Capítulo 7
Ponto de Vista Anabeth Snape
Secretamente, acho que Max não devia ter feito aquela cena toda no dia mais importante do ano pra mamãe, afinal, se ele queria falar sobre o assunto podia fazer como eu faço. Escrevendo cartas.
Mas me deixa triste ver meu irmão sofrendo, assim como ainda estou processando ser um bebe encomendado pelo mal. Eu entendo que os planos de Voldemort não foram finalizados e ele nunca vai conseguir o que quer, mas é estranho exatamente pelo que Noah disse, que eu não sirvo nem para o que eu fui criada.
Se ao menos eu pudesse falar com Adam... Mas ele está lá esperando as aulas voltarem e eu ter novidades sobre sua "talvez" mãe.
- Oi, ratinha. Posso entrar?
- Entra.
Draco fecha a porta atrás dele e puxa a cadeira da escrivaninha até perto da cama onde eu estou.
- Ainda estão brigando?
- Não, acho que estão bem. E como você está?
- Meio confusa, mas bem.
- Isso é bom, sabe. Sua mãe passou por muita coisa para te manter viva, ela ter escondido isso de vocês foi só pra te proteger.
- Eu sei, não estou brava com ela. Acho que é diferente para Max.
- Como está a escola? Soube que está namorando um garoto.
- Nossa, meu pai é muito fofoqueiro. Mas é... estou com o Adam.
- Te trata bem.
- Sim, inclusive, eu queria falar com você sobre ele.
Draco assente lentamente e cruza os braços na frente do corpo.
- Vou ter que bater em alguém?
- Não – eu rio, mas logo o ambiente volta a ficar sério – bem, em resumo, Adam foi adotado e ele tem uma foto da sua ex namorada com ele, acha que é a mãe biológica, Eu estou com medo dele ser mesmo filho dela.
- A foto tem uma frase atras?
- Com sua letra.
Draco se inclina para trás e respira bem fundo antes de continuar.
- Vinette foi uma das mulheres que aceito se casar e ter um filho com um dos comensais, no caso eu.
- Ah não – o pensamento me enoja e sinto que vou vomitar – Adam é meu sobrinho.
- Não – Draco riu alto e cheio de um humor que eu não entendi – era para ser mas, meu pai fez uma coisa ruim com ela. A estuprou e fecundou.
- O papai?
- Não. Anabeth, pensa um pouco.
- Lucius Malfoy.
- Exatamente. Ela gerou o filho dele, mas quando a criança nasceu, ela não pode ficar com ele, era doloroso demais.
- Sabe onde ela está agora?
- Não, tentou ser auror, mas não passou no teste psicológico. As coisas que aconteceram com ela e o que ela fez depois, destruíram muito da bondade dela.
- Por isso vocês terminaram?
- Ela se tornou uma justiceira, não era certo. Ia contra o que eu acreditava.
- humm.
- Os pais adotivos dele são ruins?
- Não, só comuns e trouxas. Ele quer conhecer os pais biológicos, mas não sei como vou dizer a ele que, além de um bebê encomendado da lenda, ele também foi fruto de um estupro.
- Eu poderia falar a você que não precisa dizer a ele, apenas que não sabe de nada e viver a vida feliz. Mas acabamos de ver que segredos sempre são revelados.
- Tem razão. Adam é forte e tem a mente equilibrada, ele vai entender e separar as coisas bem.
- Você pensou em ficar com ele?
- Eu queria, mas não poderia fazer isso com Vinette, ela nem quis olhar para ele.
- Ele tem albinismo.
- Eu sei.
- Acha que isso é uma maldição? Quer dizer, eu sou assim, ele é albino, Noah sofre abusos em casa e Maximus não consegue ter paz sendo quem é. Parece que nós, bebes encomendados, temos uma maldição.
- E os outros?
- Que outros?
- Todas as outras pessoas, com seus problemas, limitações e sofrimentos. Não são amaldiçoados por serem encomendados por um homem mau. São humanos e a vida é assim, Anabeth.
- Você é um ótimo irmão mais velho, sabia?
- Eu tenho me esforçado.
- Agora é melhor você dormir, para esquecer um pouco as coisas.
- Não vai me colocar na cama.
- Ah eu vou sim.
Draco arrasta mais a cadeira e me faz deitar, ainda é muito cedo pra dormir, mas eu deixo que ele me cubra, então ele me beija na testa e de alguma forma, eu sei que ele também observou meus pais durante muito tempo.
- Amo você, ratinha.
- Também te amo.
Ele sai e apaga a luz, mas deixa a porta entreaberta para que entre luz do corredor. Eu não tenho mais medo do escuro a muito tempo, na verde, agora temos portas abertas porque sei que qualquer um pode entrar.
Figurativamente, é claro.
Como eu abri a porta para Adam e o seu jeito doce e preocupado, mas Noah insiste em forçar, por mais que eu o segure do lado de fora, eu sinto que não vou aguentar muito bem.
Me viro de lado e abraço a coelhinha, a neve cai fininha do lado de fora e fico pensando nos campos de chá cobertos de gelo que vi do telhado de Noah. Minha mãe morreria se soubesse o que aconteceu, mas eu me senti tão normal, mesmo quando quase caí, embora eu ache que mesmo pessoas sem deficiência não devam fazer isso.
***
Arrasto o carrinho escada abaixo porque sei que passarei o dia em casa, afinal, nevou a noite toda e não vai dar para sair de casa por dias.
Ao chegar na escada sinto um cheiro que eu amo, canela. Os sons também são diferentes, as vozes parecem mais baixas e leves do que no dia anterior, mas quando chego na cozinha todos se calam e olham para mim.
- O que eu fiz?
- Como se sente? – mamãe pergunta preocupada, sempre sinto isso na sua voz.
- Bem, com fome, ontem não pude terminar o jantar – ela sorri e me aproximo da mesa.
Então são colocados vários biscoitos de canela na minha frente, parecem bons então eu apanho vários dele.
- Parece cansado, pai. É melhor pegar mais uma xícara de café – Draco serve antes mesmo se uma resposta.
- É, eu não dormi nada essa noite.
- Porque estavam brigando – resmunguei.
- Não estávamos brigando. Fiz amor com a sua mãe a noite toda e não me envergonho disso.
- Que nojo – Maximus quase cospe o monte de presunto que tem em sua boca.
- Mas a Angie parece bem.
- Eu sou ótima em ficar parada.
- Mãe – eu grito – nos poupe dos detalhes.
Mas ela sorri de um jeito novo pro papai, muito parecido em como Adam sorri para mim. Por isso sei que Noah está mentindo, Adam gosta de mim pelo que eu sou, definitivamente, não pela minha deficiência.
Eu como tantos daqueles biscoitos de canela que quase passo mal, como eu esperava, mal da para abrir a porta de tanta neve, eu apenas me aninho no sofá e observo pela janela Draco e Max limparem a entrada com uma pá de gelo. Nessas horas, eu adoro ser eu.
Papai está dormindo no outro sofá e mamãe tenta se aquecer na lareira, quando desiste, percebe que o único lugar que a manterá segura é nos braços do papai.
Acho lindo quando ela entra sob a manta quente e ele, mesmo sonolento, a abraça.
Eu quero isso com Noah.
Adam!
Quero isso com Adam.
Me sinto tão culpada por meus pensamentos.
Quando Maximus entra em casa, com o nariz vermelho e o rosto pálido, resolvo que encher o saco do meu irmão é tudo o que eu preciso para completar o meu Natal.
- Não façam barulho, deixem que durmam – Draco avisa da ponta da escada.
- É você quem está gritando – eu rio.
Sei que ele vai para cozinhar concertar as receitas da mamãe para o almoço. Atravesso o corredor e paro na porta.
- Oi, bundão.
- Oi, nojenta. O que está fazendo?
Eu cruzo o quarto e me jogo na sua cama, é muito mais dura que a minha.
- Pensei em vir aqui conversar. E você?
- Vou tomar banho, antes que Draco acabe com a água quente – ele abre a porta e entra em seu banheiro, não demoro a ouvir o chuveiro ligando - você falou com a mamãe sobre ontem?
- Vou escrever a ela me desculpando quando chegar na escola – preciso falar mais alto para que ele ouça – o que vocês conversaram?
- Bem, ela disse que minha mãe era legal e que ela ficaria feliz em saber que eles me adotaram.
- Até eu fico feliz por terem te adotado. Draco sabe sobre Adam?
- É irmão dele, quer dizer. É filho do homem que ele achava que era pai dele. E da ex dele também.
- Eu não entendi nada.
Eu rio e olho o teto. Realmente parece muito complicado, mas ao mesmo tempo simples.
- O que importa é que não somos parentes e Adam tem bons pais que o amam, não vai ligar para essa história todo, acho que, assim como você, ele só quer respostas.
- Saber porque fiquei órfão não ajudou em nada, acha mesmo que vai ajuda-lo?
- E o que ajudou?
- Nossos pais e Draco, obviamente.
- Ele é legal, acho que se ele e Vinette ficassem com Adam ao invés de abandonar, ainda seriam uma família.
- E você teria crescido com Adam sendo seu sobrinho, mesmo que sem laço de sangue.
- Tem razão, já mudei de ideia. Percebe como as coisas são perfeitas como são? Quer dizer – eu me viro de bruços na cama para olhar para Max que está entre o banheiro e a porta enrolado em um roupão felpudo – se algo tivesse sido diferente na vida dos nossos pais, eu e você não estaríamos aqui agora, talvez nem tivéssemos nascidos.
- Estou pensando nisso agora. Não sei como meus pais biológicos podiam ser como pais, mas eu ainda prefiro ser um Snape.
Ele se deita na cama e tudo parece igual a quando éramos pequenos e mamãe nos juntava para se sentir segura em fazer suas tarefas, me viro de frente para ele.
- Tem medo dos nossos pais se separarem? – eu pergunto.
- Sim, mas acho que agora eles não estão. Eu percebia um peso enorme nos ombros da mamãe, sempre achei que ela só estivesse sobrecarregada, mas hoje de manhã ela estava até mais reta.
- O papai deve ter estalado as juntas dela todas.
- Credo – ele me empurra no ombro – eu estou falando sério.
- As vezes, você muito inteligente, Maximus.
- Diferente do Noah, ele não precisava nos contar sobre isso, parece que queria causar discórdia.
- É.. – resmungo, na verdade, eu entendo Noah, ele estava se sentindo sozinho e com raiva, queria dividir isso com alguém, ainda que tenha escolhido um péssimo jeito de fazer isso.
Eu fecho os olhos porque não suporto aquele sorriso convencido dele, mas estou feliz com o que ele disse, porque parece verdade. Apesar de tudo o que rolou na noite anterior, se resolveu como deveria e mamãe está bem. Nós estamos bem.
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