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Capítulo 38 - Malibu

11/09/2022 - 444 dias antes do assalto a Florence Joalheria

Sadie Sink

Eram com certeza mais de oito da manhã quando acordei com o barulho do chuveiro da suíte. Esfreguei os olhos como se fosse a melhor sensação do mundo, principalmente pelo leve cheiro de maresia que entrava pela porta da sacada aberta.

Sentia-me apertada e era tudo graças ao fato de ter dormido com o vestido que eu usava desde ontem. Sentei na cama ainda um pouco atordoada; definitivamente o café não me fez perder o sono como Dacre havia dito que faria, até porque, as malas estavam largadas no chão e aparentemente, tínhamos dormido encima da colcha de cama. Prendi os cabelos em rabo de cavalo alto; sentia-me um tanto suada e rezava para que Dacre não demorasse tanto no chuveiro.

Não que eu já não estivesse acostumada em acordar na companhia de alguém, mas dessa vez era diferente: não estávamos em Sacramento, presos a uma rotina ou pensando nos deveres.

O vento fresco invadia o quarto e eu não pude resistir a sentir o calor do sol na pele já cedo. As ruas do hotel, observadas da sacada, eram tranquilas, ainda que já tivessem algumas pessoas caminhando por ali com coolers e guarda sol; eram os últimos dias do verão daquele ano, fazia sentido aquele movimento.

Eu conseguia ver a orla e o mar dali; era uma ótima vista e, na verdade, nem queria pensar em quanto valeria acordar com aquela vista - pelo menos, não pensar nisso agora -. Respirei fundo a fim de que aquele cheiro acolhedor fizesse minha mente se desligar daquela droga de realidade.

— Pensei que fosse dormir mais. — a voz de Dacre me fez despertar.

— Não viemos em um lugar como esse para dormir, não é. — comentei, ainda sem olha-lo. Eu presumia que estivesse de toalha e particularmente não queria ver isso agora; minhas bochechas coraram ao pensar nisso. — Até que horas é o café? — perguntei ao escuta-lo colocar a mala sobre a cama.

— As nove e meia, eu acho. — respondeu.

— Ótimo, estou com fome. — só então virei-me em direção ao quarto e lá estava ele, terminando de vestir uma bermuda. — Achei que fosse trazer o jeans de sempre. — voltei ao quarto e passar por ele.

— Eu trouxe. — ele assentiu e riu.

— Eu imaginei que trouxesse. — acrescentei, pegando minhas coisas para ir ao banheiro.

— Sadie. — chamou-me e olhei-o brevemente, ainda abaixada no chão, procurando por qualquer coisa confortável para o dia que parecia ser quente. — Ainda está de vermelho? — sorriu em um tom provocativo.

— Quem está se arrependendo dessa viagem agora sou eu. — revirei os olhos, mas ainda assim, pude sentir minha pele esquentar.

Levantei-me e bati a toalha contra seu braço, repreendendo seu comentário, e entrando no banheiro logo em seguida; por alguns segundos, até desejei que entrasse repentinamente no cômodo como ontem, mas deixei isso de lado quando senti a água quente contra o corpo.

13/09/2022 - 442 dias antes do assalto a Florence Joalheria

— São dez da manhã, Dacre. — comentei ao vê-lo abrir a primeira cerveja.

— São dez e quinze, já não é mais hora do café. — retrucou ao me olhar por cima dos óculos de sol.

Ri pelo nariz com sua desculpa esfarrapada, ajeitando-me na espreguiçadeira que dividíamos na areia.

— Quando será que a Sadie divertida vai acordar e trocar de lugar com você? — perguntou sarcástico.

— Ela não veio hoje. — disse negando com a cabeça e colocando os óculos; meus olhos já começavam a incomodar pela claridade.

— Animação, Sink, você está na praia. — ele disse ao segurar em minha perna dobrada e empurra-la para fora da espreguiçadeira para ter mais espaço. — Aproveita um pouco o sol ardido, a areia quente e a água gelada. — completou ao sentar entre minhas pernas e apoiar a cabeça em minha barriga.

Eu tive que rir. — Foi você quem insistiu para vir. — lembrei-o. — Não me culpe se está arrependido.

— Não sou eu quem está pensando nos problemas ou olhando as horas. — bebeu da cerveja.

Suspirei, jogando a cabeça para trás e consequentemente, encarando o céu limpo. Ventava bastante, tanto que eu sentia meus cabelos um pouco embaraçados e não tive coragem de tirar a saída de praia; ao contrário de Dacre, que parecia não se incomodar por estar sem camisa.

— Eu juro que estou tentando me desligar. — falei, quebrando o breve silêncio. — Acho que não caiu minha ficha de que estamos mesmo aqui.

— Ah, pois aceite logo isso. — passou um de seus braços por cima da minha perna, alisando-a. — Preciso de você com a cabeça aqui, não lá. — segurei a risada diante de suas palavras de duplo sentido; ele riu levemente percebendo o mesmo. — Mas se quiser... — olhou novamente para mim por cima dos óculos.

— Idiota. — murmurei, esticando-me para pegar o protetor solar na bolsa ao meu lado.

Eu ainda estava me acostumando com as férias forçadas, mesmo que de longe parecessem perfeitas; eu sabia que em Sacramento as coisas continuavam a desmoronar e se complicarem cada vez mais. O que me confortava de fato era estar em Malibu de novo, sentindo a areia fofa e o vento fresco que vinha do pacífico.

— Acho que deveríamos mesmo ter trazido a Emilly. — comentei, enquanto passava o protetor nos braços. ao ver uma mulher passar próximo a nós com uma garotinha.

— Talvez. — Dacre respondeu simplesmente.

Não soube interpretar de fato o que queria dizer, pareceu um tanto incomodado com meu comentário; o que me fez achar estranho, já que ele sempre sorria ao citar a garota.

— Ela ia gostar. Já a trouxe a praia? — insisti no assunto.

— Não. — foi sua resposta, curta e grossa; arrependi-me imediatamente de ter perguntado, uma vez que o silêncio formado entre nós se estendeu por longos minutos.

Tentei focar minha atenção apenas nas ondas do mar, agradecendo por não ter muita gente na areia aquela hora. Era esquisito pensar que plena terça-feira eu estava bebendo soda italiana na beira da praia; já que provavelmente, eu estaria em um escritório ou em casa me martirizando.

Dacre não disse mais uma palavra sequer desde a minha pergunta aparentemente inconveniente. Vez ou outra ainda passava a mão em minha perna, mas preferia somente o ruído da água, enquanto bebia a cerveja. Para minha própria surpresa, não me senti desconfortável por isso, mas ainda assim, batia-me um sentimento de culpa de talvez ter estragado sua manhã; eu teria que concertar isso depois.

Revirei a bolsa novamente, em busca de um cigarro, porém, tudo que encontrei foi o maço. Suspirei com minha desatenção.

— Trouxe isqueiro? — perguntei.

— Você já me perguntou isso uma vez. — ele disse ao levar uma das mãos ao bolso da bermuda; tinha um sorriso minúsculo em seu rosto, já era um começo.

— Eu esqueci na minha outra bolsa. — informei-o. — Eu não o perderia. — referi-me ao que me dera no dia que nos conhecemos.

— É bom escutar isso. — comentou, rindo pelo nariz, ao me estender o isqueiro.

Estiquei a mão para pega-lo, já com o cigarro entre os lábios, mas ele segurou meu pulso com sua outra mão, que antes estava em mim, fazendo-me desencostar da espreguiçadeira.

— É realmente muito bom escutar isso. — afirmou novamente, olhando-me.

Tirei meus cabelos que bateram em em seu rosto pelo meu movimento. — Ainda estamos falando sobre isqueiros? — questionei-o sorrindo levemente ao tirar o cigarro ainda apagado da boca.

— Não, com certeza não. — respondeu e agora sim sorriu levemente. — Só não perca esse. — completou.

— Sim, Sr. Montgomery. — falei e voltei a me recostar na espreguiçadeira.

Finalmente ascendi o cigarro e o devolvi o isqueiro para não escutar reclamações futuras, já que eu sei que o perderia de qualquer forma. Sua mão voltou a minha perna como antes, ajeitando-se contra mim em busca de uma posição confortável; tomara que ele não pudesse ler pensamentos, pois eu facilmente conseguia imaginar algo impróprio agora, droga.

(...)

Dacre Montgomery

"Como estão as coisas aí? Está tudo bem?"; perguntei a Natalia a fim de me certificar de que eu poderia ficar em paz.

Desviei a atenção do telefone por alguns segundos enquanto aguardava por sua resposta, concentrando-me na ruiva a alguns metros de mim, dentro do mar. Agora eu ocupava seu lugar na espreguiçadeira e tinha a melhor visão possível.

"Sim, tudo bem. William está com 2.200kg e saudável"; Dyer respondeu após alguns minutos.

"Me avise qualquer coisa*, foi tudo que a disse antes de jogar o telefone dentro da bolsa de Sadie e poder esquece-lo lá pelo resto do dia.

Ela estava de costas para mim, com a água batendo em seus joelhos e molhando-se aos poucos para se acostumar com a temperatura; minha mente deturpava aquilo de tantas formas que chegava a me incomodar estar em um lugar público.

Sadie olhou para trás e nossos olhares se encontraram por alguns segundos. Ela gesticulou, convidado para acompanhá-la, mas neguei com a cabeça esboçando uma careta, já que eu tinha certeza de que água estava gelada. Ela riu e voltou a caminhar para dentro da água. Deus, eu dava tudo para que estivéssemos sozinhos agora.

Uma ou outra criança correndo me atrapalhava de manter os olhos fixos na ruiva, mas sei que ela sabia que estava sendo observada por mim e que eu pensava em algo obsceno, uma vez que a mesma molhou o cabelo e o apertou para que a água escorresse em suas costas praticamente nuas; que mulher infernal.

Respirei fundo, já que agora eu teria para sempre aquela cena na minha cabeça. Pelo canto dos olhos, olhei ao redor para ver se alguém tinha percebido seu ato banal e provocativo. Tinha uma família próximo a mim e sem dúvidas o homem tinha visto o mesmo que eu, mas era reconfortante pensar que seria a mim que ela molharia quando voltasse da água.

— Não vai mesmo entrar? A água não está tão fria assim. — Sadie disse ao caminhar em minha direção depois de alguns minutos, sentando-se na beira da espreguiçadeira em minha frente.

— Não, estou bem aqui. A vista estava ótima, aliás. — respondi ao beber da quinta cerveja de hoje.

Ela voltou a colocar os óculos de sol, já que ainda eram quatro da tarde e a luz a incomodava. — Eu também queria ver algo assim. — brincou.

Ri nasalado, balançando a cabeça negativamente com seu comentário; era bom saber que ela estava tão ansiosa para voltar ao hotel quanto eu. Ela pegou a garrafa da minha mão e deu um gole generoso na bebida.

— Achei que fosse cedo para cerveja. — comentei para irrita-la.

— Agora já não são dez manhã, Montgomery. — ela revirou os olhos, devolvendo a cerveja e apoiando as mãos para trás na cadeira, mantendo os pés na areia. — Sabe, tenho um leve medo de me acostumar a essa paz e não querer voltar para Sacramento. — disse, olhando para o horizonte, ainda de costas para mim.

— Eu penso a mesma coisa. — contei.

E não era mentira, uma vez que acordar com ela ao meu lado e ficar despreocupado com qualquer merda parecia uma ótima coisa.

— Falou com a Natalia? Está tudo bem lá? — perguntou, olhando para trás brevemente.

— Falei, está tudo bem. — disse, ficando mais próximo a ela e tocando em seus ombros ainda molhados. — Pode parar de se preocupar com as coisas em casa e pensar em como está me forçando a querer voltar para o hotel agora, Sadie.

Ela riu, apoiando o queixo no ombro, erguendo os óculos. — Mas já? Ainda com problemas em aprender a ser paciente?

— É difícil não pensar nisso com você assim... — tirei os fios de cabelo que grudaram em seu pescoço. — Veste algo, por favor, antes que eu esqueça que não é permitido te chupar aqui. — completei em um tom baixo próximo ao seu rosto. A ruiva ficou vermelha quase que subtenente.

— Você tem um sério problema com isso, Dacre. — desconversou ao voltar o óculos para o rosto e rir. ainda com as bochechas coradas. Eu não a respondi, não queria ariscar dizer outra besteira como essa e fazê-la sentir-se desconfortável. — Só vamos para casa quando você entrar na água. — disse, voltando a encarar o mar.

— Então não vamos para casa nunca. — avisei, voltando a recostar-me na espreguiçadeira. Ela riu com gosto, sentando-se mais perto, virada para mim. — Não estou brincando. — acrescentei em um tom mais sério.

— Não está tão frio assim. — ela deu de ombros. — Não vai me dizer que tem medo. — ela colocou as mãos na cintura.

Eu ri de seu achismo bobo; definitivamente eu parecia idiota por fazê-la pensar nessa hipótese.

— Não é isso. — afirmei. — Só não... — pausei, sem saber o que responder exatamente. — Não estou com vontade. — menti.

Ela tirou as mãos da cintura e sorriu. — Tudo bem, só estou brincando com você. — disse, colocando a mão sobre meu joelho.

Sadie não era burra, tinha percebido meu incomodo, mesmo que diante de algo tão idiota quanto entrar no mar ou até quando citou Lily pela manhã. Eu não disse nada e somente ascendi um cigarro; não conseguindo disfarçar meu nervosismo. Merda.

— Se quiser, podemos passar no mercado e_ — ela disse se levantando, mas eu a interrompi.

— Tem um Wal-Mart três quadras para cima, é bom.

— É. — concordou ao vestir a saída de praia. — Como sabe se não passamos por lá? — perguntou um pouco confusa.

Eu podia bem dizer que vi alguma propaganda ou no GPS, mas talvez não estivesse sendo justo com ela - há um bom tempo na verdade -, talvez estivesse na hora de assumir a ela e a mim mesmo que eu era um imbecil.

— Eu conheço Malibu, Sadie. — ri pelo nariz como se estivesse admitindo um dos meus crimes.

Ela riu fraco um tanto sem jeito. — E por que não disse antes? — deu de ombros e voltou a recolher suas coisas.

— Acho que isso a faria aceitar mais facilmente meu convite para vir para cá. — respondi o que me pareceu mais óbvio; não diria a ela que sentia falta de estar aqui, diria?

— Que bobagem. — Sadie riu despreocupada. — Sua última chance, Montgomery. Não vai mesmo pisar no mar? — ela sorriu virando-me para mim.

Neguei com a cabeça. — Não. — levantei-me e vesti a camiseta.

A ruiva não insistiu mais nisso, apenas segurou em minha mão para cruzar a faixa de areia e alcançar o calçadão. Ela parecia tranquila, com os cabelos ainda pingando, mas tenho certeza que sua mente trabalhava nas minhas respostas idiotas de minutos atrás.

(...)

O píer estava cheio e acho que tanto eu quanto Sadie estávamos arrependidos da ideia de jantar ali. Ela levava a boca as últimas colheradas no brownie com sorvete, enquanto eu já estava no terceiro chopp.

— A gente devia mesmo ter ido ao mercado, teria saído mais em conta. — ela comentou ao limpar a boca com o guardanapo e apoiar os cotovelos na mesa. — Podíamos ter cozinhado.

— Para com isso..  Você se preocupa demais, ruivinha. — disse, encarando seu rosto; ela tinha uma feição um tanto cansada e a pele um pouco avermelhada pelo sol.

Ela sorriu, encarando-me. — Eu estou tentando trabalhar nisso. — pausou. — Eu esqueço que estou de férias. — deu de ombros.

— Vem. — levantei da cadeira e virei o restante do chopp. — Vamos mudar isso já. — completei. Ela me olhou curiosa, mas logo se pôs de pé e me seguiu pela orla.

Não era tarde, mas conforme estávamos mais distantes dos restaurantes a beira mar, menos pessoas passavam por nós. Sadie olhava para o mar, tirando a todo custo o cabelo do rosto por conta do vento, enquanto segurava firme no casaco fino que vestia. Eu não escondia dela o fato de a observar em alguns momentos, principalmente quando sorria aparentemente espontânea.

— Vem, quero te mostrar uma coisa. — puxei-a pela mão em direção da areia.

Ela apenas sorriu e me acompanhou depois de tirar as sandálias baixas para pisar na areia fofa. Caminhamos no silêncio mais confortável de todos e logo eu via as rochas; ela apertou minha mão.

— Não vamos subir nisso, não é? — perguntou com uma feição séria.

— Não seja medrosa, Sink. — ri pelo nariz, dando o primeiro passo para subir no pequeno rochedo.

Ela apertou mais a minha mão e acabou cedendo; eu segurei o riso ao ver sua leve expressão de medo estando a um metro e meio do chão.

— Não foi tão ruim, foi? — perguntei ao sentar e pedir que fizesse o mesmo.

— Não. — sorriu brevemente. — Até que valeu a pena. — completou ao olhar para frente. As ondas estavam agitadas e o vento mais frio, mas aquilo ainda era uma vista reconfortante. — Devia ter dito que já conhecia Malibu, poderíamos ter vindo aqui antes.

— Talvez eu devesse. — assenti. — Mas achei que seria bom vir com você como se aqui fosse um lugar desconhecido. — respondi; minha respiração estava pesada por mais que eu tentasse regularizar. — Eu queria novas lembranças daqui.

Ela deixou de olhar o mar para poder focar seus olhos vibrantes em mim. — Faz tempo que não vem para cá? — perguntou, sentando-se ainda mais perto de mim.

— Uns cinco ou seis anos talvez. — dei de ombros. — A Lily ainda era muito pequena, acho que ela nem se lembra.

Ela sorriu abertamente. — Então você a trouxe. Ela deve ter amado, mesmo que não lembre. — riu.

— Acho que me lembro de tê-la visto sorrir em algum momento. — afirmei, tendo a lembrança retomando ao controle dos meus principais pensamentos. Suspirei. — Era uma época difícil.

— Mas o mar cura tudo. — colocou a mão sobre meu ombro, apoiando a cabeça em meu braço. — Sabe, até semanas atrás, jamais pensei que poderia estar aqui ou que, não sei, seria madrinha de alguém. — riu levemente. — Mas as coisas mudam, e eu bem sei sobre isso, pode acreditar.

Mudanças. Eu não sei exatamente quando foi que as coisas mudaram; se foi quando a conheci, quando saí de casa aos 21 ou quando dormi pela primeira vez em sua cama, mas de fato, as coisas mudaram. Estar em Malibu, com ela, era ótimo e inquestionável, porque aparentemente, a droga do mar cura ou simplesmente transforma as coisas.

— A Lily tinha uns três anos mais ou menos quando viemos a praia. Scott reclamou o caminho inteiro do trânsito, do calor e de outras coisas idiotas, enquanto a minha mãe dormia, praticamente dopada de Dramin'.

Eu abri a boca depois de alguns minutos de silêncio.

— Não ficamos no melhor lugar de todos, mas era aceitável. Estar aqui era a última esperança, sabe. — completei e ela levantou a cabeça para me olhar atenta. — O Scott tinha ido comprar cerveja naquele restaurante do píer, enquanto Judith estava com a Emilly na areia. — respirei fundo. — Ela queria fazer um castelo grande para decorar com umas conchas que tínhamos achado mais cedo. — outra pausa para tomar fôlego. — Eu não era lá o melhor irmão de todos naquela época e talvez não seja agora também, mas eu ainda creio que posso concertar aquilo, entende? — era um tanto retórica minha pergunta; mas pude vê-la assentindo quando a olhei.

— O que aconteceu? — ela perguntou em um tom baixo, como se sentisse medo de perguntar aquilo e me incomodar; mal sabia ela que eu já tinha desistido de lutar contra aquela mágoa que me fazia ficar distante dela.

— A Emilly se perdeu naquele dia. — suspirei de novo. — A minha mãe tinha ficado com ela e eu tinha saído dois minutinhos para entrar no mar. Quando eu voltei elas não estavam lá. Eu até perguntei para as pessoas se alguém tinha visto uma das duas, mas eles só tinham visto a Judith sair dali, indo em direção ao calçadão, sem a Lily. — contei.

Os olhos de Sadie estavam sem piscar, chegava a dar uma leve aflição.

— Enfim, aquilo era o estopim. — ri nervoso só de lembrar. — Eu procurei a Lily feito doido, a praia estava cheia aquele dia, até que a achei perto daqui. — indiquei onde estávamos. — Acho que eu involuntariamente criei uma barreira com o mar, por mais que eu goste muito. — sorri nervoso. — Cinco malditos minutos... Questão de segundos para aquele inferno começar e, desde então, nunca mais passou. — concluí.

Abaixei a cabeça para que ela não visse tão nitidamente o peso do meu olhar ao lhe contar isso. A minha ideia não era traumatiza-la com uma história deprimente e que ainda doesse, porém, foi inevitável. Sua presença e o olhar doce, faziam-me abrir a boca sem nem perceber. Talvez fosse um ponto positivo, mas não tenho certeza.

— Sinto muito por isso. Eu posso imaginar como tenha sido. — Sadie disse ao passar a mão nas minhas costas. — Mas você é ótimo com a Lily agora, isso que importa, Dacre. — acrescentou. — Você não teve culpa.

— Talvez não. — dei de ombros. — Mas é ruim pensar que fui negligente com ela, e principalmente com Judith. — olhei-a a fim de ter um conforto ao encarar seus olhos.

— Dacre... Tenho certeza que as coisas ainda podem se resolver. — sorriu fraco.

— Ela morreu, Sadie. — informei-a e seu sorriso se desfez instantaneamente. — Fazem alguns meses já, foi enquanto estive fora. — completei.

A ruiva não disse nada de imediato, apenas se ajoelhou e me puxou para um abraço forçado, que eu inevitavelmente cedi. Respirei fundo ao sentir uma de suas mãos afagando minhas costas e a outra os meus cabelos; era uma sensação boa, talvez eu quisesse ter sentido isso antes.

— Sinto muito, mesmo. — pude ouvi-la sussurrar.

Minha cabeça estava contra seu peito, permitindo-me escutar seu coração bater um pouco acelerado e esse era o som mais acolhedor que em tempos eu não ouvia. O seu cheiro, misturado ao da maresia, era bom de sentir, fazia com que a minha respiração voltasse a normalidade e eu agradecia por isso.

— Sinto muito por não estar com você quando isso aconteceu. — ela acrescentou, ainda no abraço.

— Mas está aqui agora, Sink. Isso já basta para mim. — afirmei ao afastar um pouco de si.

Ela segurou em meus ombros, olhando-me fixamente para verificar se eu realmente estava bem como dizia. Sorri fraco, dando de ombros e segurei levemente em seu rosto. Ela assentiu ainda um pouco tensa e coloquei minha boca contra a sua por alguns segundos para que acreditasse em mim.

Minha cabeça doía um pouco, talvez por conta da lembrança desgraçada que eu tinha, mas sem dúvidas, sentia-me mais leve com isso. Sem querer, eu estava confiando a ela todos os meus pecados; era bom sentir-se amparado por ela, por mais que eu temesse um pouco isso.

— Eu não fazia ideia, Dacre. — ela disse, voltando a se sentar. — Eu não sei nem o que dizer. — suspirou.

— Não queria chateá-la com uma história ruim, desculpe. — passei um dos braços sobre seus ombros, fazendo-a recostar a cabeça em mim. — Achei que não merecesse saber de uma coisa como essa. — beijei o topo de sua cabeça.

— Não deveria pensar dessa forma. — ela aconchegou-se contra mim. — Isso faz parte você, do que se tornou agora. — acrescentou. — É apenas um momento dentre vários, não se martirize por isso.

— Todos temos esses momentos, não? — perguntei retoricamente. — É uma merda.

— Este é só um deles. — levantou a cabeça para olhar-me. — Os anos, meses, as semanas e até às horas são medidas de tempo muito longas para ser uma coisa só, seja boa ou ruim. — pausou. — Por isso existem os minutos. E esses sim podem ser ótimos, prefeitos eu diria. — completou.

— Minutos prefeitos? — questionei-a. Ela sorriu levemente, concordando. — Isso me parece um tanto ilusório.

— Não, não são. — riu levemente. — Como quando leva a Lily para tomar sorvete ou para passear, como quando recebemos o convite da Natalia ou quando me deu a droga de um isqueiro. — riu de novo. — Esses podem ser minutos perfeitos, mesmo que tenham sido dias ruins. — concluiu.

Eu não a respondi, não consegui pensar em nada que fosse tão bom comparado ao que havia me dito. Talvez aquilo só tenha sido para me animar e deixar a melancolia de lado, mas até que parecia ser real. Sadie era uma caixinha de surpresas que eu insistia em abrir sem tomar cuidado, mas eu nunca me arrependia, obviamente.

— Talvez tenha razão, Sink. — eu disse; e ela tinha mesmo. — São coisas boas para se lembrar. — ela assentiu ainda sorrindo. — E agora é um desses minutos? — perguntei.

— Para mim, agora é com certeza. — a ruiva afirmou ao sorrir mais e colocar a mão em minha nuca.

— Então para mim também é. — respondi, antes de tomar seus lábios.

Existia uma ansiedade dentro de nós, eu podia sentir. Ela embrenhou os dedos em meu cabelo, enquanto sua outra mão apoiava meu ombro, como se não quisesse que eu me afastasse dela.

Sua boca tinha ainda um leve gosto de chocolate, o que me atraia e muito, mas tinha principalmente compaixão ou talvez algo parecido com isso. Abracei sua cintura como sempre - como ela dizia que gostava - e segurei firme nos seus cabelos, provando-a silenciosamente que eu acreditava na sua ideia maluca de minutos perfeitos.

Droga... Onde estava meu autocontrole agora? Minha consciência? Tinham ido para a puta que pariu, ou talvez tivessem sido levados pela correnteza.

Isso não importava muito agora, eu já havia a confessado uma das coisas que me atormentava há anos e ela não tinha ido embora, e isso era uma boa notícia. Era uma maldita boa notícia.

— Eu falei que não estava sozinho antes, lembra? — disse depois de morder levemente meu lábio inferior. Afirmei com a cabeça. — Aquilo também era uma promessa, igual Malibu. — ela sorriu, encostando nossos narizes. — E promessas são promessas, Dacre Montgomery. — sussurrou, fazendo seus lábios tocarem sutilmente os meus.

Eu ri nasalado um tanto nervoso, questionando-me se esse não era um daqueles devaneios que me vinham a mente quando eu estava longe dela e felizmente, não era.

— É uma puta promessa essa. — falei, apertando-a mais. — E é bom saber disso, Sadie Elizabeth Sink.

Acho que eu poderia morrer agora e estaria tudo bem; eu iria para o inferno tranquilamente, pois só de ver o rubor de suas bochechas já me sentia bem o bastante para não mandar tudo a merda.

Se eu pudesse, ficaria naquele mar que eram seus olhos eternamente.

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