Capítulo 35 - Garotinha executiva
NOTAS DA AUTORA:
Conteúdo +18 no início do capítulo, além de haver um tema que pode ser sensível e desconfortável para alguns leitores; leia com responsabilidade.
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03/09/2022 - 452 dias antes do assalto a Florence Joalheria
Sadie Sink
A sensação de sua pele em mim fazia minha mente parar de funcionar, como se eu esquecesse quem eu era e o que me preocupava diariamente; era quase um entorpecente.
Talvez fosse o quarto pouco iluminado, suas mãos apertando minha cintura ou simplesmente o fato de estar com a boca entre as minhas pernas pela segunda vez - talvez fosse tudo -, mas a sensação que eu tinha era de que jamais queria sair daquela cama. Meus olhos estavam fechados, enquanto minhas mãos tentavam me ajudar a controlar a respiração ao segurar forte o lençol, porém, era em vão, já que só consegui relaxar e me deixar pesar sobre o colchão quando, literalmente, me desmanchei em sua boca; merda, eu sempre perdia minha aposta, comigo mesma, disso não acontecer.
Passei as mãos pelo rosto, sentindo Dacre se mexer na cama e ficar sobre mim de novo. — Tem que parar de tentar segurar isso, ruiva. — comentou antes de beijar meu ombro. — Quanto mais insiste, eu_ — interrompi-o.
— Eu já entendi. — disse, colocando meu braço sobre minha testa.
Meu corpo estava suado, eu podia senti-lo colar no lençol. O rapaz se deitou ao meu lado com a respiração tão pesada quanto a minha e com o cabelo bagunçado; mas disso eu era culpada.
— Então por que tenta? — riu nasalado, virando o rosto para mim; acabei por fazer o mesmo.
— Eu ainda estou tentando me acostumar com isso. — respondi e corei obviamente, agradecendo imensamente pelo quarto estar escuro e ele não ver isso.
— Quer dizer que nunca tinha_ — tampei sua boca com a mão antes que terminasse de dizer.
— A gente não precisa discutir sobre isso agora e até prefiro que isso nunca aconteça. — eu disse de imediato e ele riu, tirando minha mão.
— Que bobagem, Sadie. É claro que temos que falar sobre isso. — virou-se para mim. — É algo te incomoda tanto assim?
— Pode apostar que não. — respondi-o ainda sentindo minhas bochechas esquentarem. — E fim de papo, Montgomery. — declarei ao levantar-me completamente a contragosto.
Ascendi o interruptor do quarto, recolhendo as minhas roupas espalhadas e jogando as de Dacre sobre a cama. Eu não costumava me sentir constrangida por ele me ver nua, mas hoje era diferente. Eu na verdade tinha vergonha de pensar que ele pudesse lembrar as merdas que eu disse enquanto aquilo acontecia.
— Eu fiz alguma coisa? — perguntou um tanto sério.
Eu não gostava que se sentisse culpado ou qualquer coisa do tipo, principalmente quando tinha relação ao fato de termos transado, então logo o encarei.
— Você não fez nada. — sorri fraco, e de fato não tinha. — Eu é que estou pilhada demais. — afirmei ao vestir-me.
— Está brava porque eu fiz você_ — o loiro perguntava um tanto confuso.
- Não é isso. - cortei-o, sorrindo nervosa. — Esquece isso, que bobagem. — virei-me para o espelho e prendi o cabelo.
— Definitivamente é ruim, não é? — ele não recusava nunca me lembrar disso.
— Não vou me dar ao trabalho de respondê-lo, Dacre. — eu conseguia o ver, pelo reflexo do espelho, se levantar da cama e vestir-se um tanto entediado; isso fez meu coração apertar um pouco, não queria que pensasse que eu estava o mandando embora. — O que está fazendo? — perguntei um tanto seria, vendo-o procurar pela blusa nos lençóis.
— Vai viajar? — respondeu com outra pergunta, pude vê-lo encarar a pequena mala no canto do quarto.
Suspirei virando-me para ele outra vez. — Estou pensando em ir para Fresno amanhã. Segunda é minha folga, então... — coloquei as mãos na cintura; eu sabia que ele ficaria chateado com isso já que as segundas sempre passávamos juntos em casa.
— Por que não disse antes? — voltou a procurar a blusa; a qual eu via embaixo da cama, mas não o diria, só para ter ele em casa mais alguns minutos.
— Eu ia falar, mas você não disse nada se viria aqui hoje depois que me deixou em casa, achei que não ligaria muito para isso. — confessei.
— Nós já falamos sobre isso. — riu pelo nariz. — Podia ter dito, nós poderíamos ter feito algo hoje. — comentou, desistindo de procurar e sentando-se de novo na cama. Fiquei alguns segundos calada, eu estava realmente sendo idiota, e muito.— Posso levar você, se quiser.
Eu era uma otária. Acabei de dizer que estava insegura com essa relação e ele estava ali, dizendo que estava a minha disposição. Porra Sadie, você não consegue manter nada por mais de um mês, não é?
— Não precisa, eu comprei uma passagem para amanhã a noite. — avisei, dando um pequeno passo a frente.
— Não, eu levo. Eu faço questão. — afirmou com seus olhos presos nos meus.
— Amanhã é domingo, deveria ficar com a Emilly, não precisa.
Ele riu um tanto nervoso. — Diz logo, Sadie. O que aconteceu? — questionou.
Eu não sabia responder, porque eu mesma não sabia o que havia acontecido. Por fim, fiquei em silêncio.
— Eu sou péssimo em adivinhar o que você está pensando, Sadie. — disse com uma risada leve. — Sabe que não sou bom com essas coisas. Então se não me_ — interrompi-o aproximando-me da cama.
— Eu realmente me importo muito com você.
Droga, admiti mesmo isso em voz alta?
— Eu não sei o que realmente somos ou o que está acontecendo, sei lá... — suspirei, passando as mãos pelo cabelo e sentei-me na cama.
— Achei que estava tudo claro para você. — disse em um tom baixo, parecia um pouco frustado comigo.
Tudo que passava em minha mente eram todos os outros homens com quem me relacionei, de como tudo tinha começado e terminado. Parecia um ciclo vicioso: saíamos, ficávamos, eu os colocava na minha vida e meses depois, iam embora depois de uma transa - uma bem ruim por sinal -; era sempre desse jeito e acho que eu estava com medo de que fosse assim de novo. Era como se eu fosse um ímã para os caras aproveitarem as boas coisas de um relacionamento e esquecerem das responsabilidades dele.
A instabilidade, o achismo e toda essa coisa de deixar acontecer estavam me cansando.
Definitivamente, eu nunca fui presa a rótulos, mas agora era diferente; eu já tinha problemas demais para ter isso como preocupação também.
Abaixei um pouco a cabeça, não queria ver seus olhos agora. — Talvez eu me sinta diferente sobre isso. — falei, rezando para que entendesse.
— Diferente em que sentido? — perguntou e só então olhei-o de fato.— Eu falei que sou uma merda com isso. — deu de ombros com um sorriso fraco; acredito que era sua forma de me fazer tirar aquele semblante estúpido que eu tinha.
— Eu também não sou. — admiti.
— Acho que podemos aprender juntos a lidar com isso então. — sugeriu, ajeitando-se no colchão e ficando um pouco mais próximo a mim.
— Acho que sim. — suspirei, olhando para frente, em direção da janela.
— Quando eu contei sobre a Emilly para você, aquilo... Foi um grande passo para mim. — comentou depois de um breve suspiro. - E pode acreditar nisso, é uma coisa e tanto. — acrescentou em um riso nervoso. — Então, na minha cabeça, estava tudo muito certo. Aquele dia...—- limpou a garganta. — Na sua cozinha. — minhas bochechas coraram inevitavelmente; eu sabia a que estava se referindo. — Achei que fosse o suficiente.
Encarei-o novamente. Suas feições eram tranquilas e não de desgosto como eu esperava; como eu sempre recebia nesse tipo de conversa. Eu devia parar de supor que Dacre fosse como os outros e precisava fazer isso logo, ou tudo realmente acabaria como nas outras vezes: em que a conversa não era de adulto para adulto.
— Acho que eu preciso um pouquinho mais do que aquilo. — sorri fraco, abrindo de fato o jogo.
— Tudo bem. — assentiu e logo abaixou a cabeça, balançando a cabeça negativamente; sem dúvidas me achava boba por isso. — Não precisa esconder que a garotinha executiva ainda está aí, porque eu sei que está. — riu levemente.
Revirei os olhos diante daquilo, rindo também. Era óbvio que ele sabia, eu a deixava transparecer com atitudes idiotas como essa; era justo. Eu sempre evidenciava que precisava dele para algo, mesmo sem querer.
— Ela sempre gosta de ouvir algo gentil, o que é complicado vindo de mim, mas eu gosto dela, confesso. — comentou com seu sorriso que sempre me convencia. — Eu gosto de saber que ela confia em mim tanto quanto a outra Sadie. — acrescentou.
— Outra Sadie? — perguntei, sem conseguir segurar o riso.
Ele não me respondeu de imediato, uma vez que aproximou-se ainda mais de mim, segurou meus ombros e me fez deitar novamente na cama. Eu não sabia exatamente o que passava em sua mente, mas eu podia presumir quando suas mãos desceram pelo meu corpo, como eu sempre gostava que fizesse.
— Da que bebe tequila comigo. — prendeu seus olhos em mim de novo. — Da que que gosta quando a toco. — passou as pontas dos dedos levemente sobre minha coxa. — Da que pressiona os lábios só porque sabe que não resisto a isso. — seu tom de voz era mais baixo cada vez mais. — Da que diz coisas que a garotinha executiva jamais diria. — eu sabia a que se referia e não foi atoa que eu tentava com custo respirar. — É dessa Sadie que eu gosto mais. — fechei os olhos escutando aquilo.
Era sempre assim, eu sempre baixava a guarda quando ele estava sobre mim ou simplesmente com os braços ao meu redor.
— Olha para mim. — pediu, mas eu não conseguia, não conseguia ter reação alguma. — Olha para mim quando eu estiver dizendo que preciso de você, Sadie.
Instantaneamente obedeci-o. Seus olhos estavam grudados nos meus, mais escuros do que costumavam ser, sem dúvida e, foi só quando passou uma de suas mãos por entre meu cabelo que me dei conta do que dizia.
Tudo parecia ficar claro como água agora. Quando disse que resolveria tudo, que estaria ali se eu precisasse ou que literalmente precisava de mim, era apenas seu modo de me dizer que estava indo tão fundo quanto eu.
— É o suficiente agora, Sink? — perguntou devido meu silêncio.
— Acho que é mais que isso. — respondi sincera.
Eu não podia esperar por flores e chocolates vindos dele, nunca. Dele só vinha o sentimento de luxúria e de brinde, a sensação de estar segura e ser praticamente intocável. Era como se a garotinha frágil desaparecesse e desse lugar a Sadie que era dele; indubitavelmente dele.
— Ótimo. — afirmou e aproximou seu rosto do meu. — É dessa Sadie, que me deixa louco, que eu gosto. — frisou de novo; obrigando-me a segurar firme em seu braço, preparando-me para aquilo que me deixaria viva de novo. — Essa Sadie que, francamente, me fode para caralho. — completou antes de beijar meu pescoço e me fazer arrepiar como de costume.
De fato, Dacre não precisava dizer mais nada para me fazer entender que estávamos juntos, sem questionar. Era me fazendo perceber seu poder sobre mim, que ele mostrava o quão burra eu era por duvidar de qualquer coisa a seu respeito. E eu gostava muito disso, do seu modo de me provar que era o único que me faria suspirar tão fundo; acho que eu deveria agradecê-lo qualquer dia por isso.
07/09/2022 - 448 dias antes do assalto a Florence Joalheria
— Eu não sei como aguenta beber isso todo dia. — sussurrei para Dacre, que estava sentado a minha frente no balcão; 10h30min como sempre.
— Não vou discutir isso com você agora. — respondeu tomando o copo de minhas mãos.
Revirei os olhos. — Quanto mau humor... — dei-lhe as costas por um segundo. — Deveria_ — eu dizia, mas fui interrompida.
— Bom dia. Eu quero o de sempre. — Maya surgiu ao lado do rapaz, colocando a bolsa sobre o balcão. — Eu preciso de algo doce e forte o suficiente para aguentar esse dia. — suspirou ao sentar-se.
— Viu, algo melhor que expresso. — brinquei, pegando a comanda das mãos da moça.
Ele riu um pouco sarcástico. — Você tem que parar de insistir nisso, Sadie. — resmungou.
— E você de insistir na mesmice. — dei de ombros.
— Eu estou atrapalhando uma discussão de relacionamento sobre café? O que eu perdi? — ela perguntou irônica sem esconder o riso.
— Isso não é uma discussão. — Dacre balançou a cabeça negativamente. — É teimosia da sua amiga. — respondeu a Maya. Eu estava de costas aos dois, mas podia imaginar que riam de mim por tudo aquilo. — Nos vemos mais tarde, ruiva. — ele disse e olhei-o por cima do ombro, dando-me aquela piscadela que eu conhecia bem o que queria dizer.
Eu voltei a prestar atenção ao café de Maya, mas pude ouvi-la dizer um "tudo bem" um tanto sussurrado; algo que me deixou um pouco curiosa e assim, logo virei na direção dos dois. Dacre já afastava-se do balcão, depois de dar uma leve batidinha no ombro da moça ao lado.
— O que foi? — perguntei não disfarçando minha curiosidade.
Maya olhou-me um tanto perdida. — O que foi o quê?
— O que estavam cochichando entre vocês, oras?
— Bobagem sua, Sadie. — revirou os olhos. — Coisa da sua cabeça.
Fiquei um tanto chateada pelo seu ato de omitir seja lá o que fosse, mas por hora, ignorei. — Certo... Prontinho.— disse, entregando-lhe o café. — De novo estava resolvendo coisas fora da empresa?
Ela assentiu ao provar da bebida quente. — Está um inferno aquele lugar e eu pensava que não existiria lugar pior que a Conceptum. — respondeu.
— Existe, pode acreditar que existe.—- suspirei, referindo a própria cafeteria.
— E você acabou indo mesmo a Fresno como disse ou desistiu?
— Eu fui. — sorri fraco. — Minha mãe mandou lembranças.
— E... Você levou ele com você? — Maya sorriu instigada. — Estão namorando, não? Está na hora.
— Não fazem nem dois meses direto, Maya. — suspirei, espalmando as mãos sobre o balcão. — Conversamos sobre isso esse fim de semana inclusive. Foi... Diferente. — sorri fraco de novo. — Sei lá, mas vai que não dá certo. — dei de ombros.
Ela fez uma careta. — Não dar certo? — questionou séria. — Vocês estavam discutindo sobre a droga de um café agora pouco, é lógico que dão certo. — disse empolgada como se me revelasse algo inusitado. — É óbvio que sente que seja diferente, você realmente gosta dele. É assim mesmo.
— Acha? — questionei-a tencionado um pouco a cabeça para o lado, como se assim eu fosse notar algo que eu não tivesse visto antes.
Ela concordou novamente. — Você está diferente. — apontou para mim antes de beber. — Isso é bom. — completou e eu assenti; acho que realmente eu não estava louca como achei que estivesse. — Você não era assim com os outros, principalmente com o Joe. Só você não vê.
— Não, eu vi... Eu notei. — abaixei um pouco o rosto para ela não me ver vermelha; os motivos de notar minhas mudanças me deixavam um pouco constrangida.
A loira sorriu satisfeita. — Viu, os petiscos funcionam. — lembrou-me.
Ri inevitavelmente. — Acho que os petiscos são mais para mim do que para ele, na verdade. — comentei; e essa conversa não era exatamente sobre petisco de cachorro.
— Isso era óbvio. — disse sarcástica. — Você não tem cara que aguenta gentileza. — pausou. — Deus, o Joe tem que mudar isso o quanto antes. — acrescentou, como se realmente isso fosse importante.
Ri. — É um petisco diferente agora, pelo menos para mim. Acho que foi por isso que entrei em parafuso sábado. — falei alto, como se ela não estivesse ali.
Maya olhou para os lados, verificando se ninguém prestava atenção em nós e por sorte, a cafeteria estava praticamente vazia. Ela se debruçou sobre o balcão.
— O que é tão diferente assim para te fazer questionar? Está maluca? Está na cara que_ — interrompi-a, também debruçando sobre o balcão.
— Desculpa Maya, mas minha vida sexual não é tão movimentada quanto a sua. — sussurrei. — Não vou ficar entrando nesses detalhes com você.
— Sadie... — ela riu. — Isso é importante a se considerar em um relacionamento, tem que ponderar isso. — olhou em meus olhos. — Foi tão assustador assim?
Ri pelo nariz, fechando os olhos brevemente diante de sua pergunta indiscreta. — Foi muito bom. — respondi.
— Estava na hora de algo descente, não acha? — balançou a cabeça negativamente. — Bom... — desencostou-se do balcão. — Eu preciso ir. — respirou fundo. — Mas pense nisso depois, sério. — disse séria. — Vai perceber que um sexo bom é o mínimo que precisa ter.
— Maya! — repreendi-a obviamente.
— Que puritana, eu hein.. — revirou os olhos ao pegar a bolsa e me dar as costas.
Não consegui manter o olhar nela ao sair da cafeteria, temendo que alguém percebesse que eu estava com as bochechas vermelhas.
Eu não precisava exatamente de Maya me dizendo o que eu já tinha em mente. Meu colapso de insegurança sábado não era somente por estabelecer um relacionamento ou não, era por admitir que finalmente eu tinha desejo por alguém, onde não era apenas por praxe. Meu corpo e mente, até Dacre aparecer, não sabiam o que era aquela sensação avassaladora e que te preenche de endorfina e calor; mas agora sabiam da melhor forma.
Dacre Montgomery
Eu tentava me concentrar unicamente na fumaça do cigarro, como se de alguma forma o tempo fosse passar mais depressa. Felizmente, Maya não demorou mais que cinco minuto para deixar a cafeteria, vindo em minha direção a passos rápidos.
— Eu não tenho muito tempo. — disse ela bebendo ainda o café e olhando para a porta da entrada; talvez achasse ruim se Sadie nos visse.
— Eu também não tenho. — afirmei, escorando-me no caro. — A Sadie me contou sobre o cara que vocês estavam falando aquele dia, quando fui buscar-la naquela festa. É Nicholas, não é? — perguntei sem enrolar.
— Ah sim, ela disse que vocês conversaram, fico feliz que esteja do lado dela nisso tudo. — respondeu, descartando o copo em uma lixeira próxima.
— Quem é o cara, Maya? De onde ele é? — fui direto de novo. — Era do trabalho, da vizinhança, do pet shop em que ela leva a Pandora? Onde? — cruzei os braços.
A loira suspirou, ficando de frente a mim. — Se não me engano, eles se conheceram um bar ou coisa do tipo, tinham amigos em comum, foi em meados de junho do ano passado. — apenas a encarei, atento a cada palavra sua, como se assim pedisse que dissesse mais sobre isso. — Eles meio que só saiam juntos, tipo vocês dois. Até pareciam se dar bem, sabe... Mas acho que uma hora iriam matar um ao outro. — riu levemente.
— Não precisa me falar sobre a relação deles, não é o importante agora. — comentei; eu até poderia relevar, mas não queria detalhes de como era a relação anterior da mulher com quem transo; isso não mudaria em nada. — Ele trabalha? — questionei e Maya riu mais.
— Não, ele é um desocupado de merda. — respondeu negando com a cabeça. — Eu me lembro da Sadie dizer que ele ajudava a tia com alguma coisa, mas não me lembro exatamente. — suspirei diante disso. — Sabe, ele parecia ser alguém bacana, de verdade, mas acho que a intenção sempre foi se aproveitar dela.
— Em que sentido? — desencostei-me do carro. Maya mordeu o lábio inferior, parecia nervosa e pensativa.
Ela ainda olhou para os lados antes de encarar-me fixamente. — Ele extorquiu ela, praticamente a roubou, na cara dura. Dando a ela desculpas ridículas para convencer. — suspirou. — Não foi eu quem disse isso, escutou bem, Dacre. — disse entredentes. — Ninguém sabe disso.
Assenti, jogando o cigarro fora. — Ele tem sobrenome pelo menos?
Não era bem isso que eu queria perguntar, mas tentei parecer racional para Maya. Todavia, em minha mente, só vinha as coisa que Steven havia dito, a atitude de Sadie no dia assalto, o dia no hospital... Aquela era uma grande merda e eu começava a me sentir impotente com o que a loira dizia, já que suas informações não ajudavam tanto assim.
— Não sei, a Sadie não me disse e eu estou bloqueada por ele nas redes sociais para saber isso. — disse tão desanimada quanto eu.
— Não tem nem ideia de onde mora? — ela negou com a cabeça; merda. — Mas o reconheceria se visse?
— Claro. Ele não é alguém que se esquece depressa. — revirou os olhos. — Um pouco gordinho, pele escura, cara de idiota que se acha incrível e um corte de cabelo horrível. — riu nervosa. — Isso é uma grande merda, meu Deus.
— Eu vou ver o que posso fazer. — respirei fundo, colocando as mãos no bolso e dando alguns passos para o lado. — Pode ficar de olho nela? Não acho que vá contar para mim se algo acontecer de novo.
Aquela era uma sensação péssima, especialmente dizer aquilo em voz alta; não era essa a imagem que eu queria que Maya tivesse de mim: de incapaz.
— É obvio que sim, — sorriu levemente assentindo. — Mas acho que você faz isso melhor que eu. — comentou.
Eu não a respondi, apenas concordei silenciosamente e abri a porta do carro. Minha conversa com ela não tinha ajudado em nada e isso era decepcionante, mas era algo; algo que me deixava ainda mais insatisfeito com a situação.
(...)
Sebastian com certeza me mandaria embora assim que eu entrasse em sua oficina, mas era um risco a se correr, já que ele era minha única opção no momento. E eu não estava errado quando presumi suas feições ao me ver parado na porta.
— Se veio aqui para_ — cortei-o de imediato.
— Não vim para tratar de assalto algum, por mais que eu quisesse. — disse, aproximando-me dele, que continuava sentado com um cigarro em mãos. — Eu estou atrás de uma pessoa e talvez você possa me ajudar.
— Não quero me envolver nas suas merdas, sabe disso. — declarou e eu assenti. — Então por que insisti, Montgomery?
— É um caso de força maior. — suspirei. — Conhece algum Nicholas? — ele me olhou confuso; talvez se perguntasse porque isso me interessava ou simplesmente puxava isso na memória. — Tipo o Caleb, mais gordinho, mas a mesma cara de idiota. — completei, lembrando-me do dia que o vi na casa da ruiva.
— Não sei, não conheço. Por quê? — perguntou. — Quer saber, nem me diga, não quero saber.
— Ele está fazendo umas merdas ai e eu quero resolver. — foi tudo que eu disse, jamais envolveria o nome de Sadie nisso.
— E você acha que pode resolver isso? — riu levemente. — Acha que é quem? O Norman Reedus em os Santos Justiceiros, filho? Acorda Dacre, você se mete em cada uma, puta que pariu.
— Era só dizer que não sabia, já ajudava. — disse, já dando meia volta para ir embora.
— O moleque deve saber, ele vive na rua. — comentou se levantando e vindo para fora logo atrás de mim. — Por que não pergunta a ele?
— Não estou tão desesperado assim. — comentei, entrando no carro novamente. — Obrigado por nada.
— Jamais me senti tão bem em não poder ajuda-lo e me envolver nas suas merdas. — riu com gosto ao cruzar os braços. Mostrei-o o dedo do meio antes de dar partida. — Se cuida, filho.
— Não é de mim que preciso cuidar agora. — murmurei comigo mesmo.
Sem dúvidas eu perderia algumas noites de sono com isso, mas aceitava o risco por ela, já que em minha mente só passava a hipótese de isso acontecer algum dia com Lily; eu não tinha estomago para isso.
Eu até poderia ser filho da puta, mas não covarde a esse ponto.
(...)
Sadie Sink
Quando você reencontra alguém, geralmente o sentimento é de surpresa ou no mínimo vergonha, já que não espera por isso. Particularmente, eu gostava de rever pessoas que foram importantes para mim em um determinado momento da vida, mas não quando se trata de alguém que te encara como um predador e você sente que vai, de novo, desabar; como naquele momento.
Meu corpo estava rígido, como na última vez que nossos olhares se cruzaram. Minhas mãos estavam grudadas no balcão de mármore da cafeteria e eu só tentava arranjar forças para sair dali.
— Não vai dizer nada? Nem um boa tarde? — ele disse ao apoiar os cotovelos no mármore.
— Nós já fechamos, na verdade. — respondi, desviando o olhar rapidamente para meu relógio, eram exatamente 18h03min.
— Diga isso a sua gerente. — sorriu irônico. — Eu quero um expresso de "vamos conversar" com um adicional de "você é uma vadia arrogante quando quer".
Fiquei muda; sem saber se o respondia ou gritava, bem ali, no meio dos três clientes, que ainda estavam sentados à mesa, ou simplesmente deixava meu posto; sentia-me encurralada e da maneira mais estúpida.
Como eu não pude prever que isso fosse acontecer um dia?
— Olha Sadie, eu detesto ser o malvado da história, sabe disso, mas acontece que você nunca me dá escolhas. — comentou achando ser realmente cordial.
— Por que insiste tanto nisso? Chega, estou esgotada, Nicholas — respondi-o segurando-me para não deixar meu nervosismo transparecer.
— Anda, faz qualquer merda de café para mim. — ignorou-me.
— Não, não vou fazer. — respiro fundo e ainda imóvel.
— Faz logo, Sadie. —:disse firme, batendo o punho contra o mármore e mantendo aquele olhar perturbador sobre mim.
Minha opção foi dar-lhe as costas, assim pelo menos não precisava encara-lo. Eu podia escuta-lo dar alguma risadinha ou tamborilar os dedos sobre o balcão, como se estivesse impaciente, enquanto eu tentava me concentrar no som da chuva que começava a cair lá fora.
— Eu não gosto de ser assim com você, querida, mas você precisa colaborar comigo. Eu só quero falar com você. — disse ponderado. — Nós temos uns probleminhas para resolver, só isso. — não respondi, não tinha voz para isso agora. — Sabe, a grana que você me deu para resolver a questão da Kate, eu agradeço por isso. — seu tom estava mais baixo. — Ela precisava mesmo de você.
— A Margot já desmentiu isso, não precisa insistir nisso. — murmurei alto suficiente para me ouvir.
-—Foda-se, aquilo ajudou de qualquer forma, independente da situação. — riu sarcástico. — Sinto muito que esteja no vermelho por minha culpa. — seu tom era irônico.
— Não estou mais. — falei. — Pode dormir em paz e esquecer isso, principalmente esquecer de mim.
— Vendeu o carro? Não vi ele lá fora. — comentou, como se fossemos colegas há anos.
— Isso não é da sua conta. — resmunguei, mas acredito que ele ouviu, já que riu.
— Acontece, meu doce, que a coisa é bem mais séria que um nominho sujo, sinto muito.
— Já conversamos o bastante. — disse, colocando o copo de água quente a sua frente; eu não ia desperdiçar grãos de café atoa com ele.
— Não, não é o bastante. — segurou meu pulso. — Lembra quando me disse que ficaria ao meu lado quando precisasse? Bom, eu preciso agora, Sadie. — sorriu de lado.
Meu coração errou as batidas com seu apertão contra minha pele; talvez eu esperasse muita coisa vinda de Nicholas, mas não isso. Eu tentava raciocinar, ainda que fosse muito óbvio o que eu deveria fazer; mas infelizmente, aquela ali, naquele instante, era a "Sadie, garotinha executiva", que não tinha voz para nada.
— Não me olha assim. — sorriu irônico. — O cliente sempre tem razão, Sadie. Não aprendeu isso no seu primeiro dia? — tencionou seu corpo em minha direção e eu agradecia aos céus por existir aquele balcão que o impedia de tocar ainda mais em mim de fato.
— Me solta, agora. — pedi, no menor impulso, puxando meu braço novamente, o mais forte que eu pude.
Fechei os olhos por alguns segundos e eu só consegui sentir algo queimar minha pele; merda, era a droga da água quente.
— Mas que porra, Sadie! — o tom alto de Nicholas me fez olha-lo de imediato.
Ele se levantou depressa da banqueta, puxando a camisa um pouco molhada do corpo e afastando-se do balcão agora inundado; Deus, nem eram essas minhas intenções, mas seja lá o que houve de fato, obrigada.
Halley praticamente se materializou atrás de mim com os olhos arregalados, tentando entender o que estava acontecendo, perguntando-me freneticamente o que eu havia feito. A minha cabeça girava e as vozes altas só me deixavam mais atordoada.
Recostei-me no balcão do fundo, tentando controlar minha respiração, tentando me concentrar em algo que não fosse a discussão entre a minha gerente e Nicholas, mas aquilo era mais difícil do que parecia. Os clientes presentes estavam deixando a cafeteria quando Halley, que sempre me recebia com um sorriso fraco, segurou em meu ombro, trazendo-me para a realidade.
— O que você fez, Sadie? — seu tom estava mais para indignação do que uma pergunta de curiosidade.
Eu não a respondi, apenas encarava seus grandes olhos pretos, tão perplexa que eu podia senti-la tremer, mas eu não tinha força nem para abrir a boca.
— Não é obvio o que aconteceu? Puta que pariu... — a voz de Nicholas estava abafada, como se meu cérebro fizesse isso de propósito para não lhe dar ouvidos.
— Eu... — era a única coisa que saiu da minha garganta.
— Depois nós vamos ter que conversar, Sadie. -—ela quase me chacoalhou para me fazer voltar a orbita. — Tem um banheiro aqui a direita, por favor, me acompanhe. — disse ela, ignorando completamente minha presença de peso morto ali.
Nicholas resmungou algo incompreensível e seguiu com a mulher em direção ao banheiro. — Não pense que se safou de mim, desgraçada. Ainda vamos ter nossa conversa. — ele me informou, olhando por cima dos ombros enquanto caminhava.
Foi só quando me vi sozinha ali que as lágrimas de ódio molharam meu rosto. Aquilo tudo era para não me deixar esquecer o quão burra eu sou.
Passei as mãos pelas bochechas, para que nem eu mesma notasse minha fraqueza. Respirei tão fundo que quase pude sentir o gosto daquele cheiro amargo que tinha no ar. Recolhi o copo caído em cima do balcão, peguei os panos que tinham ali próximo e tentei secar a bancada, mas a água ainda estava quente e não era tão simples quanto parecia.
— Mas que merda. — disse a mim mesma, desistindo de limpar a bagunça.
Encostei-me no balcão atrás de mim outra vez para, de fato, me recuperar daquele turbilhão. Meus olhos correram para meu relógio só para verificar se eu poderia ao menos fugir daquele inferno. E felizmente, naquele instante, achei que Dacre tinha voltado a ler meus pensamentos.
— O que aconteceu? — ele perguntou um pouco confuso, olhando em volta, ainda na porta de entrada.
Dacre estava com os cabelos e o rosto um pouco molhados, bem como a jaqueta e a calça que vestia. Desviei brevemente os olhos para a janela lateral: a chuva ainda estava um pouco mais forte lá fora.
— Eu achei que estava pronta para ir embora. — comentou aproximando-se, dando um sorriso tão leve que acho que nem sorria na verdade. — Está tudo bem? Está pálida. — completou.
— Não, tudo certo. — balancei a cabeça em afirmação. — Foi só um acidente, nada demais. — informei, abaixando-me no balcão para pegar minha bolsa. — Podemos ir para casa. — era para ter sido uma pergunta, mas soou mais como afirmação.
— Claro. — confirmou e agora de fato sorriu, tirando a jaqueta do corpo. — Está uma chuva gelada lá fora. — acrescentou assim que saí detrás do balcão e fiquei ao seu lado.
— E não seria melhor um guarda-chuva? — questionei, brincando.
— Para a Emilly, isso sempre basta. — ele deu de ombros.
Eu sorri ao senti-lo colocar a jaqueta sobre minha cabeça como improviso. Respirando fundo por estar a meros dez passos de sair dali e esquecer que Nicholas e Dacre poderiam se trombar por conta de uma puta conveniência do universo.
Mas lá estava eu, congelada de novo. Aquele era um gesto fofo da parte de Dacre, eu não podia negar, mas aquilo me remetia a um fato muito especifico.
O cheiro do perfume, a textura, a sensação do peso sobre meus ombros, o caminhar devagar até a porta; era como se estivesse naquela maldita terça-feira do assalto, vivendo aquilo de novo, sendo impedida de ver qualquer coisa que não fossem meus pés.
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