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Capítulo 49 - Areia movediça

05/10/2022 - 420 dias antes do assalto a Florence Joalheria

Dacre Montgomery

- Ah Dacre, não me fode, cara. - Ryan me respondeu ao rir do outro lado do telefone. - Não vou te passar merda nenhuma.

- Não sabia que protegia tanto assim sua clientela. - ri nasalado, tentando ao máximo não xingá-lo.

- É uma das cláusulas do meu contrato. - ele disse irônico, mas vindo dele, podia ser mesmo um fato. - E eu honro ele.

Eu ri um tanto sincero, deixando a pistola calibre quarenta - a mesma do assalto, coincidentemente - sob meu colo, mudando o celular para a mão esquerda para, assim, conseguir mudar de marcha.

- Um agiota que respeita contratos. - comentei sarcástico, focando a atenção no trânsito. - Mas eu ainda quero saber.

- Para quê? - questionou curioso.

- Não acho que ele seja seu cliente pelos mesmos motivos que eu queria falar com ele. - respondi ao morder brevemente o lábio inferior.

- Nicholas é muito de boa, não estou entendendo seu interesse nele, Montgomery. - comentou. - Seja mais específico.

- Ele compra droga com você? - perguntei; o filho da puta tinha mesmo cara de quem não vivia se não estivesse chapado.

- Não. - respondeu como se fosse uma ousadia supor isso. - Dacre, que caralho você está fazendo?

- Tentando fazer com que você responda onde esse cara mora. Preciso desenhar para você? - eu estava me cansando daquilo.

Pude ouvi-lo suspirar. - Ele fez alguns empréstimos comigo, nada mais.

- Alguns? Alguns, quanto? Seja específico. - usei de seu modo de falar, ainda seguindo em direção ao bairro de Caleb, mesmo que sem um endereço exato.

- O último foi de 30 mil. - disse, desistindo de relutar em me contar. - Mas já teve maiores, em março foram 200, e o filho da puta tirou o rabo da reta com relação ao pagamento, mas estou resolvendo isso. - riu nasalado.

Fiquei alguns segundos em silêncio, tentando me lembrar exatamente das feições e até o que Nicholas vestia na última vez em que nos vimos na cafeteria; não parecia alguém que precisasse de um empréstimo com juros tão baixos quanto um braço ou uma perna quebrada. No fim, Ryan ou até mesmo Sadie não precisavam me contar muito a respeito dele. Nicholas Hanhen era só um cara tão idiota quanto era burro.

- Seu cliente favorito está querendo te dar calote, é? - ri de leve.

Provavelmente, se eu o conhecesse bem o suficiente, o mexicano revirou os olhos com minha ironia.

- Ele fez em nome de outra pessoa, segundo ele. - respirou fundo. - E aparentemente é verdade, mas isso não vem ao caso.

- Quem? Ele não é amiguinho daquele cara que é_ - ele me interrompeu.

- Você já está querendo saber demais, Montgomery. - riu nervoso.

Acho que Collins não conhecia o mesmo Nicholas que eu, porque estava bem evidente que aquilo poderia ser uma mentira. Eu achava, particularmente, que se ele tinha capacidade de incomodar uma ex-namorada o suficiente para ser acusado de injúria e stalking, contar alguma história dramática para enrolar um agiota não era nada.

- Tem certeza que não quer aquela vaga que te falei ano passado? Acho que se sairia bem. - comentou sarcástico.

- E eu poderia cobrar o Hanhen pessoalmente?

- Não, Dacre. - respondeu. - Acho que não posso ajudar, com sejá lá o que está fazendo, eu prezo pelo silêncio e um trabalho discreto. Não estou afim desse merda me denunciar porque falei demais.

- Uma última coisa então... - sugeri.

- Chega Dacre, esquece. O cara e a ex mina dele estão fodidos de qualquer forma comigo, então deixa eu fazer meu trabalho.

Freei bruscamente o carro ao ouvir aquilo; não estaria se referindo a quem eu pensava, não é? Puta merda....

- Achei que depois da prisão do Michel você ia parar de encher a porra do meu saco. - ele continuou.

Eu iria respondê-lo com alguma ironia se não tivesse ficado tão interessado em seu último comentário.

- Onde você está? - perguntei sério.

- Qual é, Montgomery? Não está satisfeito ainda? Eu já falei tudo que podia.

- Você não está entendendo, Collins. - ri nervoso, seguindo com o carro pela avenida para voltar ao centro. - Você conhece a ex-namorada fodida dele? - questionei.

- Não, quem está resolvendo isso para mim é o Merle. Eu tenho cara de quem vai_ - eu o interrompi.

- É, mas agora você vai querer saber. - falei de imediato. - Nós temos muito o que conversar, Ryan, espero que esteja com tempo.

Era como se aquilo fosse quase uma brincadeira de mal gosto. A história de um ex problemático já não era algo muito agradável aos meus olhos, agora então, era inaceitável.

Sadie parecia ter um imã para homens com um caráter de merda, e eu era um deles obviamente; mas, se ainda fosse possível aliviar isso para ela, antes de ser preso, eu o faria. Eu já tinha falhado enquanto filho e irmão mais velho, não precisava falhar com ela também.

(...)

Sadie Sink

- Sinto muito, filha. Imagino que esteja chateada. E não tem motivo para se desculpar, é óbvio que pode voltar para casa, querida. - minha mãe disse em um tom doce, como de costume.

Fracassada; era assim que me sentia ao ouvir suas palavras. Voltar para Fresno estava fora das minhas opções desde a demissão da Conceptum, mas agora, sem um relacionamento que me prendesse a Sacramento, quem dirá um trabalho, não fazia mais sentido permanecer aqui.

- Talvez demore um pouco, duas semanas eu acho. - comentei ao suspirar e passar a mão pelo cabelo. - Vou começar a encaixotar tudo ainda. - acrescentei.

- Posso ir te ajudar se quiser ou pedir ao Spencer, ele está de férias do trabalho esse mês. - ela disse solícita.

- Eu só vou se você me pagar bem, não trabalho de graça, ruivinha! - pude ouvir a voz do meu irmão, um tanto abafada, intrometendo-se na conversa.

- Não... - ri de leve com aquilo. - Não tem necessidade. Maya disse que ajudará e também, não tenho tanta coisa assim. - dei de ombros.

- Mesmo assim, querida. - ela continuou e eu suspirei, olhando na direção de Natalia, sentada à minha frente na sala de estar. - Sabe que pode contar com a gente, para tudo.

- Eu sei. - abaixei a cabeça, sentindo-me péssima. - Eu sei que posso.

- Me mantenha informada, por favor. - pediu.

- Claro. - afirmei, ainda mantendo os olhos em meus próprios pés. - Amo vocês. - completei antes de desligar.

Natalia não disse nada, mesmo depois do meu longo suspiro e de ter ficado em silêncio por pelo menos cinco minutos; acho que ela não queria dizer nada que comprovasse ainda mais minha situação de merda.

Sadie Sink você é uma inútil.

- Você sabe que posso ajudá-la também, não é? - Natalia comentou. - Com a mudança ou qualquer outra coisa. - tocou em meu ombro ao tensionar o corpo para frente.

Neguei com a cabeça. - Não se preocupe com isso. Eu é quem tenho que ajudar você. - encarei seus olhos. - Will não tem sequer um mês, você precisa de ajuda ainda.

- E eu tenho ajuda, você está bem aqui agora. - sorriu de de leve. - Está desde ontem, passou o dia aqui, fez mais do que eu pedi. - completou ao indicar a sala aspirada e limpa. - Não vou sentir falta da sua ajuda, sentirei falta de sua companhia, Sadie, é diferente.

Eu inevitavelmente sorri ao ouvir aquilo; tinha sido de forma repentina, mas havíamos estabelecido uma conexão incrível, como se realmente fôssemos melhores amigas e eu namorasse seu irmão mais velho, em um perfeito clichê adolescente. Pena que eu não namorava mais ninguém e a vida não era tão fácil e doce quanto nos livros da Jane Austen.

- Isso não é nada. - retribui o sorriso, mesmo que com dificuldade. - Eu prometo que vou vir visitar vocês, é uma promessa. - meus olhos ficaram marejados, eu sentiria falta da rotina. - E a qualquer momento pode me ligar e venho ficar com vocês o tempo que precisar, sabe disso, não é?

- Você vai para outra cidade, Sadie, não outro país. - Natalia riu. - Quanto drama, parece o Dacre. - completou ainda rindo.

Eu não a respondi, simplesmente, fiquei muda. Natalia percebeu o que havia dito e pude ver em seu olhar a auto repreensão.

- Desculpa. - murmurou ao voltar a se recostar no sofá. - Ainda não acostumei.

- Tudo bem. - assenti. - Não é como se fosse um assunto proibido.

- Mas te deixa desconfortável... - ela me olhou com aquele ar de compaixão novamente.

Coloquei-me de pé, colocando os cabelos atrás da orelha. - O assunto me deixa irritada, é diferente. - pausei ao andar em círculos pela sala. - Porra, como não notei nada? Como fui burra assim? - questionei-a ainda incrédula, tentando não elevar a voz, já que William dormia no sofá ao lado dela.

- Já falamos sobre isso, Sadie. - disse séria. - A culpa não é sua. Ele insistiu na mentira.

Respirei fundo, tentando não lhe dar as costas para sair e acender um cigarro.

Não sabia o que me consumia mais: a frustração por estar com 25 anos e não ter nada ou ter amado um criminoso.

- Volta para casa, descansa, tira férias... E recomeça. - ela dizia, ainda com o tom sincero.

Apenas neguei com a cabeça. Eu ia realmente entregar os pontos? Aparentemente sim; covarde. Parecia mais fácil voltar para o colo da mamãe e fingir que o mundo foi duro comigo, do que admitir que fiz péssimas escolhas.

- Não é assim. - comentei, segurando o choro; de novo, claro.

- É assim, sim! - Natalia declarou, ficando de pé e segurou meus ombros, fazendo-me a encarar. - Esquece tudo isso, esquece o Montgomery e segue em frente. - pausou, dando-me um leve chacoalhão. - Antes um coração partido do que_ - interrompi-a.

- Que o quê? Continuar com o único cara que me entendia pelo menos um pouquinho? - questionei. - Só porque é um filho da mãe, que me fez ter um trauma desgraçado? Por que me fez ter momentos ótimos ou por que me fez duvidar de mim mesma? - acrescentei, enquanto ela apenas escutava com a boca entreaberta, como se quisesse dizer algo para me refutar.

Tirei suas mãos de mim, já que não era pena que eu queria que ela sentisse de mim e sim que me ajudasse a entender o motivo exato de eu ainda amar a merda do cara que colocou uma arma nas minhas costas. Aquilo não era tão simples quanto ela fazia parecer; não era fácil ignorar tudo que Dacre e eu passamos, mesmo que em tão pouco tempo. Não era fácil esquecer quem faz você se sentir viva.

Nós nos encaramos por alguns segundos. Eu queria fazer Natalia lembra-se do porquê amava Charlie, do quê a fez continuar seguindo em frente, mesmo que não fosse a melhor pessoa do mundo. Talvez ela quisesse esquecer esse detalhe e o enterrar junto do falecido, mas não podia negar que houve algo que a fez mandar tudo a merda.

- Eu também não sou uma ótima pessoa. - falei, quebrando o silêncio. - Ele deve ter te contado, eu suponho. - comentei ao passar as mãos pelos olhos para evitar as lágrimas.

- Sadie, entenda, eu só_ - a interrompi outra vez.

- Eu tentei roubar também, Natalia. - contei. - Nós saímos da droga de um restaurante sem pagar. - completei, dando um pequeno passo em sua direção. - E eu gostei daquela merda. - admiti.

Natalia riu nervosa, levando uma mão a testa e a outra à cintura.

- Ele me disse isso, não sobre o restaurante, mas ele disse. - ela tomou fôlego. - Isso não te faz uma criminosa, muito menos uma pessoa horrível. - continuou. - Isso te faz humana.

Revirei os olhos, ela não estava entendendo o que eu queria dizer. Não era sobre eu ser um mero interesse para a polícia e sim por ter me sentido bem o suficiente para transar na porra da mesa da minha cozinha depois de ter feito algo que nunca imaginei.

- Você vai para casa, vai descansar e arrumar suas coisas. - ela disse depois de olhar brevemente para William no sofá, deitado confortável entre os rolinhos para que não caisse. - Vai tirar essa bobagem da cabeça e vai seguir em frente.

- Não consigo ver algo bom vindo disso para vocês. - comentei. Ela negou com a cabeça, como se concordasse que a situação era ruim mesmo, para todos. - Eu vou embora, é fato. - inspirei. - Mas não sem antes resolver isso então.

- É o que tem que fazer, Sadie.-- disse, confirmando com a cabeça e olhar-me séria.

- E isso implica você também. - eu expirei lentamente. - Eu vou denunciar. - contei, o que tecnicamente ela já sabia que eu faria uma hora ou outra. - Vou levar o Dacre à polícia. - completei.

Era a melhor opção que eu havia encontrado no fim. A Sadie daquela terça-feira desgraçada do assalto clamava por isso: por justiça, era o certo e eu o faria. Todavia, não podia negar a mim mesma que estava fazendo aquilo como um ato de me provar e, consequentemente, aceitar que eu não poderia ficar com um cara que estivesse atrás das grades.

Eu privaria Dacre de sua liberdade para não foder com a minha.

- Então faça. - ela apoiou.

07/10/2022 - 418 dias antes do assalto a Florence Joalheria

Maya dobrou a maior parte das minhas roupas enquanto cantava alto junto da Alice Merton, ao contrário de mim, que nessa uma hora, não desocupei nem metade de um dos lados do guarda-roupa. Sua ajuda era mais do que bem-vinda, mas me fazia sentir um pouco de culpa o fato de ela estar comigo plena 20h de uma sexta-feira.

- Está ótimo por hoje, Maya. Está mais do que dispensada. - comentei ao deitar-me de costas na cama e suspirar.

- Não. - pude vê-la negar com a cabeça ao abrir a terceira e última porta do móvel. - Vamos vencer seu guarda-roupa hoje pelo menos, amanhã fazemos a cozinha e depois o restante é mais depressa. - respondeu, ainda de costas para mim. - Não precisa fazer isso sozinha.

Eu sorri fraco diante disso, era algo bom de se ouvir e, diferente de Natalia, seu tom não era de pena para com a situação, o que aliava um pouco minha mente.

- Ah, você nunca mais usou esse, não é? - ela sorriu ao virar-se com um vestido verde escuro em frente ao corpo. - É a sua cor, deveria usar. - sugeriu, fazendo-me sentar na cama para ver exatamente a que peça se referia. - Tipo, usar amanhã, com o Joe. - seu sorriso bobo aumentou.

- Não inventa. - levantei-me brevemente e tomei o vestido de suas mãos, voltando a me sentar. - Não começa, por favor, não é um encontro.

- Assim como não foi aquele dia, não é? - sorriu maliciosa.

Revirei os olhos. - Não é um encontro, Maya, para com isso. - frisei. - Inclusive, sinta-se convidada. - completei.

De fato, beber alguma coisa em casa, como uma espécie de despedida não era uma ideia de date, e eu esperava francamente que Joseph pensasse o mesmo. Eu na verdade me questionei muito sobre aceitar essa "reunião", mas sei que se não fizesse, me arrependeria depois.

- Eu vou pensar, mas não prometo. - ela respondeu, retornando a atenção as minhas roupas. - Cath quer sair para jantar. - mesmo de costas, pude ver seu sorriso.

- Cath? - questionei-a curiosa, já que não sabia a quem se referenciava. - Quem é Cath? - sorri involuntariamente.

Maya suspirou. - É uma pessoa com quem estou saindo. - olhou-me por cima dos ombros. - Está realmente desinformada, não é? - satirizou.

Revirei os olhos mais uma vez, sem deixar de demonstrar a empolgação que eu estava por ela; Maya era tão fracassada no amor quanto eu.

- Tem alguém namorando então. - comentei.

- Não é bem um namoro. - deu de ombros. - A Catharina não é muito de rótulos, mas dá para se dizer que sim. - sorriu de novo.

- Por que não me contou? - indaguei. - Não acredito que não falou nada sobre isso!

- Você estava no meio de uma crise existencial sobre ter trepado loucamente com um bandido. - riu com gosto ao virar-se para mim; eu apenas balancei a cabeça negativamente. - Acho que contar sobre um encontro meia boca não tinha necessidade.

- Ah Maya... - suspirei. - É claro que podia ter me contado, estou feliz por você. - sorri um tanto envergonhada por tê-la feito pensar que não estava interessada em saber sobre si. - Quero conhecê-la inclusive.

- É claro. - sorriu, assentindo. - Acho que vai gostar dela, é um pouco tímida, mas nada comparado ao bocó. - riu e eu a imitei. - Falando nele... - pausou. - Desculpe ter contado sobre o Dacre para ele.

- Está tudo bem. - desviei um pouco o olhar. - Ele mandou mensagem, estava todo preocupado. - sorri nervosa, revirando os olhos e gesticulando. - Foi... Fofo. - acrescentei.

- Você é importante para ele. - ela largou a roupa que dobrava e se sentou ao meu lado. - Mesmo que não tenha dado certo.

- E não dará, Maya. - falei séria. - Para de dar esperanças a ele, por favor.

- Não estou dando. - negou com a cabeça, tirando o sorrisinho do rosto. - Ele que interpreta as coisas errado, mas ele não está totalmente errado quando diz que você se afastou.

- Eu não me afastei. - uni as sobrancelhas, enganando a mim mesma, já que ela acabara de me provar o contrário. - Talvez eu tenha ficado mais na minha, mas_ - ela me interrompeu.

- Ficou mais na do Dacre. - disse, como se estivesse me corrigindo. - Você se fechou, Sadie.

- Eu não tinha mais uma rotina como vocês, ainda não tenho. - respondi-a realmente crente que fosse esse o motivo.

Ela balançou a cabeça negativamente outra vez.

- Não, Sink. Você mergulhou de cabeça de novo. - ela cruzou os braços. - E teve o coração partido, e eu estou aqui recolhendo os cacos, como eu disse que faria, mas você precisa ver que nós continuamos aqui, foi você quem ficou cada vez mais isolada.

- Eu não me isolei. - defendi-me. - Eu só não me sentia mais útil como vocês... Vocês sempre ocupados, com reuniões e afazeres e eu, fazendo a merda de capuccinos. - cruzei os braços. - Não é fácil isso, sabia? - perguntei retórica.

- Sei que não. - suspirou com pesar. - Deveria fazer o que a Natalia disse e seguir em frente, esquecer esse cuzão e ponto. Encerrar esse assunto de uma vez.

Se Natalia não estava me entendendo, quem dirá Maya. Eu não poderia dizer a ela que, simplesmente, me identificava com Dacre e sua profissão duvidosa; jamais, nem sequer sonhar em conta-la o que fiz. Eu teria que deixar Maya adivinhar o que estava me torturando até me dizer algo que realmente me confortasse.

- Juro que estou tentando, mas não é fácil como foi com o Nicholas. - admiti.

- Tinha amor, Sadie. - ainda tem; pensei. Ela tocou em meu ombro e sorriu fraco; ninguém está pronto para consolar a ex de um criminoso. - Se te faz sentir-se melhor, ele era realmente bom. Porra... - riu fraco. - Transar com a mulher que talvez pudesse ser sua vítima, sem dúvidas é ousado.

Ousado? Era no mínimo sádico, já que ele havia feito exatamente isso: transado com quem fez de refém. Talvez ele achasse mais emocionante; como se tivesse até um gosto melhor, por assim dizer.

Dacre tinha o poder de me fazer sentir no paraíso e não era apenas porque transava bem ou sabia usar a boca para fazer coisas incríveis. Não, isso até era superável, pois o problema ia para além disso. Nós dois, aparentemente, tínhamos uma espécie de conexão ridícula, em que aquele lance de opostos se atraem ia pelos ares: éramos dois desgraçados que se davam muito bem.

Ele sabia muito sobre mim, até demais, na verdade, enquanto eu descobria algo novo sobre si nos jornais ou indo a delegacia e não em um jantar fofo, regado a vinho. Talvez até fossemos de mundos opostos, porém, para mim, éramos a mesma pessoa no fim das contas: duas pessoas tentando seguir com uma merda de vida. A diferença era que Dacre conseguiu fazer abertamente.

- Eu realmente entendo que vocês se davam bem. - Maya continuou. - Eu vi, Sadie. Eu estava lá naquele dia do hospital, lembra? - perguntou retoricamente. - Mas isso não anula o quão merda ele é. - completou e eu a encarei inevitavelmente, tentando entender sua linha de raciocínio. - Não me olhe com essa cara. - fez uma careta. - Sabe que estou certa.

Suspirei, jogando-me na cama outra vez. Eu sabia que ela estava sendo racional, exatamente como eu também deveria ser, mas era muito fácil me lembrar da viagem a Malibu e de como foi aquela semana; de como ele se abriu e contou sobre Lily e a mãe, de como demonstrava estar disposto a tomar minhas dores com relação a Nicholas. Pensar em momentos bons era sinônimo de pensar em Dacre, feliz ou infelizmente.

- Ele é um criminoso, é um perigo em potencial. - Maya tentou me trazer a realidade. - Lembra do caos naquele dia do assalto e como foi voltar para o escritório depois? As idas a delegacia, a pressão sobre você... - pausou diante do meu silêncio. - Pois eu me lembro e eu acho que você também deveria; é com aquele tipo de pessoa que você está se relacionando...

Aquele tipo de pessoa? Dacre era, literalmente, aquele homem do assalto, e Maya nem poderia sonhar com isso.

- Maya, eu_ - ela me interrompeu.

- Você não vai mudar ele, Sink. - ela se deitou de lado para continuar me encarando. - Por mais que você seja persuasiva para caralho... - rui. - O amor não muda ninguém, minha amiga. - concluiu.

Eu não a respondi, apenas continuei inerte, encarando o teto do quarto, torcendo para absorver aquilo. Dacre Montgomery tinha que deixar de ser o homem doce com a irmã e que me tratava como dona do mundo. Precisava vê-lo como o filho da puta que me fez vomitar de nervoso, ter medo de entrar em elevadores e que me viu tentando roubar dois mil dólares. Era esse Dacre Montgomery Harvey que eu tinha que me lembrar amanhã, quando estivesse sozinha com meus pensamentos idiotas.

Para cada lembrança de seu toque na minha pele, que antes me fazia corar ou pegar fogo, precisava me lembrar também daquela maldita sensação quando me disse "colabora".

- Tem razão. - afirmei, virando o rosto em direção da moça loira à minha direita.

Maya sorriu tão esperançosa quanto meu coração estava acelerado. Era um tiro no escuro, mas era, no fim, o que eu já havia decidido e dito a Natalia. Eu iria delatar o homem mais incrível e errado antes que ele crucificasse.

- É claro que tenho. - ela se levantou e segurou minha mão, puxando-me para que me sentasse novamente. - E vai entender o que estou dizendo quando sair da merda, vai por mim.

08/10/2022 - 417 dias antes do assalto a Florence Joalheria

O vestido verde escuro, com um cinto da mesma cor e que ia até o meio das minhas coxas, havia mesmo me caído bem, como Maya tinha dito que iria. O decote V era confortável para comer alguns frios e beber qualquer coisa com álcool que Joe traria.

Pandora me fazia companhia na sala enquanto eu encaixotava algumas coisas da estante. De fato, não tinha muito para se levar embora, mas era o suficiente para me causar dor de cabeça e frustração. Não fazia nem três anos que eu morava ali e era mais deprimente ainda pensar que não era uma mudança para um lugar novo e melhor.

Mas eu abandonei a tarefa ridícula de embrulhar os porta retratos ao ouvir uma notificação vinda do telefone sobre a mesinha de centro; era a terceira na verdade.

"Ainda gosta de vinho rose ou prefere algo melhor?", era Joseph. Eu dei um leve sorrisinho pelo fato de ele ainda se lembrar da minha preferência.

"Fica a sua escolha ", respondi e logo verifiquei as outras notificações.

"Vou passar essa 'reunião' de hoje. Fui intimada para um jantar com os sogros, me deseje sorte", foi a mensagem encaminhada por Maya há quase quinze minutos. "Eu relembrei ao bocó que isso não é um encontro, mas é bom lembrá-lo quando tiverem bebido a terceira taça".

"Traidora!", foi a única coisa que a respondi antes de bloquear o telefone e voltar aos afazeres.

(...)

- Talvez se mudar não seja tão ruim. Agora pode até ser, mas a fará bem. - Joseph comentou no fim do segundo copo de Amarula.

- Talvez. - concordei, servindo-me da segunda dose da maldita tequila que Dacre havia comprado meses atrás. - Mas não recomendo.

O rapaz riu. - Não seja dramática. Fresno pode ter mais oportunidades de trabalho do que pensa, fora que ainda pode deixar algum curriculum aqui e quem sabe, futuramente, voltar. Nunca se sabe. - deu de ombros.

- Acha que não tenho feito isso? Distribuo aquela droga como se fosse panfleto. - revirei os olhos antes de espetar uma azeitona da tábua de frios sob a mesa da cozinha. - Mas parece um karma.

- Talvez só esteja entregando nos lugares errados. - riu fraco outra vez ao se recostar na cadeira.

- Então todos os lugares de Sacramento são errados Joseph. - ironizei, mas aquilo não havia sido uma piada, mesmo que tenha o feito rir.

- Você está muito pessimista, Sink. - voltou a postura, gesticulando. - Vamos mudar de assunto antes que fique apenas na lamentação. - sorriu fraco, fazendo-me dar de ombros.

Eu era uma piada para Joseph Keery? Aparentemente sim.

- Foi você quem aceitou conversar com alguém que está na desgraça. - respondi-o não me importando se soasse grosseiro.

Ele balançou a cabeça negativamente. - Sei que deve ser uma merda. - suspirou. - Mas é uma fase ruim apenas, tenho certeza. - acrescentou, colocando um dos cotovelos sobre a mesa para se aproximar. - Talvez fosse bom tirar um tempo e cuidar de si mesma. - disse; eu não suportava mais ouvir aquilo e logo, me segurei para não revirar os olhos. - E se você procurasse por_ - o interrompi, erguendo as mãos e ajeitando a postura.

- Não começa você também, por favor. - falei de imediato. - Nem tem como recorrer a isso.

- Mas seria uma possibilidade, Sadie. - ele inclinou um pouco a cabeça para direita. - Conversar sobre isso com alguém que entenda. Não parece bom parece bom para você?

- Seria ótimo. - sorri cínica, pegando meu telefone sobre a mesa e abrindo o aplicativo do banco em seguida, mostrando-o. - Alguém com uma dívida de quase $20.000,00 parece alguém capaz de pagar por uma terapia, Joe? - questionei-o.

- São dez mil, Sadie. Morando com seus pais e com um emprego aceitável você vai conseguir quitar. - ele disse em um tom tranquilo, servindo-se dos petiscos.

Eu na verdade não tinha o ouvido depois da primeira frase. Olhei o telefone, recarregando a página algumas vezes para me certificar de que não estava errado, mas era exatamente aquilo: $10.253,63. Eu estava surtada, mas não a ponto de confundir vinte mil e uns quebrados, por conta dos juros, com dez mil dólares.

- Olha, sei que dizendo assim parece impossível, mas voltar para casa dos seus pais talvez te ajude. - ele continuou ao puxar a cadeira para o meu lado e assim, nos aproximando. - Termina de pagar isso e depois você decide o que fazer. Usa aquela merda de gestão financeira da faculdade em algo. - satirizou, mas eu não ri.

- Está errado o valor. - declarei, negando com a cabeça. - Mas a questão é que não tenho saída, Joseph. - bloqueei o telefone. - A opção é chorar, pagar essa merda de algum jeito e talvez, muito talvez, voltar a ter uma vida de verdade. - gesticulei antes de cruzar os braços e me recostar na cadeira.

Ele riu fraco do meu drama, que era na verdade era a realidade. Novamente veio aquele pensamento intruso: Dacre entenderia o que estou querendo dizer.

- É como estar na areia movediça. - expliquei. - Você não nota como entrou nela, só percebe quando já afundou pelo menos na altura dos joelhos e quando tenta sair... - ri nasalado. - Você afunda mais, porque sempre dá para piorar, Keery. Sempre.

- Você é mais do que isso, do que esse débito em atraso. - apontou para meu telefone com um movimento de cabeça. - É inteligente, tem ótimas condições de passar por isso, aposto nisso, acredite.

- Você não entende, deixa para lá. - ri nervosa, abaixando a cabeça e a apoiando com uma das mãos.

- Mas é claro que é. - bebeu mais da Amarula. - Você não está vendo as_ - eu o interrompi.

- Keery, chega. - suspirei. - Se veio para reafirmar que estou na merda não precisa ficar, sério. Eu já sofro com isso como um martírio, ok. - falei sério, mas creio que ele não tenha percebido. - Eu já repassei várias vezes tudo o que aconteceu para entender onde tudo deu errado, já fiz tudo que está ao meu alcance.

Ele ainda sorria de leve. - E deve ter visto que é só_ - cortei-o outra vez.

- É só uma questão de atitudes estúpidas, é isso que é. - levantei-me, indo em direção ao balcão do armário atrás do rapaz para pegar um dos cigarros do maço. - Não tenho problema em admitir. - fui até a porta dos fundos, que estava aberta e me escorei no batente. - Só não precisa vir aqui, com uma desculpa de "vamos nos reaproximar" e jogar na minha cara que eu sou idiota.

- Não estou dizendo isso, Sadie. - olhou-me ainda sentado à mesa. - Estou tentando te fazer entender que há formas de superar isso. - deu de ombros. - E não é descontando em hábitos ruins.

Balancei a cabeça ao tragar, pois sabia que era exatamente a nicotina a que se referia.

- Mas é assim que será por enquanto. - respondi, virando-me de costa.

- Viu, são escolhas suas...

- Eu definitivamente não preciso ouvir isso. - comentei com sarcasmo ao tragar devagar. - Não na minha casa. - resmunguei baixo.

- Você quem sabe, Sink. - respirou fundo. - Sabe o que penso sobre tudo isso.

- Sei exatamente o que pensa, está mais que claro. - olhei-o por cima dos olhos.

- Então sabe que está sendo dramática, que não quer lidar com os fatos. - ele se colocou de pé. - Você não teve culpa de muitas das coisas, mas não quer admitir que estava ciente. - pausou. - Depois de tudo que passou, se fechou para mim e para Maya, e optou por ir fundo em algo que_ - interrompi-o pela última vez.

- Acho melhor encerrarmos por aqui. - declarei.

- Viu, está mudando de assunto de novo. - ele cruzou os braços.

- Não estou mudando, estou encerrando. - dei alguns passos em sua direção. - E se não vai dizer outra coisa a não ser afirmar, na minha cara, que sou burra, é melhor ir embora.

Joseph apenas me encarou de forma desgostosa, como se eu tivesse colocando palavras em sua boca, o que estava longe de ser verdade. Nós permanecemos em silêncio por no mínimo um minuto, xingando um ao outro mentalmente.

- Se é isso que você acha que estou fazendo... - ele praticamente sussurrou.

- Eu não acho. - sorri nervosa, aprontando-me maís de si. - É exatamente o que está fazendo, Joseph. Que bela despedida essa, não?

- É realmente uma pena que pense isso. - disse ao me dar as costas e pegar o casaco pendurado na cadeira em que estava sentado.

- Vai se ferrar... - murmurei, virando-me de costas a ele.

- Eu só quero seu bem, mas até você perceber isso, vai demorar.

- Vai levar o mesmo tempo que você precisar ter para entender que essa relação nossa, tão próxima e incrível, só existe na sua cabeça. - declarei.

- Então não vai levar muito tempo... - disse. - Só espero que perceba a tempo de se arrepender.

Eu não o olhei, só tive certeza de que estava só quando o ouvi abrir e logo fechar a porta da frente. Traguei o cigarro com mais gosto depois disso, antes de o apagar na pequena poça de água na pia da cozinha. Era o cúmulo escutar aquilo dentro da minha própria casa em plenas oito da noite de um sábado merda.

Foi um tanto inevitável não lembrar de Dacre outra vez; talvez ele ficasse orgulhoso daquela cena ridícula de segundos atrás, mas no fim nunca saberia e não queria também. Não estava afim de ouvir sua voz tão cedo na verdade, quem dirá vê-lo.

Todavia, creio que no fundo eu estava sim; estava contra mim mesma e assim, me auto sabotando.

"Nós precisamos conversar. Agora.", foi tudo que eu escrevi na mensagem enviada a Dacre.

Iríamos nos ver mais uma vez, mas agora não era para beber alguma coisa e sim para acabar com isso logo.

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