#2. CHICKENS GO COCÓ
AINDA É DIA 06, ENTÃO AINDA É SÁBADO!!
Mil desculpas a demora! Hoje o dia foi uma correria e teve de tudo fjdsalkfslkf prova, reunião, sofrimento... MAS! Estou em casa e postando depois de duas semanas conforme o prometido!
Muitíssimo obrigada mesmo por toda a resposta que vocês têm me dado com Croack!!!
Boa leitura! <3
»»❤««
— Jiminie, seu feioso, você não sabe o que aconteceu! — Taehyung pulou em cima do híbrido de sapo empolgado e o menor quase caiu com a manobra de segurança questionável.
Ah, acho relevante avisar que esse não é o mesmo dia que o outro capítulo. Quando foi a última vez que escrevi mesmo? Ah, sim, uns dois dias atrás. Enfim, depois daquilo eu voltei pra casa com Jimin pra comer, cagar, tomar banho e dormir e no dia seguinte eu fiquei trabalhando em casa mesmo enquanto Jimin assistia umas aulas online de administração porque aparentemente estudar sempre foi um sonho dele.
Continuando, aí depois disso a gente veio de novo pra HybridPeace. Pera, eu já falei que esse é o nome da ONG? Acho que não. Então, esse é o nome da ONG, em geral eu chamo de HP mesmo, apesar de causar confusão pra gente de fora, que acha ou que é Harry Potter ou aquela marca de impressora lá. Acho que eles fazem notebook também. Mas nem lembro. Eu uso da Samsung mesmo porque eu sou um coreano exemplar.
Ah, é, a gente encontrou o Taehyung lá de novo, na sala de espera do consultório do Namjoon. Sexta-feira era dia de check-up de rotina da maioria dos híbridos.
— Você conseguiu chocar um ovo? — Arriscou Jimin enquanto tentava recuperar o equilíbrio depois do mais alto soltá-lo só para agarrá-lo de novo, dessa vez num abraço.
— Ah, não... — Taehyung fez um biquinho triste e ficou com uma expressão chorosa. — Namjoon hyung me disse que eu posso chocar o quanto quiser meus ovos que nenhum pintinho vai nascer porque eles não foram fecundados...
— Poxa, cara, que triste. — Jimin soltou, mas na verdade ele não parecia realmente triste. — Parece que você não vai poder mais ficar reclamando que precisa aquecer um ovo com a sua bunda.
— Ah, não, isso eu vou continuar. Questão de instinto, sabe? Dá um vazio na bunda quando não tem pelo menos um ovinho pra chocar. Mesmo que não dê em nada, é algo que me relaxa. É tipo tricotar.
— Eu chamo isso de falta de pau.
— E desde quando galinha choca pau? Me respeita, Jimin, vai passar seu hidratante, nojentinho.
— Mas o que aconteceu mesmo que você ia contar pra gente, hyung? — Intervi na conversa, meio curioso em saber o que ele tinha pra falar de tão legal e meio sem vontade de ouvir os dois híbridos conversando sobre pau e hidratante.
— Hm... — O híbrido apoiou o queixo com a mão e tombou a cabeça para o lado, fazendo com que os cabelos vermelhos como sua crista tampassem seus olhos e Jimin retirou-os de lá com cuidado. — Esqueci. Deixa pra lá, uma hora eu lembro.
— Sem pressa. — Jimin falou calmamente, fazendo o amigo se sentar nas cadeiras do consultório e se sentando do lado, tirando a mochila das costas para pegar seu hidratante de sempre.
Como novamente eu estava sobrando e Taehyung não gosta muito de pessoas perto dele, sentei em outra cadeira qualquer que havia no consultório que, em vez de branco, era um rosa pastel, já que Namjoon imaginou que "daria menos cara de morte" ao consultório e comecei a olhar minhas redes sociais. Ou pelo menos tentar, a verdade é que a maioria das vezes eu não conseguia me concentrar e ficava pescando conversa alheia mesmo.
— Ah, Jimin, aquele remédio pra anular seu veneno deu certo? — O híbrido de galinha perguntou.
— Deu, sim. O hyung é maravilhoso. Veneno de sapo não é forte e tal, mas eu sempre sentia um gosto muito ruim no fundinho da minha boca. É mágica a sensação de comer uma Halls e realmente ficar o gosto da bala na boca. Mas eu também preciso pedir mais remédio para ajustar meu horário de sono hoje. Por que sapos têm que ser noturnos?
— Pelo menos desse mal eu não sofro. Pra ser mais diurno só se eu fosse um galo e carcarejasse de manhã. — O ruivo riu, sendo acompanhado imediatamente pelo loiro, que aproveitou pra espirrar um pouco de hidratante no amigo. Que nojinho. — Mas cara, você deve tomar um coquetel de remédios todos os dias, que viagem.
— Pior que tomo. — Suspirou o mais baixo, apoiando a cabeça no ombro do amigo e deixando o corpo deslizar um pouco pela cadeira, o hidratante ainda em mãos. — Me sinto tipo um hipocondríaco. Eu tomo uns seis de manhã, mais uns dois na hora do almoço e quatro de noite. É remédio pra porra.
— Mas pelo menos faz você se sentir melhor, feioso. — Consolou o outro, pegando o hidratante da mão do amigo e passando um pouco no rosto do mesmo. É, eles tinham um nível bem bizarro de intimidade.
— Verdade. Não sei o que seria de mim sem o Namjoon hyung. Quanta merda uma pessoa precisa comer pra achar que fazer um híbrido de um humano e um anfíbio é uma boa ideia?
— Um pouco mais do que para achar que fazer um híbrido de galinha é uma boa ideia.
Logo a porta do consultório do Namjoon se abriu, saindo um híbrido estrangeiro de lá. Eu já tinha visto ele antes, mas nunca arrisquei a conversar com ele porque sou péssimo em línguas, mas confesso que eu tinha muita curiosidade para saber como era a indústria de híbridos no resto do mundo, então em geral eu acabava conversando com Namjoon em particular sobre eles.
Teoricamente, teria uma alternativa mais fácil. Bem, a humanidade havia evoluído e obviamente vários aparelhos de tradução simultânea dos mais vagabundos às tecnologias mais de ponta já haviam sido criados. Porém, uma lei imposta pela organização mundial lá que achava que sabia das coisas proibia utilizar esses aparelhos, porque teoricamente eles seriam a ruína das diversas línguas e seus estudos.
Bem. Gostaria muito de pelo menos conseguir conversar com os híbridos estrangeiros, não é como se no final eu fosse aprender alguma outra língua além de coreano. Eu simplesmente teria que viver com esse outro fracasso pessoal.
O híbrido coçou a pele negra de seu rosto com a parte de trás das mãos, expondo as garras fortes e afiadas, lambeu os lábios e balançou vagarosamente a cauda preta atrás de si. Ah, provavelmente era híbrido de pantera. Era tão bonito e imponente.
Ele balançou as orelhas em meio aos seus cabelos crespos e deixou-as na direção de Taehyung e Jimin, dando um sorriso que foi retribuído pelos dois. Os dois híbridos eram ainda piores do que eu em línguas estrangeiras, mas, sinceramente, híbridos não precisavam de palavras para se comunicar, só o brilho de seus olhos, indicando tudo que já passaram, era o suficiente para que existisse uma sintonia dolorosa que lhes dava uma sensação de grupo.
Ele estendeu a mão, indicando que esperassem, se despediu com outro balançar da cauda pesada e foi embora, deixando-nos apenas impressionados porque híbridos de pantera tinham, de fato, uma aura muito poderosa ao seu redor.
Continuamos esperando sentados, eu fingindo que mexia em meu celular enquanto ouvia curiosos as conversas cheias de farpas entre o sapo e o(?) galinha. Será que eu devia ser meio grosso com o Jimin de volta para ele começar a gostar de mim? Ou odiar. Droga, não parecia ser aquilo, mas eu não conseguia pensar mais no que fazer.
Não demorou muito para que outro híbrido saísse do consultório sendo, dessa vez, um conhecido nosso. Olha, acho que ele é a última pessoa que eu faltava apresentar e descrever, Deus é top.
Quem saiu era Min Yoongi. Hyung, baixinho, pálido, mal humorado. Ele era famoso na HP, um híbrido que, em vez de resgatado, foi meio que "sequestrado". Sei que falando assim não parece uma coisa bonita de ter sido feita por uma ONG, mas deixa eu explicar melhor o que aconteceu.
Yoongi é um híbrido de Krait Malasiana. Caso você seja bobinho que nem eu era quando conheci ele e não saiba o que é uma Krait Malasiana, é uma cobra venenosa pra porra. Ele não foi resgatado porque ele nunca foi "jogado fora", porque ele não era considerado descartável, porque ele era um experimento bem sucedido, um experimento militar.
Híbridos militares são proibidos, por isso a ONG não teve que dar satisfação para ninguém quando a gente "sequestrou" Yoongi de um campo de treinamento — atualmente era raro haver uma guerra propriamente dita, só ameaças mesmo, tipo uma super Guerra Fria —, por isso nos papéis consta que ele foi resgatado mesmo.
A nossa sorte foi que o caso de Yoongi foi muito mais fácil de lidar do que o esperado. Híbridos militares costumam ser bem ariscos e violentos, afinal, foram criados para serem, assim como híbridos domésticos são criados para serem submissos. Mas Yoongi apesar de ter sido difícil no começo, se adaptou muito bem ao nosso estilo de vida. Acho que ele nunca quis ser militar de verdade.
Descobrimos no primeiro mês de Yoongi que o híbrido se acalmava com música clássica — chique, não? — então sempre que precisávamos cuidar dele e medicá-lo enquanto ele ainda era um pouco agressivo, colocávamos música clássica para conseguir injetar um calmante fraco nele. Ele não gostava, não mesmo, mas parecia entender o sentido de tudo aquilo e, junto com a música, felizmente nunca atacou ninguém.
Ele se tornou sociável rápido. Em duas semanas ele já não era tão violento, então começou a ir ao psicólogo. Na quarta semana, era capaz de explicar os efeitos colaterais de sua mutação e o que incomodava nele, sendo encaminhado para Namjoon, com quem acabou fazendo a primeira amizade, usando a música como um ponto de partida.
Em dois meses já foi alojado e era permitido que vagasse por aí a seu bel-prazer. Ele era meio quieto e carrancudo, mas dava para perceber em seu olhar que na verdade ele tinha medo de não ser aceito por representar um perigo e era bem confuso com seus sentimentos, já que não sabia muito bem como interpretá-los por nunca ter sido ensinado.
Ele melhorou muito depois de ser alojado e continuar com suas consultas com o psicólogo. Sua guardiã era uma cidadã comum, sem nenhuma relação com a ONG, uma inglesa que morava na Coréia fazia um tempo e trabalhava com música. Os dois se davam muito bem, provavelmente por esse motivo mesmo. Eu não conheço ela, só ouvi falar, então nem dá pra apresentar. Mas pelo Facebook ela parece bem ativista das coisas e compartilha uma galera tocando piano, sei lá.
Enfim, isso tudo pra dizer: Yoongi saiu pela porta. Pelo menos agora vocês sabem quem é o Yoongi, filme que enrola pra dar background dos personagens me dá preguiça, então toma aí tudo prontinho pra você. Assim, na cara mesmo. E acho que por enquanto eu acabei. Talvez eu lembre de algo depois, eu devia anotar essas coisas, mas vamos continuar seguindo o coração mesmo.
— Oi, hyung! — Jimin cumprimentou, sendo acompanhado por Taehyung. Yoongi mirou suas pupilas levemente afiladas e olhar amarelado aos dois, dando um sorriso quase imperceptível.
— Já estão barulhentos assim tão cedo? — Reclamou como de praxe, porém sem parecer realmente incomodado com aquilo. — Podem entrar, acho que os dois, sei lá, não acho que o Namjoon vai reclamar, até porque ele deixou o Amir entrar no meio da minha consulta pra pegar um remédio, então entrem juntos, dupla.
Os mais novos deram um sorrisinho, cúmplices, o jeito do Yoongi ser indiferente, mas não conseguir de verdade era até mesmo fofo. Eu gostava de Yoongi. Pelo menos ele me dava bola.
Quando os dois outros híbridos entraram no consultório, o híbrido de cobra virou-se pra mim, me olhou de cima a baixo antes de sentar ao meu lado.
— E aí, Jungkook, tudo bem? — Perguntou, com a voz indiferente, mas aquilo não chegou a me abalar porque aquela tinha sido a melhor interação social do meu dia. Eu estava é radiante de felicidade.
— Tudo sim, e você? — Perguntei, recebendo o olhar de Yoongi, sem saber interpretar muito bem se era simpático ou ameaçador.
— Acho que tudo está caminhando bem, sim. Apesar de aparentemente eu ter um pedaço de metal não identificado no meu antebraço, está tudo bem. — Deu um sorriso leve. Ah, acho que era simpatia mesmo. Yoongi era tão difícil de interpretar. — Namjoon é muito bom, Daisy também. Eles são legais comigo.
Por um momento eu fiquei confuso com a frase, mas logo lembrei que Daisy era o nome de sua guardiã. Como eu disse, eu a conhecia apenas por Facebook e lá já tinham nomes demais para guardar. Na verdade, nunca fui muito bom com nomes.
— Entendi... — Respondi simplesmente. Eu não sabia emendar outro assunto, nem tinha nada de interessante para falar, então fiquei quieto. Antes eu olhava o híbrido, mas acho que aquilo é estranho principalmente partindo do princípio que eu não estava conversando, então desviei o olhar.
Yoongi também não puxou mais papo. Nem parecia com vontade de puxar. Ao mesmo tempo, não saiu dali, o que era estranho, porque ninguém fica no consultório depois de ser liberado de sua consulta, certo? Híbridos eram estranhos de fato.
Acabou que não conversamos nada mesmo até Jimin e Taehyung saírem de sua consulta. Eu pelo menos peguei meu Kindle e continuei a ler um livro sobre a história da arte que eu estava gostando mesmo, mas Yoongi ficou só olhando pra frente tipo uma estátua. Ele é meio assustador.
— Ainda por aqui, hyung? — Taehyung perguntou, se aproximando tão rápido que eu pensei que fosse bicar a cabeça do híbrido de cobra.
— Não por muito tempo mais. — Respondeu, e, de fato, se levantou para ir embora, impassível. Fui olhar para Taehyung, ele estava com uma bela cara de cu com as atitudes do outro que acabou virando uma expressão pidona.
— Aish, hyung! Só porque a gente chegou? — O tom de voz era manhoso, o que chegava a ser engraçado junto com sua voz grossa.
— Na verdade eu já ia sair, não tinha nada a ver com vocês. — O de cabelo preto azulado replicou calmamente, mas, no final, deu uma risadinha em antecedência com a próxima fala. — Não se achem tão importantes assim.
Jimin, que só observava a conversa dos dois, acabou rindo mais alto do que deveria, recebendo um olhar emburrado de seu melhor amigo e um sorrisinho com gengivas de Yoongi. É, quando as presas de cobra estavam escondidas, o sorrisinho do mais velho era bem fofo.
— Tchau, meninos. — Yoongi bagunçou o cabelo dos dois híbridos mais jovens e deu um tchauzinho para mim, não demorando-se em sair do consultório.
E aí ficou um silêncio. Acho que sempre ficava porque ninguém sabia muito bem o que fazer depois da consulta, muito menos eu. Talvez eu devesse trabalhar, haviam entrado novas demandas em que eu não tinha mexido ainda.
Por algum motivo, Jimin olhava de mim para Taehyung apreensivo. O híbrido de galinha, por outro lado, só revirava os olhos para o mais baixo. Sentou na cadeira ao meu lado e passou o braço pelo meu ombro.
Sempre pensei que Taehyung teria cheiro de galinheiro, mas ele até que era cheiroso. Acho que era uma marca de perfume masculino meio famosinha, sinto que eu reconhecia. Mas não tem nada demais ou importante nisso, só queria falar essa informação mesmo.
— Ei, Jungkookie... — Provavelmente ele queria algo de mim. Raramente alguém me chamava pelo apelido, principalmente na HP. Virei meu rosto para o lado só o suficiente para encará-lo e indicar que poderia prosseguir com o pedido. Se eu virasse mais se pá a gente acabaria se beijando sem querer, ele estava próximo. — Eu e o Jiminie vamos passear lá fora, certo?
— Certo. — Respondi devagar, perdido. Era para eu dar minha permissão? Eu não entendi muito bem. O híbrido de sapo, por outro lado, pareceu uma mistura de alívio e alegria, sendo abraçado pelo amigo que tinha desgarrado de mim e ido sorrir com o outro.
Eles saíram do consultório quase saltitando de felicidade, e eu confesso que deu uma vontadezinha de rir daquilo. Bem, o jeito era eu ir trabalhar mesmo. Mas hoje eu estava com tanta preguiça... Realmente desmotivado.
Aí eu pensei em algo mais interessante para fazer com minha mente brilhante, claro.
O consultório estava estranhamente vazio — Namjoon era bem requisitado, afinal, caso vocês tenham esquecido porque eu já expliquei, era ele quem cuidava do acompanhamento e medicação de todos os híbridos que resgatávamos —, então passou por minha cabeça que seria legal trocar uma ideia com o médico. Fazia tempo que eu não falava com ele.
Andei perto da porta de sua sala de consulta, ficando feliz ao vê-la entreaberta simplesmente porque eu detestava bater em portas. Namjoon digitava algo no teclado holográfico de seu monitor concentrado, enquanto fazia algumas anotações vez ou outra e olhava umas fichas virtuais de pacientes em um pequeno dispositivo de holograma que utilizava só pra isso.
É, ele parecia cheio de trabalho. Os óculos especiais que ele usava para não cansar a vista escorregavam pelo seu nariz, as sobrancelhas estavam franzidas e a boca pressionada. Demorou um pouco para que notasse minha presença, só quando eu cheguei bem em frente a sua mesa mesmo.
— Ah, Jungkook. — Ele acabou falando meu nome. Não chegou a tomar um susto, sua reação fora calma, mas estava claramente confuso sobre o motivo de eu estar por ali. É, acho que eu estaria confuso também. Acho que eu estou confuso sobre meu motivo para estar ali. Não costumo invadir o espaço dos outros. — Tudo certo com você?
— Tudo, sim. — Acabei me sentando em uma das cadeiras confortáveis quando o meio médico e meio veterinário a indicou com um queixo, desligando alguns de seus aparelhos para prestar atenção em mim.
— Bem, eu sou um médico e você está em meu consultório. — Indicou com a mão o ambiente ao nosso redor, mas não aguentou e soltou um risinho. — Em geral as pessoas vem aqui quando algo não está certo com elas.
Acho que eu sou meio paranoico. Ou seria hipocondríaco seria uma palavra melhor? Porque por mais que nada estivesse de errado comigo e Namjoon estivesse claramente brincando, eu comecei a revistar minha memória para ver se eu tive qualquer indício de falta de saúde nos últimos dias. Caso te interesse, não encontrei.
— Bem... — O mais velho pigarreou. Provavelmente eu tinha ficado muito tempo refletindo em silêncio, porque ele me olhava de um jeito meio estranho. — Já que você não tem nenhum objetivo certo, me conta como está sua vida.
— Normal. — Respondi de prontidão. — Acho que como sempre. No final nunca tem muitas coisas interessantes acontecendo em nossas vidas. Ou talvez seja só a minha.
— Ou será que você só não enxerga o que acontece de interessante? — Namjoon ficou com uma postura mais relaxada e deixou-se reclinar um pouco em sua cadeira. É, eu contei que Namjoon era meio filosófico? Ele é.
— Talvez. Mas talvez eu não enxergar signifique que não é interessante o suficiente, o que acha? — Respondi depois de um tempo. Eu demorava um pouco pra formular minhas respostas, nem todo mundo tem as respostas na ponta da língua que nem Namjoon.
Ele simplesmente deu de ombros, como quem aceitasse. Ou não fosse se dar ao trabalho de argumentar mais. Ou não fosse se dar ao trabalho de explicar a um energúmeno que nem eu. Espero que tenha sido a primeira opção.
— E Jimin? — Perguntou depois de um tempo de silêncio estranho. Por que eu tinha ido até ali pra início de conversa? Eu realmente deveria ter ido para casa trabalhar.
— Ah, ele continua como sempre... — Suspirei, apoiando meus braços na mesa do médico e apoiando meu rosto com a mão. — Quieto, difícil e distante. Aish, talvez eu tenha conseguido alojar o híbrido mais problemático.
Namjoon ia responder algo de prontidão. Parecia incomodado, de verdade. Respirou fundo e cruzou os braços, olhando para o teto em silêncio antes de falar algo.
— O Jimin não é problemático. — Respondeu. — Ele é muito tranquilo, empático e comunicativo. Sinceramente, ele teria todas as justificativas do mundo para ser problemático depois do que passou, mas não é. — Sua voz era calma, porém não parecia amigável.
— Bom que ele tem justificativa, porque essa sua descrição dele é completamente diferente da realidade. — Acabei soltando um riso irônico. Jimin, comunicativo? Acho que até dá pra chamar ele de tranquilo, por causa da distância, mas o resto era realmente exagero. — Deve ser porque você é o médico que ajuda ele o tempo todo. Todo mundo te idolatra, Namjoon, você sabe disso.
— Eu só faço o meu trabalho. — Retrucou prontamente. Para que ele precisava de tanta humildade? Ele era incrível mesmo. Namjoon coçou os fios rosas e deu um suspiro fundo. — Já parou para pensar que talvez a melhor maneira não é supor que uma pessoa aja de um jeito x ou y com você por causa dela mesma? As pessoas se comportam de maneiras diferentes umas com as outras de acordo com o que elas vêem e sentem no próximo. Você tem que tomar essa responsabilidade para você.
Ok, eu tinha entendido exatamente nada.
— Namjoon, eu não entendi nada do que você falou. — Respondi e, confesso, já estava ficando um pouco impaciente com aquela discussão improdutiva.
— O que eu estou dizendo é... — Falou pausadamente, se levantando e cruzando os braços. Podia muito bem ser um deboche, não sei, mas prestei atenção. — As atitudes para tornar Jimin menos distante e mais comunicativo com você devem vir de você.
— Aish, hyung, eu tento de verdade, juro... — Suspirei exasperado, inclinando meu corpo na cadeira em que eu estava sentado. O mais velho continuou em pé, de braços cruzados, me observando falar atentamente, como se eu também fosse um paciente. — Mas ele não quer nada e não colabora, eu simplesmente não aguento mais, não entrei na HP pra isso, sabe?
— Entrou na HP por que então? — Namjoon retrucou, a voz grossa ainda continuava calma como sempre, mas com o tom ainda mais sério.
E, sinceramente, aquela pergunta me fez lembrar muita, muita coisa, e provavelmente passei um bom tempo viajando, perdido em pensamentos quanto a pergunta que me foi feita. Afinal, eu tinha um motivo muito forte para trabalhar onde eu trabalho, fazer o que eu faço.
Nosso mundo, nossa época é horrorosa, mas acho que todas são por motivos diferentes. A nossa maior crise no momento é o salto que a indústria de criação de híbridos deu.
No começo não parecia tão ruim assim, ou talvez só não tivéssemos percebido, híbridos de humanos mais algum animal começaram a aparecer em alguns lugares, aparentemente de forma espontânea.
Confesso que ainda hoje é um mistério se eles realmente apareceram naturalmente — e, se apareceram, por que e como — ou se a indústria começou a "plantá-los" por aí para poder preparar o terreno para o que viria a seguir, mas sendo híbridos naturais ou não, é um absurdo o tratamento atual deles.
A verdade é que os híbridos que circulam pelo mercado são produzidos artificialmente. E, não obstante, está longe de ser um processo lindo e agradável, o que sabemos por enquanto é de híbridos que foram resgatados e eles a maioria das vezes não têm nem condições psicológicas de descrever o que eles sofriam.
A questão ética e moral ligada a fazer experiências com humanos e animais, além de transformá-los em um produto a ser comercializado foi algo muito abafado pelo conhecimento comum das pessoas de que híbridos são "naturais" — outro motivo para acharmos que a indústria plantou-os primeiros, para não causar rebuliço. Afinal, se a mãe natureza fez os híbridos por que negá-los? Se há clínicas de fertilização humana por que não clínicas que produzem híbridos, certo?
Errado.
Híbridos viraram a tendência entre os "pets"; uma mistura de criança com algum bichinho, quem não amaria? Além de serem fofos, têm inteligência para fazer tarefas complexas como cuidar do filho, das plantas, lavar, arrumar... Basicamente é ter um cachorro, um(a) empregado/a e um(a) babá. Tudo junto. É como se você tivesse um cachorro que colocasse ração pra ele mesmo, limpasse o próprio cocô e ainda por cima passasse um Glade Toque de Frescor no apartamento. Muito prático.
Mas por mais que muitas pessoas acreditem que não, híbridos são humanos. Se você conversar por um minuto com qualquer híbrido, sem tentar forçar a visão de que aquele é seu bicho de estimação, é impossível não perceber.
São humanos que passaram por experiências horríveis, são tratados como lixo, torturados para manterem uma postura dócil e educados para acreditar que eles não são nada mais que um bichinho de estimação. Isso lembra vocês de alguma coisa? Escravidão? Pois é.
Mas mesmo passando a vida toda ouvindo que eles são bichos de estimação, muitas vezes eles não conseguem se comportar 100% do tempo como um. Porque eles são pessoas, não bichos. Mas tenta dizer isso pros donos. Se um híbrido dá um deslize em seu comportamento impecável ou ele sofre maus tratos, ou é jogado na rua mesmo. Não seria surpresa para vocês se eu dissesse que a taxa de híbridos abandonados nas ruas é enorme, não é?
E eles não têm nenhum preparo para se virarem sozinhos. Não foram ensinados sobre o mundo, normalmente só sabem atividades domésticas e mesmo se um conseguisse correr atrás de emprego, seria rejeitado. Híbridos foram criados para ter donos e serem dependentes de alguém e depois são simplesmente descartados.
Parece meio difícil de acreditar que tudo isso acontece, não é mesmo? Que pessoas ficam quietas diante disso, que seja um problema tão gigante e que ninguém faça nada mesmo assim. Mas pessoas são pessoas, e, por mais que o tempo passe, parece que a população não evolui muito, só descobre formas mais tecnológicas para cometer injustiças.
Durante muito tempo tivemos apartheid, racismo, homofobia, machismo, muitos moradores de rua largados por aí, fazendo parte da paisagem, além de animais abandonados. Agora temos híbridos. E não, a mídia não ajuda, o mundo não ajuda, isso tudo acontece porque a maior parte das pessoas acha isso normal, ou simplesmente ignora mesmo achando estranho.
Desculpa, eu me empolguei demais na explicação, não é? É que eu falo isso tanto, tanto, para tantas pessoas que simplesmente escorrega da minha boca e dos meus dedos toda vez que eu tenho a oportunidade de expor isso tudo.
Quando eu era moleque eu era amarradão em híbridos. Minha vizinha tinha um, provavelmente adolescente, que cuidava de mim e brincava demais. Era um híbrido de Cocker Spaniel, se chamava Taeyang, e eu passava a maior parte das tarde fazendo carinho nas orelhas longas e macias dele.
Teve um dia em que enquanto eu estava brincando com ele, saí correndo e acabei tropeçando muito feio na calçada. Taeyang tentou me segurar, mas eu caí de um mal jeito fenomenal com o cotovelo, simplesmente triturei meu osso.
Fui pro hospital e tive que ficar bastante tempo lá, era caso de cirurgia. Lembro que foi um saco, é tortura trancar uma criança no hospital, eu só queria voltar e brincar de novo com Taeyang.
Mas quando eu voltei ele não estava mais lá. Perguntei para todos sobre ele, porém todo mundo só disse que ele "foi embora". Não entendi nada, passei muito tempo sem entender e entendi menos ainda quando, no caminho pra casa da minha tia, através da janela do carro, eu vi um híbrido levar chutes e socos num beco. Parecia muito, muito Taeyang.
Gritei, pedi para parar o carro, chamar a polícia, fazer alguma coisa. Chorei como nunca havia chorado. Eu era muito criança, nunca tinha visto sangue daquele jeito. Minha mãe não parou o carro, disse que estava tudo bem, que tinha falado pras autoridades sobre isso, mas nem vi ela pegando no celular. Eu sabia que era mentira.
Só depois, quando eu era adolescente e tinha mais noção do mundo em que vivia, que percebi que a culpa toda daquilo era minha. Que Taeyang foi considerado o culpado por eu ter me machucado e sido descartado. Eu que saí correndo, eu que caí, mas a culpa foi jogada para ele.
E o que eu menos conseguia compreender é que porra, meu irmão mais velho já me jogou da escada uma vez e nem recebeu punição. Por que alguém que nem teve culpa de nada foi expulso? E, depois de mais alguns anos, percebi que era porque híbridos não são considerados humanos, nem ao menos dignos de pena.
E eu entrei na HybridPeace. Eu entrei porque eu não queria ter que engolir aquilo, viver como se tudo estivesse certo quando não estava, fingir que não enxergava que tudo isso acontecia. Talvez eu também tivesse entrado para tentar abrandar o peso na consciência que eu sentia até hoje, não sei. Mas não deviam ter outros Taeyangs no mundo.
— Porque os híbridos merecem mais que isso... — Respondi por fim. Acho que é ruim quebrar diálogos com textos e histórias grandes, mas eu já falei que não sou nenhum escritor prolixo.
— O Jimin não merece? — Rebateu, levantando uma das sobrancelhas. Por que eu fui falar sobre isso com Namjoon mesmo? Ele simplesmente amava o Jimin! Ele ia me fazer de monstro, com certeza.
— Não é que ele não mereça, é só que eu não aguento mais tentar conseguir a atenção dele. — Falei num muxoxo baixinho, a forma que o mais alto me encarava me deixava acanhado, muito mesmo.
— Jungkook, você tá sempre falando sobre você. "Eu não aguento, eu não mereço". — Repetiu minhas palavras. — Isso não é sobre você, isso é sobre eles. Pensei que soubesse no momento que aceitou esse emprego.
— Eu sei que é sobre eles, não foi isso que eu quis dizer... — Tentei me justificar, mas parecia que minha cabeça simplesmente não raciocinava direito. Acho que o coice de Namjoon foi muito forte e olha que nem híbrido de cavalo ele era. — Não é sobre mim, é...
— Bem, Jungkook, eu já te dei a resposta. — Acabou soltando uma risada e os braços antes cruzados apoiaram-se na cintura. Pelo menos ele parecia estar se divertindo em me deixar sem palavras. — Agora depende se você consegue entender o que eu estou falando e se enxergar também.
Foi uma conclusão. Naquela frase, ele deixou óbvio que não tinha mais nada para falar comigo, então simplesmente saí de seu consultório, mais perdido e confuso do que quando entrei. É claro que eu entendia o que ele estava falando, ele era coreano, falávamos a mesma língua! Eu sabia a realidade dos híbridos, eu sabia o motivo de eu estar na HP e por quem a gente trabalhava. Eu sei.
Me enxergar? Fala sério, eu conseguia me enxergar. Eu conhecia o meu trabalho, o impacto que ele tinha. Eu sabia como minhas ações influenciavam os outros, eu fiz a orientação de como tratar um híbrido resgatado e eu frequentemente ia na psicóloga para descobrir mais sobre o assunto. Aquilo era claramente uma injustiça. E por que Namjoon tinha que ficar agindo como sempre tudo o que falasse fosse tão certo? Ele não era o dono da verdade!
Tomei muito cuidado pra não bater a porta, eu sabia que acabava descontando minha frustração pelo meu corpo, quanto a isso eu ainda era realmente muito crianção. Saí andando pelo prédio, esperando que Jimin e Taehyung já tivessem terminado sua caminhada por aí e encontrado algum canto da HP para se divertirem Eles eram barulhentos, era só eu prestar atenção e ouvir eles para descobrir se eles estavam ou não no prédio.
Eu sou um gênio, assim que eu cheguei no corredor que levava até à recepção, consegui ouvir suas risadas escandalosas. Acho que eles estavam em uma das salas de convivência, do outro lado, e, bem, era isso mesmo. Encontrei os dois rindo, deitados em alguns dos pufes coloridos que havia em cima do carpete azul escuro felpudo.
Me senti meio estranho porque as risadas cessaram na hora que eu entrei e os dois amigos olharam imediatamente para mim, como que se perguntando por que eu estava ali. Bem, eu trabalhava lá, então eu tinha o direito de entrar em todos os ambientes também.
— Vamos pra casa, Jimin. — Chamei, o garoto automaticamente deu um abraço no híbrido de galinha, que claramente fez uma força pra não sair correndo com seus instintos naturais.
— Até mais. — Se despediu do outro com um sorrisinho leve antes de me seguir em silêncio pela porta.
Viu? Aquilo era muito estranho. Ele estava bem e empolgado há menos de um minuto atrás. Agora, me seguindo silenciosamente, um silêncio estranho e desconfortável que pairava ao nosso redor. Pesado e denso, tenho certeza que dava para cortar com uma faca.
Diminuí um pouco meu passo, não havia pressa em chegar ao estacionamento, e, assim, consegui ficar lado a lado com Jimin. Olhei para o mais baixo, percebendo o brilho de sua pele úmida e esverdeada, o modo como ele olhou de volta pra mim sem esboçar muitas reações, apenas esperando entender por que eu o olhava.
— Jimin. Como foi o dia? — Perguntei, enfim. Eu realmente passei muito tempo olhando pra ele antes de falar e isso conseguiu deixar o clima pior ainda, se fosse possível.
— Normal, acho. — Respondeu com a voz impassível que ele usava comigo, dando de ombros. Como sempre, não tinha nada pra falar, ou simplesmente não queria falar nada comigo. Passei um tempo esperando que ele perguntasse como foi o meu de volta, educação, sabem? Mas a única reação diferente que consegui de Jimin foi um pequeno susto quando ele foi pegar o hidratante da bolsa e quase deixou ele cair.
Entramos no elevador, deixando o clima 10 vezes mais estranho porque é sempre um lixo pegar elevador com estranhos ou com alguém que não vai com sua cara e vice versa. O híbrido de sapo, por sua vez, aproveitou para retocar seu hidratante rápido, terminando tudo e guardando a embalagem na bolsa antes das portas do elevador se abrirem novamente. Nojentinho.
E, como sempre, não tenho nada mais do que falar, nem sei por que eu estou escrevendo isso. A gente entrou no carro, dei partida, quase furei um sinal vermelho sem querer por estar meio distraído em pensamentos e chegamos em casa.
Eu morava no primeiro andar do prédio e, talvez por isso, eu e o Jimin pelo menos não passávamos pelo desconforto do elevador mais uma vez ao simplesmente subir as escadas. Logo peguei minhas chaves do bolso, abri a porta e dei espaço para o híbrido passar antes de fechar e trancar a porta atrás de nós.
Pendurei minha mochila em uns suportes que havia na entrada, a bolsa de Jimin já estava lá e ele tirava dos pés as sandálias leves e guardava no organizador de sapatos. Pegou uma das pantufas de andar em casa, seu hidratante e celular de dentro da bolsa e foi embora, provavelmente para o quarto.
— Jimin, quer jantar? — Perguntei enquanto tirava meus tênis. Eu tinha que falar rápido essas coisas, o híbrido sempre se trancava no quarto praticamente na velocidade da luz.
— Hyung... — Ele falou baixinho, virando lentamente para mim, tentando equilibrar o hidratante e o celular nas mãos pequenas.
— O quê? — Acabei perguntando de volta confuso, vestindo minhas pantufas também e indo em direção ao mais baixo.
— Eu sou mais velho. — Respirou fundo e olhou diretamente em meus olhos. Me senti meio acuado, seu olhar amarelado de sapo era estranho. — Não precisa me chamar de ssi, seria estranho. Mas eu sou mais velho, hyung seria interessante.
— Ok... — Respondi simplesmente, encarando o recém descoberto mais velho confuso. Jimin até que falou frases longas daquela vez, eu estava realmente chocado com aquilo. O híbrido passou mais alguns segundos olhando pra mim de volta, talvez esperando alguma resposta minha, mas foi um baque, eu não conseguia responder naquele momento.
— Não vou jantar, obrigado. — Acabou respondendo minha pergunta antes de sair apressado para seu quarto, sem nem me dar tempo de falar nada. Na verdade, acho que esse tempo foi de fato dado, eu que não consegui falar nada.
E talvez nem conseguiria tão cedo.
»»❤««
Espero que não tenham muitos erros, acabei cochilando enquanto revisava e vou fazer isso melhor em breve, ok? (sóqueropassarnasmatérias) Qualquer coisinha vocês podem apontar também!
Esse cap é meio grandão, né? Hhsuahuashsuahsauhu espero que vocês estejam entendendo mais e gostando do universo deles dessa fanfic! (E que a narração do Jungkook não esteja dando agonia porque ele é 100% avulso e distraído hsuahuahsausahu)
Como sempre, espero muito que tenham gostado do capítulo! Qualquer feedback, comentário, trocação de ideia, elogio e crítica já sabem que é só comentar <333
BEIJINHOS DE LUZ E ATÉ DAQUI A DUAS SEMANAS!!!! AMO VOCÊS
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