Capítulo 63
Ludmilla - São Paulo 📍
Sábado - 11:50
"Lá na casa da galinha pintadinha, no quintal tem um monte de pintinhos, tem aniversário quase todo dia, é uma bagunça a casa da galinha... Pó, pó, pó, pó, pó".
Desde que saímos da cafeteria, essa mesma música está tocando pelo alto falante do meu carro. Estou dirigindo tranquilamente pelas ruas movimentadas da capital, a caminho do salão de beleza em que minha namorada está me esperando para irmos para casa, no banco de trás está Michel, atento em cada mínimo detalhe das paisagens e vez ou outra resmunga alguma coisa difícil de ser compreendido.
O medo, o nervosismo, a ansiedade, que eu estava sentindo foi embora no momento em que eu encontrei com a minha família. Mas por um outro lado, uma pequena agonia me atinge, cada vez mais próximo de encontrar com a Brunna. Como será que ela vai reagir ao saber que teremos que ficar com Michel para sempre?
Flashback on
- Porque o papai não veio? - questionei assim que me sentei em um dos bancos da cafeteria.
- Ele não sabe sobre o Michel, filha. - minha mãe disse triste.
- Assim como ele não sabe do Yuri? - tentei me controlar, mas foi em vão - Vocês tem essas manias de esconder as coisas dele e eu ter que pagar o preço?
- Não, Lud. - Luane foi a primeira a falar - Eu não estou feliz de estar deixando o meu filho com você. Mas eu não tenho outra opção. O pai dele sumiu nesse mundo e se o nosso pai descobri que eu tenho um filho, a próxima a sumir serei eu.
- Não seja dramática. - dei um gole no café e observei o menino que estava com a cabeça apoiada no ombro da minha mãe - Você teve a capacidade de esconder a gravidez toda e três anos da vida do menino. Porque logo agora a responsabilidade tem que cair sobre mim?
- Você não está entendendo, meu amor. - minha mãe falou calma - Nós não vamos ter condições de criar o Michel em um novo país. E ele ainda não foi registrado, não tem como sair com ele.
- E porque não foi registrado? - questionei.
- Eu não posso perder o pouco dinheiro que ganho com a pensão do nosso avô. - Luane confessou e eu neguei com a cabeça, um pouco chocada com a confissão.
- Então pra isso, você prefere deixar o seu filho com pessoas desconhecidas? - perguntei.
- Você não é desconhecida, é minha irmã. Sei que não irá fazer nenhuma maldade.
- Uma irmã que você está conhecendo pela primeira vez. - deixei a xícara sobre o balcão - E olha mãe, muito me encoraja saber que a senhora é cumprisse dessas coisas.
- Não tenho muita opção. Nossa vida financeira está complicada. Estamos fazendo isso pelo bem da Luane. - abaixou a cabeça e eu sorri irônica.
- Fico muito feliz em saber que só ela é sua filha. - segurei o choro - A partir de hoje, pra mim e pro Yuri, a senhora pode se considerar morta.
- Não seja cruel. - pediu com lágrimas no olhar.
- Não estou sendo. - sorri sem vontade - Cruel seria se eu não me importasse com o Michel e deixasse ele jogado por qualquer lugar desse mundo.
- Obrigada por ficar com ele. - minha irmã disse depois de minutos em silêncio - Você vai ver que ele é uma ótima criança. Quase não dá trabalho.
- Não diga mais nada. - pedi ao não aguentar mais escutar a voz das duas - Quando vocês voltam?
- Nunca mais. - Silvana sussurrou e eu arregalei os olhos - Não vamos poder voltar ao Brasil. Estamos indo de uma forma ilegal.
- Vocês estão de brincadeira. - neguei com a cabeça.
- É a verdade. - as lágrimas desceram pelo rosto da Luane - Cuida bem dele pra mim. Faça dele o seu filho. Registre com o seu nome, deixe ele te chamar de mãe e sempre faça as melhores coisas para ele. Eu estou te entregando metade da minha vida.
Flashback off
Perdidas em meus pensamentos, não me dei conta de que o carro já estava sendo parado enfrente o salão de beleza e que Brunna já estava abrindo a porta para entrar. Sorri ao ver que ela novamente está loira, e as unhas da mão pintadas na cor vermelha. Ela sentou no banco do passageiro, ao meu lado e antes de me beijar, ajeitou o cinto de segurança no corpo.
- Está muito bonita, meu amor. - elogiei depois de selar nossos lábios - Eu amo quando você está loira.
- Muito obrigada, meu amor. - sorriu muito delicada e só então virou seu rosto para observar Michel que nos olhava curioso - Como foi por lá?
- Nada bom. - suspirei voltando a ligar o carro - Precisamos conversar quando chegar em casa.
- Aconteceu alguma coisa? - perguntou nervosa e eu concordei com a cabeça.
- Mas em casa a gente conversa. - sorri tentando a tranquilizar, mas tenho certeza que foi em vão - Michel, essa aqui é a Bru que eu te contei!
- Já estavam falando de mim? - ela perguntou divertida e eu concordei com a cabeça.
- Eu estava contando a ele que você é a minha namorada. - expliquei - Como que se fala, Michel?
- Oi. - o menino balbuciou voltando a prestar atenção nas ruas.
- Oi, Michel. - ela respondeu simples.
Esses foram os nossos únicos diálogos dentro do carro. Só voltamos a falar quando o carro foi estacionado no estacionamento do nosso prédio.
- Pode me ajudar com a mochila dele? - perguntei para Brunna, enquanto eu pegava o menino no colo.
- Posso, amor. - ela pegou a pequena mochila e pendurou no braço. Fez questão de chamar o elevador e apertar o botão que indica o andar do nosso apartamento - O que nós vamos almoçar? Não quero fazer comida.
- Ultimamente você só está pensando no almoço e no jantar. - falei divertida e ela sorriu - Podemos pedir algo no ifood, ou só pular essa refeição.
- Ele não pode ficar muito tempo sem comer. - se referiu ao Michel e só então me lembrei que ele ainda estava no meu colo - Melhor pedir algo no ifood.
Ao chegar no grande corredor, coloquei ele no chão e o dei mão para que ele me acompanhasse. Brunna abriu a porta e foi a primeira a entrar, deixando a sua bolsa e a mochila dele sobre o sofá da sala. Em seguida ela caminhou para a cozinha, e eu fiquei por ali, pensando no que fazer com o menino que me olhava curioso.
- Você quer água? - questionei e obtive seu silêncio como resposta - Um refrigerante?
- aiaiiigia - foi a única coisa que saiu da sua boca depois de longos minutos.
- Ô Bru. - chamei a mulher que ainda estava na cozinha - Me ajuda aqui.
- O que foi, amor? - perguntou me olhando.
- O que eu tenho que fazer? - intercalei meus olhares entre ele e ela - Acho que ele não sabe falar ainda.
- Meu Deus. - ela segurou a risada - Liga a tv em um desenho e coloca ele sentado no sofá. A gente precisa conversar. - falou me olhando e eu concordei. Fiz tudo o que ela disse e a encontrei na cozinha, mexendo no celular.
- Ele ficou quietinho. - comentei e ela sorriu.
- Ele parece ser bonzinho. - falou - Então... O que aconteceu por lá?
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