Capítulo 89
Ludmilla
📆 Segunda-feira - 🕚 20:50
Escutar a voz da Brunna depois de tanto tempo sem a presença dela, me causou uma sensação pior do que eu estava esperando. Eu senti medo de a perder para sempre, uma saudade sem explicação e uma insegurança infinita. A minha vida depois que ela se foi virou um verdadeiro caos. Ter que cuidar do Michel e também ter as responsabilidades comigo e com a boate me deixa cada dia mais estressada e com isso a vontade de fumar para tentar esquecer todos esses acontecimentos aumentam ainda mais, me fazendo gastar boa parte do meu dinheiro com essas coisas.
Ontem tive uma séria briga com a minha vó, que disse que não quer que eu volte na casa dela enquanto a Bru não estiver comigo novamente. Já aqui em casa, Nete faz questão de tirar duas horas do seu serviço para jogar na minha cara todos os meus erros como, pessoa, mulher e mãe. O único lugar que estou tendo - ainda - um pouco mais de paz é a boate. Todas as minhas madrugadas estão sendo por aqui, as vezes bebendo, as vezes fumando, ou as vezes apenas vendo o tempo passar.
- Como uma mulher tão linda como você está sem algum acompanhante? - escutei um homem, que julgo ter uns trinta anos, falar comigo. Suas barbas estão perfeitamente alinhadas e seus cabelos cortados de forma simples, deixando seu rosto todo a mostra. Não é um homem feio, mas ainda assim é um homem.
- Desencana! - segurei a risada - Eu gosto da mesma fruta que você. Então sem chances alguma.
- Puts! - ele segurou a risada assim como eu - Foi mal! Mas é que você é muito bonita mesmo. Mas ainda assim desacompanhada.
- As vezes ficar sozinho é melhor que envolver alguém na nossa própria bagunça. - suspirei - Qual o seu nome?
- Igor. - deu de ombros se sentando ao meu lado - Igor Vilella.
- Um prazer te conhecer, Igor. - falei o olhando e me virei para pedir a melhor bebida para ele - Por conta da casa, meu amigo. - o entreguei a taça cheia de um líquido rosa.
- Espero que não me cobrem por isso na saída, porque meu dinheiro está contado. - ele sorriu sem graça - Mas obrigado.
- Não vão te cobrar, relaxa. - sorri em sua direção - Mas então, me diz. É sua primeira vez por aqui?
- Segunda. Vim ontem, acabei gostando e resolvi voltar hoje. É um ambiente muito aconchegante. - falou depois de dar um gole na bebida.
- Fico feliz de ter gostado. - comentei.
Conversamos por mais umas longas horas, até o mesmo se despedir ao lembrar que amanhã irá trabalhar logo cedo. Pensei que ficaria sozinha por mais um instante, mas logo vi a Dai se aproximar com um copo de whisky na mão. Ela sorriu abertamente ao me ver sóbria - por uma das raras vezes - E se apressou para chegar até o banco que estou sentada. Quando fez isso, ela se apoiou no balcão atrás de mim e sorriu abertamente.
- Minha amiga, você não sabe a boa notícia que eu tenho para te dar. - falou um tanto quanto animada e eu fui obrigada a virar o meu corpo, para lhe olhar melhor.
- Diga logo! - pedi curiosa.
- Um dos nossos clientes pagou quase vinte mil reais para uma das nossas garotas. - contou - E ela se propôs a disponibilizar a metade do valor pra boate.
- Quem escutar isso, vai pensar que estamos falindo. E não é bem assim a história, já conseguimos superar o assalto. - suspirei - Falta só devolver o dinheiro da Brunna.
- Ah, qual foi?! Você quer mesmo devolver o dinheiro? Aquilo pra ela é uma esmola. - a morena iluminada segurou a risada - E vocês são quase casadas, amiga.
- Eu peguei emprestado, e vou devolver. - falei séria - Você querendo ou não.
- Relaxa aí, esquentadinha. - empurrou meu ombro de leve, em uma brincadeira - Mas me diz, ficou feliz com a notícia?
- Talvez. - a olhei - Ela não querendo algo em troca, por ter feito isso. - dei de ombros.
Brunna
Condomínio Alphaville (São Paulo)
🕚 21:00
Depois de buscar o Michel na escola, passei com ele em uma sorveteria e tomamos um sorvete. Levei ele no seu parque favorito, para ele brincar um pouco e por fim voltamos para casa, acompanhados da Maya que foi a convidada especial do menino para passar o dia com a gente. Desde que eu e Ludmilla separamos, ela foi a melhor companhia para o menino, mas a morena a demitiu - com a única desculpa cabível: seu serviço era algo dispensável no momento.
- I'm Michel. - o menino disse em inglês, para fazer sua atividade da escola e isso me fez gargalhar baixo - Porque está rindo, mamãe? Falei errado? - perguntou preocupado.
- Ela está rindo porque é uma boba, não liga pra ela Michelzinho. Pode continuar com a sua tarefa. - Maya disse de forma calma, mas me fuzilando com o olhar.
- Ah, o que foi? - questionei a olhando - Vai me dizer que não achou graça?!
- Achei, mas não vou ficar rindo dele na frente dele. - falou em um tom baixo, já que estávamos dividindo a mesa com o pequeno - Você é uma mãe muito cruel.
- Não diz assim, que eu me sinto mal. - cruzei a minha pernas e encarei o caderno do menino - Michel, você tem que escrever em cima da linha. - falei mostrando para ele.
- Mas é dificiu, Bu. - ele fez uma careta.
- Eu sei, filho. Mas se você escrever fora da linha a sua professora vai ficar brava. - falei calma e peguei a borracha para apagar - Escreve de novo.
- Tudo bem. - ele suspirou voltando a escrever.
- "Escreve de novo." - Maya me imitou e eu a olhei sem entender - Se aquilo que ele está fazendo de chama escrever, eu troco o meu nome.
- Ah, e depois eu que sou a cruel? - levantei minha sobrancelhas.
- Eu não sou a mãe dele né, Bru. - deu de ombros - Porém eu cuido dele bem melhor que você e a Ludmilla juntas.
- Você quer que eu te mande embora da minha casa, Maya? - fingi estar brava - Está muito abusada.
- Qual casa? Isso aqui está mais pra um entulho. Olha só, tem poeira pro todos os lados. Estou me sentindo em uma loja de material de construção. - debochou segurando a risada e eu bati em sua coxa exposta devido ao short curto que ela está usando - Aí, isso doeu.
- É pra doer! - resmunguei - Vou pedir um ifood e não vou dividir com você. Pra deixar de ser boba!
- Boba é você. - ela apertou minha bochecha mas se afastou quando o pequeno voltou a falar algo sobre seu dever de casa.
- Olha, Bu. Esse daqui é o cachorro e ele faz, auau. - imitou o animal e eu concordei com a cabeça - Esse é o gato e faz miau.
- Nossa, mas esse meu filho é muito esperto uai. - sorri orgulhosa - Você já terminou de fazer as atividades?
- Sim, Bu. - ele fechou o caderno e guardou o lápis dentro do estojo - O que vamos fazer agora?
- Sua mãe vai pedir um lanche no Ifood pra gente. - Maya falou enquanto mexia no celular - Eu quero um Mcdonald's.
- Eu também, Mcdonald's criança feliz. - ele ficou de pé sobre a cadeira - Aquele que vem com o Batman, Bu.
- Vou pedir e a Tia Maya vai pagar. - alfinetei a mulher que me olhou por cima do celular - Todos os três lanches.
- A rica aqui é você, querida.
Deixei o menino brincando com ela enquanto caminhei até meu quarto, para pegar o celular e fazer o pedido do nosso jantar. Acabei respondendo algumas mensagens e uma delas era uma da Ludmilla perguntando se o Michel estava bem e se eu precisaria de algo para passar a noite com ele. Apenas respondi que estava tudo ok e desliguei o celular, voltando pro cômodo bagunçado, que possui apenas uma mesa e que estou chamando de sala.
- Já está a caminho. - contei olhando para os dois - Pedi até sobremesa pra gente.
- Humm, que delícia. - Maya comentou - Vamos nos esbaldar, em Michel.
- O que é esbaldar, tia Maya? - ele perguntou curioso e ela sorriu, o explicando o significado da palavra.
- O que vamos fazer enquanto isso? - perguntei para eles.
- Ver um desenho! - o menino sugeriu voltando a ficar de pé sobre a cadeira - Frozen!
- Então vamos ter que ir por quarto. É o único lugar que tem televisão. - falei a olhando e ele não respondeu, apenas correu em direção ao quarto.
- Sempre quis ir pro quarto com você. - Maya sussurrou e eu a repreendi com o olhar.
- Não começa, por favor. - pedi e ela concordou com a cabeça, me acompanhando até o cômodo.
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