Capítulo 86
Antes de começar o capítulo, eu gostaria de agradecer a vocês por todas as mensagens de apoio. Hoje eu tirei os curativos e estou tomando medicacoes. Só sinto muitas dores ainda, mas consegui voltar mais rápido do que estava imaginando!
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Ludmilla
Hospital Sírio-Libanês (São Paulo)
Meus olhos se encheram de lágrimas ao ver a loira na minha frente, com uma agonia no coração. Eu gostaria de lhe abraçar e dizer o quanto eu a amo, mas nesse momento tudo o que tenho vontade é sair desse quarto e dar uma volta pela rua, refletindo na vida. Tive a vontade de a responder, mas para a nossa infelicidade - ou talvez felicidade - Michel despertou do seu sono profundo e nos olhou com um sorriso no rosto. Eu fui a primeira a desviar nossos olhares, e suspirei profundo.
— Acordei. — o menino disse animado, da mesma forma em que faz quando acorda em nosso apartamento — Já está na hora de ir embora? — questionou.
— Oi, filho. — voltei a me aproximar dele, fazendo um carinho em seus cabelos levemente bagunçados — Você ainda está dodói, não podemos ir embora por agora.
— Mas eu queria a minha cama, com os meus brinquedos. — ele fez um biquinho com os lábios — A escolinha, meus amigos e a Tia Maya.
— Chechel, daqui a pouco nós vamos estar em casa. — Brunna se aproximou depois de secar algumas lágrimas — Se você quiser eu posso trazer os seus brinquedos. — tentou consolar o pequeno.
— Não, Bu. Eu quero ir lá pra casa do Chechel. Aqui não é a casa do Chechel, Bu. — as lágrimas desceram em seu rosto, em um choro silencioso.
— Filho, você está aqui pra se recuperar, só isso. Daqui a pouco a gente vai embora e você vai poder brincar com os seus brinquedos e até ir no parque com os seus amiguinhos. — segurei sua mão — Já está de noite, quando o dia amanhecer o médico vai vim ver como você estar e talvez vamos embora.
— Pomete, mamãe? — perguntou manhoso.
— Prometo, meu amor. — falei mesmo sem saber se realmente iríamos embora no dia seguinte — Você está com fome?
— Sim. — falou me olhando — Nós vamos comer um lanchinho, com batata frita?
— Não. — a loira segurou a risada — Você vai comer uma comida muito gostosa que a enfermeira fez. — disse de forma divertida ao saber que a comida provavelmente será sem tempero.
— Vou lá pedir. — dei indícios de sair do quarto, mas fui interrompida pela loira, que segurou meu braço — O que houve? — questionei confusa.
— Pode ir embora, eu consigo me virar por aqui. — disse ajeitando seus cabelos e só então percebi que seu olhar estava cansado, assim como haviam olheiras por baixo deles.
— Relaxa, Bru. — suspirei percebendo que estava sendo uma péssima pessoa ainda mais nesse momento — Eu não tenho urgência para sair.
— Tem certeza? Eu não me importo de ficar sozinha. — me olhou — Eu já me acostumei. — disse em um tom baixo, mas ainda auditivo.
— Eu já disse que vou ficar, Brunna. Não fique insistindo para que vá, quando eu finalmente decido ficar. — falei a olhando e ela pareceu se conformar com a ideia, já que voltou a se sentar no sofá.
— Mamãe, o que eu vou comer? — o menino perguntou curioso, porque pelo jeito ele nunca havia ido a um hospital antes. E isso é um bom sinal.
— Eu estou indo lá ver. — contei buscando meu celular — Provavelmente é algo muito gostoso.
Deixei um beijo rápido em sua bochecha antes de sair do quarto e caminhar pela recepção em busca da enfermeira responsável pela alimentação dos pacientes. Quando finalmente a encontrei, ela me disse que o cardápio do dia era Arroz, tutu, macarronada e sopa de inhame com carne cozinha. Pedi a ela para que levasse até o quarto do Michel e como ele é criança, acabou ganhando uma gelatina de uva como sobremesa. Ao viltar pro quarto me deparei com os dois, meu amor e meu pequeno, sentados sobre a cama, vendo desenho animado pelo notebook de trabalho da loira.
— Vocês estão fazendo bagunça? — questionei e eles se assustaram olhando em direção a porta do quarto, onde eu ainda estava parada.
— Não, não, mamãe. — o garotinho se apressou para responder — Você saiu e a Bu colocou Bob Ponja pra mim assistir. Olha só. — me virou o aparelho em minha direção.
— Humm. — fiz um som nasal — Pensei que era bagunça. — fechei a porta do quarto e caminhei até eles — Descobri qual é o seu jantar.
— Qual é? — Bru questionou antes dele e eu sorri ao ver sua curiosidade, ou talvez apenas sua vontade de comer.
— Tem arroz, tutu, macarronada e sopa de inhame com carne cozida. — contei a olhando — E como o Michel está se comportando, vai ter até uma sobremesa.
— É sério, mamãe? — perguntou animado e eu concordei com a cabeça — Um sorvete? — tentou adivinhar.
— Gelatina. — falei simples.
— O que é isso? — intercalou olhares entre Brunna e eu, na tentativa de entender o que é gelatina.
— Você não sabe o que é gelatina, Chechel? — a loira questionou intrigada e ele negou com a cabeça — Não é possível, que você nunca comeu gelatina, Michel!
Brunna
Hospital Sírio-Libanês (São Paulo)
Posso dizer que ele comeu muito menos que um terço da metade do seu jantar. Segundo ele estava sem o gosto bom da comida da Tia Nete. E eu posso concordar com ele, apenas de ver os alimentos sem cores e sem o cheiro bom. E verdade é que o pequeno realmente nunca havia comido uma gelatina e sua experiência não foi muito boa, já que ele odiou a textura do alimento e ficou com nojo de comer o resto.
O café que tomei durante a tarde me sustentou até por agora. Mas o meu estômago já está dando indícios de que eu preciso me alimentar de novo. Só que aparentemente Michel perdeu o sono e as chances de eu pedir uma comida e comer em sua frente e nula, já que ele quer comer comidas "normais" e não comidas de hospital, que são sem tempero.
Além de me alimentar, também estou precisando de tomar um bom banho e me vestir com roupas limpas e mais confortáveis, porém não quero sair do lado do Michel. Ludmilla, assim como eu, também está cansada, mas é menos visível, já que ela se adaptou com a nova rotina de sono descontrolado e alimentação nada saudável.
— Porque você não vai em casa tomar um banho e comer? — a morena perguntou tudo o que eu estou precisando e querendo fazer.
— Estou sem fome. — menti — Você quer ir? Pode ficar a vontade.
— Não, tô de boa. — ela fez menção de se sentar no chão, mas eu me arredei para que ela sentasse no pequeno sofá que mal cabia eu, mas que agora iria caber nós duas — Obrigada. — ela se sentou e me puxou para ficar sobre ela, de uma forma mais confortável para nós. E essa foi nossa primeira aproximação depois de tantas brigas — Será que ele tá muito ruim? Pensei que fosse ficar só de observação e iria embora ainda hoje.
— O médico disse que iria iniciar o tratamento por aqui. Para saber se vai obter resultados. — falei observando o menino brincar com meu notebook, sabendo que a qualquer momento ele poderia apagar álbum dado importante da empresa — Talvez pela manhã a gente vai embora. Ele já tomou dois medicamentos.
— Estou com uma dó dele. — confessou e suspirou — Me dá um aperto no coração ver ele assim. Olha só o bracinho dele, cheio de agulha.
— Todo mundo passar por isso alguma vez na vida, Lud. — falei a olhando — Mas realmente é triste.
— Tem certeza que não quer ir em casa? — questionou ao escutar meu estômago fazer um barulho alto.
— Tenho, Lud. — dei de ombros — Daqui a pouco eu vou na cantina pegar algo para comer.
— Bru? — me chamou depois de longos minutos em silêncio e eu fiz um som nasal para que ela falasse — Eu te amo.
— Eu também te amo, Lud.
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