Capítulo Quatro
Sarah acordou com uma luz forte sendo apontada para seu rosto. Ela gemeu, levando o braço dormente ao olhos, para cobri-los da luz. A cabeça doía, e os pensamentos estavam embaralhados. Ela fez força para se lembrar do que acontecera... e se arrependeu no mesmo momento.
Johanna estava morta.
A frase veio-lhe com a força de um soco. E depois, tudo começou a voltar. O carteiro. O filme. A noite repleta de pesadelos... até a manhã, naquele momento, onde encontrara Johanna morta dentro do guarda-roupa. E depois seu próprio grito, ela vomitando as tripas, e a escuridão.
Como? Quem fizera aquilo? Por que não a mataram também? O que acontecera? Sarah sussurrou o nome da mulher mais velha, antes de um soluço escapar-lhe por entre os lábios. Ela sentou-se, e viu que estava em um quarto branco, sem decorações e com cheiro de remédio.
Ela percebeu que usava uma camisola branca, e que não fedia a vômito nem a sangue. Alguém a limpara enquanto dormia, percebeu. Sentiu algo incômodo em seu braço, e viu que havia uma intravenosa ali, que lhe dava soro direto na veia. Irritada com aquilo, Sarah limpou as lágrimas e esticou a outra mão para arrancar a agulha de si.
– Não, não, menina, não faça isso! – uma enfermeira entrou no quarto, naquele momento. Ela se aproximou, e empurrou a garota de volta para a posição deitada, antes de conferir os aparelhos que bipavam seus batimentos cardíacos.
– Quero ir para casa – falou Sarah.
– Você sofreu um trauma e tanto... – a mulher vestida de branco murmurou, com pena. – Pobrezinha, deve estar confusa. Do que se lembra?
– De tudo – Sarah disse, seca, e depois estremeceu. Aquelas imagens estariam com ela para sempre. Teria pesadelos violentos assim que adormecesse. Por isso, precisava manter os olhos abertos, mesmo que se sentisse exausta, tanto física quanto emocionalmente.
– Vou chamar o médico; não retire a agulha – a enfermeira avisou e saiu, deixando a mais nova com seus próprios pensamentos.
Sarah evitou pensar enquanto esteve sozinha. Queria ir para casa, mas ao mesmo tempo não queria ficar sozinha. Os pais estavam muito longe para chegar no mesmo dia. Na próxima manhã, talvez. Mas, até lá, ficaria sozinha, isto é, se a deixassem ir embora. Obviamente, apenas depois de prestar depoimento à polícia, já que houvera um homicídio em sua casa e ela era a única testemunha.
– Você deve ser Sarah, certo? – um homem loiro, de não mais trinta anos, entrou em seu quarto. Ele tinha um rosto belo, com traços marcantes e olhos esverdeados. Usava um jaleco branco e trazia consigo uma prancheta.
– Isso – ela respondeu, a voz ficando roupa de repente.
– Do que se lembra? – a mesma pergunta da enfermeira. Provavelmente, ele queria ter certeza de que ela não mentia.
– De tudo – Sarah falou, séria, encarando-o nos olhos. Por mais que não quisesse pensar, eles a obrigariam a fazê-lo. A obrigariam a reviver cada momento desde ontem à noite.
– Certo... – ele anotou algo na prancheta. – Meu nome é John, e poderei dar-te alta assim que a polícia criminal te interrogar.
Ela não respondeu, e continuou em silêncio enquanto o médico media-lhe os batimentos cardíacos e a pressão. Depois, ele saiu, deixando-a sozinha. Foi-lhe avisado que os investigadores teriam uma rápida conversa com o médico, para saber o que podiam perguntar a Sarah e o que deveriam esperar para indagar, pois a garota ainda estava frágil devido aos acontecimentos recentes.
Sarah tinha os olhos fechados quando alguém entrou no quarto. Ela piscou, abrindo-os, e se deparou com uma mulher loira, de estatura média. Ela tinha um sorriso gentil nos lábios, embora houvesse muita determinação em seus olhos azuis.
– Olá, Sarah – a mulher disse, a voz suave. Não haviam acusações em seu olhar, mas a garota mais nova podia ver as engrenagens trabalhando dentro da cabeça da loira. – Meu nome é Eva, e, se não se importar, eu gostaria de lhe fazer algumas perguntas.
Sarah deu de ombros. Que opção tinha?
– Não vou perguntar-lhe do que se lembra, pois acho que já está farta dessa pergunta – Eva piscou com cumplicidade.
Um sorrisinho hesitante se abriu no rosto da menina.
– Você lembra de tudo, certo, mas entende o que aconteceu? – uma pergunta profissional. Apenas uma investigadora criminal interrogando a suspeita.
– Entendo que Johanna morreu – Sarah sussurrou, os olhos já se enchendo d'água. Não adiantava fingir que não sabia o que acontecera; ela sabia, bem até demais. – O corpo... o corpo dela estava dentro do meu guarda-roupa. – Ela disse as palavras sem gaguejar, sem tremer, mas cada coisa que saia de sua boca a enterrava mais fundo num buraco, o qual não conseguiria sair tão cedo.
– Sinto muito por isso – Eva se aproximou, tocando a mão da mais nova.
– Só... continue com as perguntas – Sarah não queria a pena dela. Não queria a pena de ninguém. Não queria relembrar o que acontecera. Não queria.
– Está bem. Você, por acaso, lembra de algo estranho ter acontecido ontem? Pessoas suspeitas entrando no prédio, ou algo assim?
– Tinha aquele carteiro estranho... – murmurou Sarah, mais para si que para a investigadora. – Eu não havia encomendado nada, e o porteiro o deixou subir mesmo assim. Ele agia de forma estranha. Seus olhos era vermelhos.
– Certeza, Sarah? E o que esse carteiro lhe entregou? – ou Eva não escutara a parte dos "olhos vermelhos", ou ignorara.
– Um DVD de terror. Crianças Assassinas. Eu achei que era uma brincadeira dos meus amigos; eles sabem que morro de medo de filmes de terror.
– Ele entregou-lhe apenas isso? – Eva pressionou.
– Só isso! E depois os olhos dele ficaram vermelhos!
– Sarah, isso é impossível. Os olhos das pessoas não podem ficar vermelhos – respondeu, com cautela, a investigadora.
– Mas os dele ficaram! Eu juro! Não estou mentindo, droga! Não estou mentindo! – o pânico ameaçava domina-la. Sarah não queria mais responder perguntas. Queria apenas seus pais. Queria abraçar sua mãe e chorar no colo dela, como fizera na primeira vez que um garoto terminara com ela. Queria ir para casa e esquecer o que havia acontecido. Queria fazer qualquer coisa, menos relembrar o que havia acontecido.
– Calma, Sarah, calma! – Eva se afastou, antes de falar alguma coisa para seu celular, que provavelmente estivera gravando toda a conversa.
– Eu não quero mais falar nisso – a menina murmurou, abraçando os joelhos e soluçando.
– Tudo bem, tudo bem. Shhh, fique calma. Vou chamar a enfermeira, ok? – Eva recava a medida que falava, até sua mão estar na maçaneta da porta.
– Eu quero minha mãe.
– Eles já devem ter avisado seus pais, Sarah – Eva falou. – Eles devem estar voltando. Vai vê-los assim que possível.
A mais nova não se deu o trabalho de responder. Alguns segundos depois, a investigadora saiu, e seu choro virou o único ruído do cômodo.
***
Capítulo longo, pra todo mundo ter o que ler até fim de semana que vem kkkkk é provável que eu vá postar capítulos apenas nos fins de semana, porque nos dias úteis mal tenho tempo pra escrever os capítulos, então espero que entendam.
Mas então, quem está gostando levanta a mãoooo! O/ alguma observação a fazer, ou está legal? Tipo, parece uma história de terror/suspense ou coisa assim?
Ah, e não se esqueçam de votar/comentar, tudo isso incentiva!
Bjs!
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