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Capítulo 30 - Não podemos ir a Itália depois disso

29/07/2022 - 488 dias antes do assalto a Florence Joalheria

Dacre Montgomery

Emilly estava cantarolando a música que tocava no rádio: Califórnia Dreamin'; era sua música favorita com certeza. Eu a via pelo retrovisor, a maneira como balançava a cabeça e as bochechas um pouco ruborizadas devido o banho quente de minutos atrás faziam parecer mais doce do que realmente era.

- Vamos nos ver no domingo, não é? - perguntou, ainda olhando a janela.

- Eu não posso prometer isso, mas vou tentar. - respondi-a, focando a atenção nas ruas.

- Você ficou tempo demais fora, Dacre. Eu tenho muita coisa para te contar. - completou.

- Não tenho dúvidas. - balancei a cabeça em negativa, dando um sorriso leve.

Eu mal havia entrado na rua da escola da garota e ela logo estava pegando sua mochila, que havia ficado em meu carro desde ontem. Estacionei e ela não esperou que eu a ajudasse para descer.

- O papai vai vir buscá-la hoje. Comporte-se. - adverti ao me abaixar ao seu lado, antes de atravessarmos a rua. - Quem sabe a gente não consegue convencê-lo de você passar mais dias comigo. - eu sabia que isso era um tanto impossível.

Ela sorriu esperançosa. - Certo, mas tem que me prometer que não vamos comer comida congelada. - cruzou os braços, parecia realmente ser séria sua fala.

Foi impossível não rir. - Se você souber cozinhar até lá...

- Não esqueça do domingo. - voltou a me lembrar.

- Não vou. - assenti e só então voltei a ficar de pé.

Emilly não esperou muito para correr em direção do portão de entrada da escola; já havia um grande movimento por ser 8h20min. Eu apenas fiquei a olhando entrar para me certificar que estava tudo certo, mas ela logo deu meia volta e retornou em minha direção.

- Eu quase me esqueci. - disse com a respiração apressada ao abraçar-me na altura da minha cintura como ontem.

Retribui seu gesto ao afagar seus cabelos um pouco bagunçados, já que eu não era especialista em arrumar crianças para a escola. Ela olhou em meus olhos uma última vez e sorriu abertamente, eu sabia que aquela era uma despedida sentimental a se considerar.

- Anda, vai se atrasar. - digo a empurrado levemente. Ela somente se separou de mim e correu de volta a escola.

(...)

Sem dúvidas, meses atrás, jamais eu estaria em frente da casa da ruiva para busca-la para algo tão bobo como uma entrevista de emprego; mas isso era importante para ela, então acabava se tornando importante para mim também. Assim como havia me pedido, eu estava pontualíssimo a sua espera e mesmo antes de eu mandar uma mensagem avisando-a que eu havia chegado, ela já abriu a porta da frente.

Sadie tentava, com sacrifício, colocar o cachorro para dentro. Era um pouco engraçado a assistir conversando com o animal, como se isso fosse a convencer de ficar dentro de casa; os cabelos soltos no rosto, atrapalhando-a ao mesmo tempo que fechava a porta e, por isso, foi um tanto impossível não rir. Porém, quando finalmente conseguiu, e veio a passos rápidos até o carro, tenho quase certeza que minha cara de idiota a olhando foi percebida por ela.

- Bom dia, chofer. - disse irônica ao entrar e ajeitar o cabelo novamente, olhando no espelho do retrovisor.

- Estou quase desistindo desse trabalho. - revirei os olhos e desviando meu olhar indiscreto dela.

- Credo, não pode brincar com você, que estresse. -riu; eu rapidamente lembrei-me de Natalia ontem, percebendo o quanto as duas tem a mesma concepção sobre mim.

- Eu me meto em cada uma. - balancei a cabeça negativamente, rindo do meu próprio pensamento.

A ruiva deu de ombros. -Eu não o obriguei a nada. - comentou sarcástica, fingindo ser irrefutável.

-Não, e isso é o pior. - ri pelo nariz e ela, diferentemente de mim, realmente achou graça. - Você não presta, Sink.

Ela não disse nada enquanto eu dirigia até a tal cafeteria; parecia ansiosa, já que não parava de chacoalhar a perna direita enquanto olhava pela janela com o dedo indicador na boca. Droga, era difícil me concentrar em outra coisa que não fosse ela e se perder em pensamentos a observando. Mesmo que com uma calça folgada, eu conseguia lembrar de suas pernas em mim ou pior, aquele olhar perdido que ficava fixo ao meu quando a tocava; Deus, ela conseguia me deixar fora de órbita apenas existindo.

- Nervosa? - perguntei quando estávamos quase chegando e ela insistia em olhar a janela ao seu lado.

- Um pouco. - respondeu, virando-se finalmente para mim, ainda apreensiva e com o dedo na boca; eu jamais iria dizer que aquilo era provocativo para caralho. - Acha que vou me sair bem? - perguntou séria.

- Vai tirar de letra, sem dúvida. - sorri levemente, encarando sua boca e logo voltando a atenção ao trânsito.

- Deus te ouça, Dacre. - murmurou apenas para si, voltando a olhar para frente.

Ri pelo nariz, seu nervosismo era completamente desnecessário; era uma simples vaga em um café e ela uma garota inteligente demais para se torturar assim.

- Confio em você. - declarei, colocando a mão um pouco acima de seu joelho como consolo.

Ela finalmente sorriu um pouco e logo estava novamente verificando se sua aparência estava boa o bastante e, obviamente estava, mas ela não me perguntou isso, então preferi ficar em silêncio. Sadie respirou fundo quando estacionei próximo ao lugar.

- Não precisa me esperar, se tiver algo para fazer, eu_ - ela dizia já ansiosa.

Fui um tanto obrigado, pela minha vontade na verdade, a lhe calar colando minha boca na sua. De primeira instância, ela pareceu um pouco surpresa com meu ato, mas logo pude perceber que sorriu com isso.

- É para lhe desejar sorte, vai conseguir sem dúvida. - expliquei afastando um pouco dela.

- Como eu disse... Se quiser, não precisa ficar me esperando. - sorriu ao pegar a bolsa em seu colo.

- Vai logo, Sadie. Vou esperar, quero saber como foi depois. - respondi-a revirando os olhos diante de tanto nervosismo.

A ruiva somente assentiu, dando-me um selinho breve e saindo do carro afoita, é claro. Só então voltei a sentar mais relaxado no banco, observando-a ir até o estabelecimento ainda fechado para os clientes. Ela se virou algumas vezes para se certificar de que eu ainda estava lá - como se eu ousasse deixá-la -. Seu cabelo balançava enquanto caminhava, fazendo-me questionar se tudo aquilo era um sonho ou um puta de um pesadelo.

Balancei a cabeça como se isso fosse me fazer esquece-la um pouco e peguei meu telefone no suporte de moedas. "A Emilly está na escola. Vê se não atrasa para ir buscá-la de novo, cuzão"; comuniquei Scott, mesmo que a contra gosto, somente para ignorar a ansiedade que a ruiva me causou.

(...)

Sadie veio correndo em direção do carro, mesmo estando de salto alto, seu rosto estava muito mais leve do que quando a peguei em casa pela manhã e isso me deixava mais tranquilo; a ruiva parecia uma garotinha de cinco anos depois de ganhar o presente dos sonhos do Papai Noel; ela parecia Emilly ao me ver.

Eu até pensei em não descer do carro e esperar que viesse até mim para contar a novidade, mas assim que abri a porta, seus braços se estenderam como se pedisse por um abraço. Sorri para evidenciar que fiquei, quase uma hora e meia, torcendo por ela.

- Não acredito que realmente deu certo. - disse, passando seus braços por meu pescoço, enquanto dava pulinhos de comemoração.

- Mas eu falei que daria, Sadie. - falei rindo, sua felicidade me contagiou; e nós estávamos falando apenas sobre um trabalho em uma cafeteria qualquer.

Eu não tinha conseguido nem ao menos ficar em pé direto antes de corresponder seu abraço, assim, tive que me escorar no carro. Sadie jogou o peso do corpo contra mim, fazendo-me segura-la pela cintura.

- Até que você realmente me deu sorte. - disse ela encarando-me e finalmente respirou devagar.

- Sempre que precisar, é só dizer. - comentei em um tom baixo; ela ficou um pouco tímida, mas acabou sorrindo levemente.

Ficamos bons segundos nos encarando, eu me perdia muito fácil no azul intenso de seus olhos, que se destacavam ainda mais por conta de alguns fios de cabelo vermelho; eu ainda não entendia exatamente o que era aquilo, mas acho que era bom, já que minha respiração parecia compassada com a dela.

Sadie tirou os braços de mim, desviando o olhar para o chão e dando um passo para trás; parecia envergonhada ou um até um pouco preocupada.

- Está tudo bem? - ousei perguntar, mas sem solta-la.

- Sim. - assentiu, ainda sem me olhar. - Eu só... Não sei, talvez eu tenha sido meio boba agora.

Dei de ombros. - Era algo pelo qual estava ansiosa, só isso. - comentei.

- Não estou falando disso. - ela disse abaixando um pouco o rosto, de novo, para não me olhar nos olhos. - Você sabe o que quero dizer... - limpou a garganta. - Nós não temos exatamente algo, então...

Minha risada a fez calar-se, o que a deixou ainda mais vermelha. Era engraçado como uma mulher de 25 anos podia pensar tanto na opinião alheia, a ponto de questionar se eu concordaria com alguma proximidade nossa em público. A resposta para isso não era óbvia?

Sadie era uma mulher com responsabilidades, problemas e valores muito bem definidos; ponto, isso é fato. Porém, sempre que estávamos juntos, ela não parecia ser assim; fosse pelo seu jeito de falar, sua maneira de arrumar a postura, os olhos brilhantes ou as bochechas coradas. Comigo, ao menos quando estava nos meus braços, ela era apenas uma garota contraída e até julgo inocente, já que nunca demonstrava perceber meus olhares maliciosos sobre ela.

- Está realmente pensando nisso? Agora? - perguntei, ainda sorrindo um pouco e segurando seu rosto, obrigando-a me encarar. A ruiva apenas deu de ombros. - Que bobagem, Sink. - puxei-a para mais próximo de mim. Ela me olhou ainda um pouco desconcertada. - Vem, vamos para casa. - anunciei aproximando meu rosto do seu e soltando-a logo em seguida.

Sadie pareceu um tanto confusa com minha atitude, mas ignorei isso. Eu não poderia beija-la agora, pois eu sabia que acabaria querendo algo mais do que suas mãos nos meus ombros.

(...)

Sadie Sink

-E acha que foi mesmo uma boa ideia, Sadie? Talvez encontrasse algo melhor. - Maya respondeu após me ouvir contar sobre a entrevista por longos minutos.

- Não começa, Maya, por favor. - suspirei. - Não é grande coisa, eu sei, mas já é uma esperança. - dei de ombros, enquanto mexia com as louças na cozinha e a ouvia pelo viva voz do telefone.

-Desculpa Sadie, mas nisso eu concordo com o Joe. - revirei os olhos. - Você tem um currículo foda, não pode aceitar qualquer coisa.

- Você ainda vai pensar sobre isso quando chegar a hora, quando precisar... - comentei, pois Maya também não estava em uma ótima situação.

-Eu sei que vou, mas ainda quero manter o pensamento positivo.

- Bom, o Dacre pelo menos gostou da ideia. - dei um leve sorrisinho ao pensar nisso.

-Contou para ele? - ela questionou curiosa. - Sadie... Achei que tivessem indo aos poucos.

Ri diante disso. - Contei, oras. Ele me levou para a entrevista mais cedo. Sem querer, ele já sabe muito sobre mim. - respirei fundo. - E se isso não o fez me dar as costas, é um bom sinal, não?

- Certo... E o que você sabe sobre ele, Sadie? - ela indagou; sentia em sua voz o tom da desconfiança. - Exato, nada. - disse depois que fiquei alguns segundos em silêncio. - Ele é um cara bonito, parece ter estabilidade, mas... O que ele faz da vida? De onde ele veio? Para onde vai? Quais os objetivos dele? Entende isso, Sadie?

Eu não disse nada. Infelizmente ela tinha razão; eu não sabia nada sobre ele e em comparação, Dacre sabia da maioria das meus problemas.

-Olha, eu não quero chatear você ou qualquer coisa assim. - ela disse para quebrar o silêncio. - Eu o vi aquele dia, todo preocupado com você e até com a tal Natalia, mas você conhece o fim desse tipo de história. - acrescentou. - E tudo bem também, eu vou estar aqui para recolher e colar os cacos.

- Eu entendi, Maya. - respondi-a finalmente, parada em frente ao telefone e com as mãos espalmadas sobre o balcão da cozinha. - Entendi.

-Boa sorte no emprego novo amanhã. Sabe que estou torcendo por você. - ela disse mais tranquila e eu não a respondi, somente desliguei o telefone em um breve suspiro.

A verdade é sempre mais difícil de ser aceita quando é dita em voz alta, é óbvio. Porém, em minha mente, repassando todos os encontros - combinados ou não - que tivemos, eles sempre foram bons.

Dacre era o oposto de mim, tinha a boca suja e parecia querer fugir da realidade as vezes, enquanto eu pensava em cada vírgula dita. Entretanto, havia alguma coisa que me fazia querer estar próxima a ele e isso não se restringia apenas por ele ser simpático ou por sempre ter uma resposta na ponta da língua para tudo; era algo intangível talvez. Algo que eu não descobriria sabendo de onde ele veio ou quais são seus objetivos para o futuro.

De qualquer modo, não me adiantava de nada pensar nisso se eu não tinha qualquer prova de que ele estava tão interessado quanto eu. Gentileza e uma transa não significa que é algo sério. Talvez ele não me achasse boa o bastante e muito provavelmente, considerava-me uma daquelas garotas que querem os rapazes mais velhos em troca de estabilidade; ou seja, talvez ele não fosse se prender a uma garotinha de 25 que tinha um trabalho de merda.

Mas, feliz ou infelizmente, era um fato: eu estava realmente apaixonada por alguém, e não simplesmente aceitando sua proximidade por conveniência como fora com Nicholas ou Joe e talvez todos os outros. Tinha uma química ali, algo que nos conectava de alguma maneira e isso era irrefutável. Eu até podia mentir para o próprio Dacre, quem sabe, mas não para mim mesma.

E se isso fosse algo que pudesse me dar dor de cabeça no futuro, eu não ligaria de senti-la depois de arriscar.

Respirei fundo, voltando a realidade. Já se passavam das 17h e eu queria terminar o quanto antes a bagunça que eu mesma comecei ao ter a ideia estúpida de limpar os armários da cozinha.

"Vai mesmo vir para cá semana que vem, querida? Seu pai queria ir àquela fazenda para almoçarmos no domingo. O que acha? Ele não para de falar nisso.". Haviam algumas mensagens não lidas e a de minha mãe era uma delas.

"Aconteceram muitas coisas, mãe. Não vou conseguir ir no sábado. Vou ver se consigo uma passagem no domingo a noite e almoçamos segunda-feira juntos. Pode ser?", foi minha resposta a ela entre um suspiro e outro.

Confesso que até ignorei sua provável resposta, definitivamente eu teria que ligar mais tarde para ela. Porém, antes de voltar ao martírio, tive que abrir as mensagens de Dacre, as quais eu esperava um tanto ansiosa desde que nos vimos antes do almoço.

"Está livre para comemorar ou já tem compromisso? Porra, eu devia ter dito antes..."; ri com sua pergunta.

"Por quê? Quer fazer algo hoje? Bom, eu teria que conferir minha agenda", respondi, mas eu não esperava uma resposta imediata como eu tive

"Eu é quem te pergunto. Maya não planejou nada? Não é hoje que os bares tem aquelas promoções que só valem para vocês mulheres?"

"Digamos que ela não ficou tão animada quanto eu com a notícia", respirei fundo. "Mas a tequila está aqui intacta, não se preocupe."

"Não, Sadie. Pelo amor de Deus.", eu quase o podia ver revirar os olhos. "Esteja pronta às 20h e se atrasar, eu me demito, Sink."

"Onde vamos?", perguntei curiosa.

"Isso não importa, só esteja pronta."; disse por fim.

Pressionei os lábios ao ler a mensagem e sorrindo como tonta ao lembrar que isso o provoca. De fato, eu estava decidida a apostar minhas fichas nele, e esperava não me decepcionar.

(...)

Eu me encarava pela quarta vez no espelho, procurando qualquer coisa fora do lugar que fosse perceptível a Dacre.

A sensação que eu tinha era de que o menor amassado no vestido fosse ser notado por ele. O vestido preto acinturado e na altura do meio da coxa parecia bom o bastante junto do salto baixo; talvez fosse planejado demais ou de menos, mas eu preferia não arriscar. O cabelo ainda me incomodava, já que não tive tempo de secar ou muito menos alisa-lo com a escova; Dacre teria que relevar isso e aceitar os cachos querendo voltar a ter controle.

A única coisa que faltava era conferir a bolsa, além é claro de passar o batom. Rose ou vermelho? Vermelho ou um gloss? Um nude talvez? Revirei os olhos para mim mesma no espelho. Dane-se, seria vermelho, mas foi interrompida de fazer isso.

Meu telefone tocava sobre a cama, fazendo-me correr do banheiro até o quarto. Bufei ao ver o contato de minha mãe; não era bem ela que eu esperava.

- Como assim você não vem no sábado? - perguntou antes que eu dissesse qualquer coisa.

- Oi mãe, eu ia mesmo ligar para você, mas não tive tempo. - informei, terminando de passar o batom.

- O que aconteceu, Sadie? Está tudo bem? - questionou preocupada.

- Está, mãe. Eu estou sem carro desde que visitei vocês, a seguradora está enrolando para resolver e me devolver. - menti, óbvio. - Fora que aconteceu muita coisa sobre a Conceptum... Levaria horas para contar tudo para você.

- Eu tenho todo tempo do mundo. - comentou um tanto séria.

Suspirei derrotada. - Mas eu estou ocupada agora. Não podemos nos falar outra hora? - cruzei os braços, ainda me olhando no espelho do quarto.

- Compromisso em uma sexta a noite? Sadie... - ela riu. - Não me engana.

- A empresa quebrou, mãe. Eu fui demitida, todo mundo foi. Não viu as notícias? - desisti de enrola-la. Ela ficou em silêncio e só então pude ouvir o barulho na porta da frente. - É uma longa história, prometo te contar quando nos vermos. - digo, indo em direção a sala e abrindo a porta, pois já imaginava quem era.

Dacre sorriu levemente, com as mãos no bolso da calça e com seu olhar inconfundível. - Eu tentei te ligar para avisar, mas... Agora entendi o porquê de não atender. - ele disse em um tom baixo.

- E... E como você está? Já arrumou outra coisa? Tem como_ - interrompi-a; era coisa demais para minha cabeça manter duas conversas paralelas.

- Sim, mãe, sim. - menti de novo. - Não se preocupe com isso. - respondi-a e pedi gestualmente para que o rapaz esperasse um porquinho. Felizmente, ele entendeu o que eu quis dizer e entrou. - Já estou resolvendo tudo e, bom, vai dar tudo certo. - afirmei, mentindo a mim mesma outra vez e deixando Dacre sozinho na sala.

- Eu sei, querida, mas me conta direito. - pediu. - Recebeu alguma coisa? Tem o suficiente para_ - cortei-a, escutando os latidos de Pandora vindo da sala.

- Mãe, eu realmente preciso desligar. Podemos nos falar amanhã? Eu ligo no horário de sempre. - perguntei a ela, pegando minha bolsa no quarto e voltando a sala novamente.

- Certo, já entendi, está ocupada. - comentou irônica. - É a Pandora latindo no fundo? - ela perguntou. Só então pude encarar a labradora sobre o sofá, deitada com a cabeça sobre a perna de Dacre.

- É, era ela. - respondi, respirando fundo. - Enfim, mãe. Conversamos amanhã, eu realmente preciso desligar. - cruzei os braços encarando aquela cena um tanto incomum e dizendo um "inacreditável" silencioso para o loiro; ele riu pelo nariz, passando a mão sobre os pelos do cachorro.

- Tudo bem, não vou tomar seu tempo. Mas quero saber direito essa história, Sadie Elizabeth. Se cuida. - e finalmente desligou.

- Não acredito no que estou vendo. - comentei ao guardar o telefone na bolsa.

Dacre ergueu as mãos em redenção, sorrindo de lado. - Pronta, Sadie Elizabeth? - perguntou sarcástico, recebendo um olhar sério meu em troca. - Desculpa, mas sua mãe fala alto. - riu, levantando-se devagar para não incomodar Pandora

Não pude evitar uma risada. - Idiota, vamos logo. - indiquei a porta. - E você, é uma traidora. - acrescentei olhando séria para minha colega de quarto de quatro patas.

- Eu falei que fica bem de vermelho. - ele disse ao passar por mim na porta, com seus olhos manipuladores de sempre. Sorri um tanto envergonhada, mas ignorei e fechei a porta, seguindo-o até o carro.

(...)

Acredito que dentre todos os meus relacionamentos, nenhum cara havia me levado para jantar em um restaurante descente de verdade antes de Dacre.

E foi só depois de entrar no lugar, ver a decoração um tanto refinada, as mesas grandes de madeira, com toalhas brancas impecáveis e um pouco distantes umas das outras,, que eu entendi o porquê de Dacre estar com a camisa para dentro da calça e não despojada como de costume. Era engraçado imaginar que ele havia se policiado quanto a aparência para estarmos ali.

- Não tinha contado a eles ainda sobre a demissão? - ele me perguntou assim que o garçom de gravata borboleta me serviu o vinho.

Neguei com a cabeça. - Não. Sabe como me sinto com relação a tudo isso... - comentei, dando um gole generoso na taça agora cheia.

Ele assentiu. - Isso é uma droga. - concordei mentalmente. - Mas ficará tudo bem. Não é mais desempregada, acabaram as férias, Sink. - satirizou. - Ela pareceu preocupada com você.

- É, ela sempre foi. - dei de ombros. - Sempre preocupada com o fato de eu estar bem, me alimentando, doente, essas coisas... - ele não disse nada, apenas assentiu; e percebi a chance perfeita de devolve-lo a pergunta. - Seus pais não eram assim quando saiu de casa? - olhei em seus olhos para ver como reagiria.

Dacre riu nasalado, como sempre. - Digamos que não, não foi bem uma escolha sair de casa. - respondeu, colocando os cotovelos sobre a mesa. - Estava mais para uma necessidade. - fiquei calada, queria que dissesse mais do que meias palavras. - Eu não saí de lá para fazer faculdade. - riu um pouco nervoso. - Eu era muito idiota naquela época, foi burrice.

- Se arrepende? - questionei, colocando meus braços cruzados sobre a mesa para olha-lo melhor.

- As vezes sim, eu podia ter sido um filho melhor. - suspirou. - Mas eu realmente não quero falar sobre isso. - esboçou uma leve careta.

- Tenho certeza que fez o que foi possível. - afirmei e isso pareceu alivia-lo um pouco, ainda que eu quisesse muito saber mais sobre isso. - Seus pais sabem disso, de alguma maneira.

- Sadie, podemos não falar sobre isso? - perguntou ajeitando a postura e bebendo uma boa parte do vinho de sua taça; eu deveria calar minha boca.

- Desculpe. - falei um pouco constrangida por incomoda-lo. - Não queria tocar em um assunto delicado.

Ele suspirou. - Está tudo bem. - sorriu fraco, esticando uma das mãos e tocando levemente em meu braço. - Eu prefiro falar de você. - acrescentou, sorrindo mais.

- Acho que não tenho muito o que dizer. - dei de ombros. - Sabe que sou uma garota mimada. - brinquei com o achismo que me assombrava. - Não tenho lá uma história incrível.

- Mas uma garota mimada empregada de novo. - ele lembrou, voltando a sua feição mais tranquila de antes.

- Barrista de uma cafeteria. - completei, fazendo um gesto com a mão como se essa informação fosse relevante.

- Vestida assim, você ainda me parece a executiva de antes. - comentou, tirando as mãos da mesa. - Deveria usar vestido mais vezes. - sorriu de leve e eu logo senti sua mão sobre meu joelho embaixo da mesa.

Inevitavelmente, corei e sem duvidas, ele gostava de me ver desconcertada.

- Acho que vou repensar isso. - comuniquei, cruzando as pernas para faze-lo tirar as mãos de mim; aquilo me desconcentrava muito fácil, mas ainda assim, ele continuou. - Não sabe ser paciente? - perguntei um tanto descarada, apoiando minha cabeça em uma das mãos e ainda o sentindo alisar minha pele.

- Eu juro que tento. - sorriu malicioso.

- Você deveria ser mais gentil com suas pacientes, Dacre. - falei, bebendo um pouco do vinho. Ele riu levemente com meu comentário.

- Eu sou paciente quando quero. - disse, finalmente tirando as mãos de mim. - Eu esperei você jantar seu talharim antes de insinuar qualquer coisa. - estreitou os olhos. - Não é o bastante?

- É, justo, posso considerar então, já que isso é o mais próximo da Itália que eu vou chegar, infelizmente. - respondi, referenciando a sua escolha do restaurante italiano.

Ele sorriu convencido, pegando a taça e bebendo o restante do vinho. Eu estava vidrada em seus movimentos; aquela merda estava começando a sair do meu controle, por mais que eu ignorasse isso.

- Eu quase merecia um prémio por isso. - disse descarado.

Eu arqueei uma das sobrancelhas como se o questionasse se aquilo fosse mesmo sério, porém, eu estava muito mais concentrada na forma como sua mão estava sobre a mesa, movendo constantemente o dedo indicador e médio sobre a toalha macia.

- Não acha? - perguntou.

Ele me despertou do meu pensamento indiscreto diante de seu gesto banal; era comum que ele ficasse com as mãos inquietas enquanto conversávamos, mas hoje isso me desconcentrava.

- Acho. - concordei, sorrindo como ele fazia.

- Menos mal então. - levantou-se e novamente, como no bar no dia que nos encontramos, parou ao meu lado. - Mas não me peça para ser gentil, ruiva. Você sabe que isso não dá, não com você com essa droga de vestido. - disse, próximo ao meu rosto e o segurando levemente para frente.

Tive que respirar fundo para não demonstrar o efeito de suas palavras sobre mim; como se ele já não soubesse. Diferente da outra vez, ele não me deixou sozinha, apenas escolheu se sentar ao meu lado e eu continuava a encarar o lugar em que estava antes, fazendo o possível para fingir plenitude diante de sua atitude.

- Vou desconsiderar a ideia do prémio. Você não sabe brincar. - comentei, tentando relaxar na cadeira.

-Talvez, mas eu ainda acredito que pode considerar isso. - respondeu-me ao passar o braço sobre meu ombro e, discretamente, subir a mão para minha nuca. - Mas eu vou entender se mudar de ideia. - completou ao correr seus olhos pelo restaurante para se certificar que ninguém percebia as besteira que dizia em meu ouvido. - Promete que hoje não vai negociar nada comigo?

- Por que eu deveria? - olhei-o pelo canto dos olhos. Pronto, eu havia cedido a sua brincadeira mais sacana.

- Porque vai perder, Sadie. - disse o obvio, segurando firme um pouco do meu cabelo e logo disfarçando o que fez, voltando a mão para o meu ombro. - Mas tudo bem se quiser seguir em frente com isso, não sou eu quem vai impedi-la. - sorriu sarcástico. - Porra, na verdade, eu acho que gosto disso. - acrescentou ao virar-se um pouco para mim e novamente descer a mão que estava sobre a mesa.

- Não. - pedi, quase de forma inaudível, pois eu sabia o que faria. - Não faz isso, Dacre. - segurei seu pulso, o olhando nos olhos.

Ele riu pelo nariz. - Não deveria ter feito isso. - repreendeu-me e só então o soltei. O loiro jogou a cabeça para trás e respirou fundo, e eu aproveitei para tomar fôlego. - Você já fez algo muito idiota e errado ao mesmo tempo alguma vez? - perguntou depois de alguns segundos, voltando a me olhar.

- Dacre, não_ - eu não fazia ideia do que insinuava de fato, mas diante de tanto flerte, não poderia ser algo descente; eu o repreenderia se não tivesse me interrompido.

- Não estou me referindo a isso, Sadie, por mais que eu queira muito isso agora. - respondeu em um riso leve e com um olhar sugestivo. - Me diga, já viveu alguma adrenalina nessa vida ou sempre foi certinha assim? - engoli em seco.

Ser rebelde não era do meu feitio e a única vez que pensei em ser, não tinha sido muito bem sucedido, logo, neguei com a cabeça.

- Está vendo aquele idiota conversando com o casal na mesa? É o gerente. - indicou o homem a alguns metros de nós à direita. - Aquele é o chefe dele. - indicou outro homem parado ali próximo, olhando algo ao telefone.

- Do que está falando? - perguntei confusa.

- O recepcionista não está mais na entrada, todas as mesas estão lotadas. - continuou. - Vem, levanta. - disse ficando de pé e eu ainda sem entender, imitei-o. - Quando eu mandar, você corre e não olha para trás, vai direto para o carro.

- O que está insinuando? - perguntei ainda perdida. - Dacre, está querendo sair sem pagar? - falei baixo, era uma pergunta ridícula, mas necessária.

Ele não me respondeu, apenas bebeu o restante do vinho da minha taça. - Vai... - riu baixo.

- Eu não vou fazer isso. - ri nervosa, pensando que aquilo não passava de uma pegadinha, e das boas.

Ele revirou os olhos. - Vai logo, Sadie. Desliga um pouco essa cabecinha. - afirmou, pegando suas coisas da mesa. Acabei por o imitar, rindo diante do inacreditável. - Vai na frente, devagar... - disse mais baixo.

- Mas e_ - interrompeu-me segurando minha cintura por trás de mim.

- Estou atrás de você, para de se preocupar um pouco. - acrescentou próximo ao meu ouvido.

Respirei fundo, perguntando-me se eu realmente concordava com sua ideia idiota, mas ao dar o primeiro passo, percebi que sim. Eu ainda sentia sua mão em mim enquanto caminhava devagar, como havia dito.

- Olha para frente, não para eles. - ele disse baixo de novo. - Calma, está quase lá. - riu levemente de mim; minhas pernas tremiam um pouco.

- Isso não vai dar certo. - constatei o obvio.

- Só se continuar conversando comigo... - disse firme. - Foco Sadie. Finja que está fugindo dos seus problemas, isso ajuda. - concluiu.

Puxei o ar novamente, caminhando um pouco mais confiante. Eu não acreditava que aquilo estava acontecendo, parecia um filme ou um sonho bobo, mas era real e notei isso ao senti-lo soltar sua mão de mim.

- Continua, está indo bem. - acrescentou.

- Hey, vocês dois. Esperem. - ouvi uma voz atrás de nós. Merda.

Olhei brevemente para Dacre atrás de mim, o qual sorriu muito levemente.

- Agora você corre, querida. - e eu apenas o obedeci.

Meu coração estava acelerado, era difícil correr de salto, mas eu apenas continuei até passar pela pela recepção e a entrada. Eu ria como se aquilo fosse uma grande brincadeira de pega-pega, indo até o carro parado na rua de cima, sem ao menos olhar para trás, como Dacre havia dito.

Deus, eu me arrependeria tanto disso, mas eu não podia negar, era divertido, era agradável a sensação do vento no cabelo e até mesmo sentir o fôlego faltar quando eu mais precisava. Só parei ao chegar no carro, apoiei o corpo em sua lateral e finalmente olhei para trás.

- Puta merda! - exclamei tentando respirar.

- Entra logo, Sadie. - Dacre não estava muito longe, destravando o alarme do carro enquanto corria até mim.

Assenti, abrindo a porta e só então puxei o ar com calma. Soltei meu corpo no banco, vendo-o entrar tão depressa quanto eu.

- Acho que nunca poderemos ir para Itália depois disso. - ele brincou, dando partida e acelerando.

Neguei com a cabeça concordando. Meus batimentos ainda estavam acelerados quando passamos, em alta velocidade, pela entrada do restaurante e vimos o gerente e o recepcionista parados na calçada.

Eu ria de nervoso por não crer no que acabara de acontecer, não negando que a adrenalina tinha me revigorado; agora eu lembrava daquela maldita sensação, era mesma de quando minhas mãos tocaram nas notas da Conceptum. E mesmo me repreendendo por ter feito aquilo, tinha sido ótimo ser rebelde uma vez na vida, mesmo que de um jeito bobo, mas ele estava lá e isso bastava para minha mente se calar.

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NOTAS DA AUTORA:
Lembrando que a história tem uma playlist especial no Spotify e YouTube, basta pesquisar por "Crime Culposo - playlist".

Abraços.

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