Capítulo 39 - Sua mulher
NOTAS DA AUTORA:
Esse capítulo contém cenas +18, então leia apenas caso sinta-se confortável.
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14/09/2022 - 441 dias antes do assalto a Florence Joalheria
Sadie Sink
"Cacete, eu quero as fotos da viagem na minha mesa o quanto antes. Entendeu?!"; Maya me cobrou.
"Não tiramos foto alguma ainda, acredita? Ainda mais com o Dacre sendo low profile..."; respondi-a rindo com minha própria mensagem.
"Nem tudo é perfeito, não é. Espero que esteja aproveitando, você merece, Sink", disse por fim e bloqueei o telefone deixando-o sobre a mesa assim que vi Dacre voltar do buffet.
— Eu vi a risada. Era a Maya, acertei? — ele perguntou ao sentar em minha frente na mesa.
— Era, ela queria saber como estava indo a viagem. — assenti, bebendo do capuccino.
-— E como está sendo? — ele devolveu a pergunta com o olhar curioso.
— Ótima, não é óbvio. — revirei os olhos ao colocar a xícara no pires. — E ainda insiste no expresso, credo Montgomery. Por que não prova o meu? É doce. — empurrei a bebida para ele.
— O único doce que eu gosto é o... — pausou e mordeu o lábio. — Deixa para lá. — riu pelo nariz.
Suspirei diante de sua resposta, já que era óbvio que se referia a alguma coisa imprópria. Optei por não dizer mais nada e apenas aproveitar o café da manhã; eu sem dúvida sentiria falta daquilo.
— Algum plano para hoje? — ele perguntou após meu silêncio se estender por alguns minutos.
Neguei com a cabeça. — Não pensei em nada. — coloque os cotovelos sobre a mesa.
Eu até tinha alguma ideia, considerando as vezes que vim em família para cá e a única opção era sempre a praia, mas talvez sugerir a Dacre que visitássemos um museu não fosse a melhor opção.
— A viagem de férias é sua, você quem manda. — ele disse.
Eu ri já imaginando sua reação com a minha sugestão. — Tem uma vila italiana aqui perto, talvez seja legal. Nunca fui lá e quase sempre passávamos perto quando íamos a Hollywood.
— Calçada da Fama? — ele riu.
— Meu pai e Mitchell achavam super incrível o fato de existir várias estrelas em uma calçada, enquanto eu, achava um tanto entediante. — respondi assentindo. — As pessoas subestimam demais.
— As pessoas tem esse hábito. — ele concordou ao levantar-se da mesa. — Vem, garotinha executiva, vamos para a Itália. — disse ao ver que eu permanecia sentada ainda.
Sorri diante disso; eu sem dúvidas ficaria mal acostumada com seu hábito de concordar com minhas ideias de passeio.
(...)
Era bom sentir o vento contra o rosto enquanto Dacre dirigia. O loiro não disse muita coisa desde que acordamos; acho que a conversa de ontem o incomodava um pouco, ainda que eu tivesse frisado que estava tudo bem. Mas eu sei que ainda tem medo de parecer vulnerável e não o julgo por isso.
No rádio tocava alguma música aleatória, a qual eu nem prestava atenção, já que a paisagem parecia bem mais interessante, porém, não mais que o próprio Dacre; uma vez que eu perdia facilmente alguns minutos o olhando pelo canto dos olhos. Tinha alguma coisa atraente demais na sua feição concentrada no trânsito; talvez fosse a pressão com que segurava o volante e me remetesse a sua mão em mim ou simplesmente porque era realmente bonito por si só a maneira como parecia relaxado sentado ao meu lado.
— Reze para não estar fechado. — ele disse, olhando-me brevemente e quase me pegando no flagra ao observa-lo.
— Não vai estar. — afirmei. — Tomara apenas que não esteja lotado.
— Nós damos um jeito.
— Vai discutir com mais alguém nessa viagem? — perguntei rindo ao me lembrar do ocorrido no posto de combustível.
— Se for preciso... — deu de ombros e riu pelo nariz.
— Claro. — concordei em um movimento de cabeça. — Tudo pela garotinha executiva, não é. — ri, mas não escondendo muito minha feição contente com esse fato.
— Tudo pela minha mulher. — comentou um tanto sarcástico ao referir-se ainda a discussão de dias atrás. Eu balancei a cabeça negativamente e ri fraco, não queria que visse minhas bochechas coradas.
O lugar era realmente lindo, desde o simples estacionamento até a entrada; seria fácil perder horas tirando fotos ali.
Caminhamos lado a lado pelo grande jardim, eu quase me sentia em uma cidade histórica Italiana, fosse pela arquitetura, a grande concha acústica rodeada por um gramado ou o museu, que estava mais para um castelo de séculos atrás. Eu até tentei não demonstrar minha empolgação, mas era um pouco difícil, já que desde pequena sempre quis estar ali. O que era a droga da Disney perto daquilo?
Dacre não disse uma palavra, mas eu sabia que ria internamente da minha animação. Eu caminhava um tanto devagar, tanto para registrar cada parte daquele lugar, quanto por conta do vento, que bagunçava meu cabelo e subia um pouco o vestido; foi uma péssima escolha de roupa para hoje.
— Não acha melhor entrar logo, Sink? — ele perguntou ao ficar atrás de mim e segurar a barra do vestido com uma das mãos ao mesmo tempo que eu.
Eu apenas desviei a atenção do telefone e o olhei por cima dos ombros, como se o questionasse se algo o incomodava; ele tinha um semblante despreocupado.
— Ciúmes por uma droga de vestido, Montgomery? — questionei-o e voltei a atenção para o telefone novamente, fotografando a extensão do gramado.
Dacre riu pelo nariz. — Lógico que não. — tirou a mão de mim, afastando-se. Eu tentei segurar ao máximo o riso.
Voltamos a caminhar, lado a lado, antes de entrarmos no espaço do museu. Senti-me brevemente como naqueles passeios da escola, quando precisávamos fazer anotações sobre tudo e algum aluno sempre se perdia por conta da multidão; mas felizmente não estava tão movimentado assim.
Haviam algumas crianças no meio do salão, desenhando em uma grande mesa redonda e por alguns segundos imaginei Emilly ali junto delas. Caminhei na direção deles, ainda com um sorriso idiota no rosto devido meu pensamento. Sem dúvidas, ela iria amar.
Acho que perdi alguns minutos olhando as crianças, já que só sai dos meus devaneios ao sentir meu telefone vibrar em minhas mãos.
"Não sabia que você era do tipo que se perde, garotinha executiva", era Dacre.
Ergui o rosto para procurá-lo ao redor, mas aparentemente, tínhamos seguido direções diferentes. A porta da entrada já não estava mais no meu campo de visão como imaginei.
— Droga. — murmurei baixo ao afastar-me das pessoas.
"Achei que estivesse atrás de mim"; respondi-o.
"Achei o mesmo, ruiva. Onde está?"; eu quase poderia vê-lo revirar os olhos ao perguntar isso.
Olhei em volta procurado alguma referência, mas creio que quadros e vasos não fossem ajudar muito. Suspirei diante disso.
"Está no primeiro ou segundo andar?"; perguntei, mas minha mensagem não foi enviada.
— Ótimo. — murmurei de novo.
Caminhei em direção a um dos corredores a minha direita, talvez assim o sinal melhorasse, porém, foi um tanto em vão. Dei mais alguns passos, entrando em outra sala e ainda olhando ao redor, mas aparentemente não era tão fácil assim encontrá-lo.
Um casal estava de pé em frente a um telão, que passava algum vídeo explicativo e mais ao lado, uma família; eles pareciam interessados naquilo, o que fez esquecer da minha procura por alguns segundos e parar no meio da sala um tanto escura para assistir também. Definitivamente, senti-me na escola de novo, mas sem uma amiga para dar risada de bobagens ou dividir o lanche depois.
— Está proibida de andar sozinha, garotinha executiva. — minha respiração interrompeu por alguns milésimos de segundos ao ouvir a voz de Dacre rente ao meu ouvido.
Levei minha mão ao peito devido ao susto. — Quer me matar? Deus... — sussurrei de volta e pude ouvi-lo dar uma risadinha.
— Vai por mim, não é isso que quero. — comentou ainda baixo, ficando ao meu lado. — Esse lugar é a sua cara, me admira você não ter vindo antes.
— É como eu disse, meus pais não são os mais indicados para montar um itinerário de viagem. — respondi ainda quase sussurrando.
— Já foi ao segundo andar? — perguntou olhando-me. Eu neguei com a cabeça e automaticamente, ele sorriu de lado e segurou minha mão, levando-me para fora da sala. — Tem que ver isso.
Eu ri com sua atitude, nunca imaginei que ele fosse acabar gostando de estar em um lugar como aquele, mas por suas feições, eu sabia que tinha algo intencional por trás, indo além do fato de me mostrar algo.
Subimos as escadas em caracol ainda de mãos dadas, para assim não nos separarmos de novo; logo, estávamos em uma grande sala outra vez. Haviam algumas fotografias da década de 40, recortes de jornais emoldurados e pinturas que pareciam quase esfarelar de tão antigas; realmente, eu tinha que ver aquilo.
Demos a volta quase completa na sala, o que não levou muito tempo, já que não havia mais que seis ou sete pessoas ali. Encarei por alguns minutos uma foto da Los Angeles de cinquenta anos atrás; era exatamente como meu pai dizia ser e chegava ser engraçado ver isso de fato.
Só voltei a atenção ao que acontecia ao redor quando Dacre soltou minha mão e não o vi ao meu lado. Olhei brevemente por cima dos ombros para vê-lo, um tanto curiosa para saber o que via. Porém, assim que vi dois rapazes irem em direção a escada, sem desviar os olhos de nós, já imaginei o que havia acontecido.
— Ainda com ciúmes do vestido? Achei que não se incomodava quando alguém olhasse, Dacre. — perguntei, voltando a olhar a foto e dando um passo a frente para tocar o vidro que a protegia.
Dacre não disse nada, mas senti-o passar um dos braços por minha cintura e uma de suas mãos tampar minha boca, foi inevitável não sentir seu calor.
— Eu posso mudar de ideia se quiser. — ele sussurrou de novo, antes de caminhar para trás e consequentemente, puxar-me junto de si. Meu riso de nervoso foi abafado por sua mão.
Assim que notei que me levava a um cômodo ali próximo, um arrepio percorreu meu corpo; aparentemente, ninguém havia percebido sua atitude, porém, eu tremia só de imaginar que pudessem sim ter visto. Antes de me soltar, pude senti-lo me apertar mais.
— O que deu em você? — questionei-o quando me soltou e ao vê-lo encostar a porta da pequena sala devagar; eu quis rir de novo diante daquilo. — Não sabia que agora você sequestrava mulheres. — cruzei os braços, dando-lhe as costas para olhar o espaço.
Era uma sala pequena e vazia, se não fosse pela grande escada de madeira encostada na parede do fundo; a única luz vinha da janela com grade a nossa direita.
— Não... — eu pude senti-lo se aproximar. — Mas é diferente quando se trata da minha mulher. — completou ao virar-me bruscamente para si e fazer com que nossos corpos se tocassem.
— Definitivamente você tem um problema com isso, Dacre. — sorri fraco, já sentindo minha pele esquentar só por estarmos a milímetros de distância.
— Definitivamente eu tenho um problema quando se trata de você. — seu tom de voz era tão baixo que não sei dizer se foi exatamente isso que me disse.
Eu não tive tempo de ao menos respirar, uma vez que colou seus lábios nos meus com um desespero que há tempos não tinha. Uma de suas mãos segurava firme em meu cabelo, enquanto a outra desceu por minhas costas, apertando minha cintura e obrigando-me sentir sua excitação.
Meu coração estava acelerado, especialmente pelo medo de alguém abrir a porta e deparar-se com aquilo, porém, eu não podia negar que era extremamente excitante. Minhas mãos apertavam seus braços, como se isso me fizesse controlar o desejo; mas acho que ele nem notou isso.
Ele deu alguns passos, fazendo-me caminhar de costas, até que eu sentisse a parede contra mim, deixando-me literalmente refém dele; tenho certeza que essa era sua intenção desde o início. Sua mão saiu da minha cintura, escorregando - de uma forma nada discreta - para baixo do meu vestido e apertando minha bunda.
Fechei os olhos instintivamente, deixando escapar um suspiro entre o beijo que me deixava completamente irracional.
— Puta merda... — Dacre disse, pausando o beijo para tomar fôlego. — Eu estava doido para fazer isso. — completou ao sorrir com a respiração ainda ofegante.
— Acho que gosto desse seu problema agora. — falei com um sorriso bobo nos lábios. Ele riu levemente antes de beijar-me de novo.
Minha pele queimava ao sentir sua mão em mim, fazendo-me esquecer que a poucos metros haviam desconhecidos que nem sonhavam que estávamos ali, a beira de uma loucura. Dacre em nenhum momento tirou a mão de meus cabelos e eu agradecia a Deus por isso, já que a sensação de estar a sua mercê me excitava mais ainda. Seu beijo era ávido, nada de gentileza como sempre e eu amava prova-lo, mesmo que isso fizesse meu batom sair.
— Queria estar em casa agora. — ele sussurrou quando interrompi o beijo por alguns segundos.
Não sei se referia-se a Sacramento ou ao hotel em que estávamos, mas me senti tentada a perguntar.
— Por quê? — encarei seus olhos; eles estavam tão escuros que nem sei dizer se ainda eram azuis mesmo.
Ele pressionou os lábio, como eu costumo fazer e sorriu de lado, ainda com a respiração pesada.
— Como por quê? — questionou. — Não é óbvio? — deu-me um selinho e desceu seus beijos por meu pescoço.
Outro arrepio me percorreu, dando-me coragem para entrar na brincadeira que ele mesmo gostava de fazer.
— Não. Seja mais específico, Dacre. — suspirei ao sentir sua mão me apertar de novo.
— Não brinca comigo, Sink. — Dacre me apertou mais contra a parede, segurando tão firme em meu cabelo que posso imaginar como estariam embaraçados depois.
(Sugestão de música: Just feels - Jihae)
Sorri de lado, tirando minhas mãos de seus braços e descendo para a sua cintura, colocando os dedos no cós de seu jeans.
— É que eu gosto de ouvir quando diz o que quer fazer. — completei, mordendo meu lábio inferior.
Eu podia sentir perfeitamente sua ereção contra minha virilha; penso que seria até maldade minha, mas não me questionei muito antes de erguer um pouquinho a perna direita para causar atrito contra ele. Em minha defesa, tinha sido Dacre quem começou com aquilo.
— Merda, Sink. — ele suspirou, olhando-me fixamente. — Eu confesso que daria tudo para sentir seu gosto doce agora. — acrescentou em meu ouvido.
— Não vejo problemas em saber disso. — afirmei, passando a unha levemente em suas costas por baixo da camisa.
Dacre tirou minhas mãos de si, afastando-se brevemente, fazendo-me encostar meu peito contra parede, ficando ainda colado a mim.
— Pelo amor de Deus, Sadie... — era ele quem tinha uma respiração pesada agora; eu sorri com isso eventualmente. — Fala para mim que vai me deixar te provar agora, por favor. — disse ao segurar minha cintura e meu cabelo de novo.
— Achei que fosse dizer outra coisa. — ironizei afastando um pouco minhas pernas; eu ainda o sentia respirar próximo ao meu pescoço.
— Eu francamente acho que você não precisa escutar as coisas sujas que eu penso. — Dacre afirmou de novo ao descer sua mão para o meio de minhas coxas. — Você é incrível demais para escutar um cara dizer que quer te fuder nesse instante. — completou ao tocar a parte mais quente do meu corpo naquele momento, ainda por cima da calcinha.
— Acho que ouvir isso uma vez na vida não faz mal. — falei, sentindo-o afastar o tecido para me tocar de fato.
— Mas não será eu quem fará isso, desculpe te decepcionar. — riu pelo nariz.
Ele passou um de seus dedos em mim por pura provocação, causando-me um gemido baixo involuntário e por fim, tirou suas mãos, deixando-me irritada por me fazer querer mais. Suspirei ao ouvi-lo desafivelar o cinto.
— Eu respeito a garotinha executiva... — pausou. — Ainda que essa Sadie de agora me deixe fora de controle. — concluiu.
Eu até iria refuta-lo, talvez contar a ele que eu realmente amava quando me dizia alguma bobagem dessa ou me fazia revirar os olhos, mas não tive tempo para isso; Dacre já estava dentro de mim, fazendo o que fazia de melhor: me fazendo esquecer de tudo.
Suas mãos pressionavam minha cintura de novo, dando o impulso que precisava e queria. Espalmei as mãos na parede para manter o equilíbrio e minha mente, nesse instante, era uma tela branca. Nada podia me afetar ou atingir enquanto estava comigo, e de longe, isso era maravilhoso.
Eu o sentia acelerar os seus movimentos e particularmente, só queria que aquilo não acabasse. Abaixei a cabeça, encarando o chão, evitando o olhar por cima dos ombros e ver sua feição de prazer para não deixar qualquer ruído escapar, mas não era algo fácil.
— Eu detesto pedir isso, mas vai ter que fazer silêncio, meu bem. — disse baixo.
Ele desacelerou por alguns segundos, aproximando sua boca do meu ouvido e beijando meu pescoço logo em seguida. Eu assenti, mas acho que ele percebeu que eu não poderia cumprir isso, já deu um riso sutil.
— Admito que queria muito te ouvir agora, não faz ideia do quanto é bom. — completou.
Inevitavelmente arfei ao ouvir isso e mordi minha própria língua para não evidenciar o que suas palavras me fizeram sentir; eu realmente não queria nunca mais brincar dessa forma, pois eu sabia que ele me levaria a loucura antes que eu pensasse ou fizesse qualquer coisa.
Sem dúvidas, eu tinha que agradece-lo mais tarde por isso; por me fazer sentir aquela adrenalina de novo, mista do prazer. A melhor sensação em tempos com certeza.
Jamais tinha se passado em minha cabeça uma coisa como aquela, afinal, eu realmente era a garotinha executiva que aceitava o mínimo: relacionamentos mornos, sexo casual e sem emoção.
Eu precisava admitir que Dacre havia me feito descobrir algo que eu nem sabia que existia e o pior, que eu gostava. Acho que eu poderia experimentar aquilo toda noite, já que definitivamente eu detestava as gentilezas frias e preferia o calor da sua impulsividade e desejo. Droga, acho que eu o amava ainda mais agora.
Uma salva de palmas soou abafada pelo cômodo, fazendo-nos voltar a uma realidade um tanto deprimente: não estávamos sozinhos e muito menos em casa.
— É melhor irmos logo, é quase meio-dia. — Dacre comentou em meio a um suspiro ao afastar-se lentamente de mim. Eu daria tudo para ter continuado aquilo.
Virei-me em sua direção, apoiando-me na parede para tomar fôlego. Ele colocava o cinto com uma feição tão chateada que me causava uma leve pena. Passei as mãos pelos cabelos e depois ao redor da minha boca para tirar qualquer vestígio do borrado do batom.
— Tomara que ninguém tenha ouvido. — falei, dando um riso nervoso.
Ele deu de ombros. — Acho que não. — respondeu. — Você é boa em cumprir regras nessas horas. — completou ao me olhar nos olhos e lançar-me um daqueles sorrisinhos maliciosos.
— Você ainda me subestima demais, Dacre. — afirmei.
Desencostei-me da parede, indo em direção a porta, mas ele segurou meu pulso antes que eu alcançasse a maçaneta.
— Ainda não terminamos isso. — disse com seu olhar presunçoso de sempre
— Não mesmo. — sorri levemente. — Mas as pessoas não precisam saber disso. — indiquei o volume ainda aparente em seu jeans e abri a porta o mais silenciosa possível.
— Eu retiro o que disse sobre o vestido, é melhor parar de usar. — completou ao passar por mim.
— Tarde demais. — contei-lhe sorrindo, mesmo que estivesse de costas para mim. — Eu acho que adoro vestidos agora. — acrescentei ao segurar sua mão para descermos as escadas juntos.
(...)
Dacre Montgomery
— Tem certeza de que vamos conseguir entrar lá? — Sadie perguntou ao parar atrás de mim em frente ao espelho.
— Não custa tentar. — dei de ombros ao continuar abotoando a camisa, deixando os dois primeiros botões abertos como sempre.
— Mais classe, Dacre. — ela disse em tom de brincadeira, entrando em mina frente e fechando os botões; revirei os olhos com isso. — Como quer entrar em um lugar tão privado assim sem se atentar a isso? — era uma pergunta retórica.
— Estou facilitando as coisas para você mais tarde. — sorri de lado.
— Mas eu não gosto das coisas fáceis, deveria saber disso. — ela respondeu.
Sadie devolveu um olhar mal intencionado, tirando suas mãos de mim, mas não sem antes passa-las sobre meu peito; droga, ela realmente estava se divertindo com a minha mente hoje.
— Vem, a gente vai se atrasar. — disse ao afastar-se e ir até a mesinha do hall de entrada.
Era um tanto difícil tirar os olhos dela agora. Não sei se era o fato de estar de novo com aquela aparência intocável, devido a roupa preta ou os saltos, talvez fosse o rabo de cavalo alto mostrando seu pescoço e evidenciando o decote da blusa ou simplesmente a lembrança de hoje cedo naquela maldita sala. Sem sombra de dúvidas, mais tarde eu teria que puni-la por me fazer imaginar coisas.
O percurso até o carro pareceu durar horas, mas talvez seja porque estivesse ansioso por voltar logo para casa.
— Amanhã eu acho que deveríamos comprar algo para a Natalia. — ela quebrou o silêncio ao sentar-se no banco do passageiro.
— Acha? — questionei-a respirando fundo para tentar pensar em outra coisa.
— Lógico, Dacre. — ela riu. — Ao menos uma lembrança, para o William também.
— Deixo isso sob sua responsabilidade. — ri pelo nariz ao dar partida no carro. — Te dou o cartão e você resolve isso. — desviei a atenção dela para dar ré no carro.
— Não vai junto? — perguntou. Olhei-a como se questionasse se estava falando sério; ela deu risada. — Estou brincando com você.
— Acho que eu ficar de cara fechada não seja a melhor companhia enquanto você vasculha lojas. — comentei.
— Tem toda razão. — afirmou ainda rindo. — Acho que deve ser uma tortura esperar mulheres provarem roupas. — brincou.
— Mas nesse caso_ — ela me interrompeu, pois parecia prever o que eu ia dizer.
— Sem estar dentro do provador, Dacre. — disse. — Meu Deus, acho que seu problema é realmente sério. — ironizou, balançando a cabeça negativamente.
— É quase uma virtude eu diria. — sorri mesmo sem olha-la. — Eu nem disse nada sobre como essa roupa te deixa gostosa. — dei de ombros; era um fato, mas tenho certeza que eu não precisava lembrá-la do que era óbvio.
— Precisamos voltar logo para Sacramento, você está fora de controle. — concluiu ainda rindo levemente e olhando para a janela; acho que ela não queira me deixar ver o rubor das bochechas.
— E é por isso que não quero voltar para lá. — completei, mas isso ela também sabia.
(...)
Eu deveria agradecer Sadie mais tarde, se não fosse os malditos botões da camisa, talvez não estivéssemos em um bar tão tranquilo como aquele e provavelmente, estaríamos dividindo uma cerveja no píer lotado.
O lugar não era muito grande, mas aparentemente era concorrido. Ficamos em uma ótima mesa graças a uma droga de nota de cem dólares - porém, a ruiva não tinha que ter ciência disso -; ela precisava apenas continuar tranquila com sua taça de champanhe e morangos cortados. Eu não podia ver bem seus olhos devido a luz baixa, mas tenho certeza que brilhavam.
Sadie estava entretida observando o show ao vivo, enquanto eu não conseguia despregar meus olhos do pingente de seu colar que ficava rente ao seu decote; merda, foco Dacre.
— Maya ia detestar esse lugar. — ela comentou virando-se para mim. — Ela gosta da agitação e eu, bom, acho que dá para notar que não.
— Por isso a trouxe. — afirmei colocando os cotovelos sobre a mesa. — Acho que não tenho mais fôlego para baladas. — fiz uma careta ao lembrar dos velhos tempos, onde tudo que importava era saber com quantas balas você ficava realmente fora de si.
— Acho que a faculdade foi o tempo suficiente para se divertir. — ela disse bebendo um generoso gole da sua bebida.
— Aprontava muito, senhorita Elizabeth Sink? — perguntei sarcástico, acompanhando-a com o whisky.
Ela riu um tanto sem graça. — Não, acho que comparado a outros, nunca fiz nada demais. — respondeu. — Talvez eu fosse meio imprudente por beber e voltar sozinha para casa, mas nada além disso. — completou. — Desculpe, mas não tenho uma história incrível e engraçada para contar.
Assenti; talvez eu não devesse lhe contar meu passado, já que poderia fazê-la mudar de ideia a quanto ficar comigo.
— Somos dois então. — declarei.
— Ah, está mentindo com certeza. — ela riu. — Você não parece ser do tipo que ficava em casa com a mamãe no sofá às sextas a noite. — disse bebendo de novo. — Você e o ex-namorado da Natalia não eram melhores amigos? Tenho certeza que tem alguma pérola para contar.
— Charlie e eu não tínhamos juízo... Acho que isso já basta. — balancei a cabeça negativamente lembrando-me perfeitamente das burradas que fazíamos. — A Dyer queria me matar, ela dizia que eu não era boa influência para ele. — ri pelo nariz. — Quanta hipocrisia. — completei ao recordar que a primeira vez que segurei uma arma foi, justamente, a de Charlie.
— Deus... Não consigo nem imaginar. — ela ajeitou-se na cadeira. — Agora mais do que nunca questiono a escolha da Natalia de te querer como padrinho. - satirizou.
— Muito engraçadinha a senhorita. — revirei os olhos ao jogar um guardanapo de papel amassado em sua direção. — Talvez ela questione você também. Você vai a muitas festinhas, não?
— É, isso quando não volto antes da meia-noite com você de carona. — riu levemente e logo suspirou; xinguei-me por fazê-la lembrar disso.
— Tomara que ela nunca descubra que saímos de um restaurante sem pagar. — completei para tentar tirar aquilo de sua mente.
— Meu Deus. — Sadie riu alto e tapou a boca com as mãos imediatamente; fui um tanto corrompido por seu riso.—- Não me lembre disso, que vergonha...
— Ah, não minta para mim. É profissional nisso. — brinquei. — É quase uma criminosa. — acrescentei olhando-a; ela estava simplesmente perfeita hoje.
— Foi você_ — ela dizia, ainda com as bochechas vermelhas, mas foi interrompida por uma conversa extremamente alta na mesa ao lado.
Nós dois nos entre olhamos por alguns segundos, desviando a atenção à mesa a minha direita. Não dava para entender exatamente o que acontecia, mas o olhar de Sadie para mim demonstrava que estava um tanto incomoda com aquilo.
— Enfim... — voltou a olhar-me e sorriu fraco. — Aquilo foi divertido no fim.
— Foi. — concordei, mas não a olhei com total atenção, uma vez que eu ainda os observava discretamente.
— Dacre. — a ruiva me chamou um pouco mais baixo, colocando sua mão sobre a minha na mesa, só então parei de olhar para as pessoas próximas a nós. — Está tudo bem? — perguntou, quando a encarei de volta.
— Está. — assenti, limpando a garganta.
Sadie fez um gesto concordando com a cabeça e bebeu mais do champanhe, acabei por fazer o mesmo ao beber o whisky, mas ainda assim, olhava para eles: os três homens e a mulher de branco.
Talvez eu estivesse apenas vendo coisas, olhando-os estranho só por conta de uma conversa alta ou talvez estivesse certo em presumir que havia algo embaixo da camisa do homem que estava de costas para mim.
A ruiva havia terminado o champanhe e dizia algo sobre o show ao vivo, enquanto tirava os pedaços de morango de sua taça com a ajuda de um palito de aperitivos; mas eu não estava concentrado nisso, nem mesmo a ouvia. Minha atenção ainda estava neles.
— Dacre. — ela me chamou de novo, fazendo-me despertar. — Está mesmo tudo bem? — perguntou quando a olhei brevemente.
O homem com idade próxima a Sebastian - aparentemente - estava reclinado sobre a mesa para alcançar algo das mãos da única mulher entre eles e eu definitivamente não consegui deixar de olhar. A camisa branca subiu um pouco, provando-me que eu não estava tão louco quanto achava.
— Dacre. Está me ouvindo? — Sadie disse de novo, cutucando-me por debaixo da mesa ao bater o pé na minha perna.
Eu não pude responde-la, já que outra discussão começou na mesa ao lado.
— Vai a merda, Thores. — a mulher gritou no meio do bar ao ficar de pé, fazendo não só Sadie e eu olha-los.
— Senta e se acalma, doçura. O assunto não chegou até você. — o homem que eu tanto olhava se levantou, batendo algo contra a mesa, talvez fosse o seu punho.
Levantei-me no mesmo instante, indo ao lado da ruiva, a qual me olhava um tanto confusa.
— Vem, é melhor a gente ir. — falei rente ao seu ouvido. Ela não teve uma reação de imediato. — Não é bom ficarmos. — completei e ela não respondeu, mas se levantou.
Sadie pegou a bolsa escorada na cadeira e a ajeitou ao lado do corpo, ficando de costas a mesa agora tumultuada, já que um dos garçons tentava acalmar os clientes. Meus olhos ainda estavam fixos no homem, que agora tenho certeza que estava armado. Não dava para entender muita coisa da discussão, mas eu já havia visto isso algumas vezes, ou melhor, já estive em uma mesa como aquela, e eu sabia que nunca terminava muito bem.
A ruiva deu o primeiro passo, empurrando a cadeira para chegar até mim e sairmos dali, porém, foi nítido para mim quando um dos outros homens a olhou diretamente, ficando de pé.
— Pode voltar, moça. É a merda desse Thores que tem que sair daqui. — ele disse alto, fazendo que os demais olhassem a Sadie.
Cacete, não importava onde eu estivesse, mas aparentemente os problemas sempre surgiam.
Sadie travou, olhando-me, como se perguntasse o que deveria fazer. Dei a volta na cadeira que nos separava e passei o braço sobre seus ombros.
— Só ignora isso. — falei, afastando-me muito pouco dela para alcançar minha carteira ainda na mesa.
— É boneca, pode ficar. — o centro da confusão abriu a boca, virando-se para nós. A ruiva grudou sua mão em meu braço que ainda estava próximo a ela; eu o encarei calado.
Eu tive que respirar fundo. Talvez se fosse outra circunstância ou tivesse bebido uma dose a mais, eu não ficaria calado; mas o olhar da ruiva pedia para que tivesse o mínimo de tranquilidade agora. Voltei a abraçar Sadie pelos ombros, mas ainda o olhando; não queria lhe dar as costas caso levasse a mão para trás.
— Vai na frente, Sadie. Estou logo atrás de você. — falei, fazendo-a dar pelo menos três passos em frente; suas feições não escondiam o nervosismo.
Tive que soltar seu ombro por alguns segundos ao sentir alguém esbarrar em mim, fazendo-me olhar para trás de novo. A briga já não era só mais verbal naquele ponto.
O homem que tinha metido Sadie na discussão, aparentemente, decidiu calar a boca do outro o batendo, já que agora o tal Thores estava escorado na mesa que eu e Sadie antes ocupávamos. Ele logo levou a mão ao rosto, encarando sua mão em seguida.
— Perdeu algo aqui, cara? — virou-se para mim. — Cuida da sua vadia. — olhou as costas da ruiva e logo avançou em direção ao homem que o bateu.
Sadie estava parada diante daquilo segurando firme a bolsa - talvez pensasse que eu iria comprar aquela briga estúpida -, porém, ainda que eu tivesse vontade devido a situação, apenas voltei a ficar atrás de si, colocando as mãos em sua cintura.
— Não olhe, continue olhando para frente. — pedi em um tom tranquilo para que sentisse ao menos um pouco de confiança, aproximando-me de seu rosto. — Vamos sair daqui logo, ruiva.
Sadie travou um pouco, como se ficasse empacada com os pés grudados no chão por alguns segundos. Apertei um pouco as mãos em seu corpo como se quisesse dizer que eu estava ali, dando-lhe o impulso que precisava para seguir, já que a discussão continuou; e talvez não fosse terminar tão pacificamente.
— Não acredito que teve que presenciar algo assim. — falei ao passarmos pelas outras mesas, recebendo alguns olhares indiscretos; ela não disse uma palavra. — Me espera lá fora? — perguntei ao pararmos na recepção. Sadie negou com a cabeça; suspirei diante disso, não queria que ela escutasse aquilo. — O filho da puta está armado, sabia disso? — virei-me ao rapaz magro, parado como uma estátua.
— Senhor, desculpe por isso. Estamos chamando a polícia já. — disse em tom tão calmo que me dava ansiedade.
— Você escutou o que eu disse? Um cara bêbado está armado na merda do seu bar. Entendeu agora? — repeti mais firme. Senti a ruiva entrelaçar um de seus braços no meu, como se procurasse por algum apóio.
— Senhor, essa é uma acusação muito séria, pode estar enganado. — disse aproximando-se de mim. — Desculpe pelo incoveniente, a conta de vocês é cortesia da casa, tudo bem. — completou com um semblante forçado.
Eu não estava ouvindo aquela merda, estava?
Desenrosquei meu braço para abraça-la e a manter mais próximo a mim. — Achou que eu iria pagar alguma coisa depois de presenciarmos aquilo e deixar minha mulher nervosa? — ri pelo nariz. — Puta merda. — balancei a cabeça negativamente, indicando que Sadie seguisse rumo a saida.
— O senhor pode esperar a chegada da polícia, por favor? Nós não_ — o rapaz disse, quase como uma ordem.
Esperar pela polícia? Aquilo não poderia piorar mais, eu acho. Já bastava a situação de merda naquele dia no posto de combustível, quando a droga dos policiais entraram na conveniência para comprar um maldito café e tive que inventar uma desculpa ridícula à Sadie para sairmos de lá. Eu não iria conseguir bolar algo tão depressa naquele momento.
— Não acho que eu esperar a merda da polícia resolva algo agora. — revirei os ao fazer Sadie seguir para a saída finalmente.
— Era por isso que estava encarando tanto aquele cara? — ela perguntou ainda colada a mim enquanto caminhávamos até o carro.
— É. — pausei. — Eu deveria ter sugerido que saíssemos de lá antes.
— Não tinha como você prever aquilo. — ela disse respirando fundo.
Ela não disse mais nada antes de entrar no carro; talvez estivesse tentando entender o que havia acontecido, e eu, só queria me matar por ter sugerido ir até lá.
—Dacre... — chamou minha atenção. — Por que não quis que eu olhasse? — questionou, desfazendo o silêncio, de quase cinco minutos, no caminho até o hotel.
Olhei-a brevemente enquanto ainda dirigia. — Como por quê, Sadie? — dei de ombros. — Não acho que você precisava assistir uma briga de merda como aquela, de camarote, nunca acaba bem. — falei o que eu achava que já soubesse. — Ninguém merece ver esse tipo de merda. — murmurei, mas acho que ela escutou, uma vez que abaixou a cabeça e não me olhou até chegarmos ao hotel.
Diante daquilo, tudo que me aliviava era o fato de que ela não chorava ou tremia, como no seu último pico de ansiedade. Obviamente, eu não poderia impedir que pensasse em algo relacionado àquilo, mas creio que era um começo. Eu sabia que não servia para muita coisa, mas se ao menos pudesse diminuir a probabilidade de se sentir mal, já era o suficiente no meu ponto de vista.
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NOTAS DA AUTORA:
Capítulo quentinho hoje, literalmente.
Lembrando que a história tem uma playlist especial no YouTube e Spotify, basta buscar por "Crime Culposo - playlist".
Abraços.
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