Chapéu
Dex tenta entender a situação.
Uma enorme máquina funciona diante dele, estalando e emitindo vibrações de energia conforme um círculo gira na sua frente, carregando-se sobre um pequeno espaço quadrado. O vidro nele é agitado, as partículas coloridas são violentamente movidas e os raios passam por elas.
–Vamos. –Luizen fala indo para debaixo da esfera, subindo ao fazer o vidro levantar e formar uma cápsula em torno da vampira, deixando uma passagem para o defensor, que segue-a. Porém, quando entra lá dentro, a mulher arregala os olhos e tira o pirulito da boca de uma vez.
Sem aviso, ela desaparece. O homem arregala os olhos, não sentindo a presença da criatura em lugar algum e a máquina estala, fechando a cápsula.
"MAS O QUE!?" A energia irradia em raios e, quando ele iria tentar sair, Luizen surge diante dele. O local permanece o mesmo, como se nada tivesse acontecido e a vampira cruza os braços, olhando para o lado de fora da cápsula extremamente tranquila, fingindo que nada aconteceu. O ser arqueia as sobrancelhas, notando o estranho objeto em torno da cabeça dela, rosa e com detalhes em azul. "Um capacete?".
–O que é isso? –Ele pergunta, chamando a atenção dela. Olhando-o, ela tomba o rosto, sem entender. –Na sua cabeça, o que é isso?
Um momento de silêncio. Processando, a vampira estreita os olhos. "Droga, ele percebeu o meu salto.".
–Um chapéu. –Luizen define.
–Um chapéu? –Dex pergunta, realmente sem entender.
–Perdão, um boné. –Ela é mais específica e o local estala, isolando-os. A visão do mundo ao redor desaparece e um solavanco acontece, fazendo o local tremer. Contudo, os dois sequer mudam a postura.
"O que raios é um boné?" Dex se pergunta mentalmente, voltando a atenção para o absoluto branco em torno deles, na cápsula branca. Luizen força um sorriso, cerrando os punhos ao ouvir o pensamento. "Esse idiota não sabe o que é um simples boné?" Ela pensa levantando uma nova barreira mental, travando os pensamentos dele no plano astral.
A cápsula gira no branco e parece aterrisar em algo invisível. As partículas sobem e, conformando um turbilhão de cores, um segundo branco é feito. Em seguida, a visão de uma floresta surge diante deles. A cápsula é desfeita, eles aterrissam na terra firme e olham ao redor, estando em uma mata.
A missão deles é encontrar um pedaço do pilar caído, escondido em algum lugar nessa região. Ninguém o escondeu, ele mesmo está se ocultando. A razão é simples, para retomar suas forças. Bem devagar, o que um dia foi o Niatit da Destruição está retornando.
–Esse, boné, vai nos ajudar a achar o tal pedaço? –Dex pergunta e Luizen cogita seriamente a ideia de seguir missão sozinha.
–Não, é um boné. –Ela define pegando na ponta dele, balançando-o de um lado pro outro como se quisesse mostrar o quão irrelevante o objeto é, o que deixa o celestial ainda mais confuso.
–Então isso serve pra que? –Ele pergunta cruzando os braços e ela revira os olhos, seguindo pela floresta sem responder. –EI! ME RESPONDA!
Nenhuma palavra sai da boca dela, ignorando-o totalmente. O defensor suspira, indo atrás já ciente do quão difícil essa missão vai ser. Passando pelo meio da floresta, a pergunta parece sacudir a mente da mulher, realmente encucada com isso.
–É um acessório. –Ela responde depois de quase vinte minutos, estranhando a ausência de qualquer animal naquela região. Não há nenhum ser vivo, além das plantas, em um raio de quase dois quilômetros, tanto no plano mental quanto físico. Dex raciocina um pouco, permanecendo em silêncio.
"Deve ter algum valor sentimental." O ser conclui e Luizen consegue ouvir o pensamento dele, estreitando os olhos ao notar que abaixou a barreira mental. Sua curiosidade fez isso no automático. Seguindo, eles chegam numa espécie de lagoa e param, encarando a água escura nela. "Mas o que é isso?".
–Energia da Destruição. –Ela responde o pensamento, vendo partículas escuras subirem da água e serem imediatamente sufocadas pelas leis da criação, agindo como a gravidade ao reunir a força na água, sem vida alguma. –Bem, pelo visto estamos no caminho certo.
–Por que ela está, presa? –O celestial pergunta, notando que o branco está enclausurando-a.
–São as leis da criação, elas sempre restringem toda e qualquer destruição, principalmente às vinda do caos e da antimatéria. –Luizen explica, procurando algum sinal do fragmento na água. Apesar da energia estar concentrada em grande quantidade ali, não há nenhum sinal dele. –Veja bem como essa força se comporta. O que estamos procurando é literalmente isso, só que em uma concentração imensamente maior. Na pior das hipóteses, até consciente.
–Esperai, um fragmento consciente? –Dex arregala os olhos, incrédulo. –Quanto mais sei menos eu sei, tá loco.
–É, e ele provavelmente vai tentar nos matar. –Luizen completa, sem ideia alguma de onde encontrá-lo. O defensor enfia as mãos no bolso, desistindo de entender a situação.
Encarando a água, seus pelos arrepiam ao sentir a força espalhar-se pela terra silenciosamente, indo até as raízes das árvores. A vampira está concentrada demais no plano astral para notar aquilo, procurando qualquer resquício da consciência de Táu na região conforme o ambiente muda.
Dex vê as árvores tremerem, sendo alteradas e o chão abaixo é movido, de forma tão suave que nem uma única grama aparenta mexer. O ser nota sinais de uma ilusão sendo aplicada ali e dá um passo na direção de Luizen, olhando-o em seguida.
–Tem algo de errado. –Ele fala, ela volta a atenção para o local e não sente absolutamente nada de errado. O defensor fecha as mãos e, olhando-a de relance, é totalmente surpreendido ao notar uma espécie de círculo vermelho contornar a mulher. "Um feitiço!? Não, uma ilusão!"
E, ouvindo o pensamento dele, Luizen arregala os olhos. Algo estala, a luz desaparece e o local é engolido pelas trevas. No instante seguinte, eles são atingidos e sugados para outra realidade, imediatamente reagindo.
Luizen afasta as forças e é golpeada por trás, um espécie de chicote negro colide contra suas costas e Dex protege-se do mesmo, agarrando-o ao esmaga-lo. Ativando a ordem, a vampira torce o local junto a escuridão e rasga a escuridão, formando mais chicotes que são destruídos pela energia primordial.
O preto é alterado, reunido em esferas e disparados contra ela. Os projéteis são todos rebatidos em rápidos socos do defensor, cobrindo toda a área em torno deles. Eles caem no chão e os golpes cessam. Luizen abre as mãos, agarrando o espaço daquele local enquanto o celestial clonado levanta ambas as mãos, sentindo as forças recuarem.
E em seguida, retornaram.
A vampira varre o local em uma expansão de sua consciência, abrindo a espécie de dimensão isolada junto a escuridão. Dex é tomado pela surpresa e, vendo a energia em torno deles simplesmente aglutinar, tenta fazer o mesmo. Sua energia roxa é emitida junto a rosa, afastando o preto enquanto a própria realidade parece tentar golpear ambos, sendo torcida em volta dos seres e enviando ondas de choque neles.
Mas, elas são imediatamente desfeitas. O homem não sabe como isso está acontecendo, apesar de desconfiar ser obra de Luizen, criando uma espécie de área iluminada onde estão. Os projéteis são concentrados e uma pata atinge a barreira em volta deles, cravando as gigantescas unhas negras no rosa enquanto os disparos ultrapassam as rachaduras.
Eles vão direto no rosto da vampira e são agarrados, sendo desintegrados por Dex. Antes dela entender a situação, o defensor arrebenta a pata com um murro e o amarelo atravessa o preto feito tinta, revelando uma criatura ali. Um urso, um enorme urso feito da escuridão que é rompido em outro ataque, dessa vez emitindo o roxo.
A barreira é refeita e o homem retorna para posição de luta, mas nada acontece. Enquanto ele permanece imóvel, esperando qualquer outro golpe, Luizen olha-o abismada de relance. A velocidade e potência que a criatura atingiu foi o suficiente para fazer ele desaparecer de seus sensores, além de conseguir destruir aquela coisa recheada de energia destrutiva.
Os segundos passam, nenhum ataque acontece e ambos abaixam as mãos. Seja lá o que estava atacando, desistiu. Ao redor deles, apenas a escuridão é vista. Nem uma única fagulha de luz é emitida ali, além da própria barreira rosa. Apesar disso, Dex consegue sentir a presença de vida e matéria ali, diferente de Luizen, praticamente no escuro.
–Não consigo ver nada, que merda. –Ela rosna com o cabelo rosa cintilando, levantando dos ombros conforme a sua energia tenta romper o anel vermelho em torno de seu corpo, uma espécie de feitiço. Durante todo esse tempo, essa coisa estava limitando-a. O boné rosa também brilha, as partes em azul clareiam e as pupilas róseas focam no feitiço, rompendo-o. A energia liberada é sufocada e convertida, sendo usada pela vampira como uma tocha, iluminando um pouco a escuridão, onde só há terra. –Ótimo, fomos parar em uma dimensão paralela? Não, pior, o fragmento deve ter criado isso.
–Aquilo não era o fragmento, era um ser vivo. –Dex ressalta, lembrando da espécie de urso. A mulher encara-o sem entender. –Eu senti a força vital dele, não era um ser de energia. Aquilo, aquilo estava sendo controlado.
–Estranho. –Ela fala, realmente sem ter sentido nada. Toda aquela dimensão parece ser invisível para os sensores dela, assim como ela é para o defensor, no qual não a detecta em nada além da visão. –Você consegue ver as coisas aqui?
Ele volta a atenção para a escuridão, sem enxergar nada. Mas, seu sensor de energia consegue mapear perfeitamente a região, uma espécie de caverna. Há terra sobre ambos, o que é muito estranho, já que eles caíram ali. A única explicação que o ser chega é disso ter acontecido enquanto a mulher rasgava o espaço.
–O suficiente. –Dex define depois de um tempo.
–Certo, vou precisar da sua ajuda para achar a relíquia. Realmente não sinto nada aqui, além de sentir… Algo restringe meus poderes. Droga, até mesmo no plano astral estou perdendo forças. Esse local está fazendo de tudo para ficarmos presos aqui, precisamos sair e rápido. –Luizen define, realmente querendo saltar para outra dimensão. Contudo, seus instintos alertam-na do perigo de fazer isso. A própria dimensão parece estar pronta para atacá-la.
Concordando com a cabeça, Dex segue caminho pela caverna, realmente sem saber como vão achar algo que não quer ser encontrado ali.
***
–Você veio falar com seu pai? –Bleeim pergunta para Alucard, que afasta da muralha em passos lentos conforme passa a mão no próprio cabelo curto e branco. A criatura está ansiosa. O ser acabou de bater no enorme portão de madeira, como se estivesse batendo em uma porta.
–É, não espere uma recepção boa. –Ele diz, cessando a caminhada ao ficar no sol e o ruivo acompanha-o, sem entender o motivo. Parando do lado dele, enfiando as mãos no bolso, o defensor sente a estrutura inteira tremer, reconhecendo uma magia ali. Retornando a atenção para os gigantescos blocos de pedras enfileirados, vibrando e exalando energia, seus sentidos gritam.
E de uma vez, algo atravessa-os.
Dando um único passo para o lado, Alucard desvia de algo e Bleeim salta para a direita, vendo algo rasgar o ar e explodir o chão, cravando-se nele. Na nuvem de poeira, ambos vêem duas flechas gigantes, com antimatéria na ponta. Ela corrói o chão, fazendo-o virar poeira enquanto eles trocam olhares.
–Um pai deveria receber seu filho assim? É normal por aqui? –Bleeim pergunta totalmente incrédulo.
–Se fosse meu pai, teria usado um morteiro de cara. –Ele responde, notando a movimentação por trás da muralha, nada mais que uma barreira de energia. A verdadeira defesa está atrás dela. Levantando sua aura, a criatura se prepara para desviar dos possíveis ataques. O defensor também nota a espécie de ilusão, enxergando além da muralha, outra imensamente maior. E, no topo da estrutura, canhões apontam na direção deles. –Não tente defender, apenas desvie.
–O que? –Bleeim grunhe e, os disparos acontecem. O local onde eles estão é transformado em cinzas e toda a planície atrás é varrida pelo deslocamento de ar, sendo sufocado pelas leis da criação.
A nuvem de poeira é desfeita num pequeno movimento de mão do vampiro, olhando para o ruivo, no qual defendeu o golpe. Fechando a cara, ele olha para a própria mão, levemente queimada no impacto. O Imortal esconde sua surpresa, retornando a atenção para os canhões. "Esse disparo teria arrancado um braço meu e esse cara, teve apenas a mão queimada?" O pensamento é acompanhado de outros disparos.
Bleeim segue a recomendação e desvia dos projéteis em saltos, sendo atingido apenas pela onda de choque. Isso sequer o arranha, sua energia celestial facilmente barra a onda de choque.
A potência dos impactos o surpreende. Ele havia concentrado muita força para receber o disparo e mesmo assim ela foi atravessada. Além disso, o chão está sendo reduzido a pó conforme o próprio espaço parece ser torcido.
Mais disparos acontecem e Alucard permanece imóvel, desviando em pequenos movimentos ao utilizar as magias roubadas na luta contra Caio, potencializando as que já tinha. Utilizando sua previsão, o vampiro lança uma esfera de energia no ar e um projétil de morteiro atinge-a em cheio, estremecendo todo aquele plano. Tanto o Imortal quanto Bleeim balançam no deslocamento de ar, poderoso o suficiente para ser sentido em outros planos.
–Agora vão pegar sério. –Avisando ao ver os soldados sobre a muralha armarem os morteiros, sua previsão entrega a exata posição do ataque e o ruivo cerra os punhos, vendo-os também.
–Por que somente não vamos lá e desarmamos tudo? –Ele questiona.
–Se entrarmos no território, será uma declaração de guerra. Meu pai é neurado com isso, prefiro deixar esses idiotas gastarem munição e depois me chamarem para entrar. –Acabando de falar, o som dos morteiros rasga o ambiente e as bombas caem em seguida.
Alucard move sua mão, girando a esfera lotada de energia ainda no ar e, estalando os dedos, os mecanismos nela são desativados, caindo inofensivamente na sua mão. O segundo disparo desce e Bleeim salta, socando-o violentamente ainda no ar. A violenta explosão afasta todas as nuvens no céu e a planície desértica é alterada pelo deslocamento de ar, levantando enormes quantias de terra conforme o vampiro arregala os olhos, vendo o defensor descer do céu e cair em pé, ileso.
Os soldados na muralha ficam abismados e, expandindo sua aura, o defensor lança-a contra os próximos projéteis, arrebentando todos no céu. Uma imensa nuvem escura domina o local, resultado da expansão da antimatéria e o ruivo fecha o punho, esmagando-a com a própria força até transformar toda a escuridão em uma pequena esfera, deixando a luz retornar para o local conforme ela desce e é agarrada, sendo rompida num pequeno aperto.
Deixando o que sobrou da força cair feito areia no chão, ele permanece com o olhar fixo nos soldados, cansado desses ataques inúteis. Todos tremem, trocando olhares ao falarem algo, sem saberem como reagir.
–Bem, agora devem vir conversar. –Alucard fala sorrindo, achando engraçado a reação deles com tamanha demonstração de força. Bleeim solta o resto da esfera, olhando-o de relance ao ajustar sua gravata e tirar a poeira da camisa branca em pequenos tapas.
E uma mensagem chega pelo plano astral.
–Quem são vocês? –A voz de uma mulher aborda o vampiro, sem revelar de onde a mensagem veio. Provavelmente está temendo por um ataque mental.
–Diga a Drácula que Alucard está aqui. –O vampiro responde de uma única vez, fazendo sua mensagem ecoar tanto no plano físico quanto mental. Bleeim estreita os olhos, sendo incomodado pelo som.
Nenhuma resposta é dada. O silêncio domina o local, o defensor já deduz outra enxurrada de projéteis e o Imortal calmamente invoca seus braceletes, refeitos e coloridos pelo roxo. Notando a arma, o ruivo arrepia ao sentir a energia de Caio nela e ela estrala, produzindo raios púrpuras em torno dele.
A utilização do Caos em forma de raios é a prova da verdade. Alucard, Gabriele e Drácula são os únicos vampiros que conseguem manipular essa força primordial. Tobias e Luizen conseguem usá-la, mas não a sintetizam em novos elementos. O general tentou formar um gelo caótico, mas falhou em todas as tentativas.
Bleeim apenas observa-o, levemente surpreso. Apesar de ainda estar ferido, a força dele é surpreendente. Ele retorna a atenção para a muralha, entendendo o motivo de Tobias falar tanto de seu mestre.
–Entrem, ele está vindo. –A mulher responde.
***
Tobias cospe sangue. De barriga para cima em uma dimensão desconhecida, o vampiro sente o ferimento na sua barriga aumentar. A energia de Tupã luta contra a dele, rasgando a carne e ossos do general no processo.
Sua concentração foi reduzida. Os ferimentos causados são pequenos e, quanto mais a força tenta matá-lo, mais perde potência. No final, ele sequer precisou utilizar o retorno para nocautear o herói, Luizen fez isso antes. Apesar da interferência ser uma declaração de guerra, isso deixa o vampiro aliviado. Agora, os ataques serão levados a sério e junto aos defensores, o Niatit da Luz pode ser parado.
Apesar disso, a dor atormenta-o. A possibilidade de falha também o incomoda junto ao péssimo gosto do erro. Tobias podia ter matado o herói, mas o golpe não acertou em cheio. Na quebra da realidade, o humano fugiu com um feitiço.
Ao menos seu batalhão venceu. Mesmo estando em menor quantidade, a emboscada sufocou o exército inimigo. Além disso, acharam o que os humanos tanto procuram. No centro daquele local, escondido na agua, o fragmento de um Niatit caído estava adormecido, uma parte de Táu.
Mesmo estando distante, Tobias consegue ver o que acontece no plano de seu reino. Não tem forças para ir lá, porém consegue observar. Sua comandante isola o local, aplicando a Ordem ensinada pelo próprio vampiro para evitar que o pedaço desperte. Os derrotados permanecem de joelhos, controlados pela marca e cientes do destino deles, virarem escravos. Se fosse o contrário, o destino de Zath seria mil vezes pior.
Ele sente-se orgulhoso ao vê-la conduzir a tropa, ordenando a todos o que deveriam fazer conforme ajuda os feridos. A demi-humana segura o cristal verde pendurado no seu colar, iluminando a armadura branca ao deixa-la verde. Usando o item, no qual funciona igual a um rádio, para relatar a vitoria para a Rainha e para o próprio Tobias, um enorme sorriso domina-a ao ser elogiada pela soberana.
–Os humanos vão tentar ocupar esse local, então permaneca ai. Estou enviando mais soldados, envie de volta apenas os feridos. –A voz da majestade é levemente distorcida pelo cristal, porém é totalmente entendida.
–Sim senhora. –Ela responde retirando o capacete branco, sorridente. Sua pele está mais branca que o comum, resultado das seguidas horas de combate e gasto de energia. Porém, os olhos verdes estão radiantes. A mulher sabe o quão importante essa vitoria é e mal consegue esperar para relatar ao general, apesar de saber que ele já sabe de tudo.
Retirando a espécie de gorro, usado para prender o cabelo e para esconder sua presença, seu cabelo clareado cai em ondulações, parando no ombro. A atenção dela é totalmente focada nos equipamentos dos humanos, separados em uma área após a vitória.
"Acho que consigo uns pontos mapeando isso." Zath pensa e aproxima deles, analisando as armas, espadas, armaduras e cajados dos inimigos, imbuidas por runas. Os feridos estão sendo cuidados pelos outros soldados, então não há o que se preocupar. Ao menos por enquanto.
Trazendo o cachecol de volta para seu plano, Tobias agarra-o e o aperta contra o peito, suspirando em alivio. Recuperando minimamente as forças, ele senta e olha para o ferimento na barriga, quase totalmente fechado. Agradecendo mentalmente seu pai por ter o ensinado a se curar com o próprio sangue, o vampiro utiliza o resto de energia do cristal verde para retirar totalmente a energia de Tupã de seu corpo.
Liberando-a e imediatamente lançando ela em outro plano, evitando um ataque repentino, o defensor respira fundo e levanta, medindo o que lhe restou de força. Calculando, ele vê que tem energia o suficiente para retornar à Kahn, e faz exatamente isso.
***
–O que pensa que está fazendo? –O soldado fecha a cara, voltando a atenção para a voz enquanto segura um homem pela gola. A espécie de draconato sorri, encarando a elfa diante dele, furiosa com a cena.
–Cumprindo as leis. Alguma objeção? –Ele sibila, procurando algo nos bolsos do vampiro, totalmente paralisado pelo medo.
–Várias. –Ela diz aproximando, sem medo algum do ser enquanto a multidão em torno apenas observa. A criatura ri, não achando nada e solta-o, encarando a mulher em seguida. –A primeira é essa bagunça. Não está vendo? Isso atrapalha o movimento, idiota.
–Idiota? Está querendo levar uma surra? –O draconato ameaça, aproximando ao fazer a armadura vermelha cintilar. Os olhos dourados focam na elfa, bem menor e mais fraca. Ao menos, aparentemente. Sorrindo, o cabelo marrom dela reluz e as pupilas escuras focam nele, que arrepia dos pés a cabeça.
–Saia daqui, ou quem vai apanhar vai ser você. –Ela ameaça, sem exalar aura alguma. Apesar disso, os instintos do ser alertam-no do perigo. Fechando a cara, ele vai contra os próprios instintos e, agindo por orgulho, desembainha sua espada.
E, quando iria ameaçar a elfa, algo metálico atinge o chão. Arregalando os olhos, o draconato olha para a própria arma, sem a parte superior da lâmina. Ela foi cortada. Um estalo, uma luz atravessa a visão de todos e o metal brilha, a runa nele é ativada e, toda a espada é feita em bloquinhos, caindo ruidosamente no chão.
Arregalando os olhos, o homem volta os olhos para a elfa, olhando-o com um doce sorriso. Na ponta de sua unha branca, um pequeno fio é visto. "Ela, ela partiu o metal junto com a runa!?" Ele pensa abismado, dando um passo para trás na rua. Diferente de antes, agora todos os comerciantes e, a própria população, estão observando a cena.
–Ainda vai querer revistar o vendedor, soldado? –Eve pergunta, extremamente calma. O draconato recua, surpreso demais para raciocinar tudo. Olhando em volta, a multidão claramente reprova a ação dele. E, ele nega, saindo de perto, até sumir pela rua.
A elfa suspira, ajeitando o cabelo atrás de sua orelha pontuda ao olhar para o vampiro, no qual teve sua carroça destruída pelo soldado. Apesar disso, o ser branco parece estar feliz por não ter levado uma surra. As pessoas em volta se espalham, retornando a rotina conforme comentam sobre ela, a elfa que sempre caça briga com os guardas.
Suspirando, Eve sai de fininho antes do homem agradecer, retornando para o trabalho. Passando por várias lojas até chegar na dela, a elfa olha por um momento a estrutura branca da loja, relativamente nova. A vitrine finalmente está arrumada. Dois vestidos azuis estão expostos por trás do vidro, feitos pela própria elfa.
Sorrindo, ela passa pela porta de madeira e entra no local, dando uma checada nas roupas penduradas nos cabides. Assaltos quase nunca acontecem, mas é bom conferir. A maioria das roupas ali foram feitas por Eve, algumas tiveram ajuda de suas funcionárias e poucas montadas por outra estilista.
Aproximando do balcão, a mulher senta no seu banquinho e vira-se para a máquina de costura, decidindo acabar de reparar uma calça jeans. Os funcionários já foram embora, o horário deles estourou. Apesar disso, a elfa permanece lá. Para ela, costurar é quase uma terapia.
Começando a fechar o rasgo da calça, algo passa para trás das roupas. Voltando a atenção para o lado, onde não há nada, uma certa inquietação surge nela. "O que foi isso?" Eve levanta, indo ver o que era aquilo e puxa as roupas, não vendo nada ali. "Uai, estou enlou…"
Antes de terminar o pensamento, ela é segurada e vira bruscamente, sendo abraçada. Enrijecendo, a mulher interrompe o golpe instintivo e estreita os olhos, sem acreditar naquilo e uma risadinha ecoa no local.
–Desculpe, foi irresistível. –O homem atrás dela diz, pondo a cabeça no pescoço da elfa ao observá-la suspirar. A pessoa é Tobias.
–Eu poderia ter te partido em dois. –Ela pondera, voltando a atenção para os olhos vermelhos de seu marido, sendo desviados junto a um pequeno movimento de cabeça, como se estivesse analisando a possibilidade.
–Vale o risco. –Ele diz, arrancando uma risada dela enquanto a solta, dando uma olhada no local, assobiando. –Olha só, tá ficando ótimo.
–Ah, vai indo. Pouco a pouco vou conquistando os clientes. Aliás, só hoje apareceu uns nove falando de você. –A elfa diz em tom acusatório, ciente da propaganda que seu marido está fazendo. O homem apenas sorri, gostando de saber disso. –Também apareceu uns comandantes aqui, vendi umas roupas pra eles. Quer ver?
–É claro. –Eve aponta para o lado, em direção a um amontado de roupa e eles vão na direção delas. Puxando do monte de camisa uma espécie de terno, Tobias realmente fica surpreso ao vê-la mostrar os detalhes em marrom. Além disso, a gravata branca parece estar impecável. –Que isso em, tá ficando fera.
–Pelo menos agora não estou rasgando as roupas na costura. –Ela brinca, lembrando das várias vezes que isso aconteceu e ambos sorriem. Colocando as roupas de volta no monte, a elfa retorna a atenção para o marido, estranhamente feliz e, adiantado do serviço. Isso é raro a ponto dela sequer lembrar se já aconteceu antes. –Mas, e aí? Novidades para a vossa senhoria chegar mais cedo?
–Ah, ganhei uma batalha importante e, joguei tudo nas costas de Zath. –Tobias fala dando uma olhadinha na rua, como se estivesse conferindo o local. Eve balança a cabeça, imaginando a colega repleta de serviço no campo e, sentindo-o aproximar, levanta os olhos. –Ai como não iria fazer nada, decidi adiantar minha sexta com, vossa senhoria.
Seu coração dispara. Ela não responde, apenas move um pouco o rosto, fingindo estar analisando o que foi dito. Tobias imita o movimento, reforçando suas palavras ao aproximar-se mais um pouco, olhando-a diretamente. O castanho reflete sua própria imagem, feliz, o que é extremamente raro para os outros. Porém, na presença da elfa, chega a ser normal.
–Então, que tal me ajudar a adiantar a minha? Preciso acabar essa calça, pode juntar as coisas enquanto isso? –Propondo conforme aponta para os cabides, ele concorda e passa os olhos pelo local, pensando por onde começar. Eve dá um passinho para trás, cogita fazer algo, olha para a máquina de costura, pensa mais um pouco e volta a olhar o marido, sorrindo.
Tobias volta o foco para ela e, é beijado. O vampiro rupeia, estando despreparado para isso e é puxado pela gola da camisa, envolta pelo cachecol. Rapidamente sentindo o gosto de seu marido, a elfa afasta e dá uma piscadela, sentando em frente a máquina de costura enquanto o general vibra por dentro, indo arrumar as coisas enquanto suas entranhas queimam.
Então, decidido a revidar mais tarde, ele decide adiantar o serviço dela.
***
Gabriele e M'boi trocam olhares, desviando-os em seguida enquanto permanecem na prefeitura da província, fingindo estarem trabalhando. Literalmente não há mais nada o que fazer, ambos fizeram tudo o que podiam e agora estão enrolando para voltarem a casa.
O motivo? Birra. Ambos estreitam os olhos, cientes do quão infantil isso é. Porém, o orgulho fala mais alto e o silêncio entre eles permance. Bem, ao menos o de Gabriele.
–Vai –M'boi quebra o silêncio e sua voz trava. A vampira olha-o de relance, levemente surpresa e o homem encolhe as asas verdes nas costas, o que denuncia seu nervosismo. –Vai, vai fazer algo hoje?
Silêncio. Ela finge pensar, sentindo o peso da briga esvair conforme a tentativa de pazes é consolidada.
–Não. –Gabriele responde.
–Quer tomar um sorvete? –Ele pergunta.
–Ah, quero. –Ela responde, gostando da ideia.
–Bem, quando acabar nos vamos então. –M'boi diz e abre as mãos, sinalizando que havia acabado o serviço. E, para sua surpresa, a mulher também levanta.
–Então vamos. –A vampira diz, sentindo-se estranha por querer tanto refazer as pazes e falar com o homem. Normalmente essas brigas duram mais tempo e, são alimentadas por ambos os lados. Mas, dessa vez, eles estão loucos para falarem um com o outro.
Os dois vão para a saída e decidem ir numa sorveteria específica no plano dos mortais, simplesmente porque lá é melhor. E, segurando Gabriele pela cintura, M'boi salta entre os planos.
***
Retse bate a bota no chão, ansiosa. Kevil está demorando. "Será que aconteceu algo? Não, Sem disse que ficaria tudo bem. Mas e se aquele tal de Solares estiver aprontando? Não, eu teria sentido alguma colisão. ENTÃO QUAL É O MOTIVO DA DEMORA!?" A Titan grunhe mentalmente, olhando para si mesma pela décima quinta vez.
Seu cabelo escuro está tomando tonalidades roxas ao cair, beirando o azul nas pontas. O selo em seu olho esquerdo, com uma rosa nele, parece tremer junto aos pensamentos. O boné de caçador é a única coisa que permaneceu inalterável durante a preparação, ela acha-o perfeito, não há motivo para mudar.
E, do nada, a presença de Kevil surge do lado dela. Imediatamente ativando uma ilusão, para não deixar os mortais ao redor ver a forma do Niatit e entrarem em desespero, ela levanta já olhando na direção dele e, trava.
–É, oi. –Diante dela, a representação humanóide do Caos toma forma, estendendo uma espécie de embrulho vermelho na sua direção, um presente. Os braços e roupas roxas são condensados, formando o selo em torno da mão esquerda enquanto o rosto dele surge, sorrindo. Os olhos escuros denunciam seu nervosismo, também reparando em Retse, o que deixa-o ainda mais ansioso. Engolindo o pensamento linda, ele desvia o olhar e termina o feitiço, ciente de que ainda pode assustar os mortais.
Sem falar nada, ela pega a caixa e senta no sofazinho da sorveteria. A Titan tenta ver através do embrulho, porém o Niatit colocou um feitiço do Caos ali, o que impede-a. Sorrindo ao notar que vai precisar abrir, um estranho sentimento domina-a junto a surpresa, vendo-o sentar do seu lado.
Retse também o achou bonito. Desembrulhando o pacote, retirando o feitiço e pegando na caixa, a criatura é surpreendida ao ver uma caneta ali. Lembrando-se de quando estava trabalhando na sua dimensão, usando uma caneta improvisada, a mulher retorna a atenção na direção dele, esperando pacientemente algum comentário. "Pelo visto, eu estava sendo observada." Retse conclui, sorrindo.
–Obrigada, eu gostei. –Sua voz sai baixa, quase em um sussurro. Apesar disso, é o suficiente para arrancar um enorme sorriso de Kevil, ganhando o dia com isso. –Então agora é minha vez. Pronto para experimentar sorvete?
–Mal posso esperar. –Ele fala e Retse gesticula para levantar. Assim que o Niatit sai do sofazinho, ela vai atrás e casualmente encosta na sua mão, segurando-a. Cada centímetro da alma do pilar vibra, sentindo as essências encostarem conforme a vê de relance, sorrindo.
O ser não sabe se deveria ficar feliz por tão pouco, mas está quase explodindo por dentro.
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