Capítulo 4
4172 Palavras
Deixamos a pousada já a alguns minutos, e avançamos em ritmo calmo. Apesar de muitos estabelecimentos ainda estarem abrindo suas portas, certo movimento já é notado devido a presença de algumas barracas de rua.
Apesar do dia estar ensolarado, está bem frio, e ventando na mesma intensidade de ontem, a ponto de ser uma péssima ideia sair sem agasalhos. De certa forma, esse clima combina bastante com uma cidade no alto das montanhas.
Nossa pequena caminhada é feita sem palavras. Apenas olhamos ao redor, assistindo o movimento das pessoas e lojas nessas primeiras horas do dia. Arrisco dizer que próximo do meio dia, esse lugar estará bem lotado.
- Tenho uma pergunta. – Alana diz de repente.
- Pois faça. – A olho de soslaio.
- Não sabe para onde estamos indo, não é? – Sussurra bem perto de mim.
- Acertou. Não faço a mínima ideia. – Respondo com um riso.
- Imaginei. – Ela sorri de canto, e puxando seu celular do bolso, digita algumas coisas agilmente – Por sorte, fiz uma boa pesquisa sobre este lugar enquanto estávamos no ônibus, e achei melhor rever enquanto tomávamos café da manhã. Então, tenho algumas opções para nós.
- E quais são elas? – Levo meu olhar da tela do celular a ela por repetidas vezes.
- São várias, vale mais a pena mostrar do que ficar contando... Aliás um dos lugares já está bem perto... E ele... – Alana olha a tela uma última vez – Já é ali na frente. O centro cultural.
Conforme avançamos reparo com mais calma em cada detalhe. As lojas daqui tem um visual bem único, contendo cores discretas e decoração destacada. Existem bonecos artesanais representando bruxas feitos de pano e madeira decorando a fachada de alguns lugares, em outro que acredito ser uma adega, a estrutura de madeira conta com uma grande garrafa estampada na fachada.
Próximo daqui existem lojas de produtos artesanais, sejam eles alimentos ou decorações, além de um lugar que arrisco dizer ser um museu. Tudo unido a presença da natureza abraçando cada pequeno detalhe.
Apesar de simples, esse lugar tem seu charme.
Levo as mãos aos bolsos da bermuda e vou acompanhando o passo de Alana. Da mesma forma que eu, ela parece estar dando atenção a beleza desse município. É compreensível, afinal é tudo uma grande novidade para nós dois.
- Acho que quero comprar algo. – Minha irmã sussurra mais para si do que para mim.
- O que tem em mente? – A observo de canto de olho.
- Uma lembrancinha da cidade. – responde reflexiva – Talvez uma por dia.
- Você sabe quantos dias ficaremos aqui? – Questiono enquanto entramos numa loja em passos lentos.
- Não. – Responde expressando um largo sorriso divertido – O que significa que podem ser muitas lembrancinhas!
- Ou poucas. – Contrario em brincadeira, a assistindo correr os dedos pela prateleira, tendo os olhos atentos nos vários produtos expostos. – Afinal, podemos ir embora amanhã.
- Nós vamos embora amanhã? – Me encara com os olhos miúdos.
Balanço a cabeça em negação – Não faço a mínima ideia irmãzinha.
- Eu também não, por isso minha ideia é tão boa. – Ergo uma sobrancelha ao encontrar um sorriso convencido em seu rosto. – Você precisa dar mais atenção para minhas ideias irmãozão.
- Já estamos em viagem numa cidade que nunca ouvi falar. – Me afasto dela, estudando cada uma das decorações expostas na prateleira. – Imagino que isso mostre como dou atenção para suas ideias.
- Isso é bom, mas precisa dar mais atenção ainda. – Ela diz aos risos.
- Mais atenção... Tipo quanto? – Acho que já até imagino sua resposta.
- Atenção total, principalmente nas ideias que envolvem doces! – Diz brincalhona, e não seguro meu riso.
- Foi mal, mas eu dispenso. – Dessa vez sou eu quem da risada, e ela me encara fixamente.
- Você é quem sabe, mas não quero te ouvir chorando depois que nosso estoque de doces estiver zerado. – Ela diz, voltando-se as decorações.
- Pode deixar, me lembrarei disso. – Vejo ela sorrindo e balanço a cabeça.
Minha atenção volta aos vários produtos da loja. Consigo ver um pouco de tudo por essas estantes, sejam casinhas feitas com palitos de picolé de vários tamanhos e complexidades diferentes, pequenos e largos aviões de madeira de modelos variados, caminhões de madeira, trenzinhos e algumas bonecas de pano, e numa prateleira mais alta está um imenso barquinho de madeira.
Logo ao lado está uma outra estante, essa contendo decorações com pedras de diferentes cores e tamanhos. São pequenas garrafas com pedras coloridas, algumas arvores contendo pedras de tons semelhantes, e mais abaixo, caixinhas que aparentemente contem pedras dos signos em seu interior, além de alguns cristais e outras pedras próximo.
Mais afastado, vejo alguns potes de plantas também feitos com palitos de picolé e cordas, prateleiras e estantes suspensas feitas com corda e madeira em vários modelos, quadros com diversas pinturas de encher os olhos, sendo eles de paisagens, objetos e pessoas, porta-chaves com desenhos de animais e bruxas, além e também pequenas estátuas espalhadas numa estante própria, algumas feitas com argila e outras com gesso.
Admito que esse loja tem pelo menos um par de coisas que adoraria levar para casa... Um par, pra não dizer uma dúzia.
Pego um dos quadros, um que tem uma pessoa pintada, além de uma estátua de gesso que me agradou bastante. Aproximo-me do balcão, ainda passeando pela loja apreciando cada uma das decorações.
Uma jovem está no balcão, tendo sua atenção dividida entre seu celular e um caderno de notas bem gasto, enquanto que uma senhora de longos cabelos que revezam entre o preto e branco está sentada um pouco afastada, concentrada em algo que não sei o que é.
A jovem ergue seu olhar a mim, abrindo um sorriso cordial que a primeiro momento, duvido ser genuíno – Bom dia, senhor. Irá levar apenas isso?
- Bom, ainda não sei... – Recebo um olhar curioso da jovem atendente. Reparando agora, ela não deve ter passado dos seus vinte anos – Ainda estou esperando minha irmã escolher algo.
- A jovem de cabelos brancos? – Confirmo com a cabeça, e ela se mostra surpresa.
Olho para Alana sobre o ombro, ela está encantada tendo um gato de pelúcia em mãos, o afofando sem parar.
- Talvez ela já tenha escolhido algo. – Ouço a jovem falar, e não reprimo meu riso antes de voltar minha atenção a ela – Sua irmã parece gostar bastante de gatos.
- Não só parece, ela ama mesmo. – Afirmo voltando meus olhos a senhora de antes.
Agora consigo ver melhor o que ela está fazendo. A senhora está costurando uma boneca de pano com o maior cuidado possível, correndo seus dedos pelo tecido do rosto da boneca, em cada movimento da agulha. Não sei se costurando ou bordando, nunca sei diferenciar ao certo essas duas artes.
- Enfim... – Começo, sem desviar os olhos da senhora. Admito estar bem interessado com o empenho dela, e curioso pelo resultado final. – Estive reparando nos quadros desta loja... Todos são muito bonitos, quem os fez?
A jovem ri sem jeito. – Obrigada, eu mesma fiz cada um deles.
- Ficaram ótimos, cada um deles. Você tem muito talento com pintura... Uma verdadeira artista. – Ela desvia o olhar de mim, tentando não parecer encabulada com o que eu disse. – Imagino que esconda os melhores quadros com você.
- Talvez. – Ela olha para a senhora, e por fim faz um discreto gesto para que eu me aproxime – Os melhores são a decoração de casa, mas não digo em voz alta senão vão querer vender.
Ergo ambas as sobrancelhas e sorrio de canto – Guardando o ouro para si?
- Quase isso. – Ouvimos uma tosse da senhora e nos afastamos, tendo nossa atenção voltada a ela. A senhora se levanta e caminha para os fundos da loja levando a boneca consigo, totalmente alheia a conversa. Pelo visto, a atenção dela não estava voltada a nós. – Gostaria de ver algo mais senhor?
- Não, apesar de ter gostado de muitas coisas, por hoje será isso. – Levo as mãos aos bolsos e olho ao redor por um momento. Alana continua encantada explorando cada canto da loja – Apenas estou esperando minha irmã terminar suas escolhas.
- Tudo bem. Fique à vontade. – Seu tom de voz me leva a crer que não é uma reação forçada.
- Obrigado... – Digo, olhando alguns dos chaveiros expostos no balcão.
Existem vários chaveiros diferentes, muitos deles apresentando desenhos que acredito serem características da cidade. Alguns são de ferro, outros emborrachados, de madeira e outros de vidro, uma variedade que daria inveja em várias lojas da cidade grande. Talvez leve um desses chaveiros também...
- Ah, senhor? – Ouço a garota me chamar. Ao me virar, vejo que ela tem o quadro que escolhi em mãos. – Fico sem jeito de dizer isso, mas precisará escolher outro quadro.
- Algum problema? – Ergo a sobrancelha.
- Sim, ele é meu. – Ouço uma voz feminina atrás de mim, uma voz que me soa familiar demais e por um instante, fez meu corpo estremecer. Olho para o lado e vejo uma jovem mulher apoiando os cotovelos sobre o balcão.
O espanto toma conta de mim ao ver o rosto dela, tão grande que meu corpo inteiro para por um curto instante, e não encontro reações.
A recém chegada vira seu olhar castanho a mim, tendo um sorriso carregado de atrevimento em seu rosto, que me é muito semelhante com de alguém que convivi a muito tempo... Reparando melhor, me dou conta de que é seu rosto que está pintado no quadro que escolhi.
- Não posso te vender esse quadro. Ele foi feito sob encomenda e deixei de exposição por acidente. – A jovem balconista até parece um pouco acuada, talvez pelo seu equívoco de quase ter vendido esse item encomendado – Peço desculpas pelo inconveniente.
- Não tem problema, escolherei outro quadro. – Digo ignorando o recente baque, passando os dedos pelos outros chaveiros enquanto observo os demais quadros expostos. – Boas opções é o que não falta.
Apesar de não prestar atenção nas duas, sei que elas tem seu foco em mim. Da pra sentir os dois pares de olhos voltados na minha direção.
- O que achou senhorita Nicole? – A voz da balconista rompe o silêncio. Então, Nicole é o nome dessa recém chegada.
- Ficou excelente Jessica, melhor do que eu imaginava quando pedi. Seu trabalho se destaca cada vez mais. – Vou escutando a conversa enquanto que giro um dos chaveiros nos dedos. Essa voz, o cheiro suave desse perfume... São parecidos demais para ignorar. – Pode embalar, irei levar. Onde está minha outra encomenda?
- Está recebendo os toques finais. Irei buscar. – Os passos da balconista, que agora sei se chamar Jessica, destacam que ela se afastou.
- Eu aguardo. – A tal Nicole responde em tom amável, e por alguns segundos nenhuma palavra é dita – Nunca te vi por aqui.
A observo de soslaio, buscando ter certeza se foi comigo que a tal Nicole falou, porém sem responder a princípio... Ainda estou um pouco perplexo com a semelhança.
É uma garota de altura bem próxima a minha, de pele mais clara, cabelos bem cacheados castanho claro na altura dos ombros. Seus belos olhos também castanho são estranhamente perfurantes, além de ter lábios pouco grossos.
Ela... É muito parecida com aquela pessoa...
- Só estou de passagem na região... – Respondo desviando olhar dela.
- E ficará por quanto tempo? – Questiona novamente.
- O bastante para relaxar. – Ouço ela rindo baixinho e deixo um sorriso escapar. Sorrio mais a mim mesmo do que para Nicole. – Não tenho certeza de quanto tempo será isso, mas alguns dias é garantido.
- E está vindo de onde? – Não deixo de virar meus olhos a ela, estranhando e também curioso por tamanho interesse em mim.
Ela tem seu braço apoiado no balcão de madeira e o queixo sobre a mão, e apesar de modesto, ela é do tipo de pessoa que sorri com o olhar.
- São Paulo, da capital... – Digo simplesmente.
- Longe, muita gente de São Paulo para em Rezende aqui perto. – Ela continua, pegando o quadro e dando uma olhada nele – Já veio pra cá outras vezes?
- Minha primeira vez por aqui. – Ela assente sem dizer nada, sua concentração se voltou ao quadro.
Não falamos nada pelos segundos que se passam, mas não deixo de olhá-la minuciosamente em todos os detalhes que posso, sem saber o que tanto olho. Essa garota tem algo diferente em si, uma coisa que me transmite certo desconforto e que ao mesmo tempo atrai meu interesse, mas não sei explicar bem o que ela emana...
- Desculpe a demora senhorita Nicole. – A balconista retorna com a boneca em mãos, uma boneca que se assemelha muito Nicole em todos os aspectos. Curioso que a boneca representa Nicole como uma bruxa, e o quadro representa a mesma coisa de forma bem melhor detalhada.
- Sabe que não precisa de toda essa formalidade comigo, não é? – A ouço rir.
- Eu sei, é que... – A garota sinaliza na direção da senhora de antes. – Entendeu né?
- Ah sim entendi bem, melhor evitar... Tudo bem, deixe-me ver... – Nicole pega a boneca e a olha de perto com todo o cuidado, passando a ponta dos dedos pelo vestido e o chapéu negro da boneca, olhando as várias mechas soltas do cabelo da boneca e logo tocando o seu próprio. É possível ver como Nicole se encantou com a boneca, que logo é abraçada com todo o carinho. – Ela ficou linda, está a minha cara!
- Estou aqui a pouco tempo, mas venho reparando que vocês gostam bastante de bruxas nessa cidade. – Comento erguendo uma sobrancelha, e as duas me olham.
- A cidade eu não sei, mas eu sempre fui fascinada por bruxas. Desde bem nova, era uma das coisas que eu mais brincava. – Nicole abre um largo sorriso, tomado por sua súbita animação pelo assunto. – Sempre foi uma coisa que me chamava atenção por serem tão únicas de tantas formas.
- Eu posso falar pela loja, artigos de bruxas começaram a vender bem nos últimos tempos. – Jessica comenta com empolgação semelhante. – Apesar que não vou mentir, meu interesse cresceu bastante pela temática, mas talvez seja só temporário.
- Mesmo? – questiono curioso – E por que acha isso?
- Pessoas são de fases. Um dia gostamos de uma coisa, e no outro já não gostamos mais. – Diz torcendo levemente a boca e saltando os ombros.
- Coisas, e também pessoas. – Nicole completa erguendo seus ombros como quem diz "fazer o que".
- Concordo. É uma surpresa que Nicole goste tanto da temática de bruxas e nunca desinteressou. – Ela comenta e vou assentindo. Ela então se vira para Nicole novamente – Vou pegar uma sacola para que leve as coisas.
- Claro, estarei esperando. – Nicole comenta e a balconista se afasta. Num olhar semicerrado, observo a mulher ao meu lado, que voltou a dar atenção a sua boneca, talvez de forma mais profunda que antes. Ela percebe meu olhar sobre si, abrindo um meio sorriso – O que foi?
- Apenas reparando como você gostou dessa boneca. – Respondo neutro.
- Tem como não gostar? – Ela sorri animada, voltando sua boneca a mim e sacudindo seus cabelos levemente – Ficou a minha cara, não acha?
Fito a mulher e logo em seguida a boneca – É, ficou sim.
- Foi só eu sair de perto que você dá em cima de alguém. – Alana surge de repente com a pelúcia de gato nos braços.
- Não faço a menor ideia do que você está falando Alana... – Respondo cerrando o olhar para minha irmã, que ri e para ao meu lado. – Já escolheu o que irá levar?
- Esses colares de pedras, e também essa pelúcia que eu amei! – Diz toda sorridente me mostrando suas escolhas. – E você?
- Uma estátua de gesso e um outro quadro... O que escolhi não está à venda. – Digo olhando para Nicole, que por agora está perdida admirando seus itens novos. Me volto para minha irmã e aponto algo no balcão – Aliás, olhe isso irmãzinha.
- Chaveiros! Quero todos eles! – Ela diz empolgada, explorando os vários chaveiros expostos sem espera.
A balconista retorna com uma larga sacola, a deixando no balcão e depositando os objetos de Nicole em seu interior – Será somente isso hoje?
- Sim, quanto te devo? – Ela questiona, pegando a sacola do balcão.
- Não se preocupe com isso Nicole, você já é uma cliente frequente. – Nicole tem um semblante surpreso, que logo se transforma em gratidão – Fica por conta da casa.
- Eu agradeço muito. Logo voltarei para encomendar mais coisas. – A jovem mulher sorri se afastando aos poucos, e antes de sair, me fita por um momento, dando um pequeno aceno – A gente se vê por aí.
Ergo uma sobrancelha com esse comentário tão repentino, e vou acompanhando a mulher com o olhar até que esta saia da loja.
Essa Nicole... É realmente parecida com ela, parecida demais. Cada um de seus traços me lembra ela... Tanto que é difícil para mim não olhá-la.
Mas francamente... O que essa garota quer?
- Ela gostou de você. – Alana diz de repente, me fazendo despertar.
Dou uma risada curta, balançando a cabeça negativamente. – Gostou nada Alana. Só estava sendo educada.
- Acho que ela gostou sim. – A balconista concorda – Se não gostou, é certo que Nicole tem algum interesse no mínimo.
- Discordo de ambas. Estão vendo algo que não existe. – Digo e decido por evitar que esse tedioso assunto se estenda mais do que o necessário – Escolheu quais gostou irmãzinha?
- Sim, esses dois aqui. – Ela ergue dois chaveiros emborrachados, um do Capitão América e outro do Homem Aranha.
- Um pra cada? – Estou para ver melhor os chaveiros, quando ela desvia a mão.
- Não, os dois para mim. – Ela sorri de canto, pegando um dos colares do balcão. Um com uma pedra negra envolta em uma corda – Pra vocês eu escolhi isso.
Pego o colar e o analiso com interesse. Uma coisa que gosto desde os tempos em que eu ainda era humano são colares, correntes e anéis. É algo que sempre atrai minha atenção.
- Gostei... É uma ótima escolha. – Digo sorrindo a minha irmã. – Quer olhar mais algo?
Ela nega com a cabeça e, com um gesto, peço para a balconista contar o preço. Vou rapidamente e escolho um novo quadro, voltando para incluir na conta.
- Tenho uma pergunta. – Alana diz a recepcionista. – Que hora o comércio daqui fecha?
- Vocês chegaram na cidade recentemente, não é? – Questiona e minha irmã confirma acenando – Às 18 horas o comércio de toda a cidade começa a fechar as portas, e as 19 horas restam só algumas poucas lanchonetes abertas que encerram logo depois.
- A cidade para bem cedo. – Comento pensativo.
- É o costume da cidade que vem sendo passado a anos, sempre fechamos as portas cedo para estarmos em casa no máximo as 20 horas. – Eu e Alana trocamos um olhar, e voltamos para a balconista – Se me permitem dar um conselho, não fiquem na rua depois das 20 horas... E estejam descansando no máximo as 22 horas.
Alana e eu ficamos em silêncio por um instante, ambos sem entender esse aviso tão repentino, pra não dizer que foi bem inusitado. – Caramba, que específico. – Murmuro.
- Certo, iremos ouvir esse conselho. Obrigado. – Alana diz com um pequeno sorriso.
Após pagar pelas coisas, minha irmã e eu saímos da loja com as primeiras de várias sacolas de compras.
*****
Em passos tranquilos sobre o piso de pedras envolto de um gramado baixo, nos aproximamos da casa onde estamos hospedados.
Temos várias sacolas em mãos, de todas as compras que fizemos só nesse primeiro dia. Se a ideia era pegar lembrancinhas, então conseguimos o bastante para lembrar por uns três meses sem ficar repetido.
Sabe-se lá quanta coisa nova teremos até o final desta viagem.
Alana abre a porta e entramos, despejando todas as coisas sobre o sofá sem demora.
- Como vamos levar tudo para casa? – Alana pergunta curiosa.
- Considerando só hoje? Damos um jeito de encaixar tudo... Agora considerando nossos próximos dias? Acho que só comprando umas duas malas novas. – respondo rindo, assistindo ela sentando-se e explorando as coisas compradas.
Percebo algo em uma das sacolas, e esticando para ver o que é, percebo ser o colar que Alana escolheu para mim. Sem demora o coloco em volta do pescoço, girando a pedra entre meus dedos.
Olho algumas sacolas com comidas e as levo para a cozinha, decidido em preparar algo para jantarmos.
Após alguns longos minutos organizando tudo e começando a preparar algo, minha irmã aparece arrastando os pés, e se propõe em me ajudar com o jantar.
O clima é bem descontraído enquanto preparamos o jantar, falamos bastante sobre o dia animado e o que iremos ver no amanhã.
Assim que terminamos de preparar, fomos para o sofá e jantamos assistindo alguns desenhos que minha irmã escolheu, e mesmo após o jantar, continuamos nossa conversar sobre isso já que ainda temos muitas coisas para ver, e a empolgação não cabe em nós.
Porém, ao olhar para o relógio, minha mente divaga para o conselho que recebemos mais cedo.
Após o anoitecer, devemos evitar as ruas e dormir cedo.
E já está bem perto das 22h.
Ouço um bocejo, e minha irmã se aconchega no sofá. – Acho que já irei dormir...
- Já está com sono? – A observo de soslaio, e ela assente. – Que cedo.
- Também, mas quero recuperar as horas de sono que perdi essa manhã. – Ela diz e se levanta, enquanto que eu não contenho meu riso, já que isso foi minha culpa. – Você vem?
- Não, estou sem um pingo de sono. – Me estico no sofá, focando na televisão. Por sorte, realmente não me sinto cansado por agora – E de forma alguma eu me atreverei a dormir de novo... Estou pensando em virar a noite assistindo alguns filmes.
- Tem certeza? – Ela ergue ambas as sobrancelhas, e confirmo – Você é doido... Eu vou descansar, estou precisando.
Gargalho animado, erguendo a mão e acenando para ela – Boa noite irmãzinha. Tenha um bom descanso.
- Eu terei, só você não me acordar desta vez. – Ela se afasta aos risos.
- Não irei, pode relaxar. – Digo e me volto a televisão, escolhendo um canal de filmes.
Faço minha escolha, largando o controle ao lado da minha perna e relaxando. Não estava brincando quando disse para Alana que viraria a noite assistindo filmes, afinal não será a primeira vez que faço isso.
Simplesmente é muito difícil me sentir cansado, e é por esse motivo que passo incontáveis noites seguidas em claro, quase não durmo. Raras são as vezes que vou para uma cama.
Na verdade, evito ativamente isso. Ainda mais nos dias que a exaustão me atinge, e preciso brigar contra o sono, ao ponto de tentar despertar outra vez.
Afasto esses pensamentos, me concentrando apenas no filme. Uma longa noite de filmes sem pipoca me aguarda.
*****
O segundo filme acaba, mas já a algum tempo estou me sentindo bem incomodado. Simplesmente não conseguir me concentrar direito na televisão.
Estou com uma sensação incomoda, apreensivo com alguma coisa que está causando grande nervosismo em mim, e estou muito inquieto... Mas não sei definir o que está me causando isso.
Olho o horário pela televisão, já é quase uma da madrugada.
Me levanto num impulso, caminhando apressado para a cozinha. Preciso de um pouco de água, e também vou aproveitar para preparar algo para comer, um belo lanche talvez. Provavelmente forrar o estomago será o bastante para me distrair.
Entro na cozinha tentando não fazer barulho para não acordar minha irmã, e de cara sinto um ar profundamente frio envolvendo meu corpo, de forma que me causa calafrios, e assim que ligo a luz, tenho a impressão te ter enxergado um vulto desaparecendo bem diante de mim.
Aperto os olhos, encarando de um lado ao outro sem entender ao certo o que acabou de acontecer.
Sacudo a cabeça e vou ao armário para pegar um copo, porém assim que meus dedos tocam o copo no armário, a sensação de antes aumenta. Tenho a sensação de estar sendo observado.
Encarando sobre o ombro, passo meus olhos pela cozinha, não encontrando nada que seja motivo dessa sensação. Porém, vejo algo do outro lado da janela.
Uma silhueta está ali, camuflada pelo escuro. Ela não se move, mas sei que me olha.
Giro sobre os pés e salto em direção a janela, apoiando as mãos na pia e me esticando para ver melhor do que se trata. Mas agora que estou mais próximo, não encontro nada do outro lado.
Será que estou imaginando coisas?
Me dou conta de algo. Tudo está quieto. Estranhamente quieto. Nem mesmo ouço o som da televisão, que tenho certeza ter deixado ligada.
Diante do silêncio, escuto um estranho rangido, lento mas ritmado... Um rangido causado por pesados passos. Não é minha irmã, ela não caminha desta forma.
Avanço de volta para a sala em passos largos, encontrando a televisão desligada, e novamente a impressão de ter enxergado um vulto desaparecendo rapidamente
Antes que eu tenha tempo de raciocinar, a luz da sala apaga sozinha, e me encontro mergulhado na profunda escuridão, rompida pela pouca luz natural que entra pela janela da sala.
O que está acontecendo?
Aperto os olhos, encarando fixamente a lâmpada recém apagada. Isso está muito estranho, preciso descobrir o que está havendo aqui.
Viro-me de uma vez, interrompendo meu passo ao me deparar com algo parado atrás de mim.
Uma figura usando largos trapos sujos e rasgados, de pele cinzenta com olhos brancos e sem vida me encara fixamente. Seu corpo parece ser palpável, porém torna-se levemente transparente a partir de sua cintura, aumentando a transparência conforme meu olhar desce por suas pernas desnudas, até não existir mais nada ali.
Um... Um fantasma?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro