Capítulo 84
Ludmilla - Barra Funda (São Paulo)
Sexta-feira - 03:50 da madrugada
- Eu sei que você está na sua vibe. - escutei Daiane falar e levantei o meu olhar, vendo a morena, com luzes loiras, se aproximar - Mas eu quero saber o que está acontecendo com você.
- Porque a perguntar? - acendi o meu oitavo cigarro consecutivo - Eu estou bem.
- Ludmilla, olha só o seu estado. Eu perdi as contas de quantas doses de conhaque você bebeu. - me olhou séria - Você não era assim. Me conta o que tá rolando.
- Não tá rolando nada, beleza?! - falei sem paciência - Você não é a minha mãe pra ficar dizendo o que eu tenho ou não quer fazer.
- Realmente, porque se eu fosse ela, já teria te dado uma surra. - revirou os olhos - Você não vai embora? O movimento já acabou, estou apenas esperando um cliente que está com a Yara ir embora.
- Daiane. - suspirei - Essa noite só está começando. Não precisa se preocupar, porque quando eu quiser ir embora vou entrar no primeiro Uber que passar.
- Espero que isso realmente aconteça, porque eu estou perdendo a paciência com você. - ela fala estressada - Eu vou fechar a boate, se quiser ficar por aí, que fique na rua.
- Qual foi? - tentei me levantar mas vi tudo girar e me apoiei no balcão do bar - Eu também trabalho aqui e posso sair quando quiser.
- Olha o seu estado. - ela me empurrou pelo ombro - Que caralho, Ludmilla. Eu tô cansada de ter que ficar ligando pra Brunna, de madrugada, acordar ela só pra vir te buscar aqui. Pensa no seu filho, para com essa doideira, porra. - ela puxa o cigarro da minha mão, com força suficiente para que meu dedo estalasse - Mete o pé daqui e dá um jeito de chegar em casa sozinha.
- Olha aqui, sua... - busquei o pior xingamento possível, mas nenhum me veio a mente - Chata. Eu vou ir embora, mas saiba que é só porque eu quero e não porque você mandou.
- Acabou? - sorriu irônica - Vai logo.
Com muita dificuldade, consegui ficar de pé sem a ajuda de algum objeto pra me sustentar. Ela pareceu se divertir com a cena, já que gargalhou alto. Fiz questão de a evitar e caminhar até a saída da boate, que estava vazia. Apaguei o cigarro e guardei no bolso dianteiro da minha calça jogger. Para a minha grande sorte, um Uber tinha acabado de estacionar por ali, então só precisei fazer um sinal para que o motorista viesse até o meu encontro e me ajudasse a adentrar o Fiat Mobi. Demorou quase trinta minutos para que o carro fosse estacionado enfrente ao meu prédio. Paguei o homem com a única nota de cem reais que estava na capa do meu celular e não esperei pelo troco, apenas caminhei - ou tentei - para dentro do prédio e me joguei no elevador, esperando o mesmo parar em meu andar.
Tentei não fazer barulho ao adentrar o apartamento, até porque o meu filho está dormindo, mas tudo foi em vão. Quando percebi eu já havia tropecado na mesa de centro da sala de estar e a mesma havia quebrado. Resmunguei alto ao ver pouco sangue escorrer em meu pé. Não demorou muito para que eu visse minha loira, com os cabelos bagunçados e com uma expressão assutada. Ela suspirou alto ao ver o que tinha aconteceu e se aproximou.
- Porra, Ludmilla. Olha só o que você fez, cara. - resmungou acendendo a luz - E ainda se machucou. Quando você vai parar com isso?
- Vamos lá, comece com o seu mesmo sermão de todos os dias. - falei antes dela me ajudar a levantar.
- Não é sermão. É a realidade. Porque fazer tudo isso? - suspirou ao não ter minha resposta e se aproximou passando a mão por meu machucado - Levanta daí, por favor. Olha como você se machucou.
- Não me machuquei. - tentei mentir, mas resmunguei ao sentir meu pé arder - Que caralho.
- Sinceramente, eu não sei o que eu possa ter frito, pra passar por isso. - fez esforço para me levantar, e com muito custo me sentou no sofá da sala - Se você não tomar um rumo na vida eu não sei o que vai ser da gente.
- Ah que caralho, Brunna. Não começa com esse papo de nós duas. - revirei os olhos - Eu já não disse que qualquer coisa é só você ir embora?
- Disse, mas diferente de você eu penso no Michel. - me encarou por longos segundos - E se eu ainda estou aqui, é por causa dele. Porque eu sei que você não está merecendo a minha companhia.
- "Porque eu sei que você não está merecendo a minha companhia." - imitei o seu jeito de falar - Já acabou de falar? Pode me ajudar a ir pro quarto?
- Na vida passada eu fiz uma maldade muito cruel com alguém, pra minha vida amorosa ser assim, é um karma, tenho certeza. - ela resmungou enquanto me levava pro quarto. Pensei que ela fosse me dar um banho, mas a primeira coisa que ela fez foi me jogar sobre a cama de casal - Pronto.
- Não vou pro banho? - perguntei confusa.
Brunna - Vila Olímpia (São Paulo)
Sexta-feira - 04:40 da madrugada
Permaneci em silêncio enquanto encarava a morena sentada sobre a cama que antes eu estava dormindo. Minha vontade é de chorar e implorar para que ela volte a ser a pessoa por quem eu me apaixonei, mas a única coisa que faço é deixar o quarto e voltar para a sala, na intenção de limpar toda a bagunça que ela tinha feito. Busquei por uma vassoura na área de limpeza e retirei os cacos de vidro que supostamente poderiam fazer o Michel se cortar quando ele acordar. Logo após lavei um pano de chão e passei por ali, tendo a certeza de que não havia mais nada cortante.
Eu poderia voltar a dormir tranquila, mas meu sono parece ter ido dar uma volta em outro planeta - e isso já vem acontecendo com frequência - Então apenas busquei meu notebook e meu celular e os liguei, na intenção de adiantar assuntos da empresa. Escutei o barulho alto do chuveiro e imaginei que ela já havia entrado no banho e pra melhorar, com a porta aberta. Ignorei esse fato e voltei a trabalhar, não percebi quando voltei a pegar no sono, por ali mesmo. Acordei com uma voz calma me chamar, e quase dei um pulo do sofá.
- Bom dia, dona Brunna. - Nete sorriu ao ver o susto que havia me dado - A senhora dormiu por aqui a noite toda? - questionou curiosa e talvez preocupada.
- Bom dia, Nete. - forcei um sorriso, sendo que tudo que eu estava sentindo no momento era as batidas do meu coração acelerado e uma dor na nuca - Eu perdi o sono pela madrugada e vim trabalhar um pouco, nem percebi quando voltei a dormir.
- Só você mesmo, menina. - ela retirou a bolsa do ombro e deixou sobre o sofá - Está tudo bem por aqui?
- Está sim. - menti - O Michel ainda está dormindo. Ludmilla também. Só eu que preciso ir me arrumar pra ir pra empresa.
- Não acha que anda trabalhando muito? - questionou com a sobrancelha erguida e eu dei um sorriso de lado - É sério, dona Brunna. Antigamente a senhora não trabalhava tanto assim.
- É que a empresa está crescendo muito e com isso as responsabilidades aumentam. - falei sincera - Hoje mesmo eu tenho uma reunião importante, pra assinar um contrato de parceria com um grande empresário.
- Nossa, que chique. - escutei a porta se abrir e Maya anunciar que havia escutado parte da nossa conversa, e no fundo eu apenas sorri com o seu elogio - Bom dia.
- Bom dia, minha querida. - Nete a cumprimentou com um sorriso largo no rosto - Não é porque você chegou, mas eu tenho que preparar o café da manhã, dessa família.
- Fique a vontade, Nete. - dei permissão para que a senhora fosse até o seu cômodo preferido da casa, a cozinha - Maya, hoje tem alguma coisa de muito importante pro Michel fazer?
- Só a escola. - falou depois de analisar em sua cabeça - Porque, a senhora tem outros planos para ele?
- Não, só queria saber mesmo. - fechei meu notebook e bloqueei a tela do meu celular, vendo a última foto que eu havia tirado com a Lud. Nossa rápida viagem para o Rio de Janeiro. - Se você me der licença, eu preciso me arrumar.
Ela apenas concordou com a cabeça e eu fui rápida em voltar pro quarto, onde Ludmilla está dormindo. Entrei no closet e escolhi a roupa do dia: um vestido longo, na cor vermelha, de alças curtas e com um simples decote. Tomei um rápido banho e vesti a roupa, deixei meus cabelos soltos, fiz uma maquiagem leve e calcei um salto preto. Antes de sair do quarto, verifiquei a gravidade do machucado da morena e como de esperado foi apenas superficial. Caminhei até o quarto do Michel e sorri ao ver que ele ainda estava dormindo, de barriga para cima e com um bracinho sobre o rosto, deixei um beijo em sua testa e só então voltei para a sala de estar, que estava vazia, porque as duas mulheres estavam na cozinha.
- Já estou de saída. - avisei parada na porta do cômodo - Gostaria de ficar pra tomar esse café que está com um cheiro maravilhoso, mas o tempo não me permite. - suspirei.
- Haverão outras oportunidades. - a senhora sorriu terna - Dona Brunna, aconteceu algo com a mesa de centro?
- A Lud tropeçou nela e acabou quebrando. - contei - Mas eu já limpei tudo, só falta jogar as coisas no lixo.
- Farei isso daqui a pouco. - disse me olhando - Mais alguma observação?
- Nenhuma. - olhei as horas no relógio do meu celular - Agora realmente preciso ir. Qualquer coisa de muito importante, não se exitem em me ligar.
E elas realmente não exitaram. Assim que cheguei enfrente a empresa o meu celular tocou, anunciando uma ligação da Maya, me avisando que o Michel amanheceu com febre e que Ludmilla não havia acordado para levar o menino até o hospital ou dar algum medicamento. Suspirei pesado e avisei que já estava a caminho de casa, para resolver esses problemas.
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