Capítulo 9
1405 Palavras
Sentado no deque do chalé, aproveito o crepúsculo vespertino com a bela vista para as montanhas. Os tons alaranjados tingem o céu e cada uma das várias nuvens, enquanto que as sombras da noite já vão ganhando seu espaço, a suavidade da brisa noturna pode ser sentida.
Ergo o celular que tenho em mãos, preparando um ângulo agradável e tiro algumas fotos da paisagem. Vou querer rever essas paisagens no futuro.
Aproveito o momento de calma e começo a olhar as demais fotos de hoje, revisitando cada uma das recentes memórias. As demais cachoeiras que passamos, as paisagens, restaurantes, alguns dos mirantes da região, e também a prainha bem perto daqui, cada momento do dia retorna aos meus pensamentos.
Foi um dia divertido tanto para mim, quanto para minha irmã.
Mesmo não tendo conseguido nenhuma informação que poderia ser útil, com certeza não mudaria nenhum ponto de hoje. E sei que, com certeza, amanhã terá mais, afinal já temos planos.
Durante nosso almoço, acabamos puxando conversa com algumas pessoas na tentativa de descobrir algo que nos ajudasse a lidar com o problema dos fantasmas, e apesar de não descobrirmos nada de novo, ficamos sabendo de outros pontos turísticos da região, um destes sendo uma pista de vôo livre e também, indo pela outra direção, um imenso haras com passeios a cavalo.
Fiquei muito mais interessado na pista de vôo, já minha irmã pareceu mais interessada com a ideia de andar a cavalo. Acabei perdendo a melhor de três no Jo-Ken-Po, então nosso passeio de amanhã cedo será andar de pocotó.
Ouço a porta sendo aberta pouco atrás de mim, e os passos no piso de madeira entregam a aproximação da minha irmã.
Ela apoia os cotovelos no parapeito do deque, fitando a paisagem a nossa frente. Percebo que ela tem uma toalha sobre a cabeça, e seu longo cabelo branco jogado sobre os ombros não está totalmente seco, além disso ela trouxe consigo um pacote de balas sortidas azedas.
- Adivinha quem já está com sono... – Ela balbucia preguiçosamente.
- Tão cedo assim? – Questiono, voltando a olhar o céu. Os tons alaranjados cada vez mais desaparecem, dando espaço ao profundo escuro da noite, onde as primeiras estrelas já cintilam timidamente e a lua já se mostra visível.
- Sim, andamos bastante hoje. – Alana respira profundamente, retirando a toalha da cabeça e deixando sobre os ombros – Viu todas as fotos que tirei?
- Acabei de ver todas, ficaram excelentes. – Respondo olhando para o celular em minha mão – Foi uma surpresa te ver tirando fotos.
- Sei como você gosta de fotos, então resolvi tirar algumas. – Justifica-se num erguer de ombros, beliscando mais uma balinha.
- Escolherei as melhores para montar um álbum da viagem. – Comento divertido, fechando os olhos por um instante.
O silêncio se vê presente entre nós, rompido apenas pelo som do vento, e também é possível ouvir grilos cantando ao longe.
- Logo será noite... – Sussurro abrindo os olhos, fitando a lua crescente.
- Sim... – Alana responde num tom neutro – O que fará?
Penso por um instante antes de responder – Eu irei para a vila. E quanto a você?
- Irei pesquisar sobre esse lugar, talvez encontre algum registro na internet. – Alana endireita a postura, e come as últimas balas do pacote. – Vamos ir comer algo?
- Você quer dizer um dos vários pasteis que trouxemos da Maringá? – Ela assente com um sorriso largo – Certo, o pastel de queijo é meu!
- Fica pra você mesmo, não curto pastel de queijo! – Ela rebate com uma careta, me fazendo gargalhar com a forma tão espontânea que disse, e assim entramos novamente no chalé.
Apesar do clima descontraído, meus pensamentos estão focados nessa próxima noite, e certa expectativa está presente em mim.
*****
Olho no relógio por uma última vez. Já passou das dez horas da noite.
Está na hora de ir.
Avanço até a porta do chalé, e olho para minha irmã por cima do ombro antes de sair. Alana me encara de volta com um semblante mais sério e também com algum nervosismo em si.
Ela me lança um discreto aceno com a cabeça – Tome cuidado.
Com um sorriso, aceno de volta da mesma forma – Claro, pode deixar... E você, trate de se cuidar por aqui.
Saio do chalé, sendo recebido por um clima bem mais frio do que esperava, o vento noturno balança minhas roupas e meu cabelo com força. Encosto a porta atrás de mim, e vou me afastando em passos lentos.
Os demais chalés estão consideravelmente longe, as luzes deles não alcançam onde estou nesse momento. Por isso, o lugar inteiro está mergulhado na escuridão da noite, quebrada apenas pela luz pálida da lua e de alguns poucos postes próximos.
Meus olhos vão ao céu com poucas nuvens. A lua brilha intensamente, e o céu está recheado com bem mais estrelas do que costuma ser na cidade.
Libero meu poder aos poucos, toda a energia cresce em meu peito e flui como ondas pelos meus braços até se projetarem pelas minhas mãos. A nevoa sombria envolve meu corpo, serpenteando e reunindo-se em minhas costas, ganhando forma de imensas asas que me lançam aos céus.
Apesar de sempre querer desfrutar da sensação e da mudança tão brusca que é deixar o chão e alcançar as alturas, dessa vez ignoro totalmente isso, mantendo em mente o que preciso fazer.
Após alguns momentos voando, seguindo a avenida principal que liga as três vilas, alcanço a primeira delas. Cesso meu movimento, e cruzando meus braços flutuo sobre o lugar, olhando a tudo com cautela.
Apesar de estar a uma altura considerável, ainda consigo ter uma boa visão das várias ruas da vila de Mauá, e qualquer movimentação será fácil de perceber.
Não planejo me aproximar muito a princípio, e pouca luz da noite ajudará a ocultar minha presença. Por hora, quero apenas observar.
Passando alguns momentos aqui, talvez eu consiga descobrir como esses fantasmas surgem, ou de onde eles estão vindo. Se necessário, irei até as outras vilas, ou vasculharei por lugares que estiverem ignorando o tal conselho do "se recolher antes das 22h".
Qualquer coisa que me faça ter novas peças para lidar com esse problema.
Os longos minutos passam, e permaneço onde estou, olhando a tudo atentamente, porém nada de anormal acontece pelas ruas. Tudo permanece parado. Nada de pessoas andando por aí, nem carros vindos de fora. Absolutamente nada acontece.
Da última vez que estive aqui no alto, lembro bem da sensação de estar sendo observado por todos os lados, o que não acontece dessa vez. As coisas estarem assim tão calmas nem de longe me parecem ser um bom sinal.
Na verdade, só faz com que eu tenha mais dúvidas.
Deixo mais alguns minutos se passarem, e vendo que nada diferente aconteceu nesse meio tempo, começo a me mover para a próxima vila.
Não levo muito tempo para chegar a Maringá, e após uma rápida observação por alto, vou descendo gradualmente, decidido em olhar mais de perto desta vez.
Após longos minutos, que mais pareceram dias, meus pés voltam a tocar o chão. Corro os olhos de um lado ao outro, atento a qualquer ruído e a qualquer sensação diferente que possa ter, mas não detecto nada anormal.
Recolho minhas asas e de imediato dissipo a escuridão, e avanço pela vila. Andar por estas ruas no meio da madrugada causa uma sensação completamente diferente de andar por aqui no meio da tarde.
Parecem lugares totalmente diferentes.
Impossível não fazer um comparativo do que vi durante o dia, e o que vejo agora.
Mais cedo estava bem mais barulhento, era até difícil conseguir ouvir o que Alana me dizia em alguns momentos. Já agora, apenas o som das arvores, o cantar dos grilos, o som do rio correndo bem ao lado, e de cada um dos meus passos é ouvido.
Observar esses paralelos sempre é um ótimo experimento. Um mesmo lugar, visitado em condições diferentes, muitas mudanças são perceptíveis.
Estou divagando do que vim fazer aqui, mas é complicado não pensar nesse tipo de coisa quando se está sozinho em meio a uma situação dessas. Melhor pensar nisso do que em outras coisas em particular.
Caminho pelas ruas por algum tempo, mas por mais que eu olhe, não encontro nada de estranho. Até o momento, não teve o menor sinal que algum fantasma já esteja presente, não me sinto observado, e nem mesmo um frio diferente do ambiente a minha volta.
Volto a moldar minhas asas de escuridão, e ascendo ao céu novamente, tornando a olhar toda a vila abaixo, não encontrando nada diferente de minutos atrás. Até agora, tudo está quieto.
Quieto até demais. Algo está estranho.
De qualquer forma, seguirei para a próxima vila. Caso não encontre mais fantasmas, começarei a olhar mais de perto, e buscarei por quaisquer indícios que me levem a descobrir mais.
Observarei a noite inteira se necessário.
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