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Capítulo 17 - Vete al Diablo

11/042022 - 590 dias antes do assalto a Florence Joalheria

Dacre Montgomery

Eu mal tinha entrado no estacionamento do mercado, quando vi Natalia sair com o carrinho de compras lotado; eu havia de fato se tornado seu motorista particular, bem como Charlie havia pedido.

— Era para eu ter chego bem antes, mas essa merda me deixou na mão. — desci do carro para ajudá-la a guardas as coisas, sem ao menos estacionar devidamente.

— Tudo bem, me contaram mesmo que o trânsito estava ruim. — comentou séria, sem nem ao menos olhar para mim. Acabei não dizendo mais nada a ela, já que qualquer coisa que eu dissesse não melhoraria seu humor ou sua feição melancólica.

Natalia não esperou que eu guardasse as últimas sacolas e logo entrou no Jeep, ainda calada, sentando-se no banco de trás. Fechei o porta malas afoito para sair dali; empurrei o carrinho agora vazio para qualquer lugar no estacionamento, ignorando se isso fosse prejudicar a saída de alguém. Entrei rezando mentalmente para que o mesmo pegasse sem esforço, o que felizmente aconteceu. Seguimos no silêncio mais absoluto, pelo menos até a metade do caminho até a casa dela; eu queria perguntar como tinha sido o enterro, mas, sem dúvida, era algo que dispensava comentários, o que concluí somente pela forma que estava.

— Tinha muita gente lá? Como foi? — não aguentei ficar calado. Ela, que até então olhava para a janela, virou-se para frente; e não me respondeu de imediato.

— Não teve coragem de entrar? — perguntou de volta, depois de alguns segundos. Apenas neguei com a cabeça, mantendo a atenção nas ruas tranquilas. — Como eu já imaginava.

— Por que eu entraria? Não iriam me recepcionar com gentileza, fora o risco de_. — respondi, sendo interrompido por ela.

— Os mesmos riscos que vocês ignoraram nesse maldito assalto, não é? — perguntou retoricamente e voltou a encarar a janela, que começava a conter alguns pingos da chuva fina que caia. — Enfim. — suspirou. — Agora já foi, não faz mais diferença alguma. — acrescentou.

A moça ainda permanecia com um semblante abatido, logo, decidi não dizer mais sequer uma palavra, por mais que eu quisesse; não estava sendo fácil para nenhum de nós, especialmente para ela.

15/04/2022 - 589 dias antes do assalto a Florence Joalheria

Os únicos sons audíveis eram da chuva pesada e do Chris Isaak, que estava em um volume quase mudo na televisão para não incomodar os vizinhos, já que se passava das 00h40min daquela sexta-feira.

Meu corpo deu sinais do quão desconfortável seria continuar no sofá da sala, mas isso não era o suficiente para me fazer levantar. Minha companhia era a garrafa de vodka branca e o único baseado que eu tinha conseguido bolar; era a combinação mais idiota possível.

As luzes do apartamento estavam todas apagadas, restando apenas a luminosidade que vinha da televisão e dos relâmpagos que surgiam periodicamente; se fosse em outras circunstâncias, até poderia afirmar que era uma noite agradável. Meu celular vibrou ao meu lado, no acento vazio do sofá marrom claro. Dei uma golada generosa na bebida, que já estava na metade, limpando a boca com as costas da mão em seguida.

"Ocupado hoje?", era um número desconhecido.

Revirei os olhos ao ler aquilo ainda pela barra de notificação e mesmo não sabendo quem de fato fosse, eu já poderia suspeitar das possibilidades, porém, mesmo que fosse um tanto tentador - em outros tempos -, no momento queria somente ficar em casa. Joguei o telefone novamente sobre o sofá e me acomodei ainda mais nele. Eu sentia meu corpo relaxar ao ponto de parecer pesado, mas isso não era sinônimo de que minha mente também estivesse assim, por mais que esse fosse o intuito.

Emilly, Judith, a morte de Charlie, Natalia; milhares de coisas me atormentavam e não era necessário que eu enumerasse elas para ter ciência. Todavia somente ela monopolizava meus pensamentos. Seus olhos curiosos no trânsito mais cedo, a maneira como parecia quase rir ao me ver a ponto de explodir ou a forma como tamborilava os dedos sobre o volante, impaciente. Não importava, Sadie parecia um assunto pertinente demais para minha mente não me obrigar a pensar, tal como um carrossel.

Eu já havia me comprometido a não acompanhá-la, observar ou fazer qualquer coisa que me fizesse parecer um desequilibrado; o que evidentemente pareço ser. Entretanto, estava sendo mais difícil do que parecia e por mais que eu gostasse de me torturar com tudo isso, estava indo muito mais além, pois nem o álcool - responsável por estragar lembranças positivas - estava dando conta. Traguei mais uma vez o baseado na esperança de meus pensamentos se dissiparem junto da fumaça densa, mas aquilo só parecia se impregnar ainda mais, bem como o cheiro, que agora tomava conta do apartamento. Joguei a cabeça para trás, recostando-a e torcendo para que de manhã, eu acordasse tão perdido, a ponto de não lembrar que estava interessado pela garota que apontei uma arma.

(...)

Sadie Sink

O relógio do escritório parecia ter parado, já a que todo momento que o olhava, marcava ainda dez da manhã; ou poderia ser apenas minha ansiedade. Tudo parecia mais entediante sem a presença de Maya, que ficaria fora da cidade por pelo menos cinco dias a trabalho, a pedido do Sr. Harbour; francamente, eu sentia uma mera inveja por ela não precisar estar na empresa.

Feliz ou infelizmente eu ainda tinha a companhia de Joe, o qual não esperou nem ao menos que eu me sentasse para me convidar para almoçarmos juntos em algum restaurante. Evidentemente, não pude negar, uma vez que seus olhos carinhosos imploraram por um sim; mas eu me culpava internamente, pois não queria continuar contribuindo para esse apego que havíamos criado. Não queria decepciona-lo tal como outros me fizeram, mas era o que aconteceria se eu não colocasse um ponto final.

Corri ligeiramente os olhos pelo saguão, torcendo para que ele estivesse ocupado o suficiente com seu trabalho ao ponto de não me observar ou mandar piscadelas, como costumava fazer; e ainda bem que estava. Porém, nem todos do escritório estavam tão ocupados assim.

A moça morena sentada à mesa de Maya, para cobri-la em sua ausência, não disfarçava os olhares de julgamento sobre mim, como se desejasse fazer uma pergunta ou comentário a qualquer momento. Ela aparentava ser um pouco mais velha que eu, mascarando sua altura com um salto extremamente alto. Evitava a olhar ao máximo, justamente por conta do seu olhar que parecia me condenar. Portanto, não pensei duas vezes antes de focar minha atenção apenas ao computador.

Eu atualizava insistentemente meu e-mail pessoal, na expectativa de alguma notícia positiva. - Finalmente! - exclamei em um tom alto suficiente para que muitos dirigissem a atenção para mim, incluindo minha colega.

Minha única reação fora ajeitar-me novamente na cadeira, raspando levemente a garganta em sinal de reprovação ao meu próprio ato. Suspirei, voltando a me concentrar no e-mail de resposta de uma das empresas para qual enviei curriculum. Poderia até ser hipócrita estar interessada nisso estando ainda na Conceptum, literalmente, mas era uma necessidade; não poderia perder tempo.

Por mais que fosse apenas uma pequena chamada para uma entrevista na próxima semana, já era uma chance e isso, por hora, evitava que eu entrasse em colapso. Obviamente não perdi tempo e confirmei presença "21/04, 8h30 - Entrevista na Wensday"; foi assim que salvei na agenda, junto com uma chama de esperança. Eu até tentava disfarçar um pequeno sorriso diante daquilo e logo, não resisti em acessar o site da empresa. Era uma marca de roupas nova no mercado, nada de extraordinário, mas que já me deixava empolgada.

— É Sadie, não é? — surpreendi-me com a quebra do silêncio. Instintivamente, fechei a aba do computador em que eu estava. Virei-me para a moça ao meu lado esquerdo e somente assenti. — Preciso do valor referente a este recibo. — estendeu-me o papel.

Suas feições ainda eram sérias, porém agora finalmente sabia seu nome, graças ao crachá: Jenna Addams. Seus olhos castanhos fundos estavam vidrados em mim; com certeza já tinha ciência de que eu não estava tão atenta aos meus afazeres quanto deveria. Merda! Se eu já estava na corda bamba antes, não seria minha ocupação temporária no lugar de Marie que mudaria isso.

— Sadie? — ela me chamou novamente, devido minha desatenção; merda de novo.

— Claro, sem problemas... Jenna. — respondi-a, tomando o recibo nas mãos e me levantando.

— Quer que eu vá com você? — perguntou ao apoiar os cotovelos sobre a mesa e me observar dar a volta na mesa.

Será que para todos eu não era mais capaz de nem ao menos trabalhar? Esse tipo de pergunta já estava se tornando rotina e o que antes me parecia um ato de empatia, já estava se tornando uma confirmação se eu tinha competência.

— Imagina, pode deixar. — falei, dando-lhe um leve sorriso e virando-me de costas em seguida, me desfazendo do sorriso forçado. Ela nada respondeu, apenas assentiu.

Entrei no elevador, revirando os olhos involuntariamente. Não que refazer aquele percurso fosse confortável - longe disso, na verdade -, mas também não adiantaria remoer o ocorrido. As portas se fecharam, o ar fresco do ar condicionado me fazia respirar de forma mais profunda, mas não hesitei em apertar o botão do quarto andar.

As portas se abriram tão devagar quanto se fecharam e ao invés de eu dobrar a direita como antes, segui para sala logo à frente. Cumprimentei de forma silenciosa o segurança ali parado e entrei; não era a primeira vez que eu voltava àquele andar depois do infortúnio da semana passada, mas era como se fosse. Entreguei o recibo ao rapaz na pequena sala de recepção, que não disse uma palavra sequer antes de se levantar e entrar em outra sala a sua esquerda.

Eu apenas me limitei a olhar para o ambiente um tanto entediante, já que aparentemente, o mesmo parecia estar isolado de todos em um cômodo bege entristecido.

— Confira, por favor, Sadie. — pediu, voltando em menos de dois minutos.

Contei cautelosa as notas. Minhas pernas tremeram um pouco, parecia que tinha novamente aquela sensação de antes; e não era como se aquilo fosse algo ruim necessariamente. Apertei meus lábios um contra o outro quando cheguei ao fim do montante; haviam quase quinhentos dólares a mais do que havia sido solicitado e eu podia jurar que isso fez a palma de minha mão coçar.

Um sentimento de tentação me inundou por alguns segundos, como se meu subconsciente estivesse mais ativo do que imaginava; eu tentava me culpar por isso. Por milésimos de segundos até pensei em ignorar e confirmar que estivesse certo, mas e se fosse exatamente isso que ele quisesse? E se já estivesse esperando por um deslize meu, de propósito? Será que viram algo? Disseram algo? Sabem o que tentei fazer? Eram muitas perguntas atropelando meus pensamentos.

— Tem 460$ a mais. — decidi evitar o pior, devolvendo a quantia.

— Se não tivesse dito, teria deixado passar. — comentou; mas será mesmo? — Estou com a cabeça tão cheia ultimamente. — acrescentou ele dando um sorriso sem graça com a situação.

— Não se preocupe com isso. — sorri levemente para disfarçar meu nervosismo interno. — Obrigada. — agradeci lhe dando as costas e caminhando o mais depressa que eu pude.

Fechei a porta logo atrás de mim, não dando brechas de que o rapaz visse minhas feições desesperadas. Segui para o elevador sem perder tempo, mas não sem antes olhar em direção da sala principal daquele andar. Haviam algumas câmeras de segurança, estrategicamente direcionadas para onde eu estava; fazendo-me questionar se realmente apenas o tal assaltante tivesse visto meu ato infeliz dentro daquela grande sala.

— Senhorita Sink, que bom que a encontrei. — a voz do Sr. Harbour fez-me parar de encarar a porta fechada no fim do corredor.

— Bom dia. — cumprimentei-o, parada feito estátua.

— Vejo que está ocupada já com os afazeres do dia. — comentou, colando os braços para trás, como sempre fazia. — E como está sendo com a Jenna? Ela não queria mudar de setor, disse que tinha certeza que você se daria bem sozinha, mas eu insisti, pois sabia que seria bom, ainda mais com você a ajudando. — sorri forçadamente diante de suas palavras.

— Muito bem. A Jenna é ótima, sem dúvida. — menti, involuntariamente.

(...)

— Ele te colocou para trabalhar com quem vai te substituir? Não acredito nessa merda. — Joseph quase gritou no restaurante da empresa, que estava demasiadamente cheio.

— Fala baixo, ela vai escutar, Keery. — falei firme, olhando brevemente para o lado.

Lá estava Jenna, sozinha, em uma mesa de dois lugares, comendo satisfeita uma salada verde; seu olhar de julgamento não parecia restrito a mim; e no fundo, me arrependia por não ter ido comer fora como Joe havia sugerido.

— Como ela consegue? O cabelo sem um frizz, a pele de porcelana... Como ela anda naquele salto sem demonstrar desconforto? — questionei a mim mesma em voz alta.

— A Maya iria detestar a nova colega de trabalho se estivesse aqui. — acrescentou. — Mas fica fria, tenho certeza que ele ainda pode vir a mudar de ideia quanto a isso. — tentou me dar esperanças.

— Ele está me fazendo trabalhar com quem vai ficar no meu lugar, Joe; um alguém que claramente parece muito melhor. Não tem o que repensar. — revirei os olhos, voltando a encara-lo.

— Talvez seja só temporário, um teste. — deu de ombros.

— Ela tem um crachá, prende o cabelo em um rabo de cavalo e veste blazer. Não me parece temporário. — desviei o olhar brevemente a moça, a qual agora estava distraída com algo no telefone.

— Você é muito dramática, Sadie. — riu, dando de ombros novamente. — Tenho certeza que assim que Maya voltar, você nem a verá mais.

Apenas assenti, bebendo o restante da minha limonada. Eu queria apenas almoçar na santa paz e colocar um basta nas expectativas de Joe, mas aparentemente as coisas não acontecem mais de acordo com meus planos, e isso já fazia um bom tempo. Eu não era o tipo de pessoa que se apegava à pré-conceitos, porém aparentemente eu já não era mais a mesma.

(...)

Eram exatamente seis da tarde, mas eu ainda permanecia em minha mesa, sem nem ao menos me mover um milímetro; não sairia até que minha nova colega saísse primeiro. Fazia pelo menos uma hora que eu fingia revisar um relatório de Marie e já estava cansada de minha própria farsa.

— Vamos, aniversariante. — Joe apoiou-se em minha mesa, sorridente. — Sei que já disse que não quer sair, mas não custa perguntar novamente. — pausou, limpando a garganta. — O que acha de comemorarmos? — perguntou.

Revirei os olhos, rindo muito brevemente. — Estou ocupada, vamos deixar para uma próxima. — respondi, ainda fingindo interesse no documento aberto no computador. — Quero terminar isso, é importante.

— Tem certeza? — insistiu. — Não quis sair no almoço e nem agora. Um drink e nada mais, prometo. — ergueu as mãos como um juramento. Eu não pude conter um riso, mas, ainda que estivesse disfarçando em frente a Jenna, eu não estava com vontade de sair, principalmente sozinha com Joe, pois eu sabia o que poderia acontecer. — Pensa, vai ser bacana se distrair um pouco. — insistiu.

— Ainda acho melhor não, Joe. Chega de discussão sobre isso. — falei, apoiando o queixo sobre uma de minhas mãos na mesa.

— Boa noite e bom fim de semana para vocês. — disse Jenna ao se levantar. — Aliás, feliz aniversário. — falou dirigindo-se a mim antes de me dar as costas e seguir em direção a saída.

— Obrigada. — falei baixo, tanto que suspeito de ela não ter ouvido.

— Boa noite. — o rapaz a minha frente se despediu dela com um sorriso simpático, o qual ela pareceu retribuir por educação. Revirei os olhos diante daquilo. — Ela não parece tão má assim. — ele completou, virando-se para mim novamente.

Sorri forçadamente para o mesmo. — Que bom que gostou dela, já pode ir se acostumando então a acompanha-la na saída.

— Está com ciúmes, senhorita Sink? — Joe cruzou os braços, enquanto eu finalmente desligava o computador para ir embora.

Não respondi nada de imediato, pois meu comportamento e fala não se aplicavam a um ciúme de fato, na verdade, era a sensação mórbida de ser demitida sem justa causa e substituída dentro da empresa, na qual eu estava há pelo menos dois anos; era chateação em resumo.

— Não seja idiota, Joe. — somente ajeitei alguns papeis espalhados pela mesa e peguei minha bolsa que estava no canto.

— Só estou brincando com você, Sadie. Não seja boba. — disse ele em defesa, erguendo os braços quase como uma prece para que eu o desculpasse.

— Deixa para lá. — dei de ombros, levantando-me da cadeira e finalmente caminhei em direção da saída do prédio.

— Sadie, é sério isso? — continuou, vindo logo atrás de mim até pelo menos a porta. — Sadie? — chamou minha atenção novamente.

— Já falei, deixa para lá. — continuei caminhando, passando pelo segurança parado na entrada. Pude ouvir Joe ainda me chamar e pelo canto dos olhos, via-o parado ainda na entrada, enquanto eu já quase chegava em meu carro parado ali próximo, como de costume.

(...)

Faltava pelo menos cinco minutos para eu finalmente chegar em casa e eu quase podia ter a sensação de alivio me abraçando naquela sexta-feira pré-aniversário. Na minha cabeça só se passava o ocorrido da manhã no setor financeiro e a minha vontade inoportuna e inadequada a níveis extremos; eu ainda me questionava de como eu poderia ter pensado naquilo, de ter pensado por meros segundos de que eu realmente poderia levar algumas notas comigo. Definitivamente, eu estava louca.

Eu dirigia a 30km/h, em uma velocidade muito abaixo do que eu costumava, mas minha cabeça estava tão cheia, que não quis arriscar. Estava na esquina da quadra de casa, quando vi um carro familiar em frente a casa da Sra. Wheeler e uma camionete desconhecida em frente a minha. Parei o carro de forma brusca diante daquilo, mas aparentemente era tarde demais para dar marcha a ré.

Era o Corolla branco: André; e de brinde, tinha um Nicholas de braços cruzados escorado nele. Pisquei os olhos várias vezes para ter certeza de que aquilo não era uma miragem de um pesadelo terrível, mas não era. Acho que devo ter ficado pelo menos quarenta segundos raciocinando o que poderia fazer; o que foi tempo suficiente para o rapaz me reconhecer e acenar, pedindo para que eu seguisse em frente e me aproximasse.

Anda logo, Sadie. Vai ficar parada ai? — pude ouvi-lo gritar, um pouco abafado por conta dos vidros fechados, aproximando-se a passos rápidos e largos.

— Merda! — esbravejei para mim mesma, puxando o cambio mais rápido que pude para sair dali. Virei-me para trás para ver se não havia nenhum carro ou alguma pessoa, mas parecia uma grande peça da coincidência, já que um carro dobrava lentamente a esquina. —Porra! — esbravejei mais alto ainda.

— Não tem escapatória, querida. — ouvi ele dizer novamente e dessa vez mais alto, já que o mesmo estava com as mãos espalmadas no capô do meu carro, encarando-me. Suspirei em derrota. Nicholas sorriu um tanto satisfeito por isso e veio até a minha janela, dando algumas batidinhas no vidro em seguida. — Precisamos conversar.

Senti-me vencida por alguns instantes e puxei o freio de mão, mas não tirei a mão de lá. Abri a janela até a metade apenas, sem esconder minhas feições de desgosto.

— O que foi agora? Eu não tinha lhe dito para não vir mais aqui?

Ele riu um pouco sarcástico, talvez pensasse que eu estivesse brincando quando havia dito isso antes. — Não seja tão rude, quero apenas conversar com você, estou com alguns probleminhas que se aplicam a você também. — disse, apoiando os dois antebraços na parte superior da janela, ficando com os olhos na altura dos meus naquela fresta.

— Já falei que não quero saber, e não disse só uma vez.

— É, que seja, mas meus colegas não se importam muito com isso: com ameaça feminina. — esboçou um sorriso sem mostrar os dentes em tom irônico. — Estamos tentando falar com você há dias, mas seu telefone sempre dá como desligado. O que aconteceu? Decidiu dar um perdido na gente? — perguntou, como se realmente estivesse interessado em saber o que havia acontecido comigo.

— Você sabe exatamente o que aconteceu, todos sabem. — revirei os olhos. — E já estou com a cabeça cheia o bastante quanto a isso, não preciso da sua importunação também.

— Ah é, o assalto... — fingiu buscar na mente essa informação. — Uma pena, mas eu não tenho nada a ver com isso, com seus problemas. Eu_ — cortei-o.

— Eu também não tenho, querido... Seus problemas, não meus. — comentei, apontando com a cabeça a camionete ainda parada na frente de minha casa. — Resolva você e me tira da suas encrencas.

— Não posso. — deu de ombros. — Será que pode parar seu carro direito e descer para conversarmos? Faz esse favor para mim.

Tive que rir de seu pedido estupido. Eu não fazia ideia de quem eram, o que queriam exatamente e o que fariam se eu ousasse colocar os pés fora do Creta.

— Nem fodendo. Acha que sou idiota? — soltei um riso novamente; minhas mãos suavam.

— Então está bem, não quer me escutar e nem ao menos resolver isso de forma civilizada. É você quem sabe. — finalmente ele desencostou do meu carro. — Mas eu não vou protegê-la mais. Está me ouvindo?

— Alguém deveria é me proteger de você, isso sim. — disse aumentando meu tom de voz, já estava exaustada daquilo e me perguntando porque estava me sujeitando a escutá-lo. — Saiam logo da minha casa antes que eu ligue para a polícia.

— Com que telefone? — Nicholas zombou. — Vai, para de graça e anda logo, desça. — afastou-se mais e ficou quase em frente ao meu carro. — Prometo que não vai demorar.

Não o respondi, apenas o encarei e olhei a placa da camionete ainda imóvel em frente a minha garagem: 3SAM123 - Califórnia. Fiquei repetindo mentalmente aquela sequência pelo menos umas dez vezes; era uma desgraça não ter um celular agora para tirar uma foto. Nicholas ainda insistia, fazendo gestos como "não adianta" em direção da camionete Chevrolet, para quem quer que estivesse dentro dela. 3SAM123, 3SAM123, 3SAM123; era tudo que eu mentalizava.

O rapaz, que tinha a minha altura praticamente, colocou-se inteiramente em frente ao meu carro, olhei brevemente para trás para ver se agora eu conseguiria traçar meu plano de fuga, mas ainda era impossível devido o movimento. Respirei fundo, tentando silenciar o que estava ao meu redor, que nada mais era do que o rapaz me chamando ainda. Olhei na direção da casa da Sra. Wheeler, mas estava tudo apagado e trancado; droga, quando eu mais precisava dela.

— Eu não vou descer, caramba e, se continuar na minha frente, passo por cima. — falei alto o suficiente para que me escutasse.

Pude vê-lo rir brevemente e continuar a fazer gestos em direção do carro parado. Algo estava muito errado, sem dúvida.

— Vamos, Sadie, para de drama. — ele continuava.

Eu não me contive e talvez levasse alguma multa por isso, mas naquele momento, eu não tinha muitas opções. Soltei o freio de mão e dei uma pequena acelerada, fazendo o carro mover-se centímetros para frente.

— Mas que porra está fazendo? — disse Nicholas em um tom de brincadeira, ainda ficando em minha frente. — Vai mesmo fazer isso? — não o disse uma palavra, apenas avancei novamente, fazendo-o dar alguns passos para trás. — Está ficando louca mesmo.

Abri os vidros da frente do carro, eu realmente queria que ele me ouvisse xinga-lo. — Realmente, louca. — revirei os olhos. — Saia da minha frente logo, caramba. — falei alto outra vez.

Deixei o carro engatado na terceira marcha, mesmo que eu o detone por isso. Nicholas ainda continuava dando alguns sorrisos irônicos na minha direção, como se me desafiasse a, literalmente, passar por cima dele. Aquela era uma provocação que eu estava me segurando muito para não cumprir.

— Vamos. — bateu as mãos sobre o capô do carro, ocasionando em um barulho alto o suficiente para fazer meu sangue subir de vez. — Quero ver passar então.

Somente cravei meus olhos no rapaz e pisei no acelerador, escutando apenas a força que o motor fazia para atingir a terceira marcha. Obviamente Nicholas saiu rapidamente da frente, já que viu que eu não hesitaria.

— Vai para o inferno, filho da puta. — gritei o mais alto que pude, mostrando-lhe o dedo do meio ao passar por ele e seguir pela rua; já que entrar em casa seria tecnicamente impossível naquele momento.

(...)

Dacre Montgomery

Eram apenas 19h46min, segundo meu relógio e eu já estava na minha segunda cerveja e no primeiro cigarro da noite. A área de fumantes do lounge estava vazia, já que estava cedo e a casa só enchia de fato depois das nove, mas eu não ligava muito para isso, na verdade até preferia.

Era um tanto quanto agradável observar a rua, o movimento e as pessoas, que pareciam minúsculas, vistas da altura do terceiro andar. Eu podia escutar algumas pessoas conversando nas mesas próximas a mim e a música alta, mas nada que me incomodasse mais do que meus próprios pensamentos; não mais que meus desgostos.

O vento fresco ajudava a aliviar um pouco a sensação de sufocamento que eu tinha, mas não era suficiente, portanto, eu dava goladas generosas na cerveja a fim de engolir o sentimento de angustia, em vão obviamente. Talvez hoje eu fosse capaz de fugir um pouco do fracasso que eu sentia, mas só talvez.

Era reconfortante pensar que possivelmente, algum dia, em algum momento, o pessimismo sumiria tal como os carros desapareciam de minha vista na rua; isso quase me confortava.

— Hey. — uma voz me despertou dos pensamentos moribundos e virei-me Instintivamente para o lado; algo que talvez não devesse ter feito. — Você teria um isqueiro para me emprestar? — ela me perguntou; justo ela: Sadie.

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