Capítulo 13 - Terça-feira chuvosa
05/04/2022 - Dia do assalto a Conceptum Corporation
Dacre Montgomery
Caleb não havia dito nenhuma palavra desde que havíamos deixado Charlie no hospital. Eu dirigia a pelo menos 100km/h dentro da cidade, o que com certeza me garantiria uma multa; mas esses era o menor dos problemas sem dúvida.
Minhas mãos apertavam o volante com força, porém, eu evitava as olhar, já que estavam levemente avermelhadas - não sei se pela força que eu fazia ou por Charlie -.
— O que a gente faz agora? — o jovem ao meu lado ousou perguntar.
— O que vamos fazer agora? — repeti a sua pergunta em um tom irônico. — Não sei, me diz você, já que tem ótimas ideias pelo visto. — olhei-o sem esconder meu ódio e aumentando meu tom de voz.
Caleb não disse nada, apenas devolveu meu olhar com um semblante assustado. Imagino que estivesse repensando em todo ocorrido provocado por ele.
— Ela veio em minha direção, eu não pude evitar... — manifestou-se após alguns segundos.
— Não pode evitar? — repeti sua pergunta de novo. — Você atirou na mulher, caralho! E fez com que atirassem no Charlie... Puta que me pariu! — não consegui controlar meu nervosismo. Bati a mão direita sobre o volante pelo menos umas cinco vezes para despejar minha raiva. — Tem noção do que fez? O cara está morto. — completei.
— Talvez ele só esteja desacordado e_ — cortei-o.
— Cala a merda da boca. — olhei para ele novamente; suas feições mesclavam entre o desespero e uma culpa aparente. — Você fez tudo que não era para fazer, que inferno. — eu ainda continuava falando extremamente alto, definitivamente, não conseguia controlar. — Eu sabia que você ia foder com a droga do plano, sabia.
— Mas queria que eu fizesse o que? Ela estava vindo na minha direção, quando era para ela ficar quieta na dela. Não tive opção. — tentou defender-se aumentando um pouco a voz.
— Que não atirasse nela, porra! Era essa sua opção. — respondi-o grudando meus olhos nos dele e pisando fundo no acelerador. — Que merda você acha que ela faria? Meu Deus do céu... — passei a mão esquerda pelo rosto como se realmente fosse me acalmar. — Seu trabalho era ficar parado na porta, nada mais.
— Mas eu_ — interrompi-o outra vez.
— Mais o que?! — esbravejei. — Por sua causa estamos todos fodidos.
— Nós conseguimos sair de lá, não? Então pronto! — Caleb gritou gesticulando.
Eu apenas acelerei mais, uma vez que estávamos quase entrando na rodovia. — Saímos de lá com um cadáver, caralho! — gritei por cima.
— Eu já entendi isso, porra. — acrescentou. — Agora será que dá para diminuir a velocidade antes que a gente também morra.
Eu mantinha meus olhos no asfalto, mas isso não quer dizer que eu o via bem. — Talvez fosse melhor que isso acontecesse, não acha? — perguntei de forma retórica. — Quem sabe não merecemos, já que atirou em uma vadia por nada.
— Eu não fiz por querer, caralho. E diminui essa merda logo.
— Eu falei para calar a boca! — olhei para ele novamente; eu quase podia sentir o sangue nos meus olhos, tal como se minhas vistas escurecessem.
— Eu não preciso ouvir esse seu discurso, chega. Eu já entendi que fiz merda. — falou baixo, recostando-se no banco.
Tentei regularizar minha respiração ao máximo, mas não conseguia de nenhuma forma, pois cada vez que eu piscava, a cena de minutos atrás vinha a minha mente.
— Você vai contar a ela. — falei firme. Pude ver pelo canto dos olhos que sua feição de choque havia voltado.
— E-eu não vou conseguir, não posso dizer isso a ela. — disse de imediato.
— Você vai. — afirmei. — Vai olhar nos olhos dela e dizer a merda que fez. Dizer que por sua causa, mataram o pai do filho dela.
— Como vou fazer isso? É impossível.
— Não sei, não é problema meu. Não fui eu quem apertou o gatilho. — dei de ombros, retirando o revólver que ainda estava em minha cintura por debaixo da camisa. — Vamos ver como se sente ao contar para ela que você fodeu com a vida da única pessoa que confiava em você.
Isso fora o suficiente para cala-lo o restante do caminho. Minha visão ainda estava turva e apena torcia para que chegássemos a cidade de Davis logo, para me desfazer da placa do carro. Até porque, era uma questão de minutos para que chegassem até nós.
Sadie Sink
Quando abri a porta do banheiro do escritório, eu sentia que meu coração iria sair pela boca. Em minha mente ecoava-se ainda o som do vidro se partindo em mil pedacinhos e principalmente, os três disparos. Minhas pernas ainda estavam um tanto bambas, mas nada comparado a sensação que eu tive quando estava naquele maldito cofre.
Joe e Maya seguiam ao meu lado, enquanto eu estava sendo abraçada na altura dos ombros pelo rapaz. Meus olhos corriam por todo o saguão, observando cada centímetro daquele cenário de guerra que havia se tornado. As mesas estavam bagunçadas, tendo milhares de papéis espalhados; inclusive os que eu trazia de casa, que continuavam largados no chão junto da pasta. Os paramédicos já haviam ido embora, restando apenas os policiais, que conversavam com o segurança da entrada e com o senhor Harbour em um canto.
— Você está bem, senhorita? — perguntou o único homem do prédio todo que disse algo durante o assalto. — Eu queria ter feito algo quando a vi descer do elevador, mas não consegui. — disse enquanto se aproximava de nós.
— Está tudo bem... Oliver. — li o nome em seu crachá, com o sorriso mais falso que já dei em toda minha vida e com isso, ele simplesmente se afastou.
— Vem, vamos pegar suas coisas e sair daqui, pelo amor de Deus. — Maya comentou ao seguir na minha frente até nossas mesas.
Joe desvencilhou seus braços de mim e ficou nos observando. Eu evitava ficar olhando para o lugar, tentando focar apenas em minha bolsa, que estava totalmente aberta e revirada sobre a mesa de Maya.
— Mais que porra. — esbravejei ao olhar dentro e perceber que meu celular e os únicos quinhentos dólares que eu tinha para passar o mês haviam sumido.
— Eles reviraram a bolsa de todas nós. — Maya comentou. — Não era suficiente causar o inferno, tinham que nos roubar também.
Xinguei-me mentalmente de todos os nomes possíveis; se eu soubesse que levariam tudo que eu tinha, teria sido mais cautelosa com minha ideia idiota de pegar algumas notas. Bufei irritada, jogando a bolsa novamente sobre a bagunça e esfregando meu rosto com as mãos. Eu só queria sumir dali e ascender uma droga de cigarro.
— Calma Sadie, vamos resolver isso. Você vai ver. — Joseph disse ao colocar as mãos outra vez sobre meu ombro.
— Resolver como, Joe? Eu não tenho grana nem para cair morta. — respondi-o um tanto rude ao olha-lo nos olhos, o que o fez tirar suas mãos de mim. Obviamente percebi minha atitude, mas eu estava sendo engolida pelo nervosismo. — Desculpe. — falei um pouco mais baixo, pegando minha bolsa e o que restava dos meus pertences; pelo menos em casa eu entraria.
Dei as costas aos dois, que me olhavam um tanto surpresos com minha reação. — Hey! Espere por mim, Sadie. — ouvi a voz de Maya ao fundo, mas eu estava concentrada em apenas sair dali sem escorregar nos estilhaços de vidro devido ao salto. — Me espera. — ela finalmente me alcançou, sendo lógico acompanhada de Keery.
Se antes a rua estiva cheia de carros, agora estava lotada de pessoas curiosas e a imprensa, principalmente na entrada do prédio. Segui para meu carro escutando ao longe algum dos homens fardados e até um repórter me chamando, mas naquele momento eu não queria trocar uma palavra com ninguém, especialmente alguém que me encheria de perguntas.
— Você vai para casa? — ela perguntou assim que me aproximei do Creta.
— Vou, minha cabeça está doendo demais para ficar nessa confusão. — falei indo em direção da porta do motorista.
— Eu vou com você. — sorriu levemente. — E o senhor vai para casa e para de dizer coisas idiotas. — disse virando-se para Joe antes de atravessar a rua.
O rapaz balançou a cabeça negativamente diante disso e deu alguns paços até meu carro, dando algumas batidinhas no vidro do passageiro. Eu estava pronta para dar partida, mas cedi em abrir a janela.
— Se precisar de algo, me ligue. — disse. Não pude evitar um olhar irônico. — Digo, me mande uma mensagem, um e-mail, tanto faz. — corrigiu-se.
— Claro Joe, claro. — falei sem olha-lo e finalmente sai daquele lugar.
(...)
— Quando eu vi, você estava com uma droga de arma nas costas e um caos instaurado. — Maya comentava, sentada em uma das cadeiras da cozinha. — Não sei porquê diabos a Marie teve de abrir a boca e pronto, ai a merda começou mesmo.
— Francamente, eu não conseguia pensar em nada. — suspirei, encostada sobre a pia, esperando que a lasanha congelada ficasse pronta para almoçarmos; ou melhor, ela almoçar, eu não tinha estômago para isso.
— Eu imagino. — ela arregalou os olhos. — Primeiro foi a Marie, depois um deles e eu ali, apenas congelada — negou com a cabeça. — Acho que se fosse eu no seu lugar, quem levaria um tiro seria eu, porque eu não iria conseguir dar um passo.
— Eu só queria que tudo acabasse logo, sabe. — suspirei, cruzando os braços. — Ainda mais por não estar vendo nada do que estava acontecendo. Ele ficava o tempo todo dizendo para não olhar. Foi de longe a pior sensação.
— Nunca imaginei que diria isso, mas... Ainda bem que ele fez isso. — disse com uma voz um tonto sarcástica, como se a atitude do assaltante tivesse sido gloriosa.
— Talvez, mas ainda assim, foi péssimo. — respirei fundo.
— Mas ele não fez nada, certo? Não lhe disse nada? Sadie, se ele_ — interrompi-a, que perguntava tão nervosa quanto Joe.
— Não, nem encostou em mim. — neguei com a cabeça. — É o que te disse, só sabia me mandar fechar os olhos.
— Menos mal. — debruçou a cabeça sobre uma das mãos que estavam apoiadas na mesa.
— Que seja. Eu só queria esquecer isso, e logo. — falei ao finalmente ver a lasanha que estava no formo.
— Vamos mudar de assunto e falar de coisas boas então. — ela se ajeitou na cadeira. — Seu dia está chegando. Já pensou no que fazer? — sorriu para mim, enquanto eu colocava a assadeira sobre o fogão.
— Não, não tive nem tempo de pensar nisso e, francamente, com tudo isso agora, só tenho vontade de ficar em casa e economizar. — dei de ombros. — Além de que, ainda não digeri tudo. Será que estou mesmo viva depois daquilo?
Ela riu. — Sadie, pelo amor de Deus, é seu aniversário, jamais fará vinte e cinco anos de novo.
— Assim como nem vinte dois, vinte três. — revirei os olhos. — Estou sem coragem para fazer qualquer coisa.
— Podemos ao menos sair para beber algo, igual aquele dia. O que acha? — sugeriu.
— E encontrar com o Nicholas naquele bar de novo? Nem pensar. — falei ao pegar os pratos no armário e arrumar a mesa.
— Vai passar o fim de semana em casa então? Sozinha? Vamos fazer algo aqui pelo menos, um bolinho talvez.
— Vou pensar sobre isso.
— Meu Deus, o Joe merece parabéns por lidar com você, como é teimosa. — Maya riu e recebeu um sorriso sarcástico da minha parte.
Dacre Montgomery
O percurso a Davis, que durava em média trinta minutos, eu havia feito em vinte, já que eu acelerava o máximo que podia. Felizmente, Caleb não tinha aberto mais a boca para dizer uma silaba durante o trajeto e eu agradecia a Deus; minha cabeça já estava atordoada demais para suportar isso.
Praticamente invadi a oficina improvisada de Sebastian, o qual obviamente já estava lá a minha espera. Desci do carro, deixando a arma que, até então estava entre minhas pernas no banco, dentro do porta luvas.
— Finalmente, achei que tinha sido pego, Montgomery. — o mais velho disse assim que bati a porta com força.
— Demorei porque voltei para buscar o Charlie, não é.
— Cara, sobre isso... — ele suspirou. — Não tinha o que ser feito. Foram duas balas, e uma delas bem no meio do peito.
— Mas poderiam ter tirado o cara de lá pelo menos e não passado por cima, como se fosse um saco de batata. — retruquei.
— Aih vai começar de novo... — escutei Caleb murmurar atrás de mim, escorado no Jeep. Apenas o olhei fixamente em seus olhos e foi o suficiente para ele desviar os olhos de nós.
— Dacre, você também não fez nada, deu continuidade ao plano. — Sebastian se levantou do caixote de madeira em que estava sentado. — Pronto, já foi. É uma pena, mas não podemos fazer nada.
— Ah que se foda. — virei-me de costas, andando de um lado para o outro.
Minha cabeça ainda estava doendo e não consegui segurar a vontade de fumar, obviamente. Minhas mãos ainda estavam um tanto manchadas de vermelho, mas nessa altura, apenas ignorei. Dei a tragada mais lenta dentre semanas; mas ainda não era o suficiente para diminuir meus batimentos cardíacos.
Sebastian desistiu de falar qualquer coisa e apenas começou a desparafusar a placa do meu carro, no mais profundo silêncio; o qual foi quebrado pelo motor do carro dos outros rapazes. Eles mal haviam estacionado quando Andrew e Jason desceram desceram.
— Como tem coragem de vir para cá depois da merda que fez? Está maluco, garoto? — Andrew avançou sobre Caleb. — Eu poderia bem meter uma bala em você e fazer você ver como é bom.
Tanto eu quanto Sebastian somente observamos. O jovem estava com as mãos em redenção, sendo segurado pela camiseta e com um revólver apontado para seu maxilar.
— Por sua culpa perdemos o Charlie e aqui, a gente não deixa passar essas coisas. — Jason comentou ao se aproximar lentamente, como se torturasse o moleque.
Ri pelo nariz diante daquilo, pois por mais que eu quisesse matar Caleb, com minhas próprias mãos, pela atitude estúpida, eu tinha em mente que já havia o feito se martirizar demais.
— Rapazes, vamos nos acalmar, tudo bem. — Sebastian finalmente disse algo.
— Acalmar? O filho da puta ferrou com tudo. — Jason respondeu de imediato, encarando o homem.
— É, fodeu, mas pode relaxar, seu dinheirinho está aqui. Feliz? — pronunciei, me mantendo no mesmo lugar.
— Você é outro. Seguiu com a merda do plano como se nada tivesse acontecido. — Andrew retrucou. — Então também não tem muita moral para falar nada.
Eu ri de nervoso. — Vocês foram embora e largaram o cara lá, caralho. Não vem com essa para cima de mim. — falei ainda tentando controlar-me. — Eu só não deixei que aquela merda fosse atoa, porra. Ou acha que teria como pedir desculpas e irmos embora ilesos? Acorda, porra! — não pude segurar minha irritabilidade.
O silêncio pairou no ar, como se o que eu tivesse dito tinha feito suas cabeças explodirem, enquanto Caleb parecia soar frio.
— E cadê a merda dessa grana? — Andrew ainda segurava o rapaz.
Joguei a bituca do cigarro ao chão, pisando sobre a mesma e indo devagar até a mochila que estava sobre uma mesa de metal ao fundo da oficina.
— É só isso que importa no fim, não é? — soltei a bolsa no chão em frente aos dois. — Peguem logo essa merda e vazem. Anda, 180 para cada e não se fala mais nisso. — completei.
No mesmo instante, o rapaz de cabelos castanhos e curtos soltou Caleb, empurrando-o bruscamente e o fazendo dar alguns passos para trás. Jason e Andrew atacaram as notas de cem dólares como crianças buscando doces em festa de aniversário. Sebastian observava-os, quase que hipnotizado.
— Troca logo essa placa, preciso ir para casa. — fiz o despertar de seus pensamentos ao bater levemente em seu ombro. Ele apenas olhou-me brevemente e voltou ao trabalho, enquanto eu tomava a responsabilidade de vigiar os dois jovens. — É só cento e oitenta, volta a merda desses duzentos dólares, agora. — falei, quebrando aquele silêncio mórbido.
Pude escutar Jason bufar. Foi só então que Michel saiu de dentro do carro, para obviamente buscar sua parte. No fim, era somente isso que importava: o dinheiro, e não a morte de Charlie ou o incidente com a mulher azarada; era apenas o ganho por passar por aquilo. Algo que, dali para frente, coloquei em mente que preferia, talvez, passar sozinho.
(...)
Assim que abri a porta do apartamento pude voltar a respirar como antes. Deixei o envelope com o dinheiro sobre balcão da cozinha e só então voltei a ligar o telefone.
"Como foi? Estão bem? Tentei ligar várias vezes para o Charlie, mas ele não me atende"; as mensagens de Natalia pipocaram em minha tela, mas não seria agora que eu a responderia.
Fui direto para o banheiro; sentia que era mais que necessário lavar aquela sensação de remorso. Joguei as roupas no chão de qualquer jeito e entrei no chuveiro; a água quente não era um remédio milagroso, mas aliviava até certo ponto o sentimento angustiante que eu tinha.
Eu lavava as mãos com tanta força, que com certeza depois iria senti-las arder, mas eu precisava tirar a evidência de que, querendo ou não, eu tinha sangue nas minhas mãos depois desse roubo, literalmente. Perdi no mínimo quinze minutos embaixo do chuveiro, mas não tinha a menor pressa, uma vez que o pior já havia acontecido e não se tinha o que fazer.
Declarar que, de fato, Charlie estivesse morto não era fácil, porém, tentei manter um pingo de esperança; mas não por mim, eu já havia aceitado isso, mas sim por Natalia. Ainda com os cabelos molhados, sentei-me no sofá da sala, relendo as várias mensagens da possível viúva, a qual parecia desesperada, enquanto ouvia o ruído da chuva forte que caia lá fora.
Até tentei ligar para Caleb, o culpado de me fazer sentir no próprio inferno, mas não fui atendido em nenhuma das quatro ligações. — Agora é só essa que me faltava mesmo. — falei em voz alta comigo mesmo.
Eu poderia ser um cara um tanto frívolo, do caráter mais duvidoso possível, mas não tinha sangue frio o suficiente para dar a Dyer a notícia; não hoje.
Sadie Simk
Eram quase duas da tarde quando Maya foi embora e me deixou sozinha com meus pensamentos, algo que no momento não era minha primeira opção, pois eu sabia que ficaria revivendo aquele inferno. Eu estava a pelo menos meia-hora atualizando a caixa de entrada do meu e-mail, como se alguma notícia fosse surgir e salvar minha vida.
Eu me autoflagelava mentalmente por estar me submetendo àquilo, mas fui interrompida quando escutei a campainha tocar. Levantei devagar do sofá, olhando discretamente pela janela da sala, mas falhei miserável, já que a Sra. Wheeler havia me visto e consequentemente acenou com um sorriso leve nos lábios, impedindo-me de não abrir a porta para ela.
— Merda. — sussurrei para mim mesma, abrindo a porta da frente. — Olá, Sra. Wheeler. — falei, tirando uma simpatia de onde não existia.
— Boa tarde, querida. Eu fiquei sabendo sobre o ocorrido dessa manhã na empresa que você trabalha, não param de passar isso no jornal.
— É, pois é, pegou a todos de surpresa. — suspirei, apoiando uma das mãos na cintura.
— Eu só queria saber se está bem e, também, conversar com você sobre o assunto de mais cedo. Posso entrar? — a mulher de meia idade e cabelos castanhos sorriu levemente, tentando me convencer com seus olhos claros e doces.
— Mesmo? Não poderíamos nos falar outra hora? — não pude disfarçar minha impaciência.
— É que preciso muito falar com você, é importante e estou preocupada. — ela respondeu, cutucando as próprias unhas e assim tirando seu esmalte rosa.
— Entra. — desisti e acabei dando passagem para ela, a qual se sentou um pouco nervosa no sofá de três lugares ali próximo a entrada.
Encostei a porta e sentei na outra ponta do móvel. — Então, o que ia dizer é que ontem tinha uma camionete parada em frente a sua casa, ficaram ali quase a tarde toda eu acho. — respirou fundo. — Eu estava com a Holly na varanda quando um deles desceu e apertou a sua campainha insistentemente e bateu na porta. Pareciam nervosos com algo.
Eu a olhava sem esconder meu olhar de confusão. — E você disse algo? Eles viram você?
— Não, eu entrei em casa com a Holly. Não pareciam muito amigáveis — sorriu nervosa.
Meu corpo estremeceu no mesmo instante, bem como horas atrás na empresa. Karen me olhava um tanto perplexa, já que eu não dizia sequer uma palavra; mas não era para menos, pois eu tentava organizar aquela informação na minha mente, junto de toda a confusão que vinha sendo aquela terça-feira ferrenha.
— Você anotou a placa? Lembra como o cara era? — perguntei, começando a andar de um lado ao outro na sala.
— Não consegui. — ela suspirou. — Eu levei um susto tão grande que travei um pouco, sinto muito. — disse. — Só lembro que ele era alto e o cabelo escuro, mais nada.
A sensação de pânico estava voltando pouco a pouco, eu podia sentir lentamente meu coração acelerar, segundo a segundo, como se eu fosse perder o controle de tudo. E como em um estalo, surgiram aquelas mensagens de número desconhecido em minha mente.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro