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Capítulo 9 - Crimes do Desejo

Da janela da biblioteca, que também lhe servia de escritório, Alessa seguia Damon com o olhar. O sol da manhã brilhava nas mechas mais claras do cabelo castanho escuro, enquanto ele caminhava para o carro. Ia voltar ao Arraial do Cabo verificar a situação financeira de Beto Couto. Absorvida pelos pensamentos, ela brincou com a fina corrente de ouro que lhe rodeava o pescoço. Damon era muito bonito, qualquer mulher ficaria atraída por ele.

Suspirou, pensando que talvez houvesse errado em não deixar que a beijasse na noite anterior. Não. Fora sensata. Não podia entregar-se à atração por um homem que a acusava, que desconfiava dela.

Que direito tinha ele de acusá-la de dedicação extrema a Zelda, como se aquilo fosse um erro?

Naturalmente não sabia que o dever a obrigava a ser totalmente dedicada.

Talvez exagerasse. Não. De modo algum.

De qualquer modo, lutava contra o desejo de render-se à força magnética que a arrastava para ele. Não podia permitir que nada nem ninguém a distraísse de seu objetivo.

Observou o carro dele dirigir-se para o portão. Um homem atraente e cheio de charme. Provavelmente viveria rodeado de mulheres, mas aquilo não era de sua conta.

Resoluta, voltou ao trabalho. Sua primeira tarefa seria conferir a folha de pagamento dos empregados e as contas a pagar que toda a equipe mandara. Despesas de rotina, mas era sua obrigação tomar conhecimento de tudo. Faria o possível para que Zelda não descobrisse que precisavam ser prudentes com as despesas, mesmo com o contrato conseguido para o filme de televisão, que ela praticamente arrancara de Davi. A possibilidade de Zelda fracassar e não levar o trabalho avante era algo em que não queria pensar.

— Vamos, Zelda, esforce-se um pouco mais! Estique a perna e sinta os músculos ficarem retesados. Muito bem!

Deitada de costas, com os braços estendidos ao longo do corpo, Zelda ergueu a perna esquerda e levou o joelho ao peito. Esperou que Ronny lhe desse ordem de voltar a estender a perna, trinta segundos depois.

Depois de dez minutos de exercícios monótonos, Ronny mandou-a levantar-se.

— Agora vamos passar para os movimentos de alongamento. Pés juntos!

Respirando pesadamente, ela colocou uma das mãos na cintura e com a outra enxugou o suor da testa.

— Droga, Ronny! Não está cansado? Vamos parar um pouco.

— Você é uma gracinha. Vamos continuar. Não quer deixar tudo isso aí bem firme e bonito?

— Por quê? Não há cenas de nudismo no filme.

Ele atirou-lhe uma toalha.

— Então acha que deve manter a forma só quando faz um filme?

— Manter a forma? Para a minha idade, estou em ótimas condições físicas.

— Trate de conservá-las, então.

— Está bem. Se pensa que mais alguns exercícios são indispensáveis, vamos lá. Endurecer o traseiro e afinar a cintura. Maldição, detesto isso.

Ficou ereta e de pés juntos, inclinou-se e ergueu um peso imaginário que levou acima da cabeça.

— Fique com os braços retos. — Gritou Ronny. — Não se incline para trás. Faça de conta que é uma bailarina. Assim, ótimo! Oito... nove... dez.

Zelda dobrou o corpo e segurou os joelhos. Erguendo o rosto, fuzilou-o com o olhar.

— Quero um copo de suco de laranja, Ronny. Já perdi uma tonelada de água, transpirando. — Agarrou a toalha que ele mantinha nos ombros e marchou através do salão de ginástica, dirigindo-se ao bar.

— Deixe que eu pego. — Ele disse, correndo para alcançar a geladeira antes dela.

A atriz encostou-se no balcão. Erguendo o cabelo preso por um lenço branco, enxugou o pescoço com a toalha.

— A luz do seu quarto ficou acesa até depois de uma da madrugada. — Ronny censurou. — Estava estudando o roteiro? Sabe que não deve dormir tarde. Precisa descansar e perca de sono pode deixar sua pele cansada.

— Preciso decorar aquilo.

— Claro, mas também precisa dormir oito horas por noite.

Ela pegou o copo que ele lhe oferecia e tomou um grande gole.

— Está bem, mestre.

— Pronta para recomeçar?

Ela gemeu e colocou o braço no balcão, em atitude preguiçosa.

— Não tem coração? O que tem no lugar? Uma agenda de exercícios chatos?

— E você, o que tem?

Ronny viu-a empalidecer e desejou não ter replicado. Zelda virou o rosto e ele correu para a bicicleta fixa, perto do bar, começando a pedalar furiosamente. Quando ela voltou a encará-lo, seus lindos olhos estavam tristes. A pergunta a magoara, embora soubesse que Ronny tinha todo o direito de estar ressentido. Pousou o copo no balcão e caminhou até lá, colocando a mão sobre a dele.

— Nós já fomos bons amigos, Ronny. Por que as coisas não podem voltar a ser o que eram?

Ele parou de pedalar e sorriu sem alegria.

— De amigos a amantes e novamente amigos. Uma torneira, não é? Que se abre e se fecha à vontade. Tudo muito simples e prático.

Ela desviou os olhos do rosto acusador.

— Não é bem assim, Ronny.

— Não fique triste, Zelda. Sinto falta da nossa intimidade, mas compreendo. Você é uma estrela e eu, um joão-ninguém que ensina gente famosa a manter a saúde e o corpo em perfeitas condições para que possam alcançar os seus objetvos mesquinhos.

— Não se menospreze dessa forma. É um ser humano maravilhoso, Ronny. Nunca conheci outro igual, pelo menos entre os homens que encontrei.

— Talvez seja esse o problema. Já conheceu homens demais.

Ela deu um passo atrás e virou-lhe as costas, como se Ronny a houvesse esbofeteado. Não podia culpá-lo, porém. Ele estava certo. Perdera a capacidade de separar a imagem que a grande mídia criara da verdadeira mulher de carne e osso que era. O mundo de sedução e faz-de-conta a desumanizara. Tornara-se uma devoradora de homens, na tela e na vida real, espalhando desilusão. Mas num ponto ele se equivocava.

Não perdera o coração. Apenas não sabia como usá-lo, perdida no universo falso, onde câmeras e refletores, beleza e felicidade efêmera reinavam sobre tudo.

— Zelda... — Chamou ele, fazendo-a olhar para trás. — Eu não devia permanecer aqui. Estou infeliz e deixando-a triste.

Ela correu para ele, pálida e assustada.

— Preciso de você, Ronny.

— Como amigo. Mas não quero apenas isso, Zelda! Se ao menos pudesse entender por que deixou de me amar! Você me amava. Não negue.

— Ronny...

— Você é uma grande atriz, mas não seria capaz de fingir tão bem e por tanto tempo.

— O tipo de amor de que está falando, Ronny, é para gente muito mais jovem que eu. Somos ótimos na cama, mas eu tenho idade para ser a sua mãe, ou melhor, sua avó. Estou com cinquenta e oito anos! Não sei como você pode querer uma mulher que está envelhecendo e enfrentando uma crise existencial após outra, por mais de dez anos.

— Isso não é argumento. Eu sei dá idade que possuo e também sei muito bem a quem eu amo! Afirmou com firmeza.

— Deveria estar namorando uma jovem da idade de Alessa, pensando no futuro e em formar uma família. Eu não posso lhe dar nada disso!...

Ele desceu da bicicleta e abraçou-a.

— Não sou nenhum adolescente, querida, e você não aparenta mais que quarenta anos.

Beijou-a no pescoço e ela arrancou-se de seus braços, exasperada.

— Por favor, Ronny, não me perturbe com palavras. Preciso estar perfeitamente tranquila para fazer o filme de Davi. Tenho de me concentrar no trabalho e você me assusta. Nem tenho certeza de poder enfrentar o que me espera.

— Então nem é bom tentar, não acha?

— Não posso desapontar Alessa!

— As vezes acho que você pensa mais em Alessa do que jamais pensou em mim, Zelda!

Ela inspirou profundamente e umedeceu os lábios com a língua, procurando acalmar-se.

— Ronny, estou sob grande pressão, no momento. Acho que não pode entender, mas ir para a frente das câmeras novamente é uma ideia que me apavora e me deixa fisicamente doente.

— Cancele o contrato, então! Já fez mais de trinta e três filmes, sem falar nas novelas e séries de tv. Não teve fama o suficiente? Deveria estar curtindo a vida e saboreando os frutos de suas conquistas. Precisa viver neste palácio feito de ilusão e cercada de pessoas que vivem na sua sombra para ser feliz? Por que não desce à Terra, onde os simples mortais como eu vive e aprende a viver como nós? Talvez até acabasse gostando da nossa espécie.

Ela juntou as mãos, num gesto de súplica.

— Tente compreender. Preciso triunfar mais uma vez. Por causa de Alessa. Sabe o quanto ela lutou para me fazer sair da depressão. Você e ela me salvaram, Ronny. E preciso fazer sucesso mais uma vez, nem que isso me mate.

— Mesmo que isso a mate. — Repetiu ele com sarcasmo. — Acho que é melhor atriz do que eu julgava. Mas se quer matar-se por causa do maldito filme, faça isso por você mesma e não por Alessa. Ou por mim. Por que não vive sua vida e deixa que ela viva também? Você a escraviza com sua dependência! Realmente não consigo compreender o relacionamento de vocês duas!

— Eu sei... — Ela olhou para as próprias mãos. — Deixo que ela resolva todos os meus problemas. É Alessa quem me mantém inteira. Tem força emocional por nós duas.

— Será que um dia você vai mudar, Zelda?

— Eu vou. Prometo.

Ele sacudiu a cabeça com descrença.

— Por que não posso acreditar nessa promessa?

Zelda ergueu o queixo, furiosa, e arrancando o lenço dos cabelos, correu para fora do salão.

Ronny saiu por outra porta e passou depressa pela biblioteca para alcançar a parte externa da casa. Nem percebeu a presença de Alessa e Damon, que conversavam perto da escrivaninha.

— O que deu nele? — Damon perguntou.

— Como posso saber? Ronny tem estado muito estranho ultimamente. — Ela respondeu.

— Bem, como estava dizendo, descobri que Eric pagou a nova unidade móvel à vista.

— Como descobriu?

— Segredos do ofício. Digamos que convenci o revendedor a quebrar o sigilo. Quantos anos tem Guy? Vinte e dois, vinte e cinco? O ramo da estética dá tanto dinheiro assim?

— Há muita gente rica e muitos atores e atrizes morando no interiro dos estados agora. E a vaidade sempre foi muito lucrativa.

— Vê Eric como uma pessoa econômica?

— Oh, Damon, o que ele faz com o dinheiro não é da minha conta.

— Talvez, mas pode ser que tenha gasto duzentos mil reais que eram seus.

— Eric? Acho difícil acreditar numa coisa dessas! — Declarou ela, sentando-se na cadeira atrás da escrivaninha feita de pau Brasil.

— Todavia ainda não vou excluí-lo da lista de suspeitos.

— Eu também estou na sua lista? — Perguntou ela mansamente.

Ele inclinou-se sobre a escrivaninha, apoiando-se nas mãos, e examinou detidamente o rosto dela. Viu tristeza nos olhos claros. Tristeza e algo mais.

Confusão?

Medo?

— Permita-me não responder. — Olhou para a porta por onde Ronny desaparecera. — Vou atrás de Mister Universo para ver se descubro o que o deixou tão alvoroçado. Podia esperar-me aqui? Voltarei logo.

— Por quê? Vai me interrogar também?

Ele sorriu.

— Bem, tenho uma porção de perguntas a fazer. Por exemplo, a que horas pretende sair para a reunião com a equipe de filmagem?

— Ainda quer ir comigo?

— Sim, sabe sou teimoso. Herança de meus pais!...

Alessa era obrigada a admitir que estava lisonjeada com o interesse dele. Sorriu satisfeita.

— Disse a Rose que a pegaria por volta de seis da tarde.

— Está bem. Agora vou em busca de Ronny.

Poucos instantes depois Damon subia a escada que levava aos aposentos de Ronny. Ouviu um barulho estranho, como se alguém estivesse revirando tudo.

Encontrou a porta encostada e abriu-a, surpreendendo Ronny a rasgar um cartaz de um dos filmes de Zelda. No meio do aposento, no chão, havia vários outros, já em pedaços, uma caixa de joias, roupas e livros evidentemente atirados com fúria.

Ronny viu-o e sua expressão tornou-se ainda mais carregada.

— Não tem mais o que fazer, além de ficar espionando?

— Estou fazendo meu trabalho, mas não bisbilhotando.

— Fazendo seu trabalho? De detetive? Pois quero ser um cachorro se acredito nessa conversa de assessor de segurança.

— Não acredita?

— Vi seu anúncio nas páginas amarelas. Ocupa uma página inteira.

— Foi você quem telefonou para o meu escritório, dando o nome de H. Harper?

— Foi. Usei a junção dos ex-namorados da senhorita perfeição.

— Disse a Zelda que sou detetive?

— Não! — Ronny respondeu secamente, dando um pontapé na caixa de joias. — Esperei que ela mesma me dissesse que contratara um investigador particular. Inutilmente, diga-se de passagem.

— Não podia dizer nada porque não sabia. Foi Alessa quem me contratou.

— Alessa? — O homem olhou-o desconfiado. — Está usando você para vigiar Zelda?

— Não.

— Então, para quê?

— Estou no meio de uma corrente de ar nesta porta. Importa- se se eu entrar?

— Se tiver alguma coisa a dizer que valha a pena ouvir.

Damon entrou, fechou a porta e examinou o aposento aconchegante.

— Bonito lugar. Foi você mesmo quem decorou?

Ronny tirou um saco de lixo do balcão da cozinha e começou a enchê-lo com vários objetos espalhados pelo chão, inclusive abotoaduras de prata e ouro e uma pulseira pesada e com aparência de muito cara.

— Vai fazer uma doação a algum santuário? — Perguntou Damon.

— Cheguei aqui com pouco mais do que a roupa do corpo. E é assim que vou sair.

— Sair?

— Não entende a própria língua? Sair. S-a-i-r.

Damon encostou-se numa mesa pequena e observou-o jogar o saco em cima de uma cadeira, tentando adivinhar o que deixara o homem tão furioso.

— Levantou com o pé esquerdo, hoje? — Provocou.

Ronny foi até o frigobar, pegou uma lata de cerveja e arrancou a argola. Depois ofereceu a lata a Damon.

— Obrigado. Estou com a garganta seca.

O outro pegou uma lata para si mesmo, abriu-a e sorveu um grande gole. A seguir jogou-se numa poltrona, estendendo as pernas.

— Está investigando a vida de quem, falso Sherlock?

— Alessa me contratou e só ela poderá lhe dizer alguma coisa, se quiser. O resto seria quebra de sigilo.

— Alessa e eu não temos segredos no que se refere a Zelda e desconfio que seu trabalho aqui está diretamente relacionado com ela.

— Pode ser que esteja certo. — Concedeu Damon.

Ronny pôs a lata na mesinha do telefone e pegou o aparelho, discando três algarismos. Enquanto falava, fitava Damon com os olhos frios.

— Alessa, é Ronny. O detetive que você contratou está aqui comigo. Ele alega que precisa de sua aprovação para me dizer o que está acontecendo.

Ouviu durante alguns segundos e passou o receptor para Damon.

— Alessa? Estou tomando uma cerveja com H. Harper, digo, Ronny Damasco.

Ouviu-a dizer que podia contar a verdade a Ronny, mas só o que fosse realmente necessário.

— Não precisa revelar nada, se não quiser, Alessa. — Avisou. — Mas a decisão é com você.

Desligou e olhou para Ronny com um sorriso audacioso.

— A confiança é algo prodigioso, não? Alessa confia cegamente em você.

— Vai ficar fazendo rodeios ou ir direto ao assunto?

— Alessa fez apenas uma restrição. Não quer que você diga coisa alguma a Zelda. Quer manter segredo, pelo menos por enquanto.

Ronny cerrou os lábios e por fim fez um gesto de cabeça, concordando.

— Zelda está sendo chantageada.

Com calma admirável, Ronny tornou a pegar a lata de cerveja e inclinou-se para a frente, encarando Damon.

— Por quê? — Perguntou apenas, rolando a lata nas mãos.

Damon fazia uma boa ideia do que se passava na mente do homem. Certamente perguntava-se se o erro de Zelda, que a expusera à chantagem, fora cometido depois que ele a conhecera e se apaixonara por ela.

— Não posso dizer por quê. Só afirmar que é por algo que aconteceu muito tempo atrás, muitos anos antes de vocês dois se conhecerem. — Respondeu com gentileza.

— Ela está correndo alguma espécie de perigo?

— No momento, acho que não. Mas se gosta dela, por que não desiste de partir e fica um pouco mais por aqui? Zelda precisa de amigos.

— Amigos?... — Repetiu Ronny em forma de uma pergunta, dando uma risadinha amarga.

Levantou-se, acabou de beber a cerveja e amassou a lata entre as mãos antes de atirá-la no lixo, embaixo da pia. Colocando as mãos no balcão que corria sob a janela, olhou através da vidraça.

— Acho que me apaixonei por Zelda quando via seus filmes, novelas e séries de tv nos tempos de universidade. Assistia a cada um deles várias vezes e até escrevi para o estúdio, recebendo uma foto autografada.

Aos poucos a expressão suavizou-se e ele sorriu, olhando para Damon.

— Ficar sentado no escuro de uma sala de exibição e ver a imagem de Zelda numa grande tela é uma experiência única. Ela toma conta de tudo e não se vê mais nada. Foi essa qualidade que a transformou numa estrela.

Tornou a olhar pela janela.

— Dei aulas de educação física durante dois anos, na escola pública, depois servi na Força Aérea Brasileira, sempre levando sua foto comigo. Era como um talismã.

— Ela sabe disso?

O homem virou-se de frente para Damon e cruzou os braços.

— Não.

— Por que não lhe disse? Ela ficaria contente.

— Engana-se. Ela me julgaria um doido. Quando Alessa entrevistou-me para o emprego junto a Zelda, nem pude acreditar que ia ver a minha estrela pessoalmente.

— Imagino.

— Porém quando a encontrei, Zelda parecia um trapo, tanto física como emocionalmente. Suponho que Alessa lhe disse que ela esteve muito doente.

— Sim, e também me contou como você ajudou Zelda a recuperar-se.

— Foi difícil, no início. Em sua letargia, Zelda não queria saber de nada. Mas depois, conforme ficava mais forte fisicamente, revelava-se a mulher verdadeira que existia atrás da fachada de atriz famosa. Descobri que o que ela sempre desejou foi ser amada e que não era capaz de ver a diferença entre ser querida e usada pelas pessoas que a bajulavam. O mundo inteiro a adorava e Zelda não conseguia gostar de si mesma. Não sei se aprendeu a valorizar-se.

— Você a ama muito, não é Ronny?

— Sim, mas do que imaginei e se pudesse sufocaria esse amor. — Olhou para um cartaz rasgado. — O melhor que Alessa poderia fazer por Zelda era tirá-la do mundo do entretemento. Faria qualquer coisa para que isso acontecesse.

Damon olhou para a lata que tinha entre as mãos, pensativo. Seria Ronny capaz de arruinar a carreira de Zelda para realizar seu desejo?

Voluntária ou involuntariamente, todos nós somos egoístas em algum momento das nossas vidas, mesmo sem perceber. Em momentos como esse é preciso dar um passo atrás e refletir sobre esse sentimento tão confuso e complicado!

Todos trazem múltiplas faces em si: a face do bem e do mal, do egoísmo e do altruísmo, da coragem e da covardia. É impossível ser inteiramente apenas uma delas. Entre os aspectos positivos e negativos que existem em cada um de nós, o mais importante é tentar encontrar um equilíbrio e fazer de tudo para que esse equilíbrio traga mais alegria do que tristeza.

— Pela maneira que está me observando agora, você me acha egoísta? Perguntou Ronny pegando outra cerveja. — Aceita outra?

— Não obrigado, estou satisfeito com essa. Indicou a sua lata ainda pela metade. — E o que eu acho sobre os seus sentimentos não são importantes agora. Mas não posso negar que suas palavras e deixaram pensativo.

— Por causa da Alessa?

— Não temos nada!

— Ainda não, mas seus olhares indicam que estão no caminho. E isso não é errado! Sabe acamos amando as pessoas que menos imaginamos. O amor é assim! Pelo menos eu acho que seja assim! Disse Ronny voltando a se sentar. — Se eu sou egoísta, então, podem me punir! Sou egoísta porque amo aos meus e quero o bem deles acima de tudo. Sou egoísta porque quero proteger a minha família. Sou egoísta porque quero cuidar da mulher que meu coração escolheu para amar.. Sou egoísta porque defendo os meus sentimentos. Sou egoísta ao querer o bem dela. Sou egoísta por amar tanto Zelda que chega a doer aqui dentro. Terminou apontando para o peito e depois para a própria cabeça.

— Se não machuca ninguém, não há problema. Isso é verdade para tudo, até para o egoísmo. Não há mal nenhum em desejar proteger quem se ama, contanto que você não esteja trazendo mais tristeza ao mundo. Mas também aconselho amar-se acima de tudo, nos preservar contra a tristeza e é o primeiro passo necessário para realmente poder ajudar a quem amamos.

— Espero que você, Damon Carter possa ouvir o próprio conselho. Disse Ronny virando sua cerveja e ficando em silêncio.

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