Capítulo 80
Ludmilla - Vila Olímpia (São Paulo)
Segunda-feira - 14:50
Depois da rápida reunião com minha amiga Daiane, levei meu filho para almoçar em um restaurante próximo a boate. Ele escolheu os nossos pratos - arroz, churrasco e vinagrete - e por fim almoçamos, entre brincadeiras e conversas. Após isso, eu o trouxe até a sua natação - que por sorte fica no mesmo bairro em que moramos - E estamos por aqui até agora. O pequeno está aprendendo a mover os pés e a controlar sua respiração, para só então entrar na piscina - mas isso será um evento para um próximo dia.
- Olha pra mim, mamãe. Olha como eu estou muito bonito. - o pequeno chama a minha atenção e eu sorrio em sua direção.
- Nossa, Mi. Você está igual um príncipe, meu amor! - o elogio e percebo a presença de um menino, um pouco mais alto, ao seu lado - E você já fez amizade?
- Sim, mamãe. Esse aqui é o meu amigo Luis, ele tem 3 anos, igual eu. - contou e mostrou os dedos, para representar os números - Mas ele já sabe nadar.
- Você também vai aprender, filho. - o tranquilizei, para só então cumprimentar o outro menino - Oi, Luis. Tudo bem?
- Oi, tia. Tudo jóia. - o menino retirou a chupeta da boca, para me responder - Qual o seu nome?
- Meu nome é... - quando eu iria responder, escutei uma voz conhecida e levantei meu olhar, para ter certeza de quem se tratava - Isabelly? - sussurrei.
- Filho, eu já te disse para não sair por aí correndo, principalmente com alguem que eu não conheço. - disse brava - Você estava molhado, poderia ter caído.
- Desculpa, mamãe. - o menino disse triste e eu arregalei os olhos, ao descobrir que ela tinha um filho - Não vai se repetir.
- Isabelly? - só então a mulher percebeu a minha presença e sorriu com a sobrancelha levantada.
- Ludmilla? O que está fazendo aqui? Não sabe nadar? - perguntou de uma só vez e eu gargalhei baixo.
- Eu estou bem, também. - brinquei, mas fiz questão de responder suas perguntas - Eu vim trazer o meu filho pra natação.
- Filho? - ela intercala olhares entre eu e o Michel, que nos olhava curioso - Mas desde quando, você tem filho?
- Desde que ele nasceu. - menti - Mas eu não sabia que você tinha um filho... Porque não me contou antes?
- Não vi necessidade. - suspirou - Não queria que isso afetasse o meu trabalho.
- Entendi. - me ajeitei na cadeira - E com que você está trabalhando agora? Nunca mais eu te vi pela boate.
- Atendente de uma loja de acessórios. - ela contou sorrindo - Estou lá faz pouco tempo, mas estou gostando muito.
- Isso que importa. - falei sincera - Qualquer dia aparece lá na Boom Room, Daiane deve estar morrendo de saudades.
- Assim que possível eu vou até lá. - sorriu - Mas agora eu tenho que ir, esse baixinho precisa estudar pra semana de prova. Foi um prazer te ver novamente e conhecer o seu filho. - ela apertou levemente a bochecha do Michel, que sorriu em resposta - Vamos, Luis?
- Vamos, mamãe. - o menino abraçou o meu filho, de forma apertada - Até amanhã, Michel.
- Tchau, Luiz. - o pequeno acenou com as mãozinhas, e só quando o menino passou pela porta, ele veio até mim - A mamãe do Luís é sua amiga, mamãe? - perguntou.
- Acho que sim. - dei de ombros - E aí? A sua aula já terminou?
- Já, mamãe. A tia disse que era pra mim te avisar, que amanhã tem aula de novo. E é pra trazer um óculos. - falou pegando sua mochila.
- Lembra de dizer isso para a Bru, é ela que lembra dessas coisas. - sorri pegando ele no colo - E que tal, a gente ir buscar ela?
- Onde ela está, mamãe? - perguntou confuso.
- Lá na empresa. - contei caminhando para fora do espaço aquático - Você já foi lá uma vez. Lembra daquele prédio grande, cheio de pessoas andando de um lado para o outro? Até o Tio Mário estava lá.
- Eu lembro. - disse simples.
A empresa da Bru fica a quase vinte minutos de distância de onde estamos. Porém mesmo assim fizemos questão de ir a buscar - mesmo sabendo que ela estava de carro - O menino cochilou no caminho, mas ao parar o carro próximo ao prédio, ele despertou e foi andando até a recepção, que estava um pouco mais cheia do que todas as vezes que vim até aqui. A secretária não estava com o semblante nada bom, e ao ver o Michel correr até o elevador, só a deixou mais mal humorada.
- Onde você pensa que está indo? - ela parou a porta do elevador com a mão e encarou o pequeno que estava sorrindo animado por ir ao encontro da mãe - Onde está seus pais?
- Perdão, algum problema? - questionei antes do menino responder - Ele está indo até a Brunna. Acho que ela ainda está por aqui, o carro dela está estacionado enfrente a empresa.
- Qual o seu nome? - perguntou ainda séria.
- Ludmilla. - disse simples - Ludmilla Oliveira.
- Pois bem, senhora Ludmilla, o seu filho está correndo pelos corredores da empresa, podendo causar um risco para os nossos clientes. - falou pausadamente - E a senhora Gonçalves está ocupada, não poderá lhe atender nesse momento. Deixe o seu contato, quando possível iremos marcar uma hora para a senhora.
- Então... Fernanda. - li o seu nome no pequeno crachá sobre o peito - Eu acho que não preciso de uma hora marcada pra falar com a Brunna.
- Não vamos ver a Bu, mamãe? - finalmente o menino se pronunciou, mas em um tom entristecido - Você prometeu.
- Claro que vamos, Mi. - forcei um sorriso e apertei o botão de número 5 que indicava o andar do escritório da minha namorada - Já vamos subir.
- Eu vou chamar os seguranças. - a mulher apertou o meu pulso com força, mas antes que eu a xingasse, as portas do elevador que eu chamei se abriram a porta, revelando a minha namorada, com os cabelos presos em um coque alto, a bolsa no ombro e um olhar cansado - Ainda bem que a senhora chegou.
- O que aconteceu aqui? - ela questionou ao ver a mulher ainda me segurando.
- Bu! - nosso filho pulou e ela o pegou no colo - Que saudades, Bu. Você ficou o dia todo longe. - o menino disse manhoso e deitou a cabeça no peito da loira.
- Saudades também, Chechel. - ela beijou os seus cabelos e levantou seu olhar até nós - E então, o que aconteceu aqui?
- É que essa senhora estava tentando subir sem permissão, Gonçalves. - agora a mulher manteve um tom de voz mais calmo. Talvez por ver que Brunna conhecia o Michel - E o menino estava correndo.
- Ela não precisa de permissão para subir, Fernanda. - disse óbvia - E por favor, solte ela.
- Obrigada. - falei quando finalmente fiquei livre - Eu só prometi ao Michel que iríamos te buscar, mas não sabia que isso iria acontecer.
- Minha vida, você pode vir quando você quiser. - ela beijou meus lábios - Amanhã a gente vai conversar sobre isso, Fernanda. - ela olhou para a mulher que nos olhava sem graça.
- Desculpa senhora, eu não sabia que... - foi interrompida.
- Amanhã nós vamos conversar sobre isso. - Brunna voltou a falar, mas agora em um tom mais bravo - Vamos, vida?
- Vamos, amor. - entrelaçamos os nossos dedos e saímos da empresa, ainda em silêncio - Você quer ir no seu carro? - perguntei.
- Eu estou muito cansada. - confessou - Se você não viesse, eu iria te ligar pra vir. Vamos no seu.
Ela adentrou o meu carro no banco traseiro, junto com o Michel, que não a soltava por nada, e só depois de longos minutos dentro do carro ela voltou a falar. Já tínhamos saído do bairro da sua empresa.
- Como foi na natação? - me perguntou, já que o menino voltou a cochilar em seu colo.
- Foi tudo bem, ele não entrou na piscina, só aprendeu a respirar e essas coisas chatas. - contei - E você não sabe quem eu encontrei por lá!
- Quem? - questionou curiosa - Diz logo.
- Isabelly. - contei - Ela tem um filho. Eu não fazia noção disso, você sabia? - perguntei e ela negou com a cabeça - Chama Luis e tem a idade do Michel.
- Que incrível, eu não sabia disso. - falou sincera - Ela está bem? Nunca mais eu a vi.
- Diz ela que sim, está trabalhando em uma loja de acessórios. - expliquei - O menino é uma gracinha.
- Nosso filho é mais. - deu de ombros e eu gargalhei - Estou mentindo?
- Não! Ele é perfeito.
Chegamos no nosso apartamento quando o sol de pôs no céu, e a noite chegou. Brunna se apressou para tomar banho e relaxar antes de eu ir para a boate. Michel continuou dormindo e eu o coloquei sobre o sofá e me sentei ao seu lado, ligando a tv em um canal de contrução civil. Quase uma hora depois, minha loira saiu do banheiro, vestida de um pijama de girafas e com os cabelos molhados e soltos. Sorri em sua direção e ela retribuiu vindo até mim me dando um beijo lento e demorado.
- Gostosa! - elogiei apertando sua bunda por cima do pijama - Cheirosa!
- Linda. - ela me beijou novamente - Estava com saudades! Não te vi hoje, até agora.
- Seu dia foi corrido né?! - ela concordou com a cabeça - Como foi por lá?
- Cansativo, amor. Eu tive uma longa reunião com várias pessoas diferentes, opiniões com diferenças. Foi complicado. - se sentou ao meu lado - E sua reunião com a Daiane?
- Nada boa! Só coisas negativas. - suspirei - A Patrícia pediu demissão e é o último mês da Luísa por lá. Vão ficar só três garotas.
- Porque a Patty pediu demissão?
- Estava cansada dessa profissão. Acho que no fundo nenhuma delas queriam isso pra si, entende? - ela concordou com a cabeça - Mas agora a meta é encontrar outras garotas.
- Vai dar tudo certo. - selou nossos lábios - E esse pequeno, se comportou, lá na boate?
- Sim. - segurei a risada - Quis até dançar no Lape dance. - contei ela fechou o semblante.
- Não gosto que você leve ele até lá. - suspirou - Não é nenhum preconceito com a boate, eu amo ir e estar lá. Mas o Michel é uma criança, não quero ele envolvido com bebidas e prostituição logo cedo. Quando ele crescer pode decidir o que ele quer, mas por agora não.
- Eu te entendo, vida. Só não queria ter que ir acompanhada daquela Maya. - fiz uma careta.
- Amanhã eu vou ir até aquela escolinha aqui do bairro, ver como funcionam as coisas por lá e ver quanto e a mensalidade. Porque não adianta o Mi ter uma babá e não poder ter a companhia dela e nem sempre a gente pode levar ele pros lugares. - falou séria, mas calma - Pelo menos em só um período, no outro eu fico com ele, vou tentar voltar a minha rotina de só trabalhar pela manhã.
- Vida, não é que ele não pode ter a companhia da Maya, até porque eu não vou pagar ela pra ficar atoa. Eu só não quis ter ela comigo hoje. - dei de ombros - E sobre a escola, vai ser até bom para ele fazer amigos e se desenvolver. Na parte da tarde a gente revesa ou ajuda o horário da babá.
- Te amo, sabia? - fez um biquinhos com os lábios - Muito, muito, muito.
- Eu também te amo, vida! Muito, muito. - me levantei - Mas agora preciso me arrumar e ir trabalhar.
Demorei quase meia hora no banho. Por fim vesti um short jeans curto e uma blusa lilás, de alça fina, colada ao corpo, calcei um tênis preto e branco, fiz uma maquiagem e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto. Peguei meu celular, meus documentos e a carteira e guardei na pequena bolsa que eu estava levando. Quando voltei pra sala, Bru estava deitada no sofá, quase igual o Michel e vendo um programa na televisão.
- Não sei se vou deixar você sair assim, sem eu estar perto. - falou ao me ver.
- Vou ter isso como um elogio. - sorri - Não precisa ficar com ciúmes, sou toda sua.
- Toda minha. - reforçou - E nada de carona pra ninguém, escutou?
- Nem se for uma mulher muito bonita?
- Se considere morta, Oliveira. - disse séria e eu gargalhei alto, fazendo o pequeno se mexer sobre o sofá.
- Será que ele dorme hoje de noite? - perguntei preocupada, já que ele estava dormindo a bastante tempo.
- Daqui a pouco eu acordo ele. - beijou a testa do menino - Vou pedir uma pizza pra gente.
- Hummm, como eu queria comer também. Mas hoje vou voltar mais tarde. - suspirei - Só quando a boate fechar.
- Tudo bem, você come com a gente outro dia. - falou simples - Provavelmente eu vou estar dormindo quando você chegar.
- Não tem problema, vida. - beijei seus lábios - Vou indo, tchau.
- Tchau, amor. Te amo.
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