Capítulo 57
Brunna - São Paulo 📍
Domingo - 19:00
Acordei com o choro da Lud, seguido de uns soluços altos - como quem quisesse se livrar de um incomodo profundo - Abri meus olhos com dificuldade e encarei seu rosto molhado por muitas lágrimas. Me sentei a cama muito preocupada com o que estava acontecendo com ela e procurei as melhores palavras pra consola-la de algo que eu não fazia idéia do que seria.
- Meu amor, não precisa chorar. Eu estou aqui com você. - fiz carinho no seu rosto - Vai ficar tudo bem, eu tenho certeza.
- Eu não sei o que fazer, Brunna. - falou ainda chorando, mas agora um pouco mais calma - Eu estou confusa e com medo.
- Eu estou aqui pra te ajudar, Lud. Mas eu preciso saber o que está acontecendo, eu não vou brigar com você. - a tranquilizei - O que está acontecendo?
- A minha mãe, a minha irmã, meu pai e o Michel. - falou de uma só vez me fazendo ficar ainda mais confusa, até porque eu só sabia da sua mãe.
- Vamos com calma. - pedi - O que tem a sua mãe?
- Ela me enviou uma mensagem um pouco antes de você viajar. - falou contendo o choro - Ela me contou várias coisas sobre mim, o Yuri e até sobre minha irmã.
- Você tem uma irmã? - questionei assustada.
- Sim, eu também não sabia. - voltou a chorar - Quando minha mãe me deixou com a minha avó, ela já estava grávida e não me contou, apenas foi embora.
- Meu amor, eu sinto muito. - tentei conforta-la - Por isso você está assim tão triste?
- Também, Bru. - ela desviou nossos olhares - Ela me contou que o Yuri é meu irmão apenas por parte de mãe, por isso ele mora com a minha avó, porque meu pai nao sabe desse detalhe.
- Meu Deus. - foi a única coisa que eu consegui falar.
- Não acaba nisso. - eu a olhei para que ela continuasse contando - Minha irmã tem um bebê de dois aninhos, e meu pai nao sabe. Eles estão indo pra suíça no próximo fim de semana e não podem levar o bebê, porque ele não foi registrado.
- Não me diga que... - fiz uma pausa pra tentar assimilar a moral da história.
- Calma, Bru. - se apressou - Eu ainda estou confusa, sem saber o que fazer. Eu estou com muito medo, ele é meu sobrinho e não quero que ele vá pra um orfanato e seja mal cuidado.
- Ludmilla. - suspirei - Eu não sei o que falar pra você. Eu vou tomar um banho e vestir uma roupa pra gente conversar.
Me levantei em meio a um silêncio bastante desconfortável e adentrei o banheiro. Invez de logo tomar um banho, me sentei no vaso sanitário para pensar o que eu diria para ela, quando eu saisse dali. Tudo bem ela ter me escondido que estava conversando com sua mãe - até porque é uma privacidade dela - Mas agora me esconder que está querendo colocar uma criança dentro da nossa casa para cuidar, já é uma loucura.
Flashback on
- Não, não é um sonho. Mas eu queria ter uma família completa. Deve ser legal ensinar uma criança a fazer as coisas certas. - confessei.
- É muita responsabilidade, não é só ensinar as coisas certas, tem que ensinar a não fazer as coisas erradas, tem gastos, preocupações. - me olhou séria - E depois não tem como mudar de idéia.
- Eu sei disso, Bru. Mas vai ser um filho, vamos ter orgulho dele ou dela. - ela sorriu - Daqui uns meses eu já faço trinta anos.
- Eu só tenho vinte e três. - sorriu forçado - E eu não consigo gerar uma criança.
- Porque não fazemos um acordo?
- Qual? - questionou curiosa.
- Nós temos um ano para eu te fazer mudar de idéia em relação a crianças, e então a gente tem um filho. - ela fez uma careta - Eu posso gerar ou nós adotamos.
- Se eu negar você vai ficar brava? - perguntou sapeca e eu concordei com a cabeça - Tudo bem, então. Mas eu tenho certeza que não vou começar a gostar de crianças de uma hora pra outra.
- Você não gosta, ou você se sente triste por não poder gerar? - me arrependi de ter perguntado ao ver sua feição mudar de confortável para triste e confusa.
- Eu não me sinto triste. - desviou nossos olhares - Eu só nunca tive a oportunidade de conviver com uma, para sentir vontade de ter.
- Então é esse o problema? - toquei seu rosto e fiz nossos olhares se encontrarem novamente.
- Talvez. - falou simples - Mas eu estou disposta a viver isso por você.
- Não tem que ser por mim, tem que ser por nós. - beijei seus lábios - Eu prometo que você vai mudar de idéia.
Flashback off
Agora sim eu entendi onde ela queria chegar com o assunto de ter uma família completa. E envolver uma situação para que gostasse de criança, até porque ela sabia que eu não faria isso por livre e espontânea vontade. No fim das contas, eu estava tentando me adapta com o fato de ter um filho, não com a idéia de ter um sobrinho de uma hora pra outra dentro da minha casa. Mas eu também a entendia, por mais que sua mãe tenha se afastado completamente, é notório que Lud a ama muito e jamais negaria algo nesse nível - e no lugar dela, talvez eu faria o mesmo - Mas ainda assim ela me escondeu.
Me levantei depois de muito tempo e tomei um banho longo. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto e vesti um pijama verde.
Quando eu sai do banheiro ela ainda estava no mesmo lugar, sem chorar, apenas olhando para um ponto fixo do quarto, como quem quisesse organizar os pensamentos que estavam em sua cabeça. Não falei nada, só passei meu perfume e voltei a me sentar na cama, um pouco afastada.
- Eu pensei que você queria ter um filho comigo. - falei depois de ficar quase vinte minutos em silêncio - Não que iria colocar uma criança desconhecida dentro da nossa casa.
- Brunna. - ela tentou falar mas eu a impedi.
- Não, Lud. Eu não estou brigando com você. Eu só queria que você tivesse me contado antes. - a olhei - Eu entendo que é a sua família, que você esta muito triste com essa situação, eu realmente entendo. Mas eu não entendo o porquê de você ter escondido de mim, que sempre te apoio em tudo.
- Como você queria que eu te contasse isso tudo? - perguntou óbvia - Você odeia criança.
- Tudo bem, Lud. Mas eu iria ter mais tempo pra me acostumar com essa idéia, não seria algo feito em cima da hora. - suspirei - Você nem conhece o menino pra saber com ele é.
- É um bebê, não um monstro. - falou irônica.
- Eu sei, Lud. Eu também estou triste de pensar ele se afastando da mãe e indo morar em um orfanato. - fui sincera - Mas você também é uma estranha pra ele.
- Mas eu vou ser a única família dele. - me olhou - E eu nem dei a resposta ainda.
- Mas é notório o que você vai fazer, meu amor. - tentei ser compreensiva - Daqui uma semana nossa vida vai virar de ponta cabeça, sem que a gente planejasse. Não vai ser como se a gente estivesse esperando um filho.
- Até porque você nem pode fazer isso né.
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