ASTERLAYNA I
⚜ Mar Fumegante, Limites não catalogados da Antiga Valíria.
82 DC.
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Inexcedíveis deidades fustigaram uma terra abastada pela profanação, o sacrilégio alçado pela cobiça dos maldosos intuitos cultivados pelo homem. O Mar Fumegante espalhou-se pelo que um dia fecundou-se a célebre Valíria, arruinada por uma perdição cataclísmica que promoveu o cruel exício dos filhos de sangue mágico e cavaleiros de dragões.
Algo como vidro agarrava-se nas rochas, enrustido e disfarçado pela fumaça que espiralava da água fervente — mais valioso que ouro ao reinado do oriundo Império Dracônico repressor. Inconfundivelmente ao cheiro de carvão impregnado nas narinas, o odor de medo pairava no Viajante, onde a tripulação que seu irmão a envolveu apodrecia com bolhas de erupção na epiderme inchada e a carne variando com tons rosas, gritando e lutando para quem afundaria suas mãos e rostos descobertos nos barris de água.
Asterlayna piscou com as cinzas recaindo sobre seus cílios escuros, expurgadas pelas lágrimas que deslizavam incessantemente por suas maçãs do rosto. Dizem que ela é uma estrela que despencou do céu, uma beldade para o coração da Casa Dayne e por isso seria a única capaz de navegar por aquele lugar amaldiçoado, pois já havia vindo a esse mundo queimando — sua mãe sempre a incentivou a habilidade de não contestar, porque as pessoas depositavam sua fé nisso e era agradável obter um escopo em prol de uma convivência pacífica.
Certa vez, uma sacerdotisa de Qohor, em seu canto viril e coração palpitante, previu que seu pai teria mais glória do que muitos em sua família há séculos não degustaram. Audaciando-se em confrontar o patrono de Tombastela, sua mãe, Clarissa, sempre repetia as palavras como um mantra, embora recebesse o indeferimento do senhor marido ao propagá-las; "Seu sangue antepassado vingou sobre o caminho da estrela. O forte de sua casa ungiu-se nas Montanhas Vermelhas, seu brasão ostenta-a e a espada que orgulhosamente é reservada apenas para a pessoa mais digna de sua família tem um pedaço dela. Outra estrela cairá e bendita será ela."
Coincidentemente, Asterlayna gritou a plenos pulmões pela primeira vez quando uma estrela cadente atravessou o céu. Línguas repercutiam que a alma da estrela nasceu com ela e desde então era benquista.
Rogam por mim como se eu não fosse uma mulher ungida de carne e osso, pensou amargamente. Eles abortaram em uma península valiriana que era inteiramente pulverizada de areia escura como carvão, com nada além de fumaça saindo das piscinas de magma borbulhante — a pobre tripulação de seu irmão precipitou-se e agora ardiam no mais puro flagelo.
O caminho por si só era complicado, cheio de rochas que eles deveriam ter cuidado para não esbarrar e sofrer um dano irreparável no casco. Sabia que os vulcões preservados abaixo da água e que formaram ilhas em suas antigas erupções estarem inativos era a única razão pela qual não eram acometidos por longas ondas. A topografia que enraizou-se afetava até mesmo a circulação de correntes marinhas, refugiadas daqueles limites.
Para evitar focar-se nos gritos de dor que alavancavam-se à medida que a permanência contra a terra firme tomava procedência, Asterlayna retirou o pedaço de vidro escondido no bolso de sua capa. Olhando-o agora sob a luz do céu cinzento e desanuviado, percebeu que mais assemelhava-se com uma obsidiana, algo como espécie de lava derretida e endurecida.
Retirou a espessa luva de pelo de cavalo da mão esquerda, mal registrando a alteração do calor de mormaço incômodo. Buscando atestar a voracidade do quão afiado aquilo era e se valia a pena toda a tormenta que vistoriaram nos últimos dias, roçou a ponta do dedo no vértice agudo, apenas um leve roçar inocente, para surpreender-se ao constatar o pequeno filete de sangue que desceu em linhas tortas por seu indicador.
— Outra tentativa frustrada onde precisamos dar meia volta antes de prosseguir. — Vorion, seu irmão, nomeado em honra ao último rei da casa deles, praguejou assim que aproximou-se de si, subindo para o degrau da proa. Suas roupas eram de couro mais rico de Volantis, mas o que inibia o calor de agredir severamente a pele deles era o amontoado de lã por dentro.
— Eles ainda estão retornando. Há a possibilidade de terem encontrado outra coisa. — Asterlayna tentou persuadi-lo, fungando e passando as mãos brevemente pelo rosto para que Vorion não a contemplasse debruada em lágrimas, que certamente não condiziam com o comportamento de uma mulher marcando o vigésimo primeiro ano de vida.
— Eu duvido que encontrarão algo. — Ele reclamou, subindo no degrau da proa.
— O que você esperava além disso? Esse lugar parece amaldiçoado. Todo constituído de rochas que podem eclodir há qualquer momento. Há apenas uma morte iminente que vamos abraçar muito em breve se insistirmos em ir mais adiante.
O príncipe Morion Martell os havia enviado para aquele lugar inóspito. Desde que o pai faleceu, criou um gosto específico por contratar corsários e piratas de Além do Mar Estreito para orquestrar uma invasão aos outros seis reinos, ameaçando romper a própria paz que Dorne experimentava.
Como se já não vivêssemos em constante desarmonia a partir do momento que o infeliz tornou-se príncipe reinante...
Corriam os boatos de que haviam armas preciosas perdidas nos escombros de Valíria e Morion simplesmente não poderia perder tal oportunidade de tê-las em mão, afinal, mesmo com a resiliência inabalável de seu povo, eles ainda enfrentavam o poderio de dragões que sussurravam cobrirem cidades inteiras com as sombras de seus portes — ao período que o tal Aegon ditador tentou iniciar a unificação de toda Westeros, a própria Fortaleza de Tombastela ardeu com a fúria de uma das irmãs-esposas dele.
Mesmo assim, Asterlayna desejou vê-los desde que era uma garotinha desditosa e repetia com frequência sobre "Acreditarei apenas se vislumbrar com meus próprios olhos", contudo, agora, ressentia-se com a perspectiva de que se isso acontecesse ela estaria na lista de descartes insignificantes.
Vorion, sendo um dos melhores comandantes das frotas dornesas, havia sido elegido para navegar em busca de tais espólios.
Então eles tiveram de soprar velas para recantos tão intimidadores. Ao silêncio do irmão, Asterlayna comprimiu os lábios.
— Você sempre foi excelente navegando e comandando frotas, irmão. Não permita que a expectativa de outrem esmoreça às suas. — Buscou os olhos dele, para retificar o que dizia, dispondo honestidade.
— Mas eram as minhas expectativas também, Layna. — Ele passou a mão pelos denso cabelo preto que encontrava-se completamente oleoso e sujo e manteve a outra em punho ao lado do corpo. As mechas que resplandeciam sobre o pálido e lívido raiar do sol não enxergavam água e sabão havia dias. E Asterlayna não estava melhor, mas não queria pensar nisso, pois imaginava estar prestes a entrar em uma síncope. — A maior conquista para alguém que refulgia-se nos bramidos possantes no mar é a sede pela conquista e descoberta.
— Fizeste isso ou perderia sua tripulação, Vorion. — Ela redarguiu, estendendo a obsidiana na frente do rosto do seu irmão. Idêntico a ela, com a face redonda, assustadores olhos púrpuras e lábios cheios. — Não é de todo um fracasso. Isso é mais afiado do que um aço comum que encontraríamos em negociações com Myr e Braavos. E, — Asterlayna pulou o degrau, virou-se na direção do depósito dos porões, onde uma arca enorme era empurrada pelos irmãos Samwell e Samwyle, dois brutamontes vindouros do ramo secundário de sua família serventes em Alto Ermitério. — Há mais desses guardados.
— Ainda é menos do que deveríamos ter tirado disso, Layna. — Ele levantou o rosto com crostas de carvão, com um franzido que parecia incapaz de se dissipar.
Vorion alongou um braço sobre a proa, mantendo uma mão dentro de seu gibão e possuído a mesma visão que a irmã detinha instantes atrás. Terras Valirianas que não deveriam mais ser tocadas e, no entanto, eles insistiam em continuar a perturbar seu descanso taciturno.
— Ainda há homens buscando por mais coisas lá. Não assuma uma falsa mediocridade tão precipitadamente. — Ela deu uma batidinha fraca no ombro do irmão, observando o esforço realmente honesto que ele fez para tentar sorrir em expectativa.
Mas Vorion mentia muito bem e não se contentaria em ser o único a dispôr de pessimismo.
— Ouso dizer que nem você acredita nisso. — Ele tentou soar jocoso, mas conseguiu apenas evindenciar mais sua frustração com a voz baixa e áspera.
— Nenhum navio que já deslizou para as profundezas do Mar Fumegante retornou. — Retrucou obviamente, pressionando o dedo ensanguentado na boca para abafar um gemido irritadiço. Os únicos escombros nomeados que se formaram após o cataclisma eram Tyria e Oros, antigas cidades valirianas com rumores de que pessoas loucas o suficiente habitavam nelas.
A pequena ilha em que eles abortaram não lhe era conhecida e certamente não era nenhuma das pensantes anteriores, adulterada de quaisquer contos repassados por marinheiros. A tripulação do Viajante havia sido ousada o suficiente para ir até ali, mas nunca deve-se brincar muito com a sorte. Eles não viam as cabeças de peixes ou golfinhos saltando no mar, como se até os próprios animais marinhos temessem aquelas bandas. Ficar no porão abaixo era quase insuportável, o que reuniu a maioria da tripulação no tombadilho ao intento de apaziguar-se com um pouco de ar fresco nas noites de dormir — como se não obstante algumas comidas estarem começando a estragar. Por sorte, eles sempre centravam-se em reunir pacotes de biscoitos, que mostravam-se duradouros até então.
O mar era imprevisível e a neblina dificultava que enxergassem quando a lua caía. Aquele espaço também não era detalhadamente mapeado, então muitas vezes tinham de se situar através das estrelas e a movimentação do sol.
Definia ser natural seu anseio em retornar para casa — abandonar os constantes olhares de alertas, descarregar a ansiedade constante e não seguir um caminho pelo qual ninguém sobrevivia.
— Ah sim. — Vorion regozijou, soltando uma risada sem humor. Asterlayna franziu uma sobrancelha, jogando a obsidiana no bolso da capa carmesim que envolvia seus ombros e colocando as luvas outra vez. — Até porque acreditas nos demônios que vagueiam por aqui, não é, irmã?
Suas bochechas afundaram em uma vermelhidão desconcertante.
— Não. — O tom áspero saiu antes que ela pudesse contê-lo. Ela mordeu a língua, engolindo em seco para acrescentar. — Mas as rochas fumegantes e os vulcões são a prova necessária para que eu priorize minha vida.
Vorion deu-lhe um sorriso que rapidamente se transformou em uma careta. A mão que ele repousara dentro do gibão voltou-se furtivamente para fora em um breve momento, como se ele estivesse a inspecionando. O cenho franzido se intensionou e a mandíbula enrijeceu. Asterlayna rapidamente caminhou para o lado dele, sua bota roçando o piso em um rastejo inaudível ao perceber os gestos dele e antes que Vorion pudesse prever, ela enroscou os dedos no pulso do irmão e puxou-o para fora com toda força que reuniu.
Vorion Dayne enviou-lhe uma encarada estupefata à pressão que a irmã fez. Mas ele nem tentou recolher a mão para si novamente. Quando ela começou a desenrolar o pano cinzento que um dia já fora branco, sentiu uma espécie de amortecimento também.
— Você é tão idiota quando eles, seu estúpido! — Asterlayna vociferou, pensando, com o estômago começando a revirar, se o que via além de pele queimada eram músculos e ossos leitosos.
Assim que o casco bateu na borda da pequena ilha, a tripulação derrubou as correntes e as âncoras para estagnar o navio. Porém, durante a imersão para exploração do espaço, foram surpreendidos com a explosão de uma das pequenas piscinas circulares — as que continham água, nem magma — que lançou-lhes líquido fervente. Eles urraram em desespero e os que permaneceram no Viajante precisaram ir ao socorro. Layna ainda estava na costa, coletando as obsidianas das rochas que já eram quentes o suficiente.
Ao todo, duas mulheres e três homens acabaram feridos.
Não sabia que seu irmão também havia sido atingido e estava inserido nos números.
Vorion bufou.
— Não é grande coisa. Vai ficar bom logo.
— Se você cuidar. — Asterlayna alertou, apertando os olhos e respirando fundo. — Não ignorando-o por conta de algum orgulho fraudulado em sua mente.
Finalmente, Vorion puxou a mão com brusquidão e recostou-se na proa. Seu semblante perfurou-a, mas Asterlayna não cambaleou.
— Não somos todos como você, irmãzinha. — Ele murmurou, seu tom perigosamente empertigando-se para apatia. Cruzou os braços e olhou para o mar que se estendia em vastidão.
— Não comece com as estúpidas suposições feitas pelas pessoas. Sou como você. — Ela o cortou, deixando que a raiva brilhasse tão furiosamente em seus olhos como no dele.
Vorion escancarou a boca, pronto para retrucá-la, dando um passo à frente, até que a voz de Perenelle Sand chamou-os ao longe, próxima a escada que levava a cabine, apanhando uma luneta de bronze que pressionava próxima ao olho direito e estava apontada para além da ilha.
— Capitão! Minha senhora! — Asterlayna estava caminhando sem esperar por Vorion, suas pernas longas dando-lhe uma largura mais avantajada do que para o outro.
Ao encostar o ombro com o de Perenelle, seu campo de visão capturou, à distância, enquanto o filho de Lorde Yronwood balançava os braços acima da cabeça. Layna xingou baixinho, ponderando se aceitar outras pessoas a bordo que não envolvessem a família deles, bastardos, fugitivos ou deserdados das Cidades Livres fora uma boa escolha. Ela rapidamente guiou-se para a escada estendida a bombordo e equilibrou-se na madeira oscilante. Quando suas botas afundaram outra vez na areia com um salto, não permitiu que os gritos do irmão afetassem seu ritmo vertiginoso.
Suas bochechas começaram a ficar vermelhas em ocorrência ao mormaço e as lapelas da capa roçaram na laringe.
— O que aconteceu? — Ela inquiriu bruscamente assim que estava próxima a Joffrey Yronwood. O rapaz, de rosto tão bonito, possuía os olhos arregalados e o rosto retorcido em desespero, com uma respiração desregulada e trêmula. Asterlayna aproximou-se dele, ouvindo os passos, provavelmente de seu irmão, virem em suas costas. — O que aconteceu, Joffrey? — Enfatizou, com seriedade, tentando encontrar os olhos dele que piscavam sem parar.
Velha Royne, ele parecia prestes a ter um colapso.
— Edgar... — Edgar. Era um filho de Lys que vivia em Tombastela há tanto tempo quanto ela podia se lembrar. Ele chegara em Dorne com apenas dez e três anos e era um dos homens mais impetuosos e gentis ao mesmo tempo que Asterlayna conhecia. Edgar estava com Joffrey. Mas agora não estava mais. — Ele...
— Ele o que, Joffrey? — O tom autoritário de Vorion pareceu acanha-lo ainda mais. E se antes ele soava apenas desesperado, agora estava doente e prestes a vomitar.
— Ele está muito, muito ferido. — Joffrey enfim admitiu e suas mãos subiram para tampar as orelhas quando Perenelle começou a praguejar as mais viscerais maldições.
Asterlayna não atreveu-se a respirar conforme Joffrey os levava até o local, seu coração batendo tão rápido e o sangue ensurdecendo seus ouvidos que tornou-a ausente da consciência real. O pavimento constituído apenas da areia escura começou a se avantajar, com pedras enormes tomando o campo de visão e em seguida a enorme parede preta estendendo-se para além do que ela podia acompanhar e que certamente possuía muito mais do que quinze metros de altura. Era uma visão intimidadora e ela ponderava se, nos tempos remotos, aquele espaço algum dia não correspondera a uma cidade... Havia uma entrada em aqueduto e eles a atravessaram, nada adiante a não ser vastidão e crateras quentes que espiralavam vapor cinza-claro.
Ponderou sobre Edgar, Edgar que sempre deslizava para assustá-la quando estava distraída, que ensinou-a a pescar e atestar se os ventos estavam favoráveis ou não para velejar. Desejava ardentemente que a inépcia do Yronwood houvesse afetado seu bom senso de contestar, mas Asterlayna pressionou as mãos na boca para abafar o grito de horror quando ela observou a pele completamente vermelha do lyseno, com Will, um jovem cavaleiro de seu pai, ao lado dele, segurando sua mão, assim que os encontraram, estirados antecipadamente rente à uma das crateras.
Asterlayna sentiu o estômago revirar-se violentamente, a náusea beirando em sua garganta e a mente turvada registrando os gemidos de dor do homem.
— Doce Rhoyne... — foi capaz de sussurrar, horrorizada.
Perenelle xingou atrás dela.
— Como isso foi acontecer? — Fora a voz autoritária de Vorion que indagou aos dois garotos, mas sabia que diferentemente do Yronwood, seu irmão confiava em Will e não esperava nada além da mais deturpada verdade, por mais cruel que fosse.
— Ele mencionou estar vendo algo mexendo-se na água, capitão. — Will informou, a face repleta de compaixão. Will era tão jovem, o mais jovem da tripulação, apenas contemplando seu décimo sétimo aniversário de vida, mas sua gentileza e serenidade lhe conferiam uma inocência pura, como agora, onde ele agarrava a mão de Edgar para dar-lhe conforto. — E quando aproximou-se para averiguar na beira, perdeu o equilíbrio. Conseguimos puxá-lo a tempo.
Layna não havia reparado, mas a mão de Will também estava rosada. Oscilando sobre o ombro, observou que as de Joffrey também não encontravam-se muito diferentes. Ao menos ele ajudou-o...
Asterlayna ajoelhou-se e conforme arrastou-se para perto de Will e Edgar, o cheiro de enxofre aprofundou-se. Ela avaliou a pele conforme sentia os olhos vidrados de Edgar a fitarem, tentando evitar que os murmúrios de padecimento obstruíssem seus pensamentos. Ele precisará de compressas quentes, ela pensou, antes que aquilo acabasse inflamando. Precisariam retirar as roupas pesadas para ver como estava a situação do resto do corpo, mas apenas o rosto era um sinal terrível de que encontrariam algo na mesma medida.
Quando ela iria falar com Will, Edgar tentou abrir a boca, mas apenas incongruências roucas deixaram-na. Ela pôs a mão sobre a dele, atestando o quanto a temperatura estava mais alta do que o normal mesmo na palma enluvada e forçou um sorriso para fora dos lábios em busca de tentar confortá-lo.
— E havia algo, de fato, nas águas? — Fora Perenelle que previu a questão ansiada pelos três recém chegados, definitivamente aflita.
Joffrey prontamente respondeu.
— Não avistamos nada, Sand. — Ele retrucou, este sendo um fato que aparentemente também o perturbava. — No entanto, Edgar sempre teve a melhor visão entre nós. Me inquieta a possibilidade dele haver simplesmente confundido-se.
Era verdade. Edgar conseguia distinguir os contornos do horizonte como se eles não passassem de figuras abstratas.
— Exatamente. — Seu irmão consentiu. — O que nos dá diversas possibilidades...
Um silêncio angustiante estabeleceu-se entre eles, enquanto Asterlayna pensava no melhor que poderia fazer por Edgar assim que adentrassem outra vez pela escada sinuosa do Viajante... Precisaria de pomadas, ervas secas e trituradas, água...
Ouvira também a mente de cada um tostando na busca por respostas.
— Joffrey. — Vorion chamou, sua palavras duras como o gelo, embora estivessem quase derretendo sob as camadas de roupas. — Vá atrás dos homens que ainda permanecem explorando o perímetro e diga-os para reunirem-se nos navios. Iremos partir. E, Perenelle — Prosseguiu a ordenar; a mulher, resiliente ao lado de Layna, moveu-se para olhar além dela. — Chame meus primos Samwell e Samwyle. Temos de mover Edgar o mais rápido possível para o navio.
Quando ambos partiram, ela tornou a encarar Will, que permanecia soando completamente perdido e com olhos nervosos.
— Ajude-me a retirar as botas de Edgar, Will. Acha que pode fazer isso? — O menino assentiu rapidamente, cachos loiros tremulando sobre a tez bronzeada. Asterlayna arrastou-se para perto dos pés de Edgar, tirando as luvas que usava e desfazendo os nós do cadarço de Edgar, puxando-o para baixo, conforme Will exercia o mesmo ato na outra.
Não estava pronta para a visão que teria a seguir quando puxou as barras da calça para liberar o tornozelo, muito menos para conter o gemido de terror que esvaziou-se de seus lábios, mas a pele emaciada de Edgar acumulando-se sobre a clara visão dos ossos causou mais pavor e agonia do que ela jamais experimentara antes.
Will respirou, trêmulo. Um choque mortífero correu em suas veias como um veneno dormente, ao mesmo tempo que a mulher reforçava para si mesma o quanto precisava manter-se sã e não causar apavoro em Edgar. Recitou essa calmaria como um mantra, buscando ignorar a perna que formigava em ansiedade e arrastou mais as barras, até acima dos joelhos.
A veia safena do lyseno estava ressaltada. Apertando os olhos, Layna pôde jurar ter visto algo rastejar sobre ela — e a própria pulsação do Coração de Dorne desestabilizou-se por inteiro.
— Por todos os deuses sem nome, que porra é essa?! — Vorion praguejou, o hálito quente dele roçando a lateral de sua cabeça e retirando-a do estupor, uma espécie de vertigem.
— Não grite, capitão. — Um Will acanhado atreveu-se a repreender quando Edgar remexeu-se ao som.
Asterlayna quase caiu para trás, se não fosse pelos joelhos de Vorion perfurando suas costelas. Sua língua estalou e ela piscou, pensando no que fazer. Era como uma cobrinha andando sobre a pele dele, infeccionando-o... Ou a veia deveria estar muito inchada, quase rachada. Edgar precisava da ajuda dela e Asterlayna não deveria fraquejar.
— Will, — Chamou, a voz não passando de um murmúrio fraco e rouco. — Pegue o pulso dele e continue constantando a vitalidade.
O rapazote imediatamente impulsionou-se para o que lhe fora ordenado, trazendo o braço de Edgar para mais perto de seu colo e virando o antebraço, até sentir o pulso no toque de seus dedos. Asterlayna voltou-se para frente, com as costas arqueadas e pousou uma das mãos contra a derme que outrora fora um tecido saudável. O contato com a textura irregular não afetou sua atenção à ocorrência enraizada dentro da pele, que realmente moveu-se naquele momento, rastejando e contorcendo-se em uma intimidade subcutânea.
— Layna...
— Quieto, Vorion. — Pediu, olhando rapidamente para ver se as vozes não afetavam Edgar. Se ele os ouvia ou não, não havia qualquer resquício de transparência. — Não me desconcentre.
A coisa dentro do corpo parecia perceber que Layna o analisava, porque evitava ir para perto de onde sua mão estava — bem acima do osso do tornozelo. Imaginou que o toque deveria causar alguma dor em Edgar, mas supôs que a queimadura era tão grave que a região tornou-se dormente e os nervos foram abatidos.
Acompanhando o caminho, eventualmente a linha deslizante parou.
— Vorion. — Sussurrou a pedido, temendo que qualquer movimento pudesse fazê-lo mexer-se outra vez. — Tire sua capa, dê-a para mim e espalme seu polegar na pele abaixo dos joelhos e não fraqueje, tudo bem?
A estatura opulenta de seu irmão logo estava ajoelhada no chão, o rosto impassível. Vorion entregou-lhe a capa e Layna envolveu-a sobre seu colo. Ele arreganhou as mangas da blusa com uma careta, seu ferimento também fazendo-se presente. Você pode esperar até depois, irmão.
Asterlayna não perdeu tempo. Ao vê-lo aproximando os dedos sobre a pele, sua outra mão disponível rapidamente correu para o vidro jogado no bolso da capa — afiado e mortal — retirou-o e afundou-o na pele vermelha.
Sangue esboçou-se em seu próprio pescoço, salpicando os lábios com o sabor metálico e o corpo de Edgar tremeu com um espasmo, o pé espatifando-se no chão como uma martelada.
— Will. — Pronunciou entre dentes. — A pulsação dele...
— Fraca mas ainda presente, senhorita. — A resposta viera rapidamente, tranquilizando as gotículas de suor que formavam-se na testa e que atestavam sua negação.
A coisa dentro da pele revirou-se incessantemente, até que estancou. Ela arrastou a faca em um corte preciso que não afetaria nenhum tecido adiposo e enfiou os dedos que deslizaram como se num rio dentro do espaço quente que o ferimento causou. Parecia uma resistência elástica, como se estivesse afundando em uma substância densa e viscosa. A pele cedia conforme Asterlayna prosseguia, cutucando os músculos e sentindo os contornos rígidos dos ossos.
Um pequeno verme emergiu entre seus dedos, banhado em escarlate profundo quando ela puxou-os para fora. Asterlayna rapidamente jogou o vidro para o lado, que perfurou levemente uma camada da palma de sua mão e ergueu a cabeça buscando conter a bile e enjôo que envolveram-na perigosamente.
Ela soube que Will vomitava pelo barulho. Não sabia a expressão de Vorion, mas a respiração acelerada só podia ser dele.
E teve a certeza de que aquele lugar possuía outras coisas bem piores do que vermes adormecidos em seu núcleo — afinal, já fora a terra de dragões.
〘 ✦ 〙Créditos do gif de finalização maravilhoso para a minha gatinha, Rhys (khaleesisword) que é sempre impecável. 🩷
〘 ✦ 〙Então... O primeiro pov tinha de começar com a minha darling Asterlayna! Uma coisa bem nojenta que eu tentei não me prolongar muito na descrição e que foi inspirada no acontecimento com a Aerea Targaryen — embora não tão horrível. E eu prometo que esse gore tá aí por razões de enredo e não puramente para causar choque no leitor!
〘 ✦ 〙Adoraria ouvir a opinião de vocês <3 Esse capítulo não tá revisado e peço desculpas por isso; eu comecei a trabalhar agora, além de estudar, então estou tentando conciliar meu tempo em escrever sempre que surge uma brecha.
ATUALIZADO EM 13/04/2024.
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