Capítulo 20: Matadouro
— E então, quem é ele? — O mais alto questionou enquanto cortava as pontas do cabelo do irmão, completamente concentrado no que fazia. Minho suspendeu o olhar encarando o outro pelo reflexo do espelho em sua frente, desviando novamente o olhar logo depois.
— Um amigo.
— Um amigo? - Hyunjin repetiu em um murmúrio, suspendendo o olhar e encarando o irmão pelo reflexo. — Acho que é o primeiro amigo que você deixa dormir em sua casa...
Minho o ignorou, fingindo que não tinha ouvido aquilo. Ele sabia que seu irmão estava desconfiando de sua resposta, ele mesmo desconfiaria se estivesse no lugar de Hyunjin.
Acontece que o Lee nunca permitiu que nenhuma outra pessoa dormisse em sua casa, nunca se sentiu confortável o bastante para receber nenhum amigo por um ou dois dias em seu lar com Haneul lá, mesmo confiando em todos os seus amigos. O quarto de hóspedes existia apenas para que seu irmão ou sua mãe tivesse um lugar confortável para dormir nas pouquíssimas vezes que eles resolviam ir passar alguns dias com Minho e sua filha.
— Hannie se da bem com o seu amigo. — O Hwang cochichou.
— Sim... — Minho riu. — No começo ela ficou toda sem graça com vergonha dele, agora que se acostumou não deixa o coitado em paz um minuto. — O Lee comentou com um sorrisinho, relembrando o grude da garotinha com Jisung no café da manhã de mais cedo.
— Ela gosta dele. — Hyunjin falou, vendo o outro concordar. — E você gosta também.
— Que? De onde você tirou um absurdo desses, Hyunjin?! — Minho falou de abrupto, se virando para encarar o mais novo.
— Ora hyung, não seja sonso! — Hyunjin soltou sem mais nem menos, prendendo a risada ao ver a expressão contrariada do irmão. — Você deixou ele passar a noite aqui e fica igual um bobo do lado dele, você fica corado! A última vez que te vi ficar envergonhado ao lado de alguém a ponto de corar foi da Jisoo.
— Não diga besteiras. — Minho novamente se virou pra frente. — Eu gosto do Jisung, mas não dessa maneira. Não gosto de homens...
— E qual o problema em gostar de homens e mulheres? Você pode ser bi ou pan. — O mais novo parecia indignado. — Quanto mais você negar o óbvio, mais tempo vai perder.
— Incrível que você está sempre tentando me juntar a alguém. — O Lee resmungou, cruzando os braços. — Deveria mudar sua profissão e trabalhar como cupido e não como cabelereiro.
— É porque diferente de você que é um tapado, eu consigo ver nas entrelinhas quando uma pessoa gosta da outra. — O mais novo falou. — Romanticamente falando, claro.
— Você é insuportável, não sei como Felix te aguenta. — Minho bufou e o outro gargalhou. — Afinal, como se conheceram?
— Ele é cliente fixo do Changbin e passou lá no salão, acabei sendo obrigado a atender ele e conversamos bastante. — Hyunjin deu de ombros. — No final ele me deu o número dele, marcamos um encontro e rolou.
— Fácil assim? — Minho resmungou, pensativo. Não lembrava a última vez que havia ido a um encontro com alguém, sequer tinha tempo para sair com alguma outra pessoa que não fosse Haneul.
— Paquerar é fácil, você que gosta de dificultar as coisas. — Hyunjin retrucou. — Se eu fosse você, flertaria com esse seu amigo. Ele é bonitinho.
Minho o encarou pelo reflexo e não disse nada, apesar pigarreou e voltou a mexer no celular tentando se concentrar em algo que não fosse a imagem de Jisung passando em sua cabeça e o sonho que teve com o rapaz. Sua mente parecia reviver e recriar aquele cenário como uma maneira de o torturar.
— Acaba logo com isso, preciso sair. — Minho resmungou, olhando o horário. Estava próximo das onze. — O departamento deve estar uma bagunça...
*
O mestiço estava em pé na frente da mesa do rapaz que o encarava com raiva enquanto batia levemente a ponta dos dedos longos na madeira antiga e bem polida do objeto. Changkyun suspirou pesado, desviando o olhar do outro somente para acender um cigarro.
— Hansol, está ciente da merda que fez? — Questionou o outro com um tom de arrogância grotesco, encarando os olhos esverdeados do garoto em sua frente. — Por que atirou?
— Eles iam pegar os dedos do Taehyun! — O outro se explicou.
— Se estava lá era pra ser encontrado! Agora eles tem os dedos e mais pistas, viram você. — Changkyun falou calmamente, soprando a fumaça e a assistindo dissipar no ar. — A ordem era não fazer nada.
— Desculpe...
— Sabe o que isso significa? — Changkyun perguntou, apagando o cigarro na mão do outro que estava espalmada na mesa, assistindo a expressão de dor de Vernon.
— Que eu vou morrer? — O mestiço questionou baixo, ouvindo a risada fraca do outro.
— Talvez. — O Im deu de ombros. — Mas você ainda tem coisas a fazer antes de ir para o inferno.
Changkyun se levantou arrumando o blazer elegante que usava, caminhou ate a porta de ferro que dividia seu escritório de um outro cômodo e então encarou o mestiço indicando com a cabeça o lugar. Vernon suspirou pesado antes de o seguir, receoso de que talvez estivesse indo para o matadouro.
Os dois adentraram uma sala escura e quando a luz foi acesa, Vernon viu um homem acorrentado no meio do lugar com uma mordaça na boca, ouvindo-o grunhir desesperado enquanto os encarava. Changkyun colocou as mãos nos bolsos da calça social e então olhou para o mestiço ao seu lado com um sorrisinho.
— O que isso significa? — Vernon perguntou, confuso.
— Seu trabalho, novato. — Changkyun o respondeu, com um sorrisinho insinuativo. — Este é Kim Seokjin, apenas se divirta enquanto arranca informações dele. — O moreno falou. — E é claro, não esqueça de mandar as fotos para o marido dele também, um romance precisa de drama.
Im sorriu sádico com as últimas palavras de sua frase, aproximando-se do outro que estava acorrentado e se abaixando em sua frente antes de apertar o rosto magro do Kim com os dedos.
— Se você não colaborar, quem vai morrer primeiro será ele. — Resmungou, encarando os olhos amedrontados de Seokjin que segurava o choro. — E se você falhar de novo, eu mato você. — Changkyun falou a última frase para o mestiço, encarando o mais novo antes de se levantar e se retirar do cômodo enquanto acendia outro cigarro.
Vernon balançou as mãos tentando relaxar seus membros, encarando o Kim acorrentado em sua frente. Não iria morrer depois de tudo que fez para chegar onde estava, não era justo. Arrancaria tudo que pudesse de Seokjin e se preciso, iria atrás de seu marido também.
——
Matadouro É um local específico onde animais (ou humanos, vitimas) são levados para o abate (morte).
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