Capítulo 5
Henry
"Como conhecer alguém de verdade?
É só quando a necessidade bate.
Mesmo não sendo casamento
Amigo está contigo a todo o momento"
A noite passou, o sol raiou e o mesmo me acordou, junto com os galos. Não é uma música, mas é tão mágico quanto. A sinfonia que a própria natureza emite, é o mais belo dos cânticos, basta parar em silêncio e se permitir escutar.
Tomei uma ducha para despertar direito, vesti minha roupa clássica e soltei meus cabelos. Deixei-os bagunçados e selvagens. Nos meus shows, eu jamais tirava meu chapéu, pois era minha identidade no palco. O Henry cantando e o da fazenda eram os mesmos, porém um precisava ser profissional e, de certo modo, de aparências. O outro podia ser quem queria livremente.
Desci as escadas e o cheiro inconfundível do café de Dalva me recebeu. Olhei para a mesa farta e agradeci a Deus pelo alimento diário. Eu tinha uma bela casa, uma bela carreira, apartamento em São Paulo e era sócio em algumas casas de show. Nunca me faltou o que comer, o que vestir e saúde. Senti falta de uma família completa, mas no fim, percebi que minha mãe bastava. Pena que tudo que é bom, dura pouco.
— Vou arrumar seu quarto, Henry – anunciou Néia e assenti.
— Tome – disse Dalva dando-me uma faca para cortar o queijo.
A fazenda tinha de tudo um pouco. Cavalos, porcos, galinhas, frangos e gado. Tínhamos painéis solares e uma roda d'água gerando energia. Tínhamos horta e frutíferas. No entanto, nosso foco era o gado de corte. Claro que, tínhamos algumas vaquinhas e fabricávamos queijos e derivados, mas na maioria das vezes era consumido na própria fazenda. Havia ainda, algumas casinhas, tipo um condomínio onde os funcionários ficavam. Isso eu devia, em partes, a minha mãe e infelizmente a Robert, meu pai.
Comi duas fatias generosas de queijo e revirei os olhos. Essa felicidade alimentar se dava pelo fato de estar sempre viajando a trabalho e perder, por consequência, o prazer de uma comida caseira. É raro encontrar comidas assim em outros lugares. Claro que em qualquer lugar do Brasil acha-se queijo, mas não é a mesma coisa. Cada estado é único e gosto de experimentar as comidas típicas, mas a mineira, não tem igual.
— O que tanto tá matutando, querido? – perguntou Dalva.
— O quanto minha vida é boa – suspirei.
— Mas a da mulher que teve aqui ontem, não – revelou e franzi o cenho.
— O que quer dizer com isso?
Dalva secou a mão no pano de prato e se juntou a mim na mesa. Olhou-me com olhar de pesar e falou:
— Pedi o Tião para levar uma garrafa de leite para ela. Ela tá sozinha lá. Tá tudo uma bagunça deixada pelo idiota do antigo dono. Acredita que ele me disse que nem luz lá tem?
Eu me senti mal no mesmo momento. Eu agradecendo o quanto tinha e ela nessa situação. Claro que pelo carro, roupas e gestos, eu bem sabia que ela teria dinheiro. No entanto me questionei: ela dormiu bem, ontem?
— Fez bem em mandar leite para lá. Se quiser pode fazer uma cesta com coisas de comer e mandar – falei já me levantando.
— Ora! O senhor pode fazer muito mais do que isso!
— Não trago mulheres aqui, não sou de ter amigas, ainda mais do estilo patricinha dela. Já estou ajudando demais. – Aborrecido, saí pisando fundo.
A manhã passou a passos lentos. Ajudei alguns funcionários com a lenha, olhei os cavalos, respondi e-mails e ajudei uma vaca a parir. Mas nada fazia eu me concentrar pensando na patricinha gospel.
Perto da hora do almoço, estava todo suado e cansado, mas lembrando das benfeitorias feitas por minha mãe, resolvi ter uma atitude de paz.
— Fez a cesta, Dalva? – perguntei.
— Vou pedir a Tião para levar. – Apontou para a bancada.
— Eu mesmo irei levar lá.
— É mesmo, é? – perguntou em tom de insinuação.
— Não tenha ideias, mulher – esbravejei e saí.
Selei o Homer e fui cavalgando lentamente até a maldita fazenda. Minha barba estava espessa, eu usava botinha, uma blusa de botões aberta e meus cabelos amarrados em um coque. Era a figura de um peão.
Desci do Homer, o coloquei amarrado em uma árvore perto da porteira e a abri. Não havia o mínimo de segurança. Cada passo que eu dava, era uma tortura. Lembrei-me de meu tio e meu sangue fervia.
O lugar estava pútrido. Nem parecia uma fazenda da alta classe social. Tudo espalhado e feio. Andei em silêncio observando tudo. Não tinha como alguém passar um dia sequer nessas condições. Eu estava com náuseas pela sujeira.
Bati palmas, mas não ouvi nenhum barulho. Empurrei a porta e entrei. Cacos de vidro, garrafas vazias, bitucas de cigarro e várias outras sujeiras preenchiam o interior da casa. Com o tanto de mato cercando, foi uma imprudência ela ter dormido aqui. No mínimo, podiam aparecer cobras, ratos, aranhas e muitos outros bichos.
Ouvi um barulho semelhante a um choro e segui nesse rumo. Maria estava encolhida dentro de um cômodo que julguei ser o escritório.
— Você está bem? – perguntei.
— Ah! – gritou pelo susto, colocando a mão no peito. — Você me assustou.
Ela levantou com dificuldade e secou uma lágrima teimosa.
— O que faz aqui? Se é pela vasilha, eu já ia entregar.
— Eu vim lhe trazer essa cesta, preparada por Dalva – disse mostrando e seus olhos brilharam. — Mas vendo o estado dessa casa, não dá. Você vem comigo.
— Ir com você?
— Sim. Enquanto essa casa não estiver habitável, você não volta.
Ela olhou de um lado a outro, como se sentisse medo. Também pudera, eu invadi sua casa e estava ditando ordens. Eu não sabia ser delicado.
— Eu não sei. Não é correto uma mulher solteira, ou melhor, divorciada, ficar na casa de um homem solteiro.
— O que você está insinuando, que eu a quero como mulher? – indaguei.
Ela me olhou profundamente e seus olhos encheram novamente. Ela abaixou a cabeça e respirou fundo.
— Claro que não seria isso. Desculpe – murmurou.
— Arrume suas coisas. Uma mala basta. Vamos ligar para profissionais reformarem isso. Enquanto isso, você fica lá em casa. Tenho quartos de hóspedes.
Ela ainda parecia insegura. Sua saia de seda longa, sua blusa de alça e o bendito lenço amarelo, estavam presentes. Ela parecia pronta para ir a uma igreja.
— Mexa-se! – gritei e ela subiu as escadas correndo.
Meia hora depois, eu já estava impaciente, mas ela desceu com uma mala pesada. Passei a cesta para ela e ela pegou a vasilha. Enquanto ela levava a cesta, eu levava a mala. Como estava de cavalo, amarrei a mala em Homer e fomos andando.
Maria não poupou esforços e foi devorando as frutas da cesta. Eu não a questionaria por seus hábitos alimentares e nem pelo seu peso, pois odiava essas pessoas frescas com comida. Claro que, obesidade é algo sério e que precisa ser averiguado. Ela era acima do peso, mas não chegava a ser obesa. De todo modo, não era um problema meu.
Com seu suor, sua blusa branca de alça ostentava seus seios fartos, visivelmente. Por duas vezes tropecei em pedras e buracos da estrada disforme os encarando.
Passamos pelo atalho do rio e ela ficou encantada. Paramos para tomarmos água, lavarmos o rosto e Homer também se refrescar.
— Esse lugar parece a única coisa boa deste lugar – comentou.
— Você não pertence aqui Maria. Dá para notar que você é mulher de cidade grande. Não faz o menor sentido você num ambiente como esse.
— Na partilha de bens, eu ganhei essa fazenda por direito. Preciso criar novas memórias.
— Você mencionou ser divorciada, então isso veio da separação? – sondei.
— Sim.
Notei que a água do rio molhou ainda mais sua blusa, a deixando transparente. Seu sutiã era rendado branco, o que também não ajudava. Estávamos chegando na fazenda e eu não queria que os peões tivessem essa visão dela. Não por ciúmes, mas já que seria minha hóspede, não queria mal-entendido.
Retirei minha blusa, ficando nu da cintura para cima.
— Mas o que é isso? – gritou, tampando os olhos.
— Vista isso.
— Eu já estou vestida. Tenha modos, senhor Henry! Eu sou uma mulher descente. – Virou as costas.
Comecei a rir de suas maneiras. O tradicionalismo arraigado e, provavelmente, influenciado por sua religião eram pratos cheios para minhas intenções de ateu.
— Está calor e eu estou mostrando os peitos e a senhorita também – disse rindo.
Ela abaixou a cabeça e notou. Virou-se novamente para mim e aceitou minha blusa, cobrindo-se.
Vendo-a com minha camisa e eu sem, era uma cena machista e sensual, mas esperava que ela não notasse isso. Mais alguns minutos, chegamos em minha fazenda. Alguns funcionários nos olharam estranhando e Néia que estava estendendo roupas, também.
As bochechas de Maria estavam rosadas desde a cena da minha retirada da blusa. Sorri, pois seu constrangimento era um deleite.
— Dalva! – gritei e ela veio correndo.
— O que foi? Ah, oi Maria. Que prazer revê-la. – Abraçaram-se.
— A fazenda dela vai passar por uma reforma, e ela ficará aqui por uns dias. Arrume o quarto de hóspede para ela, por favor. Maria, sinta-se à vontade.
— Obrigada – agradeceu de cabeça baixa.
Dalva a levou para o quarto ao lado do meu e fiquei com raiva. Tinha um mais afastado, e ela coloca justo um lado a lado?
O almoço foi servido e Maria comeu com vontade, alegrando Dalva com os elogios. No período da tarde ela pediu para usar meu telefone e percebi ela falando com seu advogado. Pelo visto ele teria mais um processo.
Em seguida ela fez um vídeo chamada com uma tal de Madá e combinaram algumas coisas para as reformas. Revirei os olhos. Eu não estava espionando, é que mulheres falam alto demais.
Já quando estava anoitecendo, fui tomar meu banho, cansado, porém grato, pelos afazeres do dia. Escutei batidas na minha porta. Com certeza era Dalva chamando para o jantar. Saí com a toalha na cintura e outra secando o cabelo.
— Entra – falei.
— A senhora Dalva, mandou... – começou Maria, entrando. — Misericórdia!
Ela tampou os olhos com as mãos e virou as costas, ficando com sua bunda farta virada para mim. Meu pau ganhou vida com aquela visão. Seu peso a mais era apenas mais um atrativo. Eu queria pegar, morder e me deliciar em suas curvas. Coloquei a mão no meu pau tentando contê-lo, mas a visão da bunda de Maria era tentadora.
— Desculpe, Maria. Achei que era a Dalva. Pode dizer a ela que já vou descer – falei rápido.
— E você se mostra assim para ela? – perguntou virando-se com a mão na boca.
Isso fez ela retirar a mão dos olhos e ver minha ereção. Sua boca abriu em choque e pude notar os bicos de seus seios se elevando, bem como sua respiração superficial. Ela mordeu os lábios e voltou a fechar os olhos. Mesmo sem perceber, ela parecia me seduzir. Sua inocência, carregada de pudor, só me fazia desejá-la ainda mais.
— Vou avisar – falou e saiu correndo.
Escutei o "bum, bum" de seus passos descendo as escadas. Corri para o banheiro e bati uma punheta rápida, ou ficaria com as bolas doloridas. Após obter meu alívio, lavei as mãos e desci para o jantar.
Estranhamente, apenas Dalva e Néia estavam sentadas.
— Onde está Maria? – perguntei, fingindo desinteresse.
— Ela pediu para comer no quarto dela. Pelo visto algo a incomodou – ironizou Dalva.
Continuei fingindo desinteresse e apreciei a comida. Cada mastigada que eu dava, lembrava dela mordendo seus lábios. Eu não tinha sido o único afetado.
Suspirei e mentalizei que a obra de sua fazenda fosse breve, ou eu estaria ferrado.
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Sábado chegou com um capítulo um pouco sedutor.
Henry é um cowboy cretino, como o título sugere, ainda assim, tem seus momentos de bondade. Em contrapartida, Maria é uma mulher submissa, onde todas as suas ações eram ditadas pelos homens no passado. Ela quer mudar, mas é difícil do dia para noite. No entanto, é inegável que houve atração de ambos.
Como Henry vai fazer para manter intacto o lugar (fazenda) que ele reservou apenas para si, longe da fama e de mulheres; sendo que Maria agora é sua hóspede? E Maria, que quer mudar de atitude, dá logo de cara com o homem seminu 2 vezes?
O próximo capítulo é a visão de Maria. Não sei se notaram, mas todos os capítulos de Henry, há um pedaço de letra de música dele, que tem a ver com o capítulo. E nos capítulos de Maria, uma passagem bíblica com a essência do capítulo.
No capítulo de Maria, além de sabermos a visão dela sobre os fatos, seu passado, também saberemos o que ela está sentindo em relação a Henry. Vocês podem se surpreender.
O capítulo acabou e voltamos no próximo final de semana. Não esqueçam a estrelinha e os comentários. Agradeço a cada um. Beijos e até o próximo.
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