa do café, sem entender porque ele o encobriu.

2

Decidi que voltaria para casa.

Não podia viver no clube para sempre, assim como não podia fugir de todos para sempre. Foi meu primeiro passo para enfrentar as consequências que eu arcava desde o momento em que saí do colégio, sem a pretensão de voltar.

A conversa com Baekhyun, de alguma forma, me inspirou. Ela me fez entender que determinadas coisas foram feitas para serem resolvidas. Outras não. Ainda que eu quisesse resgatar o pequeno laço de amizade entre a gente, parecia algo impossível naquele momento. Teria que deixar as coisas esfriarem e tentar não me preocupar muito. Reconstruir a relação com a minha família era inevitável. Ainda que fosse tão difícil quanto, era necessário superar alguns obstáculos para seguir em frente.

Atravessei a porta da frente com o coração na mão, mas com a certeza de que era algo que ninguém mais conseguia fazer. Apenas eu.

Mamãe estava no fogão, preparando a refeição da manhã.

— Ah! Você voltou.

Tentei não me surpreender com a sua voz, mas foi impossível. Eu mal conseguia lembrar como ela soava depois de tantos dias de silêncio sendo dirigido a mim. Não importava a falta de animação no seu tom ou se para ela aquilo não significava o mesmo. Minha mãe estava falando comigo.

— Não ia ficar longe por muito tempo, você sabe.

Ela suspirou. Tirou as panelas do fogo e se virou para mim, ajeitando o cabelo curto como reflexo do seu nervosismo. Era confortante saber que eu ainda a conhecia e sabia diferenciar seus atos tão característicos. Meu coração se apertou com a saudade que senti de quando os dias conseguiam ser mais leves e divertidos.

— Vá se lavar antes das suas irmãs acordarem.

Ela se retirou. Sem me dar a mínima chance de puxar algum assunto. Respirei fundo e tentei acalmar meu coração. Tudo bem, tentei me convencer. Passos pequenos, estava tudo bem.

Depois do banho, fui para o meu quarto. Não estava com fome e a gritaria entre minhas três irmãs tinha seu início, o que me fazia querer ficar longe por um tempo. Apesar de ter passado as duas últimas noites em um sofá, senti falta das minhas coisas.

Meu quarto sempre foi modesto. Tem um único armário e roupas de cama no chão, nenhuma janela. O quarto dos meus amigos costuma ter livros, fotos na parede e outras coisas importantes para eles. Nunca consegui ter nada do tipo. Parecia estranho querer decorar e tornar meu um ambiente onde eu já não me sentia mais em casa. Meus instrumentos melhorariam um pouco esse aspecto vazio, talvez, mas não pretendia tirá-los do clube.

Deitei no chão e me enrolei nos cobertores, pronto para dormir mais um pouco. No entanto, ainda de olhos fechados, senti alguém se aproximar, deitando do meu lado. Seu cabelo roçou nas minhas bochechas e uma risada baixinha foi soprada contra meu nariz.

Hyoyeon.

Abri os olhos devagar, vendo seu rosto próximo ao meu. Tinha os olhos pequenos de mamãe e o nariz era como os dos familiares de papai. Nada parecido comigo. Talvez seu sorriso e o cabelo preto que, diferente do liso das nossas irmãs, caía em ondas pelos seus ombros até o meio das costas, assim como os meus ondulavam no topo da cabeça. Ela arqueou as sobrancelhas, como se me questionasse algo, mas não me movi do lugar.

— Eu sei que você não dormiu aqui, não adianta fingir.

Não resisti em bufar. Queria ficar um pouco sozinho no meu silêncio, mas era impossível, vivendo na mesma casa que aquelas três. Afundei meu rosto contra o travesseiro.

— Não estou fingindo. Só quero dormir mais — respondi com a voz abafada.

— Onde dormiu?

— No clube.

Hyo fez um som de nojo.

— Vocês ainda brincam naquele lugar? Devem ter ratos vivendo dentro daquelas paredes, Chanyeol.

Me virei para olhá-la, apoiando minha cabeça em um dos braços.

— Não vamos lá pra brincar. É apenas pra passar o tempo, Hyo, e pra sua informação, não tem ratos. Cuidamos do clube, ok?

— Se está dizendo...

Ela virou de barriga para cima, observando o teto sob nossas cabeças. Eu sabia que ela queria me dizer algo. Estava implícito na forma como movia as mãos rente ao corpo e mordia seu lábio ao ponto de tirar as pelinhas. Já ouvi dizer que irmãos podem ser telepatas, mas a verdade é que a convivência faz com que você perceba coisas do outro que, às vezes, nem eles sabem. Eu conhecia tudo sobre minhas irmãs. Ou pelo menos conhecia o que elas levavam para dentro de casa, já que, assim como tenho meus segredos, eu imagino que elas tenham também.

— Vamos, pode dizer por qual motivo está aqui.

Hyo arregalou os olhos na minha direção.

— Você é direto.

— Só estou com sono. — Revirei os olhos e ela copiou meu ato.

— Conta outra. Só quer me expulsar daqui. Nem parece mais o meu irmão mais novo, aquele pequeno e gordinho. — Ela começou a relembrar, fazendo uma voz fofa. — Você era tão esquisitinho, Chanyeol! Eu sentia vontade de morder suas bochechas o dia inteiro.

Noona, se concentra. Me fala o que você quer falar e, por favor, para de lembrar disso. — Tapei o rosto com as mãos, esfregando os olhos.

Hyoyeon riu, apertando minha bochecha como se ilustrasse o que ela dizia. Eu sabia que fui um bebê gordinho com bochechas salientes. As poucas fotos do álbum familiar comprovam isso, mas eu mudei muito conforme cresci. Nesse dia, por exemplo, ela mal conseguia encher seus dedos com a minha pele de tão magro que eu estava. No futuro, foi ainda pior. Ela mal podia me tocar.

— Eu só queria ficar um pouco com você — confessou. — Nos últimos tempos tudo ficou distante, mas somos uma família, não somos? As famílias ficam juntas.

Eu quis rir pela ironia. Relembrando de todos os meus atos, um tanto falhos, de manter uma conexão com as outras pessoas dessa casa sem muito sucesso. Não falei nada, apesar disso. Não queria magoar a única pessoa daquela casa que ainda se importava comigo.

— Em que momento você percebeu?

— Quando Taeyeon te bateu — disse tão rápido que eu mal consegui ouvir. — Ela nunca teria feito isso se fôssemos como antes. Os quatro. Foi aí que percebi que tudo mudou.

Assenti com a cabeça. Pelo menos ela foi honesta. Honestidade era uma coisa que desenvolvíamos de forma lenta e era difícil de se ter. Em alguns momentos, conseguimos ser honestos uns com os outros sem medo dos julgamentos, mas na maioria das vezes não foi assim. Decidi ser honesto naquele momento porque era a coisa certa a se fazer depois de tê-la se abrindo um pouco.

— Eu precisava pegar o ônibus para ir ao centro. Por isso peguei as moedas, porque eu vi quando Taeyeon guardou elas por lá. — Hyo assentiu, me incentivando a continuar. — Fiz isso porque eu pretendia pagar depois, com o emprego que eu conseguisse.

O véu da compreensão pareceu ter caído sobre ela e toda sua expressão mudou. Levou uma das mãos até meu rosto e acariciou com o nó dos seus dedos. Seus olhos brilharam mesmo na pouca luz e eu torci para não serem lágrimas. Não saberia lidar caso ela começasse a chorar na minha frente.

— Ah, Chanyeol... Você é tão puro. — Eu quis rir. Não por achar graça, mas porque aquilo soava absurdo demais. — Eu entendo o motivo de você ter feito isso, tá bem? Eu te entendo de verdade, irmãozinho. Mas não precisava. Mamãe não ia gostar disso, sabia? De você deixando a escola por isso e...

— Eu não deixei a escola por isso — a cortei. — Deixei porque sou burro e não consigo aprender nada. O emprego é só para não ser um imprestável. Eu sou o homem da casa agora, Hyoyeon. Preciso fazer por merecer.

— Ela não quis dizer isso naquele dia. — Tentou me confortar, ainda com a mão acariciando meu rosto. — E você não é o único filho de quem ela se afastou. Mamãe está passando por um momento difícil, distante de todos nós.

Revirei os olhos, tentando ignorar o que ela disse. Era nítido que as filhas meninas eram as favoritas em casa e eu não precisava fingir que isso não acontecia.

— Até parece. De qualquer forma, ela falou o que falou. O que faço agora? Provo que ela estava certa?

Hyo sorriu. Eu queria gritar com ela por aquele sorriso que não deveria existir num momento em que eu me sentia tão frágil, relembrando das palavras que mais me machucaram desde o dia que papai deixou a casa e todo o comportamento de mamãe que mudou bruscamente desde então. Mas só consegui ficar em silêncio, encarando-a incrédulo.

— Existem um milhão de formas de provar que ela está errada. Roubar o dinheiro da Taeyeon não é uma delas. Você esqueceu que nenhuma de nós duas está numa situação diferente? E não somos imprestáveis por isso.

— Vocês ainda podem passar para a universidade...

— E virar a Yoona? Desculpa, prefiro morrer.

Daquela vez eu não aguentei e acabei rindo, percebendo só então as pequenas lágrimas que escorreram pelo meu rosto. Yoona era engomadinha demais por causa da universidade. Tinha a certeza de que ficaria pior ao longo dos períodos e simplesmente fiquei feliz por saber que mais alguém ali tinha a mesma perspectiva que eu.

— Só acredita mais em você mesmo, ok? Sempre tem alguma coisa em que somos bons, você só precisa descobrir. Inteligência é relativa, Chanyeol. Ela não se mede na escola. — Ela estava séria enquanto falava. Eu conseguia sentir a intensidade posta em cada uma das suas palavras. Ela sabia bem do que falava e eu tenho a impressão de que havia muito mais que ela não me contava. — Só não deixa ninguém saber que eu te disse isso, ok? Segredo nosso.

— Segredo nosso — confirmei.

— E sobre você ser o homem da casa — continuou falando, agora já se levantando do meu lado e ajoelhando no chão. — Isso só vai ser definido se você me vencer na queda de braço!

Não aguentei e acabei rindo mais uma vez.

— Sou muito mais forte que você!

— Com esses bracinhos? Eu duvido! — Apertou meus braços e suas mãos poderiam fechar ao redor deles se não fossem tão pequenas. — Você não se alimenta mais? Vou ser obrigada a te engordar tudo de novo.

Revirei os olhos e me sentei ao seu lado.

— Não estou com fome.

— Eu não te perguntei nada. — Levantou e começou a me puxar pelas mãos. — Vamos comer! Só vai sair da mesa da cozinha depois que terminar pelo menos duas tigelas de arroz.

Eu não podia contestar. Hyoyeon sempre venceria as discussões e estava tudo bem por isso. Deixei-me ser levado por ela até a mesa posta na sala, vendo todas as outras nos olharem estranho. No entanto, Hyoyeon não se importava e aquilo fez com que eu não me importasse também. Sentamos lado a lado e, pela primeira vez em dias, tivemos uma refeição em família.

3

Já era tarde quando saí de casa novamente.

Dormi pelo menos duas vezes depois que terminamos de comer e levantei quando o relógio já marcava as quatro da tarde. Hyoyeon conseguiu. Enchi meus pratos mais de uma vez e aproveitei ao máximo aquela refeição, mesmo que não fosse uma das mais fartas. Não sabíamos o que era ter uma mesa farta há um bom tempo. De tarde, mamãe estava fora para trabalhar e eu nunca soube o que minhas irmãs inventavam para fazer durante o dia. Talvez a sala de estudos, mas passei a ter dúvidas desde o discurso da Hyo.

Quando o céu começou a escurecer, lembrei que precisava me encontrar com Kyungsoo para dizer que ele podia esquecer sobre tudo o que tínhamos conversado. Eu não tinha mais o menor interesse em Sehun e o que ele fazia na casa de Baekhyun. Baekhyun foi bem claro ao dizer que eu não tinha que me meter na sua vida e não era recuperação de laço nenhum que me faria insistir no que eu sabia que não daria certo.

Subi as escadas para o quintal e Gato, novamente, veio me cumprimentar enquanto batia na porta. Quem atendeu foi sua mãe, Do Minyeong. Ela tinha um sorriso que imitava o formato de um coração, igual ao de Kyungsoo, e os olhos caídos bem delineados. Eles ficavam ainda menores quando ela sorria e o conjunto, de alguma forma, passava conforto. Ela era uma boa pessoa.

— Chanyeol, querido! Fico tanto tempo sem vê-lo que parece até que não moramos no mesmo quintal. — Ela riu e eu precisei me forçar a acompanhá-la. — Como está? Quer entrar?

Neguei com a cabeça e me curvei em uma saudação educada.

— Estou bem, senhora Do! Kyungsoo está em casa? — Fui direto ao assunto quando percebi que ela abria a boca para puxar mais conversa.

Ao contrário do que eu esperava, ela me encarou confusa e um tanto surpresa. Ficou em silêncio, pensando por alguns instantes, até que me respondeu:

— Como assim, Chanyeol? Pensei que todos tivessem dormido na casa de Jongin.

Aquilo me deu um leve estalo. Pareceu o primeiro sinal de algo que fugia completamente do meu controle e alcance. Porém, não me importei como deveria e apenas assenti. Assim como eu e Baekhyun passávamos a noite fora, os outros membros do grupo também tinham o mesmo direito. Não havia nada fora do comum e todos estávamos perfeitamente bem. Ou, pelo menos, era o que eu queria acreditar.

— Ah, verdade! — Fingi que sabia de tudo. Kyungsoo talvez precisasse de cobertura e eu não podia estragar as coisas para ele. — Esqueci que só eu vim embora cedo! Vou encontrar com eles, senhora Do, muito obrigado!

Fui embora antes que ela me questionasse mais alguma coisa e só anos depois descobri onde Kyungsoo estava naquela noite.

4

Ele estava na casa do Jongin.

Eu e Joy estávamos longe de suas vistas quando Jongin se aproximou por trás e beijou sua nuca.

— O que está fazendo, seu idiota? — Kyungsoo virou de forma abrupta, separando-os.

Jongin o encarou, confuso.

— Como assim? Estou fazendo o que sempre fazemos. Não é para isso que você ficou?

Kyungsoo suspirou. Ele odiava ter que explicar coisas que, na sua opinião, eram constrangedoras.

— Não aqui, Jongin. No quarto, onde ninguém pode ver.

Jongin parou de sorrir. Gostava de demonstrar seu afeto sempre que tinha a chance. Mas ele concordou, é claro, e os dois deixaram a rua.

Trocavam muitos beijos naquele quarto. Jongin gostava tanto de beijar Kyungsoo, que fazia isso em todo o seu corpo sempre que tinha a oportunidade de ficar sozinho com ele. Grudavam-se feito imãs a noite inteira, tentando ser o mais silenciosos e discretos possível e ninguém desconfiava de seu segredo.

Kyungsoo entrava pela varanda para que os pais de Jongin não o vissem e saía pelo mesmo lugar. Os Kim não reparavam muito, imersos nos seus próprios problemas e preocupações, mas todo cuidado era pouco para que continuassem a manter aquilo entre os dois. Mas, uma vez que estivessem do lado de dentro, tentavam não se importar com nada nos momentos em que estavam com as línguas na boca — e outros lugares — um do outro.

Havia, no entanto, algo que incomodava a mente de Jongin e foi a primeira coisa que perguntou, assim que as roupas voltaram para seus corpos e os corações desaceleraram.

— Kyungsoo, nós somos bichas?

Ele quase engasgou. De repente, o quarto espaçoso de Jongin ficou pequeno e Kyungsoo precisou respirar fundo em busca de ar. Não entendia o motivo de Jongin insistir em fazer perguntas indevidas em momentos indevidos. Estava tudo tão bom até ele abrir a boca com seus questionamentos, que parecia até uma piada de mal gosto.

— De onde você tirou isso? — perguntou, incrédulo.

— Baekhyun — contou. — Eu zoei ele por causa do Chanyeol e ele me disse que não era bicha. Então eu pensei... Se gostar de um cara é ser bicha, beijar também é. Gostar de beijar, pode ser pior ainda.

— Baekhyun gosta de Chanyeol? — perguntou Kyungsoo, tentando não rir.

— Não! — Jongin se corrigir. — Mas esse não é o ponto. Eu quero saber isso é ser bicha.

Ele gesticulou, apontando para os dois deitados lado a lado. Kyungsoo coçou a testa. Odiava aquele assunto e, todas as vezes que deixava o quarto de Jongin, fazia o possível para fingir que nada acontecia. Infelizmente, Jongin não pensava igual e agora quebrava uma regra importantíssima imposta na cabeça de Kyungsoo para lidar com a situação.

— Gostar de um homem te torna uma bicha. Beijar não. — Chegou à conclusão em voz alta, percebendo que até fazia sentido.

No entanto, não convenceu Jongin.

— Mas você não gosta?

Kyungsoo se levantou da cama. Pensar deixava ele ansioso e andar ajudava a pensar direito.

— Eu gosto de beijar, mas não gosto de você. É só parceria, isso não significa nada.

Aquelas palavras atingiram Jongin mais do que ele gostaria, mas ele concordou. Não era fácil esconder segredos, principalmente quando era preciso escondê-los da razão deles existirem. Quando ele pareceu estar convencido, Kyungsoo se permitiu relaxar novamente. Não havia sido tão difícil como imaginou, então superaram aquilo de uma forma boa.

Estava pronto para sair pela varanda, mas Jongin não deixou. Um sorriso surgiu em seu rosto quando Kyungsoo perguntou o que ele queria. Jongin o puxou pela mão e o prendeu entre suas pernas.

— É só parceria, não é? — Kyungsoo concordou. — Então você não precisa ir agora.

Ele pensou um pouco, mas percebeu que não tinha nada a perder. Ficou pelo resto da noite e os dois se beijaram muitas vezes mais.

5

Quando entrei no clube, depois de sair da casa de Kyungsoo, Sehun estava lá. "Mambo Sun", do T.Rex, tocava no rádio da Joy. Eu me lembro porque devo ter ficado longos segundos parado na porta, deixando a música se tornar trilha sonora da minha indignação. Todos estavam sorridentes e pareciam bem, mas ele estava lá.

Sentado no nosso sofá, mexendo no meu violão, conversando com meus melhores amigos que riam felizes de seja lá qual baboseira ele estivesse falando no momento. Baekhyun não estava ali, o que me fez chegar numa conclusão:

Enquanto Sehun estivesse presente, ele não estaria. Eu não queria ser obrigado a me acostumar com o grupo incompleto, então a presença daquele intruso começava a me irritar.

Estava prestes a sair, quando Joy me viu e gritou feliz, correndo na minha direção.

— Vem cá! O Sehun estava agora mesmo falando de quando te viu tocar ontem, ele gostou muito.

Aquilo fez minhas orelhas esquentarem e eu olhei para os outros três um tanto confuso, mas Joy me puxou sem que eu tivesse a chance de negar. Emburrado, sentei no sofá entre os dois e Sehun me entregou o violão com um sorriso.

— Esses carinhas não param de falar de você, garoto. Mas a Soo falou a verdade, eu fiquei impressionado contigo.

Soo? Mas que merda?

Virei para o lado oposto. Eu não queria participar da conversa, mas era difícil não gostar de um elogio vindo de um lado desconhecido. Tocar era a única coisa que eu sabia que fazia bem e perceber que as pessoas ao meu redor concordavam amaciava um pouco o meu ego.

— Sabe, eu fui num show de rock em Seul esse ano. Coisa pequena. As pessoas apreciam muito pouco a boa música por aqui. Por isso eu falo que a minha viagem para os Estados Unidos foi a melhor coisa que eu fiz na vida.

Aquilo já foi demais. Pedi desculpas mentais ao Baekhyun por trair sua confiança — num acordo que só existia na minha cabeça —, e me virei em sua direção com o coração palpitando. Não fui capaz de me segurar.

Em poucas palavras, Sehun conseguiu descrever o maior sonho da minha vida todinha. Um show de música, Seul, os Estados Unidos e lugares distantes demais para eu sonhar em visitar. Minha língua coçou para perguntar mais sobre, mas o bom senso me prendia no lugar. Ele não era confiável.

Baekhyun não confiava nele.

Troquei um olhar com Kyungsoo, que arqueou uma sobrancelha. Ele parecia ser o único pé no chão ali já que Joy e Jongin estavam tão imersos no assunto que podiam se afogar.

— O Chanyeol toca bem como os músicos do show que você foi? — Joy perguntou e eu precisei abraçar meu violão com força. Queria pedir para ela parar de citar meu nome, mas, ao mesmo tempo, queria ouvir a resposta.

— Chanyeol toca tão bem que poderia ficar rico fazendo seu próprio show.

Sons surpresos foram ouvidos por toda a sala. Nem eu consegui segurar. Encarei Sehun com os olhos doloridos de tão arregalados e ele riu quando me olhou de volta. Ele estava vestido com a jaqueta maneira de antes e uma calça justa. Passou a mão no cabelo loiro e se esparramou ao meu lado. Ele, sim, parecia um rockstar me olhando daquela forma. Como se soubesse os segredos do universo inteiro.

Ficar rico com música.

— Isso parece um sonho.

Eu nem me liguei que estava falando em voz alta. Apenas quando ouvi a risada de Sehun.

— Então realiza, cara! Tá esperando o quê? Você tem talento, já disse.

Joy ajoelhou na minha frente e segurou minha mão. Ela sorria de orelha a orelha, o que me incentivava a pensar seriamente no caso. Ganhar dinheiro com a música era tão incrível e surreal que fazia minhas mãos suarem só de pensar na possibilidade. Meu estômago ferveu e as ideias brotaram na minha cabeça. Era como um tsunami de entusiasmo me atingindo e dando vontade de gritar.

Eu queria realizar isso, claro que sim, mas não fazia ideia de como. Carreiras musicais são difíceis e esse era o principal motivo para eu ter tanto receio em tentar.

— Toca pra gente, Chanyeol! — pediu Jongin. — Sua guitarra maneiríssima já tá mofando naquela case.

Me permiti rir um pouco. Lembrando da guitarra, ainda me vinha um pouco de culpa. Só que era gostoso demais poder encostar nela e passar os meus dedos por suas cordas. Eu precisava praticar muito e ficar bom de verdade com ela. Era o primeiro passo, já que ninguém fica famoso apenas com um violão.

Me lembrei do que Hyoyeon havia me dito aquela manhã. Talvez fosse esse o significado, afinal. A minha forma de provar para mamãe e para o mundo inteiro, usando do meu talento. O talento que eu sei que eu tenho.

E que é tão maravilhoso saber.

Liguei a guitarra azul no amplificador e Joy abaixou o volume do rádio. Pensei um pouco sobre o que eu iria tocar. Minha cabeça estava cheia das melodias que memorizei no violão. Tão cheia que talvez seja por isso que não havia espaço para mais nada. Olhei para cada um ali e pensei o que eles gostariam de ouvir naquele momento. De pé, diante de todos que se aglomeraram no sofá, eu conseguia ter uma boa visão.

Joy gostava de The Smiths e melodias mais melancólicas que contrastavam totalmente com sua personalidade agitada; Kyungsoo era do tipo que curtia solos longos de guitarra, daqueles que nos deixam sem fôlego só de pensar em acompanhar; Jongin preferia tudo o que fosse dançante; Sehun, eu não fazia ideia...

Sentado ainda de forma desleixada no sofá, com a jaqueta de couro e o cabelo descolorido, ele deixava muito pouco para adivinhar. Sehun parecia selvagem e parecia não se importar com nada no mundo. Olhando nos seus olhos, me veio uma ideia. Os acordes iniciais saíram com facilidade e o sorriso em seu rosto foi a resposta de que eu precisava para saber que tinha acertado.

"Rebel Rebel", do Bowie, veio de dentro de mim tão fácil quanto respirar. Não era idêntico ao que eu ouvia no rádio, já que eu só sabia tocar uma versão parecida no violão, mas pareceu o suficiente para todos acompanharem com batidinhas no sofá. Bati meu pé no chão junto deles, tentando suprir a falta dos outros instrumentos e comecei a cantarolar na introdução, doo doo doo-doo doo doo doo doo, até que a letra chegou.

You've got your mother in a whirl

She's not sure if you're a boy or a girl

Hey babe, your hair's alright

Hey babe, let's go out tonight

Eu nunca tive muita noção sobre o canto. Geralmente vinha tudo de forma muito natural para mim e eu só deixava rolar. Meus amigos achavam agradável e eu fazia o possível para não desafinar, achando agradável também. Mas eu precisei olhar para Sehun o tempo inteiro. Ele sabia das coisas. Já ouviu músicos de todos os tipos, já conheceu gente da América e de Seul. Ele estava acostumado com grandes cidades e músicas boas.

Sem saber explicar, eu precisava da sua aprovação antes de tomar minhas decisões futuras.

E ela veio com mais um sorriso. Ele estava gostando, então era o sinal que eu precisava. Talvez desse certo esse lance de fazer música, afinal. E eu me deixei levar como sempre. Contente demais sabendo que eu tinha um pouco mais de certeza.

Joy foi a primeira a se levantar para dançar. Ela não puxou Jongin dessa vez e preferiu que Sehun a conduzisse pela sala, com risadas e rodopios. A minha surpresa foi ver Kyungsoo e Jongin seguindo seus passos. No refrão, todos cantamos. Então eu repeti mais uma vez porque sempre nos sentíamos um pouco delinquentes quando deixávamos essa música tocar. "Hot tramp, I love you so!", em plenos pulmões.

Percebi, assustado, que talvez Sehun não fosse tão ruim assim.

E aquela ideia me assustava.

6

Existem pequenas coisas que fazemos e somos incapazes de explicar. São situações decididas em pequenos segundos de coragem, mas capazes de mudar tudo.

A diferença dessas decisões para o caos é que sabemos muito bem que podem haver consequências e que é errado. Por exemplo, sair de casa naquela sexta-feira para buscar emprego, foi o caos. Roubar a guitarra foi um segundo de coragem.

Mas ambas trouxeram consequências que me marcariam para sempre e essa era a parte preocupante.

Outro momento em que eu fui dominado pela coragem de um segundo, foi enquanto encarava o portão da casa de Baekhyun na tarde de segunda-feira, pensando em Sehun mais do que eu deveria.

No final das contas, fizemos muita música legal na noite anterior e ele mostrou que sabia bem do que falava, já que tocou guitarra como nunca vi alguém tocar antes. Muito melhor do que eu! E a pior parte era que aquilo não me dava ciúmes, pelo contrário. Ele só me fez admirá-lo.

Que nada dura pra sempre eu já sabia. Mas que a desconfiança pode virar admiração em um piscar de olhos foi algo totalmente novo.

Percebi que não precisava saber mais de Sehun para entender o motivo de Baekhyun não confiar nele. E, sim, precisava saber mais sobre quem ele era e como havia ido parar em um lugar tão distante e pacato como Hyegung. Para conhecer Sehun, não Baekhyun.

Eu planejei fazer isso na companhia de Kyungsoo e entendia como era decepcionante ter que dizer que já havia descoberto tudo antes dele. Mas eu não queria envolver mais pessoas nisso. Era uma curiosidade minha, de um problema que eu mesmo criei na minha cabeça. Não era justo permitir que mais pessoas participassem.

E vencido pela curiosidade, planejei uma loucura:

Baekhyun tinha aula, Byun Minji e Oh Seungmin precisavam trabalhar na loja o dia inteiro e, Sehun, que seria meu único obstáculo, havia saído em direção ao ponto de ônibus, sem demonstrar a intenção de voltar tão cedo. A casa estava vazia, a janela do primeiro andar ficava um pouco aberta para manter a ventilação da casa. E tudo o que eu precisava era esgueirar até onde Sehun dormia e conseguir uma resposta.

Então eu fui. Tão cego pela coragem que só tive noção do que fazia quando estava de pé na sala de estar.

Não tinha mais volta. Eu havia feito o mais difícil e poderia conseguir boa informação caso me apressasse. Subi as escadas para o segundo andar, onde ficavam os quartos e abri com cuidado as portas, buscando o que tivesse as coisas de Sehun.

Por sorte, meu raciocínio estava certo. Havia uma mala preta no chão e cobertores ao lado, além dos que ficavam na cama de Baekhyun. Eles estavam dividindo o quarto. Talvez seja por isso que Baekhyun estava tão estressado ultimamente.

Mesmo sabendo que não havia ninguém em casa, andei devagar como se o mínimo barulho feito pelos meus pés pudesse estragar tudo. Baekhyun mantinha suas coisas no lugar. O que era uma sorte já que facilitava muito minha busca nas coisas de Sehun.

Havia algo de estranho com ele. Definitivamente. Ele era maneiro e estiloso, mas pessoas assim sempre escondem problemas onde não querem que ninguém jamais encontre. Sehun poderia ter trago os seus problemas na mala de viagem?

Era pequena, mas tudo o que eu tinha.

Comecei a tatear os bolsos de fora. Pensei que talvez ele vendesse drogas. Isso explicaria o dinheiro para comprar uma jaqueta daquelas, mas decidi não me iludir com aquela ideia. Seungmin certamente morreria se soubesse algo do tipo sobre seu filho.

A bolsa estava macia quando a apertei. Não parecia ter nada além de roupas do lado de dentro, mas eu precisava me certificar. Puxei para perto, para colocar no meu colo, porém o barulho seco de papel sendo amassado pôde ser ouvido. Congelei no lugar sem reação alguma. Ele veio de debaixo da bolsa e eu me apressei em olhar para saber do que se tratava.

Como se a resposta do que eu precisava quisesse vir até mim, encontrei um jornal dobrado embaixo das coisas de Sehun. Ao abri-lo, pude notar que era diferente dos que as pessoas costumavam ler em Hyegung. Era um jornal mais grosso, também, mostrando que continha muito mais informação do que os locais.

Na primeira página, não consegui ler muita coisa. Consegui reconhecer "roubo" e "fuga", até que desisti. Porém, uma miniatura no final de todo o texto me fez prender a respiração. Era a foto do Sehun. E ele estava sendo algemado pela polícia.

— O que você está fazendo aqui, Chanyeol?

#MyDearHeaven

Rebel Rebel é uma música de um dos meus álbuns favoritos de todos os tempos. Há uma parte dela que gosto muito onde o Bowie canta para os fãs de glam-rock dizendo: "você quer mais e quer rápido". Gosto do trecho porque ele exemplifica muito bem algumas coisas sobre Sehun. No entanto, não é a hora de falar sobre ele. Só tenham em mente que é sua música favorita por muitos motivos, principalmente porque ele se identifica em muitas partes dela.

Você pode encontrar essa e outras músicas na playlist! Link na bio <3

Obrigada pela semana de lançamento incrível! A cada dia fico mais feliz por ter decidido compartilhar crônicas com vocês. Obrigada, de verdade, por todo o apoio <3

Também quero agradecer minha linda linda @yxinsg (twitter) pela betagem. Minha heroína perfeita salvadora da pátria!!

E, se puderem, não se esqueçam de deixar seu votinho e dizer o que achou. Muitos segredos estão sendo revelados nessa tal de rua Paraíso, mas é só o começo!!

Até daqui duas semanas!

Com amor, Sandman :)

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