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Capítulo 2

Espero que estejam comentando


Ponto de Vista Adam White

- Página trinta e dois – o professor entra na sala sem nem dar bom dia ou perguntar como passamos as férias.

Não abro o livro em questão, já decorei toda a matéria durante as férias, história da magia não era assim tão difícil, eram basicamente datas de batalhas e burocracias implementadas. Uso o tempo de leitura para observar a foto no meu caderno.

Uma mulher bonita, mas muito, muito jovem. Talvez nem tivesse a minha idade quando a fotografia foi tirada, mas estava grávida, na proa de um navio de passageiros. Sem movimento, apenas uma foto estática.

A foto está gasta, com os cantos amassados e dobrados, algumas manchinhas começam a se formar, meu coração dói com a possibilidade de um dia, não conseguir mais ver aquele rosto.

Viro a fotografia e leio as palavras atrás, a grafia tipicamente masculina, sem nome ou assinatura, apenas.

"Você é especial, um dia vai entender tudo"

Porra, eu nem entendo o que isso quer dizer.

- Senhor White – o professor fala alto chamando minha atenção – creio que eu disse, pagina trinta e dois.

- Sim, eu ouvi, mas...

- Já leu essa matéria – ele completa minha frase, acostumado com essa atitude.

- Sim, senhor.

- Nesse caso, você não precisa assistir a minha aula. Queira se retirar, por favor.

- Ou queira se retirar dessa escola – Noah Rosier fala baixo para seus amigos que caem na gargalhada.

- Desculpe, professor. Serei mais burro na próxima vida – eu brinco e me levanto.

Passar um tempo fora da sala de aula era tudo o que eu mais ansiava. Não que eu fosse um rebelde extremista, mas o tédio me consumia.

Foi assim a vida toda, quando criança, eu me cansava das brincadeiras, da escola, dos amigos, até nas festas de aniversário que duravam poucas horas era comum me afastar e me afundar nos meus pensamentos.

Melhorou quando vim para Hogwarts, a magia era um mundo novo para ser descoberto, mas depois de devorar todos os livros, se tornou tedioso também.

Mas esse ano tem uma coisa nova, e implorando para ser descoberta.

Eu a encontro sentada sob uma árvore no pátio externo, com os joelhos dobrados no peito e riscando uma folha de papel com muita velocidade.

Anabeth levanta os olhos quando me aproximo e dobra a folha de uma vez, apertando tanto que tenho certeza de que vai criar uma mancha.

- O que está fazendo?

- Nada, só escrevendo para minha mãe – ela parece assustada, com olhos arregalados.

- Na primeira semana de aula?

- Ela gosta de ter notícias.

- É uma carta urgente ou posso me sentar?

Ela afasta a bolsa para o outro lado e percebo que é dali que sai os caninhos de oxigênio.

- A magia não resolve tudo, n~eo é?

- É, podemos curar paralisia de basilisco, mas me dar pulmões novos está fora de cogitação.

Ela sorri, espirituosa e autodepreciativa, eu não vou negar, faz o meu tipo.

- Ela é legal? – levanto o queixo para a folha em sua mão.

- Ela é uma mãe, então... mas é, ela é legal.

- Tem que ser uma santa para estar casada com o professor Snape, sem ofensas.

- Ele é surpreendentemente mais fácil de lidar. E os seus pais? São legais?

Sua pergunta parece tão estranha, as palavras que ela usa, sua entonação, como se não estivesse habituada em uma conversa casual.

- São, quer dizer, a minha mãe é cleptomaníaca e meu pai tem que buscar ela na delegacia toda semana, mas eles se esforçam para serem pais, afinal eles me escolheram.

- Como assim?

- Eles me adotaram quando eu nasci.

- Hum, recentemente meu irmão decidiu que é adotado também.

- É, mas meus pais não sabiam nada sobre magia. O que foi um problemão quando comecei a flutuar dormindo. E sim, eles são católicos. O que levou a muitas idas a igreja e exorcismos.

- Sinto muito.

- Eu achava engraçado, ficava ali parado enquanto eles me molhavam com agua benta.

- E você tinha alguma reação?

- Nenhuma.

Ana cai na gargalhada ao imaginar a cena, sua risada é boa, nem alta demais, nem estridente demais. O tipo que te faz rir junto.

- Mas me fala de você, o que fazia para se divertir em Durmstrang?

Ela revira os olhos e fica completamente confusa com o que vai dizer, como se eu tivesse perguntado um absurdo.

- Lá é tomo mundo atlético, ativo e briguento. Os castigos consistem em correr ao redor da escola ás cinco da manhã e acho que eles gostam. Então, eu não tinha diversão.

- Se eu disser que nada é muito diferente aqui...

- Muito obrigada por me animar.

- Ok, sei que parece mesmo um saco, mas se for para ficar entediada, pelo menos vai ter companhia.

Ela ruboriza profundamente que tenho quase certeza de que é possível fritar um ovo em suas bochechas. Não sei se é uma reação positiva, mas me faz sorrir. Com Anabeth, lembro que tenho que olhar para os lados e me garantir que não tem nenhum outro Snape por perto.

Sinto um toque na minha nuca e me viro para ela, Anabeth recua e engole em seco.

- Desculpa, tinha...

Passo a mão na nuca tirando um pedaço seco de creme.

- Protetor solar, ás vezes é difícil espalhar.

- O sol te machuca?

- Ás vezes, não dá para pegar marquinha no verão – eu sorrio para ela e ela devolve de forma sutil.

Eu quase caio na tentação de beijá-la, tocar seus lábios com os meus e sentir a língua úmida, imagino se é diferente, se é único como tudo nela. Eu inclino um pouco, mas o momento é interrompido por um assovio baixo.

- Maninha?

Levanto os olhos para ver Maximus me encarando como se esperasse explicações.

- Oi, Snape. Eu estava contando para sua irmã como Hogwarts é tediosa.

- Eu acho estimulante, como monitor, você devia dar as boas vindas não assustar novos alunos.

- Você podia ser monitor, Maximus. Se estudasse um pouco mais.

Ele se agacha na frente da irmã e abre um sorriso travesso.

- Sabe, querida irmãzinha, o Adam aqui é bom em muitas coisas, mas não mantém nada. Foi assim com quadribol, monitoria, clube de estudos.

- Ainda estou buscando minha vocação, mas tem razão. Eu consigo tudo o que eu quero.

Ele ri alto e exagerado.

- Vai se foder, White.

Ele sabe que eu tinha um novo foco, mas Anabeth é mais que algo a ser conquistado. Desde a primeira vez que coloquei os olhos nela, acuada e assustada por Rosier, eu quis desvendá-la. Todas as camadas escondidas por baixo da muleta e do carrinho de oxigênio.

***

Eu não durmo demais, nunca. Perder a hora é um milagre absoluto, ainda assim, eu acredito em milagres, porque não ouvi o despertador essa manhã. Passa das sete quando consigo colocar meu emblema de monitor e descer correndo as escadas.

Noah já está bem acordado e ativo, importunando um aluno mais novo por seus óculos de lentes grossas.

- Não cansa de ser babaca, Rosier? Deixa o garoto em paz.

Ele me encara e se afasta do menino, mas sua raiva está direcionada a mim, eu levanto o queixo. Noah é um covarde, ele não me enfrenta porque sabe que isso o colocará em problemas com a direção.

- Eu só estou brincando, White. Mas não acho que você sabe o que é isso.

- Estou avisando, não vou facilitar para você esse ano, se quer eu seu pai acredite que é um bom aluno e não está metido em encrenca, sugiro que pare de perseguir os outros.

- Se acha um defensor dos oprimidos, não é? – ele sorri apertando mais os olhos castanhos – mas você é só um sangue ruim.

- Sou adotado, meus pais biológicos são possivelmente bruxos.

- Você não sabe mesmo quem você é? Tá, você é filho de pais bruxos, mas ainda é um sangue ruim. Uma pessoa que nem devia existir.

- Já chega, Rosier. Está sendo notificado.

Dou as costas e me afasto sentido salão principal.

- Não, White. Espera – ele corre atrás de mim ate a entrada – eu estava brincando.

- Já tomei minha decisão, pense nisso na próxima vez – aperto a passo e percorro a mesa sonserina com rapidez.

- Vai se foder seu filho da puta – Rosier grita atrás de mim.

Como eu disse, um covarde. Passo pelos alunos mais novos até chegar em Anabeth, ela sorri e olha para o irmão.

- Perdido, White?

- Não, só vim dizer oi aos meus amigos. Posso?

Anabeth afasta para o lado me dando lugar perto dela.

- Claro que pode, não liga pro Max, ele está chateado porque recebeu menos cartas que eu.

- Não é verdade, você tem madrinha, eu não. Além disso, olha em volta – ele faz um sinal circulando a a sala – cartas demais são uma vergonha.

Eu olho para a mesa em frente de Ana e uma pilha considerável de correspondência sobre ela, há alguns envelopes abertos e uma ultima carta em sua mão.

- São da sua mãe?

- Sim e do meu pai porque ele é ciumento.

- Mas ele está bem ali na mesa dos professores.

- A gente sabe – Diz Max e os dois riem.

- Mas tem da minha madrinha e do meu irmão mais velho.

- Não sabia que tinham outro irmão.

- Sim, estou lendo a dele agora. É auror.

Ela sorri e volta a olhar a carta em sua mão, eu estou tentado em ler todas aquelas que foram colocadas de volta nos envelopes porque talvez seja a melhor forma de conhecer Anabeth. Ela termina a carta e suspira, então a coloca sobre a mesa.

- Ele me disse que está feliz que vim para Hogwarts.

O orgulho dela é doce e eu podia admirá-lo por semanas inteiras, se não fosse o choque no meu íntimo ao ver a grafia da carta aberta sobre a mesa.

Eu conheço aquela letra masculina, inclinada e justa. Anabeth não para de falar, mas não estou ouvindo, eu sorrio para ela.

Mas estou muito interessado na carta, eu leio a assinatura no final e só tem um primeiro nome "com carinho, seu irmão, Draco".

- Você está bem? – Anabeth se preocupa.

- Sim... er... você disse que seu irmão é auror?

- Sim, ele é mais velho.

- Entendo, ele é casado?

- Não, ele não é, eu adoraria ter sobrinhos fofos.

- Porque está perguntando isso, White? – Max levanta uma sobrancelha, desconfiado.

- Nada de especial, só quero saber com quantas pessoas terei que lutar para chamar Anabeth para sair.

- Não se preocupe que Draco nem vai ficar sabendo, eu acabo com sua raça antes.

- Para, Max. Adam só estou brincando.

Eu sorrio e me inclino para sussurrar no ouvido dela.

- Não estou.

Anabeth fica extremamente ruborizada outra vez, um vermelho que desce pelo seu pescoço. Escondo minhas mãos tremulas sob a mesa para disfarçar meu nervosismo enquanto luto contra o impulso de devorar aquela carta.

Espero até Maximus estar entretido demais com a quantidade de comida exuberante em seu prato de café da manhã para voltar a falar com Anabeth.

- Hogsmeade esse final de semana – eu sussurro – acha que consegue ir sozinha?

- Eu dou um jeito.

- Ao meio-dia, na casa de chá.

Ela assente e eu me aproximo, dou um beijo rápido em sua bochecha, Max levanta os olhos furioso e eu me levanto, me afastando sem conseguir segurar o sorriso.

Não que eu queira provocar Max, mas a cada dia que passa, Anabeth me cativa mais um pouco.

Agora, no entanto, meu interesse cresceu a níveis astronômicos. Depois de anos sem uma única pista, ela me dá assim, de bandeja, uma chance de alcançar a minha maior ambição.

E tudo o que eu sempre quis, parece possível e bem ao alcance de minhas mãos.

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