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Epílogo

5081 Palavras

Meus olhos estão pesados, e com muita dificuldade consigo abri-los. Me encontro num ambiente escuro, e mesmo que minha visão ainda esteja embaçada, consigo distinguir algumas coisas.

Tateio ao redor, percebendo a maciez de um tecido em cada toque meu, e com dificuldades por causa da preguiça, consigo me erguer e ficar sentado.

Esfrego uma mão frente aos olhos, e me espreguiçando por bastante tempo, torno a olhar ao redor. Estou em um quarto desconhecido, não muito pequeno mas bem ajeitado. A cama onde estou fica bem ao centro, de um lado vejo um armário grande, do outro uma janela por onde um pouco de luz passa pelas frestas.

Agora que a preguiça passou um pouco, estranhamente me sinto leve. Muito leve. Inclusive, percebo como estou me sentindo bem descansado.

Estranho, agora que me dou conta... Eu estive dormindo, mas... Não tive nenhum pesadelo? O que houve?

Devagar deixo a cama, e com cautela caminho para fora do quarto, buscando descobrir onde estou.

Ao abrir a porta, ouço algumas vozes não muito longe de onde estou.

Deixo o quarto, e olho ao redor por uma vez. A princípio, não consigo identificar onde estou, mas a arquitetura e toda a decoração me parece muito familiar, e sem perder mais tempo, sigo pelo corredor e encontro um lance de escadas para o andar inferior.

Desço as escadas e consigo identificar onde estou. Essa é a casa das bruxas.

As vozes estão mais próximas agora, bem ao fim do curto corredor à minha frente. Avanço devagar, olhando de soslaio para a porta que identifico ser o quarto da Nicole, e continuo meu passo até a sala.

Entro na sala e de todos, a primeira pessoa que olho é Alana. É simplesmente impossível não olhar para ela primeiro, e também, ela é a primeira a me perceber.

- Irmãozão! – Ela pula do sofá e vem até mim. Sem demora ela me abraça com um largo sorriso no rosto – Você acordou!

- É, eu não poderia ficar dormindo para sempre irmãzinha. – Respondo rindo, afagando seu cabelo algumas vezes. Passo meu olhar ao redor, vendo bastante gente reunida aqui – Perdi muita coisa?

Minha irmã se afasta, e passa seus olhos a todos aqui presentes. Danilo, Rafaella, Jessica... E também Julia, Henrique e Lucca.

- Posso dizer que sim... – Alana assente apertando a boca – Você está desacordado já faz três dias.

- Tudo isso? – Arqueio as sobrancelhas. – Nossa, fui mesmo ao limite dessa vez.

- Será que foi? – Ela me olha de canto – Eu fiquei preocupada.

- Imagino, mas não deveria se preocupar tanto irmãzinha. Afinal, nada neste mundo é capaz de acabar com seu irmão. – Minha irmã me olha com uma careta, a qual devolvo com um sorriso tranquilo. Então, volto minha atenção a todos, que até então estão apenas nos observando – Mas... O que todos fazem aqui?

- Bom... – Rafaella começa – Queremos explicações.

- É, acho que devo isso a vocês... – Dou um suspiro entediado, e olhando para minhas roupas atuais, e usando minha vontade, imediatamente às troco para uma calça jeans escura, uma camiseta branca, e meu sobretudo escuro – O que Alana já contou?

Agora que percebo, todos presentes me encaram com um semblante surpreso, e minha irmã está tentando conter seu riso. Ao que parece, eu utilizar meu poder da vontade tão casualmente foi algo bem inesperado.

- Bem... – Lucca começa, tropeçando nas palavras pela surpresa que teve. – Ela contou que todas eram bruxas...

- Que estavam controlando fantasmas pelas vilas, roubando nossas vidas... – Julia continua, tentando encontrar palavras enquanto encara suas mãos – E que um ritual imenso estava acontecendo.

Confirmo com a cabeça – É, minha irmã já contou bastante coisa.

- Tivemos muito tempo para conversar. – Alana fala, cruzando os braços e saltando seus ombros por uma vez. – E também... Não contei tudo sozinha.

Aperto os olhos, e minha irmã me faz um gesto com a cabeça, a qual acompanho, e ao fazê-lo, vejo Nicole deixando a cozinha com seus ombros encolhidos e olhar baixo, e logo atrás dela, Jackson também está presente.

A jovem bruxa timidamente ergue seu olhar para mim por um momento, porém ela logo torna a baixá-lo quando é confrontada por todos presentes.

- Foi ela quem o trouxe para cá. – Alana começa – Quando vim procurá-lo, encontrei Nicole sentada na frente desta casa. Ela disse que tinha te trago de volta.

- Te achei desacordado perto do altar de rituais da minha mãe. – Nicole diz enquanto avança até mim com certa cautela – Achei que o ritual tinha sido finalizado e você perdido sua alma, ainda mais depois de toda aquela loucura no céu... Mas vi que ainda tinha sinais vitais e por isso, te trouxe de volta.

- Quando você chegou, havia mais alguém lá? – Questiono.

- Não, só você. – Responde – Não havia sinal da minha mãe, nem das minhas irmãs... E desde aquele dia, nenhuma delas deu notícias.

Levo uma mão ao queixo, refletindo sobre isso.

- O que aconteceu com elas? – Danilo pergunta, e essa é a dúvida que reflete nos olhares de todos.

- Não sei bem. – Respondo sacudindo a cabeça por uma vez – Não tomei a vida de nenhuma delas, mas Eleonor levou as três irmãs para um lugar que desconheço...

- Mas e minha mãe? – Nicole pergunta com uma preocupação genuína. – Quando cheguei, não encontrei nenhum sinal dela.

Hesito um momento antes de dar a notícia, ainda mais percebendo a grande expectativa em seu olhar – Sua mãe... Eleonor está morta.

A jovem bruxa fica notavelmente desnorteada, e seus olhos enchem. Seus olhos vão de um lado ao outro, e apoiando uma mão no batente da porta da cozinha, Nicole fita o chão num semblante perdido.

Vendo como ela ficou, não seria exagero dizer que seu mundo, ou o que ainda restava dele, acabou de desabar... Não a julgo por isso.

Jackson prontamente a ampara, abraçando Nicole com carinho e firmeza, afagando os cabelos da jovem. De um jeito até que bem simbólico, Jackson parece ser uma figura protetora para Nicole, a qual ela aceita de bom grado e se sente livre para soltar a tormenta que guarda em si.

Não reprimo um pequeno e discreto sorriso ao presenciar isso.

Aproveito para olhar para todos aqui presentes. Neste momento, percebo que ninguém aqui condena Nicole de forma alguma, até mesmo parecem abraçar a dor da jovem bruxa, mesmo com tudo que aconteceu.

Eles se sentem mal pelo que ela está sentindo agora. Apesar de tudo que houve... Nicole ainda perdeu a mãe, e não se sabe nada sobre suas irmãs.

De certa forma, ela está sozinha.

- Você... – Jessica pergunta com cuidado, voltando a me olhar.

- Não, não fui eu quem a matou. – Digo, já prevendo a pergunta de Jessica – Foi alguém chamado Ion'Alia.

- Esse nome... – Nicole diz com a voz embargada, me olhando por trás do abraço de Jackson.

- Você conhece? – Alana pergunta apertando os olhos.

- Sim... Ion'Alia, o anjo que tirou tudo da minha mãe. – Nicole esfrega uma mão nos olhos, e respira fundo por uma vez – Minha mãe falou algumas vezes dele, e como se vingaria... Era uma de suas motivações pessoais para fazer o ritual.

- Vocês queriam sacrificar tantas pessoas para se vingar de um anjo? – Henrique pergunta incrédulo.

- Não era somente isso... Tinha... Tinha mais coisas envolvidas. – Nicole diz com cautela. – Minha mãe queria garantir nossa sobrevivência.

- Mas contra um anjo? – O rapaz insiste.

- Ao que parece, anjos não gostam de quem lida com bruxaria. E pelo que ele falou, Ion'Alia estava terminando um trabalho antigo. – Digo, lembrando da conversa que tive com Eleonor, e também o modo de agir de Ion'Alia – E não se engane... Alguns anjos não são tão bondosos quanto aparentam... Quase precisei enfrenta-lo também.

Todos me olham com reações mistas. Mesmo assim, consigo ver que acabam refletindo sobre o que acabei de falar.

- Ainda assim, é difícil digerir tudo isso... – Henrique comenta com a cabeça baixa.

- Sei como se sente. – Lucca diz num tom compreensível – Até agora não consigo acreditar que a Talita era uma bruxa... Nem que queria me usar de sacrifício.

- Me sinto da mesma forma em relação a Mari... – Henrique afunda o rosto nas mãos, respirando fundo por uma vez, enquanto Jessica o ampara dando alguns leves tapas no ombro. – Nem sei dizer o que estou sentindo.

- Ninguém aqui sabe... – Rafaella comenta com a voz baixa, e ergue seu olhar para Nicole, e assim permanece por um curto momento – Todos nós estamos nos sentindo traídos. Tínhamos todas vocês como nossas amigas... Vocês eram pessoas queridas para nós.

A jovem bruxa baixa seu olhar ao ser confrontada por todos, talvez por vergonha ou por se sentir pressionada.

- Sei disso... Mesmo que eu não tivesse certeza do que queria, também considerei vocês como amigos queridos, e por todo esse tempo menti e enganei vocês. Não espero que desculpem a mim ou minha família pelo que fizemos, sei que não tem como confiarem em mim, e... – A garota aperta a boca, e ergue seu olhar a mim. Nesse instante, entendo que ela tomou sua decisão – E por isso... Eu decidi ir embora.

- Como é? – Jackson pergunta quase que de imediato.

- Foi isso que ouviu Jackson... – Nicole responde com pesar – Nesses dias estive pensando muito, e depois de tudo, não acho que deva continuar vivendo aqui.

- Mas Nicole... – Julia se levanta, seguida pelos demais. Cruzo meus braços e assisto a cena, e de canto de olho, percebo que minha irmã faz o mesmo – Você...

- Você não precisa ir embora. – Rafaella é quem se pronuncia – Não estou dizendo que te desculpamos, mas... Você não precisa ir... Não quero que uma das minhas amigas mais queridas vá embora.

- Concordo... – Lucca leva as mãos à cintura – É... É difícil dizer, não sei bem...

Henrique torce a boca – São muitas coisas, tudo isso foi um baque muito grande para todos... Vai levar tempo até digerir tudo.

- Estamos magoados. Isso é consenso. – Rafaella para ao lado de Henrique, e o mesmo concorda com a cabeça – Mas acho que ninguém aqui te odeia...

- É, apesar de tudo... Não tenho raiva. – Lucca completa, ainda um pouco desnorteado. – Só será difícil esquecer... Ou superar.

- Acho que... A gente só precisa de tempo para pensar. – Jessica diz reflexiva.

- Você não precisa ir embora Nicole... – Rafaella diz, colocando ambas as mãos nos ombros da jovem bruxa.

- Desculpa... Mas eu preciso. – Ela responde baixando seu olhar. – Preciso crescer, e descobrir o que quero para mim.

- Mas... – Jackson começa, com a voz fraca – Se já tem isso decidido... Para onde você vai?

Nicole me olha, e respirando fundo, a firmeza antes perdida parece retornar ao seu olhar – Irei embora com eles. Eu vou para o Abismo.

- O que? – Pelo menos quatro deles falam isso quase ao mesmo tempo, e Alana me salta uma sobrancelha. Jackson encara o chão e ergue as mãos, visivelmente desnorteado – "Abismo"? Mas... Como assim? Que lugar é esse?

- É o lugar de onde nós viemos. – Digo avançando alguns passos – E também, onde Nicole poderá encontrar o que procura.

- Sei o quão irreal isso parece, mas é o que preciso fazer... – Nicole reforça correndo seu olhar por todos, e parando em mim – E é algo que tenho decidido.

Os semblantes e opiniões deles são mistas. Não é preciso palavras de ninguém para saber disso, basta olhar seus rostos para saber.

- Não sei se isso os tranquiliza... – Digo, chamando as atenções a mim – Mas Nicole poderá voltar para visitá-los, ou voltar a morar aqui se assim desejar.

A jovem bruxa me olha um pouco surpresa. – Isso é verdade?

Ofereço um sorriso – Não precisa ser uma mudança definitiva. Você poderá voltar quando sentir vontade.

- Não nego que isso me dá um certo alívio... – Rafaella dá um meio sorriso – Achei que nunca mais poderia vê-la.

Nicole sorri de volta, o que é imitado por Danilo e Julia, que logo soltam pequenas risadas. O rosto de alívio que Jackson faz é impagável, tenho até vontade de rir por ser a expressão mais genuína dentre todos.

- Isso foi inesperado. Quando a chamou para ir ao Abismo? – Alana me sussurra, ela me sorri de canto e mantém sua sobrancelha erguida.

- Pouco depois de enfrentar a fantasma gigante. – Respondo saltando os ombros – Vi que Nicole estava muito dividida e não sabia se realmente queria aquilo. Mas apesar das incertezas, ainda fazia por sua família. Então, ofereci essa chance a ela.

- Que bonzinho. Onde está meu irmão malvado? – Alana brinca e seguro meu riso.

- Não me provoque irmãzinha. Lembre-se que não sou eu quem ficará sem doces no final do dia. – Rebato cutucando seu ombro de leve.

- É, acho que foi apenas um rápido lapso de bondade. Meu irmãozão malvado continua aqui. – Alana comenta com uma careta enquanto que eu sorrio de canto, e logo nós dois estamos aos risos. – Então, você teve que enfrentar a fantasma gigante?

- Sim, e ganhei dela. – Respondo – E você? Como foi naquela noite?

- Também lutei com um fantasma gigante. Aquele cheio de armadura... – Alana abre um largo sorriso convencido – E ganhei dele com um braço nas costas. Ele não tinha chance nenhuma contra mim.

- Essa é minha irmãzinha. – Digo afagando seu cabelo com um sorriso orgulhoso.

Alana olha para a bruxa por mais uma vez – Ela sabe como isso vai funcionar?

- Não, ainda não tive tempo de explicar nada para ela. – Respondo enquanto observo Nicole conversando algo com Rafaella e Danilo – Mas tempo para explicar não falta... E tempo é algo que todos eles precisam.

- Concordo. Será bom para eles. – Alana cruza seus braços – Acho que ainda não pensaram tão bem sobre tudo, estão decidindo as coisas sobre Nicole muito rápido.

- De qualquer jeito... – Digo olhando fixamente para bruxa – Acho que já está na hora.

- Já vamos voltar para o Abismo? – Alana me pergunta.

- Primeiro para nosso apartamento. Temos que deixar todas as coisas que compramos nessa viagem – Explico rindo – Depois, vamos para o Abismo.

Alana me ergue uma sobrancelha – Vamos almoçar primeiro, não é?

- É claro. – Dou uma risada – Ei, Nicole!

A garota vira seu olhar a nós, e se aproxima quase que de imediato.

- Em breve estaremos voltando. Por isso, pegue tudo que for levar. – Percebo os olhares de todos em nós.

- Tudo bem, já arrumei boa parte das minhas coisas. Irei pegar tudo que falta. – Ela me olha fixamente por alguns instantes, analisando meu rosto com certa expectativa no olhar – Sua aparência está melhor... Como você está se sentindo?

Fico um pouco surpreso com essa pergunta tão repentina – Estou me sentindo bem. Fui levado ao limite, mas gosto disso, afinal sempre me sinto vivo quando faço isso... E também, sempre me recupero. – Digo me espreguiçando, novamente dando atenção a como me sinto leve.

- Então... Você conseguiu descansar? – Ela questiona novamente.

- É até que sim. Dormi bem dessa vez e pelo visto, não tive nenhum pesadelo... – Paro de falar e olho para a bruxa, estranhando tal interesse – Espera... Por acaso, você tem alguma ligação com isso?

Ela abaixa seus olhos – É, tenho... Você me contou que sempre é atormentado quando adormece, independente da situação, e pude ver isso com meus próprios olhos... Por isso, dei um jeito para que dessa vez, você não tivesse pesadelos.

Troco um olhar rápido com Alana, e minha irmã apenas salta os ombros sem ter muito a me dizer – Bom, eu agradeço muito por isso. A muito tempo não sei o que é ter uma boa noite de sono... Não pretendo ter outras, mas mesmo assim, obrigado Nicole.

Ela me sorri genuinamente, e retribuo esse sorriso. Sinto que ela quer falar algo, mas por algum motivo, não o faz.

- Agora, vá lá arrumar suas coisas. – Digo calmamente – Logo estaremos indo.

Nicole assente, e deixa a sala. Não consigo deixar de acompanhar a garota com meu olhar. Sei que não deveria, mas mesmo agora... Nicole ainda me lembra aquela pessoa.

Elas são realmente parecidas... Em tudo.

- Ei, vocês irão cuidar dela? – Ouço Jackson perguntar, e isso me faz esboçar um pequeno sorriso.

Viro meu olhar ao rapaz, e junto dele, todos estão com suas atenções voltadas para mim e minha irmã. – Sim, irei cuidar dela. Nicole ficará bem, eu garanto.

- Podem ficar tranquilos. – Alana diz com calma – Apesar do nome, o Abismo não é um lugar ruim. Ela estará segura com a gente.

- Existem outras pessoas nesse tal Abismo? – Rafaella pergunta.

- Apenas outras duas pessoas, estão conosco a alguns meses. – Respondo, atento se alguma desconfiança surge neles – São pessoas que decidiram entrar no Abismo, assim como Nicole fez.

- Eu irei falar com ela. – Jackson diz em um sussurro, e alguns olham para ele, e até chego a imaginar que ele dirá que tentará fazê-la mudar de ideia – Se ela está mesmo decidida a ir, então... Acho que quero passar algum tempo com ela.

- Você está certo. – Rafaella concorda, batendo uma mão no ombro do mais alto – Vamos.

Acompanho os dois seguindo na direção que Nicole foi. Meus olhos furtivamente segue o movimento dos demais. Julia e Henrique sentam-se no sofá, Lucca solta um suspiro frustrado, apoiando uma mão na parede, encarando o nada com frustração, já Jessica fita o chão por alguns instantes.

Solto um suspiro e sigo para fora da casa, passando pela porta da frente e encarando o dia ensolarado. Não está quente, mas o sol está presente.

Observo o jardim da casa das bruxas, que agora conta com diversas plantas e flores murchas, trazendo um ar de tristeza e abandono a este lugar.

Saber qual o motivo de cada uma dessas plantas estar assim me deixa mal, com um sentimento muito ruim presente em meu peito. Ela era minha inimiga e tinha planos horríveis, mas não desprezo nem odeio Eleonor. Mas apesar de seus planos deturpados, eu não queria que ela morresse.

Me sinto mal e um pouco triste. Não queria que as coisas terminassem dessa forma.

Realmente gostaria de ter tido a chance de conhecê-la em outras circunstâncias, com outros planos. Em uma situação que não fôssemos inimigos. Gostaria de poder ter conversado mais com aquela bruxa.

O vento suave pode ser ouvido no ar, e o chacoalhar das árvores próximas recriam uma melodia natural profunda, até inebriante, contudo, nem os sons ou o vento afastam o que está em meus pensamentos.

Por um momento, penso como deveria ser esse jardim antes de tudo acontecer. Este deveria ser um lugar belo, e agora não é nem sombra do que um dia foi.

- Irmãozão? – Ouço Alana me chamar, parando ao meu lado – Está tudo bem?

- Sim irmãzinha, apenas pensando um pouco. – Respondo fechando meus olhos, puxando o ar devagar, e soltando em um suspiro – Parece que tudo acabou...

- É... Essa foi nossa viagem. – Alana sussurra. – Será difícil para eles superarem tudo que aconteceu. Todos estão muito abalados.

- Eu sei, tudo que aconteceu foi demais para eles. – Viro meu olhar a minha irmã – Eles precisarão de tempo para lidar com tudo.

- Todos eles, a Nicole principalmente... – Alana diz, cruzando seus braços.

- Irei acompanhar ela de agora em diante. – Respondo – Me certificarei que ela fique bem.

- Preocupado com ela? – Ouço seu tom brincalhão, e solto um sorriso.

- Talvez, mas não pela pessoa que Nicole me faz lembrar. – Sorrio fraco – Mas porque agora, ela faz parte do Abismo como nós.

Minha irmã assume um semblante pensativo – Você contou que apareceu um anjo...?

- Aquilo foi uma surpresa para mim também. – Digo torcendo a boca – Era o mesmo anjo que destruiu o antigo Coven da Eleonor. Ela o procurou por anos para se vingar.

- E se a Nicole também quiser seguir por esse mesmo caminho? – Alana pergunta com um semblante preocupado – Se ela quiser buscar vingança, o que nós faremos?

Paro e reflito na pergunta da minha irmã, tentando encontrar uma resposta. Olho para minha irmã, e dou um pequeno sorriso. – Nós daremos um jeito irmãzinha.

Escuto alguns passos logo atrás de mim, e olhando sobre o ombro, vejo Lucca se aproximando com uma chave em mãos, e erguendo seu olhar a nós. Um olhar entristecido, e também tomado pela decepção – Desculpem, eu preciso de um tempo.

Assinto e dou passagem a ele. O rapaz caminha em direção a um dos carros estacionados perto do portão da casa, e entrando em um, ele parte sem demora.

- Ele está muito abalado. – Alana diz em tom baixo – A notícia que as irmãs eram bruxas foi um choque para ele.

- O Lucca gostava da Talita, gostava muito. – Digo em voz baixa – Deu para notar isso quando estávamos lá naquele restaurante. É até estranho ver alguém tão animado como o Lucca assim tão triste.

- O Lucca já foi? - Escuto Jessica perguntar.

- Foi, ele precisa de um tempo. – Alana responde olhando ao portão.

- Todos nós, isso tudo foi demais... – A garota encara o chão – Ainda não acredito que fui controlada por uma bruxa, nem que quase machuquei meus amigos a mando dela. Foi assustador ter uma voz na minha cabeça me mandando fazer tantas coisas...

Aperto os olhos por um instante, e decido tirar uma dúvida – Desde que tudo aconteceu, você chegou a ouvir alguma voz outra vez?

Ela nega com a cabeça – Não, não ouvi mais nenhuma voz... E só eu sei como estou aliviada por isso. Agora só quero deixar tudo que aconteceu para trás.

- Eu entendo. – Digo fitando minha irmã, que me da um meio sorriso e salta os ombros.

- Vocês irão embora assim que a Nicole arrumar tudo? – Ela questiona nos olhando.

Troco um olhar rápido com minha irmã, e ela própria não parece saber o que dizer.

De certa maneira, nossa viagem já acabou a muito tempo, de uma maneira que não esperávamos de maneira alguma, e tudo que aconteceu resultou em diversos danos em toda a cidade. Já não temos mais nada a fazer aqui.

- Ainda não. – Respondo finalmente, para a surpresa de ambas – Permaneceremos por mais dois, ou três dias. Quero me certificar que tudo está bem antes de irmos embora, e se possível, aproveitar um pouco mais desta região... Precisamos terminar nossa viagem de irmãos normais.

Jessica confirma com a cabeça, deixando escapar um pequeno riso – Espero que consigam aproveitar nesses próximos dias.

- Também espero por isso. – Devolvo com um sorriso.

- Eu vou entrar, também quero ficar um pouco com a Nicole antes de ela ir embora. – a garota responde, virando-se e entrando na casa.

Volto meu olhar para Alana, que tem um sorriso sapeca no rosto – O que foi?

- Querendo ficar mais alguns dias irmãozão? – Ela pergunta rindo e com um tom sugestivo, e já entendo onde isso vai dar – Eu sei muito bem quais são seus motivos para querer ficar mais tempo.

- Até o final dessa viagem, ainda vou te deixar sem doces irmãzinha. – Devolvo rindo.

- Vai nada, você não faria isso comigo. – Ela ri junto de mim.

- Continue me provocando e você verá se não faço. – Sorrio de canto com as sobrancelhas erguidas, e Alana faz uma careta. Com isso, volto meu olhar ao jardim pela última vez, me despedindo mentalmente deste lugar – Vamos entrar, não temos mais o que ver aqui.

Minha irmã olha o jardim por uma vez, assim como eu faço. Apesar de seu silêncio, sua feição demonstra que Alana entendeu o que esse lugar significa, e o que aconteceu.

Com isso ela me assente, e entramos na casa novamente, deixando tudo que ocorreu nesses dias para trás.

*****

Não demorou muito para que Nicole ajeitasse suas coisas e voltasse para nos encontrar. Mas foi tempo mais que suficiente para que eu conversasse com minha irmã sobre como se desenrolou minha luta com Eleonor, o ritual que ela planejava, e também como fiz as almas retornarem a seus corpos.

Minha irmã contou sobre o que eram aqueles pilares luminosos. Ela estava próxima de alguns deles, eram as almas deixando os corpos e ascendendo aos céus.

Quando Nicole apareceu com suas malas, nos preparamos para ir embora. Ela olhou para trás por uma vez, antes de entrarmos no carro de Jackson e retornar ao chalé.

Quando chegamos, Alana contou que em seu confronto com Tadeu e sua família, ela acabou precisando destruir boa parte do chalé para poderem ganhar tempo e escapar. Com isso, utilizei meu poder para poder reconstruir toda a estrutura do lugar, para podermos continuar hospedados por lá mesmo.

Permanecemos no chalé, até todos irem embora, e restar somente minha irmã, eu e Nicole. A garota esteve calada por boa parte do tempo, não a julgo por isso.

No passar do primeiro dia, Nicole me pediu para retornar a casa de sua família. Com um olhar voltado ao chão e os ombros encolhidos, ela disse que gostaria de fazer uma última coisa, e sem perguntar o que seria, concordei em voltarmos lá.

Ao chegarmos, a garota hesitou um momento e entrou na casa, que estava mergulhada no silêncio que era rompido somente por seus passos vacilantes, além disso, o ambiente estava mergulhado em uma penumbra sepulcral. Aquela casa, da forma que estava, continha um ar muito pesado.

Apesar de seu silêncio, não me passou despercebido o profundo suspiro que deixara escapar, nem seus olhos cheios. A tristeza que ela tinha em si era palpável.

A jovem bruxa foi até um quadro que havia na estante, um que se não me engano havia visto de relance quando vim aqui pela primeira vez. Observando com atenção, percebi que ali havia uma foto de uma Nicole alguns anos mais nova, junto de sua mãe e suas irmãs.

Ela abraçou a foto por alguns instantes em um choro silencioso e sincero, e acompanhada pelo meu olhar, seguiu para fora da casa novamente sem tocar em mais nada, sequer visitou qualquer outro cômodo. 

Nicole seguiu para o jardim, ajoelhando em meio as várias plantas mortas ainda com o quadro em mãos, e ali permaneceu por poucos minutos com sua cabeça baixa.

Assisti ela preparando um túmulo simbólico para sua mãe e suas irmãs que estão desaparecidas, e assim que havia terminado, apoiou as mãos no chão e baixou a cabeça, e um soluço a escapou. Sem mais conseguir se conter, Nicole desabou em um choro que parecia vir do mais profundo de seu peito.

Apesar das circunstâncias serem diferentes, conheço a dor de perder a família, por isso, dei a Nicole o todo tempo que precisava.

Apesar de tudo, das expectativas de sua mãe e de toda a maneira como Nicole era tratada pelas irmãs, elas ainda eram sua família. 

Um pouco relutante, me aproximei e ofereci minha companhia, que não sabia se ela aceitaria, mas ela o fez. De certa forma, fui o culpado por tudo, e entenderei se ela me culpar.

Não tem jeito, eu sou mesmo um monstro...

Levou algum tempo até Nicole se acalmar, e em palavras sussurradas recitar um pequeno verso de seu Coven para se despedir. 

Observei a jovem bruxa se erguer devagar e voltar seu olhar para a casa atrás de nós, se despedindo do lugar que passou os últimos anos, e com pesar também se despediu de sua família, dizendo que as amava.

Após isso, respirou fundo para se acalmar, e com a voz embargada disse que já não havia mais motivos para permanecer naquela casa.

Neste momento, passados três dias que havia dito, em passeios pelo local e acompanhando como as coisas aconteciam em cada uma das vilas, caminhamos pela vila de Mauá, e posso ver boa parte dos danos resultantes do conflito que minha irmã teve com a família de servos da Eleonor, e também contra aquele espectro gigante.

Os danos foram pesados, e levarão tempo para reformarem tudo.

Ouvindo conversas próximas de nós, parece que houveram problemas nas vilas de Maromba e Maringá. Quando as pessoas tiveram suas almas arrancadas, elas perderam a razão e começaram a agir de maneira muito estranha.

Buscavam irrefreavelmente a mãe. Queriam adorar e louvar a mãe, e destruíam tudo aquilo que estivesse pela frente os "impedindo" de encontrar sua deusa.

E assim que suas almas retornaram, eles voltaram a consciência, mas não sabiam o porquê de estarem agindo de tal forma. E até agora, não parecem estar próximos de descobrir o motivo.

Independente disso, agora as pessoas daqui claramente aparentam estar melhor. Nenhuma delas apresenta expressões vazias que presenciamos dias atrás, e na verdade, estão até bem empenhadas em reconstruir tudo.

Nesse instante, estamos parados em frente a vila, com nossas várias malas deixadas ao chão, amarrotadas de coisas que compramos.

Nicole está junto, tendo apenas duas malas com todas as suas coisas mais importantes, sendo muitas de suas roupas, itens pessoais, algumas fotos de sua família, e também alguns livros.

Por causa de todo o incidente e as várias reformas, não estão saindo nem chegando ônibus nas vilas. A única forma de acessar a região atualmente, é de carro, e é justamente o que iremos utilizar para irmos embora.

Henrique se ofereceu para nos dar uma carona até Rezende, e de lá, pegaremos um ônibus de volta para São Paulo. É até o mais adequado, já que ele possui um carro bem grande, o suficiente para todas as nossas malas caberem sem problemas.

Jackson é quem gostaria de dar essa carona, como uma clara tentativa de ficar algum tempo a mais com Nicole. Entretanto, seu carro acabou bem danificado na confusão toda, então ele ficou de mãos atadas.

Eu poderia nos levar diretamente para dentro do nosso apartamento em São Paulo, demorando apenas um segundo? Poderia, mas Alana quer que pelo menos o final da viagem seja de uma forma normal.

Ao meu ver, essa foi a desculpa que minha irmã conseguiu pensar para poder viajar de ônibus mais uma vez.

Passo meus olhos por todos que, desde o momento que acordei novamente, estiveram reunidos. Não sei o que passa na mente de cada um deles, mas sei que fizeram questão de estarem presentes agora.

Vou colocando as malas na caminhonete, e de canto de olho observo todos se despedindo de Nicole, entre abraços demorados com seus amigos mais próximos e alguns pedidos para a bruxa manter contato sempre que pudesse.

Percebo que Rafaella e Julia entregaram algo para Nicole, algo que parece ser um símbolo de amizade entre as três. Ao redor, Jessica e Danilo observam a cena aos risos, e um pouco afastados, estão Jackson e Lucca.

Nicole se despede de vez de todos, e antes de se aproximar de mim e da minha irmã, ela lança um último olhar para Jackson. Os dois não se aproximam, e tudo que fazem, é lançar um pequeno aceno um ao outro.

Não sei se estou vendo coisas, ou se tive uma interpretação exagerada... Mas ao meu ver, esse curto aceno não simbolizou um até breve... Mas sim, um adeus entre eles.

A jovem bruxa volta a se aproximar de nós – Está preparada Nicole? – Pergunto.

- Sim... – Ela responde passando para seu olhar de mim a minha irmã, e respirando fundo, a firmeza retorna ao seu olhar – Podemos ir.

- Certo, vamos. – Digo dando um sorriso – Te levarei a sua nova vida.

- Acho que uma nova fase está começando irmãozão. – Alana me fala com um sorriso, assim que a jovem bruxa entra na caminhonete. – As coisas estão mudando.

- É irmãzinha... – Respondo refletindo em quem já reunimos – Realmente está.

Entramos na caminhonete sem demora, e com um último olhar que Nicole lança para trás, o veículo é ligado e nós partimos.

Partimos para o Abismo.

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