Capítulo 10 - Miss Simpatia
31/03/2022 - 05 dias antes do assalto a Conceptum Corporation
Dacre Montgomery
Não passava das duas da tarde e eu estava em frente a casa de Scott, como todas as quintas-feiras. Eu mal havia estacionado o carro e logo ouvi a porta da frente ser aberta bruscamente. - Ele chegou, papai! - escutei a voz fina de Emilly.
Sorri automaticamente. Pude vê-la correr pela frente do carro e parar ao lado da porta do motorista. - Cuidado com a rua. Para a calçada, vai mocinha. - falei ao descer e fechar o carro. Ela apenas riu e voltou para a entrada de casa, sendo acompanhada pelo meu olhar.
Eu logo pude ver Scott parado, na batente da porta, com sua feição apreensiva e os braços cruzados, era notável a reprovação sobre minha presença. Lily passou correndo por ele, entrando em casa; parecia ansiosa com algo. Eu já me arrependia de ter ido no mesmo instante.
- Vieram te procurar hoje. - ele disse assim que cruzei o gramado e estava a poucos passos de distância. Tirei os óculos escuros e espremi os olhos em dúvida. - Você sabe quem.
Aproximei-me um pouco e instintivamente ele recuou. - E daí? Já conversamos sobre isso antes. É só dizer que não me viu desde o incidente do banco. - imitei seu ato de cruzar os braços, revirando os olhos. - Agora se me der licença... - dei alguns passos em sua direção para entrar em casa.
- Não, é melhor não entrar. - disse assim que parei a sua frente. - Enquanto suas merdas ainda afetarem a minha vida e a da minha filha, não quero que venha aqui. - completou.
- Está dizendo que não posso mais ver a Lily? - questionei para ter certeza da besteira que eu estava escutando. Ele apenas assentiu. - Ah não me fode, Scott. - ri nasalado, tentando adivinhar se era mesmo verdade ou só estava me infernizando.
- Não quero mais você aqui e nem próximo dela, está me entendendo? - disse em um tom alto; balancei a cabeça negativamente diante disso. - Resolva suas merdas, bem longe daqui. - pausou brevemente - Ainda bem que a Emilly não viu nada, porque já estava na escola quando eles vieram pela manhã, e entraram, reviraram tudo e me encheram de perguntas. - acrescentou. Eu apenas o encarava. - A sua sorte é que não sei em que merda de lugar você está morando.
Ri ironicamente outra vez. - Caramba, ótimo pai, parabéns. Espera receber um agradecimento? É isso? - perguntei de forma retórica, me afastando um pouco dele; o qual ainda mantinha feições de poucos amigos.
- Some daqui logo e para de me arrumar problemas. - ameaçou dar um passo para trás e fechar a porta.
- Já entendi que não sou bem-vindo, pai. - segurei a porta antes que ele a fechasse. - Mas me proibir de ver a Lily? Já pensou como ela vai ficar?
- Se pensasse nela de fato, não estaria com a corda no pescoço, não é mesmo. - disse entredentes e novamente cogitou fechar a porta.
Segurei a mesma outra vez. - Aprendi tudo com você. - olhei-o nos olhos. Nos encaramos por pelo menos dois minutos, sem dizer uma palavra, apenas observando o sangue no olho um do outro.
- Dacre, você não vai entrar? Estou te esperando, anda! - a voz de Emilly nos fez despertar. A garotinha loira estava parada logo atrás do pai, com um olhar chateado.
- Eu... Eu não vou poder, baixinha. - respondi, olhando-a brevemente. - Surgiu um imprevisto e preciso resolver isso, tudo bem. - completei, dessa vez encarando Scott.
- É, ele teve um imprevisto, querida. - ele disse em um tom irônico. - Assim que ele resolver, virá te ver.
Deixei de encara-lo por alguns segundos, abaixando-me para ficar na altura da garota, que esbarrou bruscamente nele para vir ao meu encontro. Não consegui evitar de aperta-la em meus braços, pois acima de qualquer coisa, nunca me perdoaria se algo a acontecesse ou pior, se um dia soubesse sobre meu pior lado.
- Promete que vai vir para o domingo da Lily? - ela perguntou ainda no abraço.
- Prometo que farei o possível, baixinha. - respondi sabendo que, infelizmente, minha promessa iria por água abaixo.
- Vem Emilly, vamos entrar. Dacre está com pressa. - Scott, que ainda estava ali parado, fez questão de chamar nossa atenção. Soltei-me da garotinha e fiquei de pé novamente, encarando-o.
- Se for possível traga cupcakes no domingo, por favor, Dacre. Você tinha prometido que traria. - Emilly cobrou-me ao voltar para dentro.
Apenas assenti com um leve sorriso para ela, até que a perdi de vista. - Pronto, já viu ela, hora de você ir, e nem pense em aparecer aqui, principalmente sem me avisar. - ele logo disse, antes que eu sequer abrisse a boca.
- Fique tranquilo, Scott, eu faço isso por ela. - coloquei os óculos escuros e dei alguns passos para trás. - Nos vemos no inferno quando tudo isso acabar. - falei antes de lhe dar as costas e voltar para o carro.
Para o homem, eu soltei um sorriso cínico, mas assim que entrei no Jeep, rapidamente minhas feições mudaram. Aquela era uma maldita guerra silenciosa, que eu não aceitaria perder nem em sonho. Não pude deixar de aliviar a raiva ao pisar forte no acelerador e ir em direção da casa da única pessoa que poderia foder com a vida de todos.
(...)
A rua estava quase deserta, era um bairro tranquilo e a única movimentação era de uma ou outra criança brincando nos gramados. Eu jamais havia ido a casa de Caleb antes, tanto que me certifiquei de que eu estava mesmo no endereço certo. Desci do carro, olhando para os lados atentamente, dando uma longa tragada no cigarro.
Coloquei o pequeno embrulho embaixo do braço antes de apagar o tabaco e caminhar até a pequena varanda a frente. Era uma casa aparentemente grande, tinha um balanço de madeira próximo a entrada, o que aponta que provavelmente tenha crianças morando. Toquei a campainha um tanto recesso, planejando alguma resposta caso não fosse o jovem que me atendesse.
E dito e feito. A porta foi aberta por uma garota, um pouco mais velha que Emilly e extremamente parecida com Caleb, se não fosse pelo olhar incisivo; irmã dele talvez.
- O Caleb está? - perguntei finalmente, já que ela não disse uma palavra sequer e apenas me encarou de cima a baixo.
- E quem é você? - continuou com seus olhos grandes e pretos presos em mim; parecia ser persuasiva.
- Sou um amigo do Charlie, ele sabe quem é. - afirmei, arqueando a sobrancelha; jamais diria meu nome aos quatro ventos.
Ela respirou fundo, parecia pensar se valeria a pena comunica-lo da minha presença. Por fim deu de ombros e encostou um pouco a porta. Olhei novamente para os lados, para certificar-me de que ninguém prestava atenção em mim ou na casa.
- Desculpe pela Érica, minha irmã é muito inconveniente as vezes. - voltei a atenção rapidamente a porta ao ouvir a voz do garoto.
- Charlie pediu que eu lhe desse uma coisinha importante para terça-feira. - ignorei seu comentário e logo disse. Ele não escondeu o olhar de surpresa.
- Achei que não me entregariam isso antes. - disse ansioso.
Peguei o embrulho com uma das mãos e fiz menção de que o entregaria. - Mas antes, vai me prometer que não fará merda com isso, principalmente no dia. - olhei-o fixamente. O rapaz apenas assentiu. - Você consegue colocar nessa sua cabecinha que o que vai acontecer é algo importante para caralho e que, apenas um descuido, faz todo mundo ir em cana? - perguntei quase sussurrando as palavras, ao apoiar a minha mão livre no batente da porta.
- Acho que você já me disse isso umas quinhentas vezes. - ele cruzou os braços.
- E ainda assim não é suficiente, não é? - sorri sarcástico, batendo em seu ombro e ele balançou a cabeça negativamente. - Se alguma merda acontecer terça, considere-se morto. - apertei seu ombro, ficando com o rosto mais próximo do dele. - Está me entendo? - questionei-o.
Seus olhos estavam um pouco arregalados com minha atitude e acredito que isso seja bom, pois infelizmente, em minha mente só vinha Natalia e seu nervosismo de ontem. Entreguei o revólver, que estava embrulhado em um saco de papel pardo.
- Estamos. - assentiu, pegando-o com as duas mãos.
- Ótimo. - soltei seu ombro só então. - E seja mais como sua irmã, ela tem a personalidade forte pelo visto. Gostei dela. - sorri sarcástico novamente, já o dando as costas.
02/04/2022 - 03 dias antes do assalto a Conceptum Corporation
Sadie Sink
Joe e eu estávamos sentados no tapete fofo e apeluciado da sala, havíamos afastado a mesa de centro e colocado algumas almofadas para ficar mais aconchegante. Assistíamos "Miss Simpatia 2", quer dizer, eu o assistia pela vigésima vez, mas Joe ria como se fosse a primeira vez que estivesse vendo.
Já se passavam das 22h e o cansaço começava a tomar conta de mim, enquanto ele parecia mais que acordado. Pandora dormia no sofá, ignorando as risadas altas. Nós dividimos uma bacia de pipoca e por mais que o filme já estivesse no fim, eu não queria muito que acabasse e assim, termos que conversar assuntos banais. Eu estava louca para deitar largada na minha cama, com um pijama velho e nada mais.
- Eu poderia rever esse filme para sempre. - Joe disse ao desligar a televisão, deixando que apenas a luz da varanda clareasse o cômodo.
- É, é muito bom. - sorri sem mostrar os dentes, deixando a bacia, agora vazia, em um canto próximo ao sofá.
- Deveríamos fazer isso mais vezes. - comentou ao ajeitar a postura, sentando virado para mim. - Você tinha razão, um filme em casa pode ser melhor que sair. - acrescentou.
- Eu te falei, sei o que é bom. - sorri levemente e apenas virei meu rosto em sua direção.
Encarei-o por alguns segundos, e mesmo que estivesse um pouco escuro, eu ainda podia ver o brilho de seus olhos; os quais estavam presos em mim. Joe se aproximou um pouco mais, sem desviar seu foco, o que fez minha respiração ficar um pouco descompassada, especialmente quando senti sua mão sobre minha coxa direita.
- Sem dúvidas você sabe o que é bom. - notei um pouco de sarcasmo em sua voz, uma vez que ela já estava um pouco mais baixa e bem próxima ao meu rosto. - Senti falta desses nossos encontros. - completou, agora eu já sentia sua respiração.
Eu estava, literalmente, apenas assentindo a tudo, sem dizer uma palavra. Sua mão passou para minha cintura, puxando-me devagar, para que nossos corpos se colassem. Meu instinto fora apenas apoiar minhas mãos em seus ombros, na esperança de que ele entendesse que eu aguardava uma atitude mais brusca e intensa da sua parte; mas não foi isso que aconteceu.
Minha cabeça estava a mil e mesmo que eu não estivesse totalmente no clima para transarmos, eu até poderia cogitar a isso se a atitude dele tivesse sido menos pensada e mais sentida.
Joe apenas me empurrou, lentamente para trás, fazendo com que eu apoiasse minhas costas no tapete fofo. Finalmente soltei um sorriso genuíno naquela noite, aguardava ansiosa para sentir o peso do seu corpo sobre o meu, enquanto me beijasse com desejo como geralmente fazia.
Todavia, dessa vez, nossos lábios não se encontraram e quando colocou suas mãos sobre meu corpo, não senti a energia de antes e nem os arrepios calorosos; algo estava diferente. Eu fazia o máximo para concentrar-me nos seus beijos sobre meu pescoço, mas algo faltava.
Tentei como nunca deixar minha mente calada, para não desviar a atenção para coisas idiotas, porém isso não era suficiente ainda. Passei meus dedos por seus cabelos, puxando-o para encontrar minha boca, mas ele pareceu não compreender meu comando; o que me fez soltar um leve suspiro.
- Está tudo bem? - ele perguntou ao parar os beijos em minha pele.
- Estou. - tentei disfarçar, mas logo desisti. - Só acho que não estou muito no clima. - suspirei novamente.
- Aconteceu alguma coisa? - perguntou ainda debruçado sobre mim.
- Não Joe, não aconteceu nada. Só estou cansada. - respondi, encarando seus olhos, que agora já não brilhavam para mim. - Não estou afim.
Eu até poderia estar sim com vontade, mas no fim, nada colaborava para que aquilo fluísse; era uma sensação de estranhamento. Joseph apenas ficou congelado, ainda sobre mim, tentando entender o que estava acontecendo, já que na última vez que veio em minha casa, eu nem sequer cogitei não transarmos; talvez pense que o erro esteja em si mesmo e agora está chateado, mas acho que é algo além de nós.
- Desculpe cortar assim nossa noite. - declarei quando, finalmente, voltou a sentar-se em seu lugar.
- Está tudo bem, Sadie. - disse com um tom tranquilo, mas não escondendo a frustração totalmente.
Sabia que não tinha sido muito agradável, mas não iria fingir estar contente em seguir em frente. A última vez até tinha sido boa, mas particularmente, não estava a fim de encarar o teto da sala novamente, enquanto ele fazia algo com pressa
Me levantei do chão e logo procurei pelo interruptor da luz próximo a porta. Quando ascendi, pude confirmar suas feições de chateação com o ocorrido. - Desculpe mesmo por isso. - repeti, sentando-me no braço do sofá, enquanto ele ajeitava a roupa no corpo.
- Sadie, você não precisa fazer algo que não quer. - ele disse, dessa vez aproximando-se de mim e erguendo meu rosto para nos olharmos nos olhos. - Deixamos isso para outro dia. - sorriu levemente. - Bom, está tarde, vou deixar você descansar.
Fiquei de pé e até tentei dizer algo como "fique mais um pouco" ou "imagina, está cedo", mas não consegui; meu ato de ir até a porta e abri-la foi automático.
- Podemos ver algo para o próximo fim de semana e fazermos algo legal no seu aniversário. - comentou ao pegar suas chaves e carteira sobre a mesinha de centro.
- Claro, podemos combinar durante a semana. - falei da boca para fora.
- E você quem escolhe, já que é seu dia. - sorriu ao chegar a porta. - Descanse, nos vemos na segunda. Boa noite. - deu um beijo em minha testa, já que eu apoiava meu braço no trinco da porta.
- Boa noite, Joe. - falei ao sorrir levemente. Fiquei parada à porta, observando-o ir até o carro que estava parado em frente de casa.
Assim que saiu, buzinou como um último sinal de despedida e só então fechei a porta, encostando as costas e a cabeça na mesma. Obviamente que tê-lo feito ir embora não era minha ideia inicial, mas talvez tenha sido melhor assim, para ambos. Eu gostava do Joe o suficiente para não querer magoa-lo com falsas esperanças.
Respirei fundo e logo, abri as janelas da sala, afastando as cortinas e conferindo se havia mesmo trancado a porta. Assim, mesmo sabendo que eu deveria parar com isso, fui em direção da última gaveta da cômoda pegar o maço de cigarros que eu escondia de mim mesma; mas dessa vez não o guardei de volta e deixei-o sobre a mesa de cabeceira da cama; eu com certeza iria fumar novamente.
Voltei a sala, apoiando-me sobre o beiral da janela e ascendendo o que um dia me mataria, sem dúvidas. Minha cabeça girava um pouco, me sentia esquisita, tal como se eu não fosse mais... Eu. Era outra Sadie, outra mulher frustrada, outra pessoa magoada.
Eu me perguntava ininterruptamente se estava ficando louca ou se algo de muito errado estava acontecendo. Em outros dias, jamais teria mandado Joe embora ou acharia ruim conversar com ele. Tentei me convencer de que eram tempos difíceis e logo eu seria mais receptiva, recíproca e mais verdadeira comigo mesma.
Traguei o cigarro com mais vontade, sentindo o leve sabor de menta invadir minha boca e, de alguma forma misteriosa apagar meus pensamentos idiotas; eu jurava que isso era quase como um remédio milagroso.
A quietude da rua, e agora da minha mente, traziam-me uma sensação de conforto, como um abraço caloroso. Era apenas eu, a fumaça e a noite um pouco estrelada; em um tipo de paraíso inventado por mim mesma.
Acabei me desfazendo do cigarro alguns minutos depois, o descartando no cinzeiro de vidro um pouco antigo, que até então apenas decorava a prateleira com fotos na sala. Fechei a janela e as cortinas e antes de apagar a luz e ir me deitar, sentei ao lado de Pandora, a qual continuava dormindo tranquila. Debrucei-me sobre ela, prendendo-a contra o sofá e eu, apoiando minha cabeça em seu pescoço peludo.
- Será que estou mesmo ficando louca? Eu não devia tê-lo mandado embora daquela forma, não é? - perguntei a min mesma. Pude ouvir um suspiro baixo vindo da cachorra como se respondesse. - Tudo bem, vou deixá-la em paz.
03/04/2022 - 02 dias antes do assalto a Conceptum Corporation
Dacre Montgomery
Provavelmente eu me arrependeria de tudo que faria daqui para frente, desde qualquer decisão importante ou alguma coisa idiota que pensei em fazer depois de beber várias doses de whisky.
O bar estava bem movimentado, afinal era uma da manhã de um domingo, o que significava que qualquer pessoa ali estava tão inquieta quanto eu no momento, buscando por um alívio emocional talvez.
Optei por não sentar em nenhuma mesa, então apenas observava as garotas dançando como se o mundo fosse acabar, enquanto dava generosos goles na dose de whisky. A música era totalmente desconhecida por mim, afinal era um maldito bar brasileiro que eu detestava e só estava lá na esperança de ver uma única pessoa em específico, mas ela não estava lá. Talvez fosse por estar um tanto fresco ou simplesmente porque estava cansada de ver gente e preferia apenas ficar em casa.
Diferente das moças ali, que quase derrubavam os copos no chão por estarem balançando o corpo no ritmo da música, acredito que a ruiva não faria isso; no mínimo ficaria observando e rindo da situação um tanto constrangedora das pessoas.
- Não sabia que gostava de bares movimentados assim. - fui desperto dos meus pensamentos ao escutar uma voz familiar atrás de mim.
Virei brevemente, logo reconhecendo Gaten ali, debruçado sobre o balcão que eu estava recostado. - Que estranho, não sabia que vinha para barzinho de mulherzinha. - comentei brincando, arrancando uma risada dele.
Só então fiquei de costas para as garotas, que ainda dançavam empolgadas e nos cumprimentamos. O rapaz estava praticamente da mesma forma de quando havíamos nos visto no começo do ano: o cabelo escuro um pouco grande, a pele um pouco pálida e um pouco gordinho.
- Como vão indo as coisas? Fiquei sabendo que está com alguns projetos em andamento. - disse dando um gole em sua cerveja.
- Andou conversando com o Charlie, é? - perguntei e ele deu de ombros. - Estamos planejando uma coisinha nas últimas semanas, talvez dê certo.
- Ele tinha me contado, mas eu pulei fora, não estou afim de dividir cela com vocês, obrigado. - ironizou.
- Bom, você não quis e ele colocou um moleque no seu lugar. - balancei a cabeça negativamente. - Inacreditável. O cara está completamente fodido e ainda decide confiar em um menino de dezenove anos. É de foder.
- É o da rua Mayfield, não é? Eu conheço ele. - rui irônico. - O filho da puta tentou levar minha carteira no ano retrasado.
Foi inevitável não rir. - Também, com essa sua cara de playboy é difícil te defender. - dei uma leve batida em seu rosto, o que obviamente foi para provoca-lo. No fim, apenas apoiei os cotovelos sobre o balcão e bebi mais um pouco do destilado.
- Vai se ferrar. - pausou brevemente. - Mas dá uma chance, ele só é esquentadinho demais, mas isso você também é. - bateu em meu ombro.
- Você e o Charlie confiam muito nas pessoas.
- Confiamos em você. - ele deu de ombros como se aquilo fosse óbvio.
- Hey, posso acompanhar você? - uma voz feminina nos interrompeu e logo senti uma mão em meu braço direito.
Apenas desviei a atenção brevemente para a garota, parada ao meu lado, com um sorriso tão sacana quantos as suas intenções provavelmente. Perdi alguns segundos apenas encarando suas feições, especialmente os olhos castanhos, os quais eram um tanto mórbidos.
Gaten simplesmente se aproximou um pouco de mim e bateu em ombro como antes. - Depois me conte como foi. - disse quase sussurrando, referindo-se ao assalto da terça-feira.
- E então, moço? - ela insistiu, subindo sua mão do braço para meu ombro e dando mais um passo em minha direção.
- Whisky? - perguntei, insinuando o copo em minha mão.
A loira, com as pontas do cabelo cor de rosa, apenas sorriu como sinal de afirmação. Definitivamente não era a mulher mais interessante do lugar, mas era tão bonita quanto e isso bastava no momento.
(...)
Ela estava praticamente muda, mesmo depois de termos tomado duas doses juntos e tê-la visto dançar duas ou três músicas olhando diretamente para mim. A garota não havia dito seu nome e muito menos perguntado o meu, o que para mim era ótimo, pois me poupava de muita coisa.
Durante todo o percurso até aquela rua escura e completamente deserta, a loira não havia feito nenhuma pergunta ou questionamento sobre onde íamos, o que geralmente não me incomodava, já que fora ela quem insinuou o interesse de sairmos do bar; porém, isso perdia um pouco a graça do flerte ao meu ver.
Seu silêncio eterno, enquanto o único som era de nossos corpos se chocando, não ajudavam em nada para minha concentração absoluta no sexo. Mesmo que o cenário fosse de longe excitante, por conta do risco de sermos pegos em flagrante, e eu ter uma das visões mais privilegiadas de seu corpo, onde seus cotovelos estavam apoiados no banco do passageiro e os pés no chão, fazendo seu quadril elevar-se e me dando uma passagem livre para, literalmente, empurra-la.
A sua falta de entusiasmo me fazia pensar em muitas coisas, mas menos em quanto aquilo poderia ser realmente bom em outras circunstâncias. Eu tentava não desgrudar as mãos da sua cintura e meus olhos de suas costas nuas, mas isso não era suficiente.
Involuntariamente, olhei para o assoalho do carro, onde sua bolsa, aberta, estava; só havia seu telefone, uma carteira de identidade, chaves e a camisinha, que agora já não estava lá. Não pude evitar um suspiro diante disso, pois, por mais que fosse extremamente sexy a calcinha vermelha rendada, agora na altura de seus joelhos, percebi que tudo não passava de um joguinho premeditado.
Tentei voltar a atenção ao seu corpo novamente, mas não adiantava mais, todo meu interesse havia acabado. Soltei as mãos de sua cintura devagar, saindo de dentro de si com a mesma lentidão.
- O que foi? - disse algo pela primeira vez desde que saímos do bar, virando o rosto em minha direção, sem sair de sua posição.
- É melhor irmos. - falei, erguendo a calça e a cueca de uma só vez.
- Foi algo que eu fiz? - perguntou, agora virando-se para mim e sentando no banco. - Parece tão tenso. Está tudo bem?
Ignorei suas perguntas. - Se vista, vou te levar de volta. - falei ao afastar-me um pouco e encostar no carro, ascendendo mais um cigarro da noite.
A moça loira ficou de pé e ajeitou as roupas ao corpo sem enrolar muito, mas claro, sem dizer nada. Eu recusei olha-la a se vestir, já não valia mais a pena; todavia eu podia sentir seus olhos sobre mim, principalmente quando vestiu a calcinha devagar. Apenas ri pelo nariz diante daquilo, pois chegava a ser cômico. Minha atenção estava no céu com pouquíssimas estrelas e meus pensamentos oscilavam entre o assalto e a transa fracassada.
- Podíamos ir para minha casa ou para sua, se preferir. - comentou ao dar alguns passos e parar ao meu lado.
- Eu não vou a casa de ninguém, querida, e ninguém a minha. - olhei em seus olhos brevemente. - E eu acho melhor não, você deve estar cansada. - soltei a fumaça do cigarro lentamente sem evitar de ser irônico.
- Pelo contrário... - sorriu de lado ao tomar das minhas mãos o cigarro. - Estou mais que pronta. - acrescentou.
Ri novamente sem lhe mostrar os dentes. - Não tenho dúvidas, mas é melhor irmos. - respondi. Ela apenas deu de ombros e depois de tragar o cigarro, cogitou devolvê-lo, mas apenas lhe dei as coisas e fui para o outro lado do carro. - Entra.
Pude vê-la descartar o cigarro e sentar-se no banco do carona, calada para variar. Então me limitei a dar partida no carro e ligar o rádio na primeira estação que estivesse pegando, deixando um volume alto suficiente para que ela não ouvisse meus pensamentos; Supermassive Black hole, do Muse. Pronto, era suficiente para eu me queixar para mim mesmo e não ser escutado.
Dirigi o mais depressa que pude, para assim esquecer o grande desastre dessa noite. Seu silêncio, sua bolsa praticamente vazia, lingerie provocante e sua forma de aceitar qualquer coisa que eu propusesse; certificaram não fui eu quem aceitei sair com ela, mas ela que queria sair de qualquer forma com alguém. Eu não havia ganhado nada no fim, apenas um boquete aceitável e um sexo completamente sem emoção.
Ela até me deixou surpreso ao sugerir que fosse a sua casa, mas no entanto, isso era algo que eu negava até às melhores transas de uma noite; eu não entrava na intimidade da vida delas e nem elas na minha. Jamais arriscaria tanto por um prazer tão momentâneo como esse. Ainda mais para uma mulher que fosse tão calada e sem graça quanto a loirinha: a simpatia em pessoa, presa na oitava série com o cabelo cor de rosa e saia de couro em uma temperatura de 13"C.
(...)
Sadie Sink
Já se passavam das nove quando acordei e me deparei com as chamadas perdidas de minha mãe. Logo, antes que eu verificasse qualquer mensagem ou post insignificante no Instagram, decidi retornar a ligação ainda deitada na cama.
Ela não demorou muito para atender. - Finalmente, estava preocupada já. Bom dia.
- Bom dia, mãe. O que aconteceu? Está tudo bem? - perguntei, esfregando os olhos para então despertar de fato.
- Um rapaz ligou para cá umas duas vezes atrás de você, achei que fosse importante, até porque ele tinha o telefone daqui de casa. - ela disse em um tom sugestivo, mas ignorei isso.
- Que rapaz, mãe? - perguntei confusa. - Eu não passei seu telefone para ninguém.
- Ah eu não sei, mas parecia ser algo urgente. - comentou. - Andou finalmente conhecendo alguém interessante, é?
- Esquece isso, Lori, por favor. Não estou conhecendo ninguém. - ri de seu jeito, mentindo para a mesma obviamente. - E como estão as coisas por aí?
- Tudo bem, estamos com saudades de você. Quando virá para Fresno de novo?
- Talvez no próximo fim de semana, talvez mês que vem. Estou com muita coisa para resolver ultimamente. - respondi, disfarçando a tristeza que me batia só de pensar nos problemas.
- Querida, semana que vem é seu aniversário, deveria vir para casa para comemorarmos e_ - dizia, mas aparentemente foi interrompida por um barulho de conversa e risadas, provavelmente vindas de meus irmãos.
- Mãe, não prometo nada.
- Você tem que vir, cabeça de fogo, o Spencer arrumou finalmente uma namorada que sabe contar até dez e você precisa conhecê-la! - imediatamente reconheci a voz de Mitchell.
- Vai se ferrar, garoto, me erra. - ouvi ao longo a voz de Spencer e mais risadas vindas de Mitchell.
Ri de seu comentário. - Idiota, vou ver o que posso fazer. - respondi, balançando a cabeça negativamente.
- Pare com isso, me deixe terminar de falar com sua irmã. - escutei minha mãe bem ao fundo. - Mitchell adora uma gracinha, sabe como é. - disse, voltando a nossa conversa. - Mas de qualquer modo, pense nisso, Sadie. Seu pai está mandando um abraço, aliás.
- Mande um abraço para ele também. - sorri, mesmo que ela não fosse ver. - Bom, farei o possível para ver vocês. Prometo.
- Bom mesmo, mocinha. - pausou brevemente. - Vou precisar desligar, a Jacey está me gritando. Juízo.
- Tchau, mãe. - falei por fim antes de desligar o telefone.
Por mais que tivesse sido uma conversa breve, já tinha animado meu domingo. Eu sentia falta da vida com meus irmãos, em uma casa grande e aconchegante; era uma lembrança boa quando pensava nisso. Tanto que eu ainda sorria levemente enquanto via todas as notificações perdidas.
"Nicholas disse que você pode resolver nosso probleminha. E então, quando pode nos pagar, hein?". Meu sorriso sumiu no mesmo instante; não adiantava o que eu fizesse, alguma coisa sempre me puxava para essa realidade infernal que eu vivia.
Optei por bloquear pela milésima vez o número desconhecido e ligar para Nicholas naquele instante, mesmo que contra a minha vontade. Por sorte, ele atendeu nós primeiros toques e não deixei que dissesse nada.
- Que probleminha é esse que eu posso resolver, hein? Você quer foder com a minha vida mesmo, não é? - falei depressa.
- Bom dia, Sadie. Como está? - cumprimentou-me irônico.
Revirei os olhos, ficando de pé devido o nervosismo. - Quem são esses caras? Que porra de problema é esse e por que passou meu número para eles, caramba?! - caminhei pelo quarto.
- Não é nada, eu estou resolvendo isso também, não se preocupe. - respondeu. - Prometo que logo eles não irão mais te incomodar e aí poderemos conversar com calma sobre tudo isso.
- Foi você, não é? - questionei. - Foi você que passou o número da casa dos meus pais para eles.
- Do que está falando? Por que eu faria isso? - defendeu-se.
- É melhor você resolver essa merda logo, já estou cansada disso. - desliguei o telefone, jogando-o sobre a cama. Em menos de cinco minutos, Nicholas havia conseguido acabar com meu domingo, bem como estava fazendo com minha vida.
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