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Capítulo 28 - Que sorte a sua

23/07/2022 - 492 dias antes do assalto a Florence Joalheria

Dacre Montgomery

Meus olhos ardiam e minha cabeça latejava; se eu pudesse, realmente já estaria em casa, mas não tinha coragem de deixar Natalia ali sozinha.

A cama, em que antes estava de Sadie, era ocupada por uma senhora, a qual mal sabia onde estava; confesso que sintia falta de olhar para a ruiva, vê-la sorrir discretamente para mim ou me chamar de doutor no intuito de me provocar risadas ou até uma certa excitação.

Tirei o celular do bolso da calça, uma vez que eu sabia que não dormiria tão cedo, diferente de Natalia, que parecia tranquila e despreocupada. Senti-me tentado a abrir as mensagens de Saide, mesmo que fosse mais de uma e meia da manhã. Sadie tinha apenas visualizado as minhas mensagens, mas não havia dito nada; tenho quase certeza de que esperava por algo mais descente que aquilo.

"E então, como está?", perguntei, porém acho que poderia ser mais prestativo a ela. "A Natália vai ter alta amanhã. Precisa de alguma coisa?", pronto, era algo mais justo de se perguntar. Como eu já esperava, não tive uma resposta imediata, afinal, acredito que ela estivesse cansada e grata por finalmente estar em casa, entretanto, eu permanecia encarando as mensagens que trocamos, como se isso fosse fazê-la me responder ou no mínimo, me fazer repensar as coisas que digo a ela.

— Não acha que deveria pensar no que conversamos aquele dia? — Natalia perguntou, chamando minha atenção e me encarando com as pupilas dilatadas devido a luz baixa.

— Não. — respondi simplesmente.

— Mas eu acho que sim. — disse. — Eu não sei exatamente o que se passa na sua cabeça, mas... — pausou para tomar fôlego. — Sei que sabe o que realmente deveria fazer.

— Eu não vou discutir com você, ainda mais agora. Durma. — respondi de novo, no tom mais baixo possível.

— Eu não quero dormir, quero que me escute. — agora parecia mais séria. — Eu sei que está afim dela, não pode negar isso. — disse convencida. — Mas se gosta dela, vai deixa-la viver sem envolver suas merdas nisso, não é? — questionou um tanto retórica.

— Nunca foi minha intenção envolvê-la em nada, Dyer. Agora durma, por favor.

— Não vou dormir, doutor. Eu já disse. — disse em meio a um riso. — Eu sei que a disse algo antes de ir embora, não sou burra. Mas juro que se estragar a vida dela_ — eu a interrompi.

— Natalia, pelo amor de Deus, chega dessa conversa. Já entendi. — falei um pouco mais alto do que gostaria e suspirei com isso.

— Merda... — ela riu levemente, desviando os olhos de mim e encarando o teto. — O pior de tudo, é que a filha da mãe é um amor... — resmungou para si mesma, mas eu a escutei e quase tive vontade de concordar com ela.

— Chega de falar sobre a Sadie, precisa descansar. Não quero passar mais uma noite dormindo em uma cadeira, por favor.

— Gentil como sempre, não é Montgomery. — voltou a me olhar. — Ela também prefere que o bebê se chame William. — comentou depois de alguns segundos de silêncio.

— Ela tem bom gosto. — me ajeitaei na cadeira; agora eram as minhas costas que doíam.

— Tem, mas um péssimo para homens, sem dúvida. — declarou. — E eu também. — completou.

— Não vai mesmo deixar esse assunto de lado, não é. Chega, Dyer.

— Não até que você saía da vida dela. A Sadie não merece isso, já tem muita coisa sobre as costas dela.

— Ela é forte como você, vai superar isso. Tenho certeza. — conclui, voltando a olhar fixamente a foto da ruiva.

— Você otimista é assustador. — ela bufou. — Ela tem coisas realmente sérias para lidar.

— Quer que eu fique longe dela, já entendi. Vou fazer isso. — afirmei, apoiando os braços no joelho. — Podemos encerrar esse assunto?

— Eu sei que não vai fazer isso. — riu e em seguida deu um suspiro. — Só não magoe ela, por favor. O mundo as vezes é injusto demais com a gente.

— Ela só teve uma virose, Natalia. Esquece isso. — revirei os olhos. — Você tem coisas mais sérias para se preocupar, ela vai ficar bem.

— Você é realmente estupido quando quer, meu Deus. — ela se ergueu um pouco na cama, obrigando-me a levantar e conferir se o acesso ainda estava intacto. — Está tudo bem, não precisa checar cada suspiro que eu dou. — disse grosseiramente, mas ignorei isso.

Ficamos alguns minutos em silêncio quando voltei a sentar, até pensei que ela tivesse voltado a dormir, porém eu ainda conseguia ver seus olhos abertos, encarando a própria barriga. Já eu, tentava a todo custo concentrar-me em outra coisa que não fosse minha dor de cabeça.

— Ela não pode ter filhos, Dacre. — Natalia disse, quebrando aquele silêncio da madrugada. Eu somente a encarei, não consegui dizer nada; acho que aquilo doía mais nela do que na própria Sadie. — Tem noção disso? — sua voz parecia um pouco mórbida.

Na verdade, eu não tinha. Esse tipo de coisa nunca havia se passado pela minha cabeça, até porque, jamais me via formando algo que durou tão pouco para mim. Além do que, eu e a ruiva não tínhamos rótulos, para ser franco, acho que para ela não tínhamos nada. Absolutamente nada. Por mais que, em minha cabeça, somente seus olhos azuis brilhantes tivessem real importância; eu ainda continuava sendo um qualquer para ela. Transar com alguém não é sinônimo de algo sério, quem dirá compromisso.

— Ela não tem nada, Natalia. — afirmei. — Não tem emprego e_ — ela me interrompeu.

— Graças a você, claro. — declarou o obvio.

Aquilo caiu feito uma bomba no meu colo; não que eu não soubesse disso, porra, eu não era burro, mas é pior quando se ouve isso da boca de outra pessoa com certeza.

— Literalmente nada. — completei.

— Igual a você, mas não acho que ela precise saber disso.

— Não. — neguei com a cabeça. — Não sou idiota a esse ponto. — suspirei.

— Mas parece. — pausou. — Por que está fazendo isso, Dacre? Sério, de verdade, o que ganha com isso? — perguntou séria.

— Eu não ganho nada. — dei de ombros. — Mas não acho que ela deva pagar por algo que não tem culpa.

— Então isso é questão de honra? — riu nervosa. — Piorou então. Eu falei que aquilo não era boa ideia. — ficou muda novamente e eu a imitei. — Eu me lembro muito bem de ter te pedido para desistir. Eu me lembro como se fosse ontem. Agora estou aqui, sozinha, sem o Charlie, com uma barriga imensa e sendo sustentada por um merda. — cuspiu as palavras sobre mim, mas ela não estava de toda errada.

— Vou ignorar essa última parte, mas só porque está com uma barriga imensa. — ironizei. Ela bufou outra vez. — O filho da puta do Steven e do Jason roubaram os funcionários, sabia disso? Eu só roubei o chefe deles. — respirei fundo. — Ela já não tinha muita coisa, estava cumprindo aviso na empresa.

— E acha que fez um favor a ela, é? — perguntou sarcástica; eu neguei.

— Eu armei para eles, por isso saí dessa merda de cidade.

— Claro, para livrar o próprio rabo, não estou surpresa com isso.

— Não Dyer, não foi por isso. — revirei os olhos, levantando-me e ficando ao seu lado. — Ela ia roubar um pouco da grana, na minha frente. Entende a dimensão disso? — ela apenas me encarou. — Ela ignorou minha presença e simples ia roubar. Foi até um pouco engraçado, confesso. — ri, ainda quase sussurrando as palavras. — Mas não deixei que fizesse isso, ela não merece carregar algo desse tipo na coincidência. Então foi ai que percebi que alguma merda estava acontecendo. — completei. Ela é bonita demais para querer fazer aquilo

— Ela não tem família aqui? — foi a primeira coisa que Natalia perguntou.

— Eles são de Fresno e ela pensa demais com relação a isso. Eu só queria poder ajuda-la de alguma forma. Entende isso?

— Mas para isso não precisa transar com ela, Dacre. Não precisa, literalmente, foder a vida dela. — disse séria.

— Não vou mais discutir com você sobre isso, já sabe o bastante agora. Dorme. — conclui voltando a me sentar. Pronto, ao menos agora, Natalia me daria alguns dias de paz com relação a esse assunto miserável.

(...)

Sadie Sink

O sol incomodava meus olhos e com isso, eu já podia imaginar que fosse tarde e Maya continuava desmaiada ao meu lado na cama; por mais que eu tivesse insistido, ela fez questão de dormir comigo aquela noite, e no fundo eu agradecia por isso.

Eram quase nove e meia da manhã quando resolvi me levantar; um bom banho talvez curasse aquela ressaca de remédios. Levantei devagar para não acorda-la e fui em direção do banheiro. Uma leve cólica já começava a me incomodar, mas a ignorei um pouco, pelo menos até que eu sentisse a água fria na pele. Não me permiti ficar tanto quanto queria embaixo do chuveiro, deixaria para fazer isso mais tarde quando estivesse sozinha.

Maya continuava deitada e aquele era meu aval de que eu poderia fazer um café ainda em silêncio. Sentei-me na cozinha enquanto a cafeteira fazia todo o trabalho e só então peguei-o meu telefone nas mãos, já que desde a madrugada passada eu nem sequer tinha o tocado.

Sorri um tanto idiota ao ver uma mensagem de Dacre enviada na madrugada; não tenho duvidas de que ele não tenha conseguido dormir na cadeira desconfortável do hospital.

"Não preciso de nada, Dr. Montgomery, pode ficar tranquilo.", foi o que o respondi, insistindo na nossa brincadeira interna.

Aproveitei para olhar outras coisas nas redes sociais, mas eu estava realmente ansiosa por sua reposta, a qual felizmente não demorou muito.

"De nada mesmo? Estou levando a Dyer para casa, qualquer coisa é só me dizer".

Eu ainda conseguia o ver como o homem gentil, que cuidou de Natalia, mas sabia que sua insistência tinha uma certa malícia; já que me lembrava muito bem das suas palavras no meu ouvido ontem.

Será que seria atrevimento demais dizer que eu precisava dele aqui em casa? Como se eu ainda estivesse mal e precisasse que me trouxesse uma almofada fofa e um copo d'água. Ou talvez, que uma lâmpada tivesse queimado e eu não alcançasse para trocar; que uma das janelas estivesse emperrada o suficiente para fazê-lo vir até aqui só para abrir ou pior, o pedisse para ficar comigo só porque eu queria o chamar de doutor e escutar o seu "cala a boca, Sadie" de novo. Na verdade, isso não importava muito, pois eu apenas queria sua atenção.

"Nada mesmo. Deve estar cansado, eu aposto, descanse. Eu estou bem", foi a única coisa que eu disse.

"Tudo bem, mas não hesite em dizer algo se precisar. Espero que não esteja sozinha em casa". Ri da sua preocupação, imaginando suas feições de quando está um pouco irritado.

"Não 'papai', não estou. A Maya passou a noite aqui. Se cuida e mande um beijo para Natalia"; fiquei um pouco vermelha com a mensagem que eu mesma mandei, mas eu torcia muito para que entendesse o duplo sentido e dissesse algo que me fizesse acreditar que estava tão perdido quanto eu; porém isso não aconteceu.

"Tudo bem então"; foram suas únicas palavras.

— Sorriso idiota logo cedo. O que foi? — Maya me chamou a atenção ao entrar na cozinha. — Está falando com ele? — perguntou com um sorriso indiscreto.

— É. — suspirei. — Ele só queria saber como eu estava. A Natália já teve alta. — respondi.

— E ele não disse mais nada? Nadinha? — questionou ao pegar as xícaras no armário e nos servir de café. Balancei a cabeça negativamente. — Ele parece ser um cara de poucas palavras. — deu de ombros. — É bom, pelo menos não diz bobagens ou puxa assuntos inconvenientes.

— Talvez. — respondi, disfarçando ao máximo o pequeno sorriso involuntário que queria surgir em meu rosto.

Porém, eu só conseguia lembrar do que ele me dizia nos momentos que estávamos a sós; era algo que eu gostava francamente.

— Nossa, aquela cadeira do hospital acabou comigo, parece que fui atropelada. Nem quero imaginar como o tal Dacre está se sentindo. — Maya comentou devido meu silêncio.

— Péssimo acho eu. — digo. — Falando em hospital, não quero nem ver a conta que vai dar isso. Minha cabeça dói só pensar. — acrescentei voltando a realidade.

— Não se preocupe com isso agora, Sadie. Foque em ficar boa. — sorriu leve.

— Eu sei, Maya, mas não é tão simples. Teve os exames, o remédio_ — ela me cortou.

— Aí Sadie, para de se martirizar. Quando a conta chegar, vemos o que podemos fazer. — disse se levantando e indo ao banheiro. — Quer que eu vá a farmácia antes de ir para casa? — perguntou lavando o rosto.

— Por favor... — digo, indo para a sala buscar a carteira.

Sentei no sofá, suspirando em imaginar que meus duzentos dólares, contadinhos, não dariam para nada. Mesmo com dor no coração, abri a carteira; jamais eu faria Maya pagar por aquilo por mim. Felizmente, tinha mais do que os meros 200$ali, talvez fosse Deus me dando um consolo e minha memória me pregando uma peça.

Tirei as cinco notas de cem e as conto pra ter certeza. Deixei uma delas sobre a bolsa da loira e guardei o restante ainda agradecendo pelo milagre divino da multiplicação.

— Quer algo do mercado ou coisa do tipo? Aproveita, é agora ou nunca. — comentou ela vindo ao meu encontro.

— Não, tudo bem, acho que já basta de favores. — sorri fraco. Maya pegou suas coisas e saiu dando um aceno.

Pandora ficou sentada ao meu lado na sala, como se soubesse que eu precisasse de companhia. Deitei-me no sofá e respirei fundo; era bom estar em casa e sem a sensação de enjôo ou dor; todavia, aquela notícia de ontem ainda me apertava. Eu só conseguia encarar o teto, pensando que talvez um dia, essa dor passasse. Mas acho que iria demorar.

Fechei os olhos e eu conseguia ver de novo aquela cena no hospital: os olhos sérios do doutor, Maya apertando forte a minha mão que suava, o estado um tanto febril do meu corpo, o som irritante do oxímetro e principalmente, as feições melancólicas de Natalia.

Não que sua figura materna me deixasse chateada ou que me fizesse sentir ainda mais dor, entretanto, sua presença ali era apenas uma miragem do que talvez eu não poderia viver - ainda que não fosse meu maior sonho -. Aquilo era apenas o choque da realidade.

Meus olhos estavam embaçados pelas lágrimas de novo, foi inevitável, mas pelo menos agora eu podia chorar sem incomodar ninguém. Eu mesma me fazia carinho no cabelo, tal como um cafuné de autopreservação, só para me permitir colocar para fora aquela sensação de impotência.

(...)

— Querida, eu sinto tanto por não estar em casa para ajudá-la. Eu nunca saio e quando precisa de mim... — a Sra. Wheeler estava a pelo menos dez minutos na minha porta, desculpando-se como se tivesse cometido um crime.

— Está tudo bem, eu consegui resolver. Não se preocupe, era só uma droga de chave. — respondi pela milésima vez, fazendo um gesto de como se aquilo fosse umas bobagem, e realmente era.

— Que bom! Menos mal então. — sorriu ao ajeitar a postura e a filha pequena no colo. — Quer que eu continue com ela?

— Por favor, eu agradeceria muito. — sorri levemente. — Talvez eu vá para Fresno semana que vem, gostaria que desse uma olhada na Pandora.

— Claro, não se preocupe. — afirmou.

Eu continuava escorada na porta, aguardando ansiosa que fosse embora, e como se fosse uma solução divina, vi o carro de Dacre estacionar em frente de casa. A Sra. Wheeler continuava falando, mas eu não conseguia prestar atenção, já que meus olhos estavam pregados no rapaz loiro descendo de seu carro.

Era uma cena tão trivial, mas minha mente era capaz de transformar ele - com os óculos escuros, o cigarro na mão, parado na lateral do carro - na miragem mais instigante possível. Obviamente, eu não conseguia ver seus olhos, mas sabia que estavam sobre mim, o sorriso cínico não escondia isso.

— Se precisar de alguma coisa, é só chamar. Prometo estar em casa dessa vez. — a mulher disse depois de limpar a garganta; acredito que tenha se sentido incomodada pela presença de Dacre. — Fique bem. — comentou antes de me dar as costas e descer os degraus da varanda, passando pelo rapaz com um olhar curioso.

— Obrigada, Sra. Wheeler. — agradeci por pura educação, ainda apoiada no batente da porta. Ela se virou rapidamente sorrindo e atravessou a rua.

— Tem muita gente se disponibilizando a cuidar de você. Não se cansa de ser o centro das atenções, Sadie? — Dacre finalmente disse algo, parado no mesmo lugar.

Fui obrigada a sorrir um tanto envergonhada. — Parece que sim, não é. — respondi. — Na verdade, não me cansa, é bom ser lembrada as vezes. — completei cruzando os braços. Ele balançou a cabeça negativamente achando aquilo engraçado, tragando o cigarro. — Vai ficar aí fora? — questionei-o e me xinguei automaticamente; que tipo de convite estou o fazendo?

— Está me convidando para entrar, Sink? — respondeu com outra pergunta, tirando os óculos e finalmente me deixando ver seus olhos, que eu ainda não sabia se eram verdes ou azuis de fato; merda, merda.

— Interprete como quiser. — dou de ombros, fingindo que eu não estava ansiosa.

Agora ele realmente riu. Virou-se para a porta do passageiro do carro e a abriu tirando algumas sacolas de dentro. Eu até ameacei ir em sua direção, mas antes que eu pudesse dar um mero passo, ele me olhou sobre seus ombros.

— Fique onde está. — disse com o cigarro na boca. — Não preciso de ajuda.

Olhei-o um pouco confusa, mas optei por não discutir. Dacre deu um sorrisinho de lado novamente e não sei se era só sua maneira de me convencer ou se notava algo em específico. Instintivamente, olhei para mim mesma na procura de algo errado e só então percebi que ainda estava de pijama - que não passava de uma camiseta folgada e um short confortável, porém curto -, consequentemente, fiquei um tanto constrangida com isso. Deus, ainda bem que não chegou, assim sem avisar, em um dia em que eu estivesse dando banho em Pandora.

Dacre finalmente pegou as coisas e fechou o carro, descartando o cigarro antes de subir a escada da varanda. Já eu, apenas continuei parada à porta, observando-o.

— Vai me deixar entrar ou mudou de ideia? — perguntou, segurando as sacolas em uma só mão e apoiando a outra na lateral da porta, ficando a centímetros de mim. Eu com certeza poderia o beijar naquele instante.

— Estou pensando sobre isso na verdade. — brinquei, voltando a cruzar os braços, obstruindo sua passagem.

— E decidiu repensar isso justo agora? — riu pelo nariz, fixando os olhos em minhas pernas.

Eu podia sentir meu rosto esquentar, mas ignorei isso. — Depende. O que trouxe aí? — perguntei com um sorriso igual aos que lançava a mim.

— Bobagens, só para não parecer que sou um idiota que vem vê-la de mãos vazias. — respondeu dando de ombros.

— Hum. Vou aceitar, mas só pelas boas intenções. — afirmei, dando as costas e permitindo que entrasse.

Imagino que ele tenha revirado os olhos com isso, mas era divertido o desafiar nessas conversas bobas. Fui em direção a cozinha, retirando as coisas de cima da mesa para que pudesse colocar as sacolas sobre ela. Consegui escuta-lo fechar a porta e os passos vindo até mim. Rapidamente vi a maldita garrafa de vinho que dividi com Maya na quinta-feira e a guardei no armário, como se escondesse aquilo de pais conversadores em uma atitude um tanto ridícula.

— Pensei que tivesse dito que a sua amiga estivesse te fazendo companhia. — comentou, colocando as coisas sobre a mesa, eu ainda continuava de costas, com as mãos sobre o tampo do balcão.

— Ela ficou quase o dia todo aqui, foi embora eram umas quatro da tarde. — finalmente virei em sua direção.

— Então foi uma troca de turno justa. — disse sarcástico, referindo-se ao horário, já que não se passava das 17h30min. O seu olhar estava cravado em mim, como se fosse um predador; aquilo me fazia se arrepiar um pouco.

— E como a Natália está? — desconversei para quebrar aquela corrente elétrica entre nós, por pura provocação obviamente.

— Bem. Ela não consegue seguir recomendações médicas. — respirou fundo, acho que ficou um pouco chateado por minha pergunta estragar o clima. — E você? — perguntou com uma leve preocupação.

— Estou bem, doutor. — eu não podia deixar essa passar, sorri irônica.

— Ainda com essa brincadeira idiota? — riu um pouco desconcertado, retirando as coisas da sacada.

— Óbvio, eu não poderia esquecer disso. — me aproximei dele.

Dacre não tinha trazido muita coisa, apenas algumas guloseimas que eu sei que comeria em frente a televisão quando a TPM atacasse. Porém, eu tive que rir quando o vi tirar uma garrafa de tequila de uma das sacolas.

— É sério isso? — questionei-o.

— É para quando você estiver melhor e quiser tomar um porre comigo. — sorriu sugestivo, abrindo a garrafa e erguendo a cabeça, logo, virou um pouco da tequila na boca, sem a encostar nos lábios.

Arqueei uma das sobrancelhas diante disso. — E não vai esperar por mim para fazer isso? — cruzei os braços como se realmente estivesse brava com isso.

— É só uma dose para te fazer passar vontade. — sorriu sínico.

— Engraçadinho. — tomei a garrafa de suas mãos e guardei no mesmo lugar do vinho. — Se eu não bebo, você também não bebe, Montgomery. — fingi estar falando sério.

— Sadie, não precisa ficar chateada com isso. — ele disse e eu podia sentir o seu calor atrás de mim; meu corpo se arrepiou ao senti-lo tirar meu cabelo do pescoço. — Mas nada impede de você provar o gosto. Concorda? — perguntou próximo do meu rosto.

Eu não o respondi, apenas fechei os olhos e continuei prestando atenção aos seus toques extremamente leves em meu cabelo, como se me provocasse ao máximo para que eu cedesse. Todavia, eu já havia o esperado por quase uma semana e ele já tinha feito esse joguinho no hospital; eu não seria boba de ser tão fácil assim.

— Acho melhor não. Eu respeito as recomendações médicas. — respondi, afastando-me mesmo que com esforço.

— Mas eu acho que não deveria respeitar. — puxou-me pela cintura para si outra vez, colocando suas duas mãos em mim. Estávamos cara a cara de novo; merda, eu ia ceder.

Dacre continuava a me encarar com aquele olhar compenetrado, fazendo-me querer que me agarrasse de uma vez. Porém, eu tinha decretado a mim mesma que jogaria tão baixo quanto ele e uma mão em minha cintura não seria o suficiente para me convencer.

— Você é muito imprudente as vezes, Dacre. — ri como se realmente estivesse achando graça, mas na verdade era de sua feição levemente irritada. — Não vai me convencer tão fácil assim.

— Certo, então está me dizendo que ainda quer insistir nessa brincadeira? — ele tirou meu cabelo dos ombros. — Estamos realmente negociando uma droga de beijo? — certificou-se e eu assenti, não conseguindo disfarçar a minha leve vontade de desistir.

Dacre não disse mais uma palavra sequer. Segurando ainda em minha cintura, trouxe-me até o balcão do armário da cozinha e colou nossos corpos. Nossas testas estavam juntas, um olhando e conferindo o desejo do outro. Uma de suas mãos desceu pela minha coxa, passando as pontas dos dedos levemente por ela, logo, a segurou firme e ergueu minha perna, na altura de sua cintura, para assim ficarmos ainda mais grudados. Ele a apertou firme com as mãos de novo.

— Ainda dá tempo de desistir se quiser. — advertiu passando a barba por fazer em minha bochecha e pescoço.

— Você não sabe brincar. — repreendi-o em uma risada baixa, firmando as mãos no balcão.

— Eu nem comecei. — ele disse, tão próximo, que eu podia sentir seus lábios encostar nos meus.

Dacre soltou-se de mim, dando um passo para trás, eu não consegui desviar os olhos de si, assim, abaixei a perna, que antes nos deixou mais próximos, para ter equilíbrio; todavia, ele não gostou de minha atitude.

— Não. Fica do jeitinho que está. — disse depressa, batendo com força seu corpo contra o meu.

Acredito que eu tenha suspirado com isso, pois ele sorriu ao segurar novamente a minha coxa, obrigando-me, na mais pura covardia, a sentir o quão excitado e quente seu corpo estava. Ele me olhou fundo antes de afastar-se um pouquinho para alcançar algo em uma das sacolas que trouxe; era uma embalagem de mel. Eu obviamente o olhei curiosa.

— É sua última chance, Sink. — comentou, nos colando um ao outro.

Sua mão direita ainda apertava minha coxa, provocando um leve arrepio, até que soltou-me e me encarou. Eu tentava manter a respiração controlada, mas sua imprevisibilidade era algo a se considerar. Ele pegou uma de minhas mãos, virou a palma para cima e colocou um pouco do mel no meu dedo indicador e médio.

— Realmente, eu jogo bem sujo, que sorte a sua. — Dacre riu levemente.

— Que bom que_ — interrompeu-me ao colocar meus dedos em sua boca, com a feição mais sacana que poderia fazer. Merda, de novo.

Inevitavelmente, encarei-o um tanto surpresa com seu ato e não consegui conter o mínimo sorriso em troca disso; se estava fazendo isso por conta de uma droga de beijo, Deus me livre eu negociar o sexo.

— Tudo bem, você venceu. — declarei ao tirar meus dedos de sua boca.

Ele quase sorriu vitorioso. — Uma pena, porque eu tinha ideias muito boas para continuar isso. — colocou as mãos ao redor de mim no balcão novamente.

— Seria incrível para você, tenho certeza, mas eu estou afastada das atividades e... — pausei puxando o fôlego. — Disso tudo aí. — conclui, fazendo um gesto breve e indicando a si mesmo.

— É impressionante como você consegue ser estraga prazeres. — riu pelo nariz.

— É um dom, na verdade. — dou de ombros, pegando um pouco do mel para realmente prova-lo.

— Mas a gente não terminou isso, te garanto. — disse ao me fazer sentar no balcão; merda, mil vezes merda.

Não o respondi, bem como ele costumava fazer e ainda calada, apenas passei os braços por seus pescoço. — Certo... E vai me beijar agora ou não? — olhei em seus olhos, rezando para que o brilho de desejo não tenha desaparecido.

Sua mão foi rapidamente para minha nuca e a outra, voltou a minha coxa, quando finalmente eu cedi ao seu beijo. Não que eu não quisesse sentir o gosto de seus lábios - longe disso -, entretanto, meu medo era viciar neles.

Hoje seu beijo tinha um gosto doce e julgo por ser consequência do mel, já que eles não eram doces assim, eles eram quentes geralmente. Eu sentia seu corpo contra o meu e minha vontade era deixar que qualquer coisa acontecesse, mesmo que fosse na droga da minha cozinha; acho que ele não tinha uma ideia muito diferente da minha, pois talvez quisesse conhecer cada cômodo de minha casa e, sem dúvida, um dia faríamos isso.

— Definitivamente, a gente não terminou aquilo... — ele disse ao cortar o beijo. — Ainda tenho alguns planos com você de vermelho. — acrescentou, olhando nos meus olhos. 

— Idiota. — tentei cortar aquela aproximação perigosa entre nós, logo, desci do balcão. — Mas obrigada pelo mel, eu estava mesmo precisando. — completei, pegando o pote e o guardando, deixando Dacre escorado no balcão como eu estava antes de toda aquela tentação começar.

Ele balançou a cabeça negativamente, fazendo não me restar dúvidas de que quando eu estivesse melhor, eu pagaria um preço caro por aquilo.

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