Capítulo 35
6982 Palavras
~ Alana ~
A intensa ventania presente é até estranha, vendo o espaço fechado que nos encontramos. O ar frio corre em torno dos meus braços, e erguendo ambos de uma vez, a velocidade do vento frio intensifica ao extremo, derrubando os recém chegados.
Ouço passos apressados logo atrás de mim e a porta sendo aberta bruscamente, e interrompendo o ar frio, viro-me e corro apressada para fora do chalé, seguindo o caminho que os demais já fizeram, saltando sobre o parapeito do deque.
Assim que saio, uma repentina luz amarelada seguida de um intenso calor surge logo atrás de mim, e sem nem ao menos me virar para ver o que é, apoio as mãos sobre o parapeito e salto, e por muito pouco escapo da imensa esfera flamejante que passa a centímetros de mim.
Meus pés batem pesadamente no gramado baixo do chalé, mas consigo manter meu equilíbrio ao apoiar uma das mãos no chão. Ergo meu olhar rapidamente para o alto do deque, e tenho a impressão de ouvir passos já próximos.
- Vão na frente! – Digo com força ganhando o olhar de todos. Fico de pé, me virando para a estrutura do deque e as segurando com ambas as mãos – Vou atrasá-los!
- O que, mas... – Ouço Rafaella tentar dizer algo.
- Vão logo! – Digo entredentes, segurando as madeiras de sustentação com força e, sentindo o intenso fluxo percorrendo através dos meus braços, observo uma densa camada de gelo surgindo na madeira.
Escuto eles falando algo entre si, enquanto seus passos apressados indicam que já estão se afastando para meu alívio. Assim sendo, aperto ambas as mãos com força, forçando o gelo e a madeira já tomada pelos tons pálidos do frio que a envolve.
Rachaduras surgem no gelo, e o som da madeira se partindo ecoam nos meus ouvidos, e com um puxão brusco arranco os pedaços da estrutura, com força mais que o suficiente para desestabilizar o deque e fazer parte dele começar a ceder.
Salto para trás enquanto assisto a estrutura vindo ao chão ruidosamente, e erguendo meu olhar, encontro Tadeu parado bem na beirada com um olhar surpreso voltado a mim, e logo atrás dele algum de seus familiares.
Sem esperar, viro e corro para longe, sabendo que isso não irá garantir muito mais que alguns segundos de vantagem, mas que talvez, sejam o suficiente para serem decisivos contra eles.
Sigo correndo em meio ao matagal escuro, sem saber ao certo onde estou pisando. A única orientação que tenho são as luzes da avenida e de uma das ruas bem próximas, é para lá que estou indo, e torço para que eles tenham seguido pelo mesmo caminho.
Alcanço uma das ruas ao pular para fora de tanto mato, onde todos me esperam com expressões assustadas estampando seus rostos.
Agora que me dou conta, eles estão paralisados com alguns fantasmas logo na frente deles – Vamos logo! – Chamo com força os fazendo despertar, e eles vem atrás de mim em passos apressados.
Olho para trás por uma vez, e apesar do fantasma vir em nossa direção igual a alguns outros, eles se movem muito devagar, não sendo uma preocupação real.
Na verdade, quanto mais penso nesses fantasmas, menos sentido encontro. Em certo momento são rápidos e difíceis de desviar, mas em outros são lentos a ponto de conseguir esquivar deles sem dificuldades.
Se esses fantasmas têm algum padrão de comportamento, ainda não descobri qual é, e não acho que estou próxima de descobri.
Alcançamos a avenida principal, e sigo na direção da entrada da vila, atenta a qualquer movimento próximo de nós, e planejando várias rotas de fuga emergenciais caso seja necessário.
- O nós que faremos agora? – Danilo pergunta andando apressado ao meu lado.
- Vocês precisam se esconder em algum lugar. – Olho para trás de relance, sem ver nenhum deles vindo atrás de nós, e me mantendo atenta com qualquer outro fantasma se aproximando de nós. – Você está com a chave do seu carro Jackson?
- Não, deixei a chave no chalé. E meu carro também ficou lá. – Ele responde, e acabo bufando baixinho com essa resposta.
- Isso é um problema... – Sussurro para mim mesma sem parar de andar – Vocês tem algum lugar para se esconder?
- Não temos nenhum... – Rafaella responde – Nem sei se tem um lugar para conseguir se esconder deles.
Paro de andar, e após alguns segundos encarando o chão, viro-me a eles, olhando para cada um deles – Arranjem um lugar, e fiquem escondidos até o amanhecer. Não pedirei de novo.
Recebo olhares confusos de cada um, e Danilo dá um passo – Como assim? Você não vem com a gente?
- Não posso. Irei ficar e resolver as coisas com Tadeu e a família dele. – Lanço meu olhar para Jéssica, que parece perdida – Vocês devem se proteger e cuidar dela. Se eu for junto vocês não estarão seguros, e também, não conseguirei resolver nada.
- Tem certeza disso? – O rapaz insiste, claramente preocupado.
Assinto com a cabeça – Tenho. Preciso ficar.
Não espero que me respondam, apenas viro sobre os pés e me afasto em passos apressados pela avenida vazia, decidida a confrontar Tadeu e sua família. Se esconderem e tentarem se proteger é escolha deles, estão à própria sorte agora.
Sei que eles virão da direção do chalé, por isso é para lá que estou indo, seguindo pela avenida principal. Duvido muito que Tadeu ou um deles tenha decidido nos seguir até o meio do mato no meio da madrugada, por mais que nossa rota de fuga tenha sido inicialmente para um local cheio de mato.
A princípio até é inteligente fugir e se esconder no meio do mato, mas permanecer ali com tantos fantasmas à espreita tornaria essa a pior das escolhas. Em várias situações, o mais inteligente seria alcançar a avenida principal para deixar a vila, ou então correr para as ruas paralelas e se esconder em alguma casa.
Seja como for, espero que tenham pensado dessa mesma forma e estejam vindo de encontro a mim. Até chegarem, acho bom preparar o ambiente para tornar o mais favorável possível para mim. Já que estou em desvantagem numérica, devo equilibrar tudo de alguma forma.
Interrompo meus passos apressados, vendo que mais à frente está a entrada para os chalés. O espaço onde estou vai servir bem, é amplo para um confronto direto, e também me garante lugares para ficar escondida e atacar de surpresa.
Estico os braços ao chão, fecho os olhos e respirando fundo, me concentro liberando uma grande quantidade de ar frio continuamente. Sei dos fantasmas ao redor e que nesse instante estão vindo até mim, mas até que algum deles me alcance, já estará tudo pronto.
Além disso, preciso ser rápida. O que estou fazendo agora, em breve, alertará qualquer um da minha presença.
Após longos segundos fecho ambas as mãos. O suave ar congelado corre pela minha pele, um repentino vento noturno faz meus cabelos balançarem devagar, e com ele torno a abrir os olhos.
Uma névoa branca passa ao meu redor, mas ela não esconde a brusca mudança do espaço que me rodeia. Absolutamente tudo foi tomado pelo tom pálido do meu ar frio.
O gelo se manifestou através do chão e espalhou por todos os lados, crescendo sobre qualquer estrutura ao redor de uma forma agressiva, independente de serem árvores, postes, carros, casas e estabelecimentos... E até mesmo os fantasmas que tentaram se aproximar, foram transformados em imensas estátuas de gelo.
Cada vez mais a névoa fria cresce ao redor, e sei que se tornará cada vez mais densa com o passar do tempo, e para completar, a fraca luz que ainda resistia nos postes se apaga, mergulhando todo o lugar na profunda escuridão noturna.
Sem esperar, caminho para longe da avenida, buscando um lugar para me esconder dos fantasmas, e também esperar pelos meus perseguidores. Sei que estarão aqui muito em breve, e um ataque surpresa me permitirá acabar com isso rápido.
*****
Do alto de um estabelecimento, observo a avenida que atravessa a vila já a alguns minutos. Daqui tenho uma excelente visão, além que consigo permanecer fora da vista dos fantasmas e de qualquer um que venha caminhando pelas ruas.
Custei um pouco para encontrar uma maneira de subir, mas consegui.
Aproveito o momento para observar o céu. Os tons vermelhos permanecem no alto, me fazendo refletir quem deve ser o responsável por isso, e o que deve estar acontecendo... Seja lá o que for, sei que meu irmão está envolvido.
Um suspiro frustrado me escapa. No que essa viagem se transformou?
Encaro a avenida principal, observando de uma ponta a outra por mais uma vez, não encontrando nem escutando nada. Está tudo muito quieto.
Agora que penso, já passou tempo demais. A essa altura Tadeu e sua família já deveriam ter aparecido, ou pelo menos dado algum sinal. Isso não me parece certo. Será que eles foram atrás dos outros?
Um pouco alarmada me levanto, decidida em dar uma olhada ao redor, quando escuto um grasnar bem ao meu lado, o que atrai meu olhar imediatamente, encontrando um corvo que mantém seu olhar fixo em mim.
O animal permanece onde está, movendo sua cabeça de um lado ao outro, porém a todo instante mantendo seu olhar em mim. De repente ele emite um novo ruído, batendo suas asas e partindo para entre algumas ruas, ficando fora da minha vista.
Um estalo me ocorre, e entendo tudo. Eles já sabem onde estou!
Mal tenho tempo para pensar, e um intenso brilho branco surge logo atrás de mim, somado a um som estranho que não sei distinguir do que se trata.
Assim que me viro, encontro o tronco de um gigantesco esqueleto quase completo, emanando fumaça branca de cada um dos vários ossos. A criatura balança um de seus braços na minha direção, e sem opções pulo para fora do telhado, escapando do ataque por muito pouco, mas caindo ao chão sem muito equilíbrio, resultando num forte baque nas costas.
Sentindo algumas dores correndo meu corpo, olho para o alto, vendo o esqueleto se apoiando na beirada do alto estabelecimento e aparentemente me olhando sem se aproximar. Tento me erguer devagar, quando percebo uma aproximação.
- O que estava pensando Alana? – Tadeu pergunta com uma risada, parando a alguns metros de mim. Percebo que ele tem um livro em mãos – Que se esconderia de nós para sempre?
Olho de um lado ao outro rapidamente, não encontrando nenhum dos familiares dele ao redor – Onde estão seus familiares?
- Por aí. – Ele salta seus ombros de forma convencida – Talvez mais próximos do que você imagina. Quem sabe?
Uma resposta muito aberta. Não sei dizer se eles estão próximos, ou se foram atrás dos outros, e temo que descobrirei isso do pior jeito.
Acho que a mesa acabou de virar. Se antes era eu quem estava planejando pegar eles de surpresa, agora eu quem acabou sendo surpreendida. O problema é que não faço ideia de onde a família dele pode estar agora.
Sem contar que é possível ver alguns fantasmas já próximos daqui, e não tenho dúvidas de que eles virão para cima de mim. Minha única opção é terminar com isso o quanto antes, senão terei grandes problemas.
De qualquer forma, ainda tenho uma vantagem. O lugar inteiro está congelado, então manifestar meu poder não levará nem mesmo um segundo.
Tadeu abraça a si mesmo, esfregando as mãos nos braços repetidas vezes, sem desmanchar seu riso – Olha só, o que você fez com esse lugar? Nunca senti tanto frio morando aqui... Acho que precisamos esquentar um pouco.
O rapaz estende a mão com o livro e o abre, correndo seus olhos pela folha rapidamente, logo estendendo a mão livre em minha direção. Entendo sua intenção e antecipo um possível ataque de fogo, lançando uma forte onda de vento contra ele, aproveitando de todo ar congelado ao redor.
Por um instante fagulhas surgem iluminando a mão de Tadeu, porém o rapaz é pego de surpresa pela forte corrente de ar, que o desequilibra e faz com que o feitiço seja imediatamente cancelado.
O rapaz acaba caindo de um jeito bem desastrado, deixando seu livro deslizar para longe. Direciono ambas as mãos a ele, e através do meu poder, sinto o frio ambiente percorrer pelo meu corpo e avançar até o rapaz que tenta se levantar.
Fecho ambas as mãos, e é claramente visível como o vento frio se intensifica ao redor de Tadeu. Ele tenta se proteger abraçando a si mesmo, porém o frio é tamanho que o gelo cresce ao seu redor.
Não é do meu agrado congelar alguém vivo, mas não tenho outra opção.
Percebo um forte brilho surgindo logo atrás de mim novamente, e lançando meu olhar sobre o ombro, encontro o mesmo tronco de esqueleto gigante que estava logo acima da loja onde eu estava escondida.
A criatura bate seu braço no chão, com força o bastante para partir o gelo e parte do asfalto, e arrasta seu braço na minha direção rapidamente. Acabo me jogando para frente na tentativa de escapar, levantando o quanto antes. Quem está fazendo esse esqueleto gigante aparecer?
Volto meu olhar para Tadeu, que está sendo erguido pela sua aparente namorada. Eles trocam algumas palavras rapidamente, enquanto que ela bate uma de suas mãos tentando tirar todo o gelo de cima dele, e entrega o livro de volta ao rapaz.
Agora são dois, o esqueleto gigante logo atrás, e os fantasmas que não tentam se aproximar, mas continuam à espreita. Isso não é bom.
Os dois à minha frente estão bem próximos um do outro, e uma ideia surge. Talvez uma única rajada seja o bastante para derrubar ambos de uma vez. Olho para trás uma vez, me certificando que onde estou é longe o bastante para que o esqueleto não me alcance.
Ergo as mãos acima da cabeça, e entrelaçando meus dedos, faço uma grande quantidade de ar gélido percorrer meus braços até se manifestar através das minhas mãos. O vapor de ar frio surge e envolve cada parte do meu corpo, pequenos cristais de gelo flutuam ao meu redor, e assim que o casal vira seu olhar para mim, desço as mãos na direção deles, liberando todo o poder concentrado em uma única onda de ar gélido.
O forte ruído do vento repleto de fagulhas de gelo rasga através do silêncio da noite, atingindo o casal em cheio sem a menor chance de conseguirem escapar. Uma grande nuvem branca repleta de cintilantes cristais congelados cresce ao redor dos dois, e uma intensa explosão ocorre.
A nuvem congelante se dissipa aos poucos, e por trás dela está um grande pilar de gelo formado pelo meu ataque. E dentro do gelo, tanto Tadeu quanto sua namorada encontram-se presos.
Eles ainda estão vivos, porém quanto mais tempo passarem dentro dessa prisão, menor será a chance de escaparem com vida.
Com o vento noturno, surge o questionamento do que levou Tadeu, família e namorada a seguirem as vontades das bruxas. Ele falou algumas de suas motivações, mas não consigo acreditar que seja apenas isso.
Será que o poder que conseguiram subiu à cabeça deles?
Infelizmente, não chegarei a lugar algum pensando nisso. Ter tais respostas agora não faz diferença, e também, tenho coisas mais importantes para me concentrar agora.
Viro sobre os pés e em passos curtos caminho para longe, decidida a encontrar os dois familiares que restam. O esqueleto de antes não está mais presente, e me intriga a forma tão rápida como ele desapareceu.
Além disso, os fantasmas permanecem sem se aproximar de mim. Alguns estão parados me observando, outros desaparecem no ar repentinamente, e alguns outros seguem invadindo casas. Esse comportamento deles é muito inconstante.
Do nada uma brisa mórbida passa através do meu corpo, fazendo com que profundos calafrios me percorram e trazendo a mim um desconforto assombroso. Parece até que uma presença invisível acabou de passar por dentro do meu corpo, e meus instintos gritam que existe mais alguém aqui.
Imediatamente lanço meu olhar por cima do ombro, querendo averiguar se Tadeu e sua namorada continuam presos dentro da grande prisão de gelo, e como o imaginado, eles permanecem ali dentro.
Entretanto, existe mais alguém ali, encapuzada e de costas para mim, tendo sua mão pousada no grande pilar.
Como não a ouvi se aproximando?
A escuridão me impede de enxergar com clareza, mas não é preciso muita iluminação para ver que a pessoa a minha frente veste o mesmo manto que a família está usando.
- Ah meu filho... – A pessoa diz com certa lamentação na voz. De imediato percebo ser uma voz feminina. – Veja onde sua impulsividade o levou... Condenou a si mesmo, e carregou a animada Giovanna consigo...
Pelo visto, essa é a mãe dele.
- Um casal tão jovem... Um casal tão intenso... Tinham tanto pela frente, uma pena que tenham acabado assim. – A mulher olha para trás devagar, e sei que seu olhar está focado em mim – E aqui está a culpada por este fim...
A mulher vira-se a mim lentamente, retirando seu capuz e me encarando fixamente.
Noto que ela tem algo em sua mão, parece ser um livro muito semelhante com o que o filho carregava consigo.
Ela abre seu livro, e após sussurrar algumas coisas, um brilho branco surge das páginas, e bem atrás de si um grande e silencioso turbilhão luminoso e manifesta em torno da mulher, e dentro desse turbilhão, o gigantesco esqueleto de antes reaparece.
- Farei com que se arrependa do que fez com ambos... – Ela se afasta do pilar em passos lentos – Entregarei seu corpo às minhas senhoras!
Observo bem o esqueleto, notando que existe o mesmo padrão de suas aparições anteriores. Apenas seu tronco está presente, aparentemente preso ao solo, o que me leva a acreditar que essa invocação não possua pernas e tenha movimentos limitados.
Contra ele, tudo que preciso fazer é permanecer fora do alcance de seus braços e estarei livre de seus ataques. Entretanto, sua invocadora está refugiada bem abaixo da caixa torácica.
Além disso, o livro em suas mãos continua aberto, emitindo o mesmo brilho de antes. Acho que esse e outros feitiços sejam aplicados desse livro. Talvez destruir ele faça com que a invocação seja anulada.
Ergo ambas as mãos, concentrando o poder ao meu redor, forçando o surgimento de uma densa corrente de vento. O ar frio atravessa minha pele em pequenos arrepios, abraçando meu corpo muito além da carne e me permitindo desfrutar da intensa energia congelante que envolve este lugar.
Sou inebriada pelo poder do frio, e por um instante, poderia dizer ter me unido com todo o ambiente congelado à minha volta.
Direcionando um dos braços a mulher, faço todo o vento acumulado próximo de mim se projetar para frente, numa imensa onda envolta por uma nuvem branca repleta de cristais de gelo.
A nuvem ofusca minha visão, mas não meus demais sentidos. Ouço um pesado estrondo na minha frente ao mesmo instante que o chão treme fortemente debaixo dos meus pés.
Mantenho meu olhar atento onde estava a bruxa e o esqueleto, que agora estão envoltos pela grande nuvem. Um movimento repentino acontece, e o grande braço do esqueleto surge, rompendo toda a nuvem de gelo. Apenas seu crânio é revelado, e percebo que ele emana um brilho mais intenso que antes.
Repentinamente uma explosão acontece a partir do esqueleto, dissipando a nuvem de gelo por inteira. A criatura apoia ambas as mãos no chão e pende seu tronco para frente, emitindo contínuos sons de seus ossos, e ainda protegida em seu interior, vejo a mãe de Tadeu, que claramente não foi afetada pelo meu ataque.
Não tem jeito. Se eu quiser atacá-la de uma maneira eficiente, precisarei me arriscar entrando no alcance desse esqueleto.
A mulher olha seu livro por um instante, erguendo uma de suas mãos acima da cabeça, e logo apontando a mim – Avance meu servo!
O esqueleto emite um ruído estrondoso, e batendo suas mãos no chão de forma que seus dedos atravessem e cravem no gelo, puxando seu imenso corpo e se arrastar rapidamente na minha direção.
De forma desengonçada ele ergue um de seus braços e o lança contra mim em uma clara tentativa de me esmagar. Consigo desviar me jogando para o lado, e mesmo não sendo atingida, o impacto do ataque no chão foi tão pesado que por um instante tenho a impressão de que fui atingida.
Mal tenho tempo de recuperar meu equilíbrio, e o esqueleto arrasta seu antebraço pelo chão, vindo diretamente a mim. Não terei tempo de tentar me esquivar, por isso vou de encontro ao ataque, que por muita sorte consigo desviar saltando por cima do braço da criatura, e apesar de sofrer uma queda dolorida, consigo evitar maiores danos.
Lanço meu olhar para a mulher, que nesse instante está fora da proteção do esqueleto gigante, e sem espera me lanço contra ela, decidida a aproveitar essa excelente brecha para acabar com ela de uma vez.
O gelo envolve ambas as minhas mãos, e ignorando o som do esqueleto que provavelmente está vindo atrás de mim, acerto a mulher no estômago com as palmas de ambas as mãos, a empurrando levemente para trás.
Aproveitando que está desorientada, avanço um passo a pressionando, de forma que o gelo começa a crescer em torno de seu corpo.
O intenso brilho pálido no chão indicam a proximidade do esqueleto, e sei que não poderei fazer o que quero, por isso o mais rápido que consigo puxo a mulher e a deixo entre mim e sua invocação.
Rapidamente entrelaço meus dedos e ergo as mãos acima da cabeça, e sem perder um único segundo, desço as mãos, desferindo o mesmo ataque que lancei contra Tadeu e sua namorada, uma rajada forte o bastante para que a mãe de Tadeu seja arrancada do chão e lançada para longe com toda a força e impacto do meu ataque.
Mas diferente do que eu esperava, o esqueleto não sofreu nenhum dano com meu ataque, muito pelo contrário, ele está atacando descendo sua mão contra mim, num ataque que não conseguirei desviar.
Sua mão me atinge em cheio, e bruscamente meu corpo é forçado contra o chão frio.
Por um instante perco meus sentidos, e não sinto meu corpo. Todos os meus pensamentos me abandonam e minha sensação é de estar flutuando, como em um sonho, que se rompe no instante seguinte, em que meus sentidos retornam.
Arfo por uma vez, sentindo um grande peso sobre meu corpo, que me mantém pressionada contra o chão frio. Lentamente o peso alivia, me permitindo respirar novamente. Ergo-me devagar, levando a mão à cabeça numa vã tentativa de aplacar tanto a dor quanto a tontura que sinto agora.
Encara o chão por um instante, vendo pedaços do gelo partido ao meu redor, junto com alguns pedaços da rua que acabaram se partindo e se erguendo devido ao impacto, e ainda um pouco tonta, aperto meus punhos encarando fixamente o esqueleto a minha frente.
Percebo que parte de alguns de seus ossos estão cobertos por uma pequena camada de gelo, já sua coluna, foi completamente congelada pelo meu ataque. Mas isso parece ser algo irrelevante para a imensa criatura.
- Meu... Meu servo...! – Ouço a voz trêmula, mas decidida, da mulher. A vejo ficando de pé com alguma dificuldade, abraçando sua barriga com ambas as mãos. Mesmo ofegante, ela me encara de uma forma selvagem, e o livro de antes está no chão bem à sua frente – O que está esperando?... Vamos... Ataque... Destrua essa garota!
Obedecendo a ordem recebida, a criatura inicia um novo ataque, mas me adianto e me levantando num impulso, avanço passando por baixo da sua caixa torácica e corro diretamente para sua invocadora. É ela que preciso vencer, e não sua invocação.
A mulher me olha assustada, e seus olhos vão ao livro ainda aberto que continua emanando o brilho de antes. Ela estende sua mão, porém antes que o alcance, piso nele com força, a fazendo recuar alguns passos.
Rapidamente intensifico o ar frio ao meu redor, a ponto de uma densa névoa pálida começar a emergir do meu corpo. A mulher me olha com espanto, abaixando seu olhar por um instante, enquanto afundo meu pé cada vez mais até batê-lo contra o chão, com o ruidoso barulho de algo sendo partido.
Me dói o coração congelar e destruir um livro, mas não tive outra opção. Sem nem ao menos tirar minha atenção da bruxa a minha frente, percebo o brilho do esqueleto gigante se intensificando e por fim, desaparecendo de uma vez.
Sob o frio e o vento noturno, nos encaramos por um momento, e apesar de sua postura encurvada entregar as dores que sente, seu olhar não enfraquece nem por um instante. Ela não desiste, ainda está disposta a tentar me enfrentar mesmo em nítida desvantagem.
Mas não posso estender esse confronto por muito mais tempo. Acabarei com isso agora.
Ergo uma das mãos em direção, e por entre meus dedos, uma grande nuvem branca envolta por vários cristais de gelo que cintilam sob a pouca luz ainda presente se projeta suavemente contra a mulher, a abraçando por completo.
Fecho meus dedos de uma vez, e a nuvem que antes se espalhava com uma serenidade mortal, se expande numa imensa e assoladora explosão de vento congelado, que arremessam a bruxa para trás.
Assisto a mulher voar por alguns metros, envolvida por fragmentos de gelo que acompanham o corpo da bruxa, que desaba numa queda não tão pesada, mas que a faz deslizar pela rua congelada, sem esboçar reação.
Com cautela, aproximo-me novamente dela. A uma distância que considero segura, a observo por alguns instantes, e em nenhum momento ela se mexe. Ao que parece, a bruxa desmaiou com todo o impacto do meu ataque.
Ótimo, consegui vencer três deles. Falta apenas o pai, e não faço a menor ideia de onde ele esteja nesse momento. Outro detalhe é que não sei qual poder ele deve ter... Mas se estiver no mesmo patamar dos demais, acredito que não terei muitas dificuldades contra ele.
Presto atenção ao ambiente já abalado pelos ataques do esqueleto gigante, e cada vez mais, fantasmas se reúnem em torno de mim. São tantos que me encontro cercada, mas estranhamente, nenhum deles se aproxima.
Todos permanecem assim, parados e apenas olhando.
Por mais uma vez, esse comportamento estranho deles me deixa muito reflexiva.
Ouço o assobio do vento noturno, e com ele um pressentimento me alcança. Algo parece estar se aproximando.
- Ao que parece... – Ouço uma voz grave ecoando de repente – Minha família não foi o bastante para conter você... Você é poderosa demais, criança.
Ao mesmo instante que a voz se manifesta, uma fumaça branca começa a emanar do chão, mas é algo diferente do vapor de ar frio causado pelo meu gelo. E não só isso, tenho a impressão de sentir o chão tremer debaixo dos meus pés.
Para minha desagradável surpresa, diversas vozes sussurradas surgem ao meu redor. Mesmo nenhuma das criaturas ao redor tendo se movido, tenho a impressão de ver vultos passando no canto dos meus olhos, desaparecendo assim que tento focar neles.
Meus instintos me alertam sobre algo próximo, e de imediato giro sobre os pés, pronta para enfrentar o que quer que esteja próximo de mim, mas novamente enxergo apenas um vulto que desaparece imediatamente.
Mas a sensação se repete.
Por mais uma vez, sinto algo se aproximando de mim, mas ao virar para confrontar a origem dessa aproximação, nada encontro. O que está havendo?
Uma estranha luminosidade surge do chão, tão forte que consigo ver a rua por baixo da camada de gelo. Uma nuvem cinza escura surge, trazendo consigo um forte odor de queimado, o qual me faz tossir e torna muito difícil respirar.
- O maior erro da minha família... – A voz surge no céu por mais uma vez – Foi tentar confrontá-la diretamente. Um erro que não cometerei.
Aos poucos sinto que vou sufocando pela falta de ar, e acabo de joelhos para não perder meu equilíbrio. Com os olhos trêmulos, encaro o gelo abaixo dos meus pés, que a cada segundo que passa evapora, até finalmente não existir mais.
A temperatura começa a subir muito rápido, e o assolador frio que havia antes é bruscamente substituído pelo calor enlouquecedor. Por mais uma vez sinto o chão tremendo abaixo de mim, e repentinamente explosões ocorrem por todos os lados, erguendo pilares de chamas, que rapidamente se espalham ao redor, consumindo tanto ruas como estabelecimentos.
Olho ao redor, notando como as profundas sombras da noite desapareceram, dando lugar a intensos tons amarelados incandescentes das devastadoras chamas que agora consomem tudo.
Por mais uma vez olho os fantasmas, que permanecem todos me olhando. O fogo começa a crescer em torno deles, abraçando seus corpos espectrais e os queimam continuamente em vários pilares flamejantes, dando um aspecto muito mais macabro a cada um deles. O fogo trouxe um ar de desespero imenso a cada um deles, e até mesmo poderia dizer que, mesmo com suas feições imutáveis, seus olhos imploram por ajuda.
Apesar de não se moverem, agora estão muito mais assustadores do que antes. Ser observada por tantas almas ardendo em chamas ao mesmo tempo é perturbador, me sinto jogada no meio do inferno.
- Aproveite bem o que estás vendo, pois será a última coisa que verá. – A voz do homem ecoa novamente, e meus instintos gritam que estou sendo observada por todos os lados ao mesmo tempo, e a sensação de ameaça iminente que tenho é imensa – Considere este lugar o seu túmulo.
O ambiente inteiro é tomado por uma densa fumaça cinzenta, o calor beira o insuportável, contrastando por completo com o frio que havia momentos atrás. Por mais que eu procure ao redor, não encontro o menor sinal do causador disso.
Sinto minha visão embaçar, e fico levemente tonta. Não posso ficar aqui, acabarei sufocando com toda essa fumaça em muito pouco tempo. Com certa dificuldade fico de pé, procurando uma direção por onde possa escapar, entretanto, existe fogo e fantasmas por todos os lados.
Ergo minhas mãos e manifesto meu ar frio, porém o calor é tão intenso que o máximo que consigo é apenas abaixar a temperatura ao meu redor, através de uma aura pálida que envolve meu corpo.
Isso não é muito, mas o suficiente para que eu consiga resistir ao fogo por alguns minutos.
Sem pensar muito escolho um caminho e corro para longe das chamas. Quando estou prestes a atravessar por meio dos vários fantasmas, um grande pilar de fogo explode do chão bem à minha frente, me forçando a recuar num pulo para não ser engolida pelo fogo.
Espera... Ele conseguiu conjurar uma magia de fogo exatamente à minha frente? Então... Isso significa que ele deve ter visão de mim nesse momento. Ele está próximo, preciso achá-lo.
Busco de um lado ao outro, por trás dos fantasmas e até mesmo tento enxergar algo dentro dos estabelecimentos ou das casas, mas a fumaça ao redor dificulta tudo. Brasas cintilam no ar, a fumaça escura cada vez mais cobre o ambiente, e em cada instante me encontro sem saída.
Não quero recorrer a isso, mas na situação que me encontro agora, é o único jeito.
Estico bem meus braços, e sentindo o poder sombrio que ainda resta no meu corpo, manifesto toda a escuridão que meu irmão me emprestou. As sombras surgem correndo em torno dos meus braços, se moldando como gigantescas asas negras, que crescem e se destacam entre as chamas que me rodeiam.
Com o fôlego que ainda me resta e um bater de asas com toda a força, me lanço aos céus, para um lugar onde a fumaça e as chamas não podem me alcançar e muito menos conter meus poderes.
Inspiro fundo repetidas vezes, e nunca na minha vida estive tão desesperada por ar como estou nesse instante. Sinto o suor caindo não só pela minha testa, mas sim pelo meu corpo inteiro, e a mudança tão brusca do calor para o frio da noite, faz meu corpo tremer.
Levo apenas alguns segundos para conseguir me recuperar e ter meu poder de gelo se manifestando junto a escuridão, e começo a procura pelo último membro da família. Enquanto olho, o que me surpreende é que grande parte da vila foi tomada pelo fogo e todos os fantasmas presentes. Eu nunca teria chance lá embaixo.
Um estranho movimento por entre a fumaça chama minha atenção, e assim que percebo que não se trata de um fantasma, mas sim de uma pessoa, me aproximo com cautela. Conforme me aproximo, me dou conta que não é só uma pessoa, mas sim várias. Será que...?
Estendo ambas as mãos, e aproveitando que consigo manifestar meus poderes novamente por estar longe do fogo, projeto uma intensa quantia de ar frio na direção das pessoas, afastando toda a fumaça e também empurrando as chamas para longe, e o que vejo me deixa sem reações.
Com um braço, o pai de Tadeu se protege do vento congelante, mantendo o livro aberto em sua outra mão. À sua frente, Jessica, Rafaella, Danilo e Jackson caminham devagar, envoltos por estranhas cordas avermelhadas, e percebo um estranho e fino frio ligando os quatro ao livro do homem. Eles se debatem, entretanto, não conseguem se soltar ou ir para muito longe.
Os quatro interrompem seu caminhar no exato momento que pouso bem em frente a eles, e tenho seus olhares perplexos voltados as minhas asas de gelo e sombras abertas.
Meu olhar foca apenas no homem que mantém os quatro aprisionados. Ele não parece impressionado ou muito menos incomodado com minha presença. Muito pelo contrário, ele claramente está bem tranquilo.
- Você finalmente apareceu – Ele diz, esboçando um sorriso – Imaginei que viria criança.
Passo meus olhos pelos quatro, e percebo que existem pequenas queimaduras e sinais de combate em cada um deles – Você quer a mim. Por que envolveu eles?
Ele gargalha assiduamente – Imaginei que se fosse atrás desses quatro, inevitavelmente você viria até mim.
Aperto os dentes enquanto cerro o olhar – Eu já iria atrás de você de qualquer jeito. Liberte eles!
- E por que eu faria isso? – Questiona em deboche, erguendo uma de suas mãos e, de imediato, os quatro são puxados bruscamente – Eles são minha garantia.
- Sua garantia? Do que está falando? – Questiono evitando me aproximar.
- Minha garantia de que virá comigo sem tentar nada. – Ainda com a mão erguida, lentamente ele fecha seus dedos, e imediatamente todos os quatro começam a gemer de dor. As cordas que os prendem começam a brilhar forte ao mesmo tempo que os aperta cada vez mais. – Caso contrário, são esses quatro que irão sofrer as consequências.
Estou pronta para atacar, mas me impeço de continuar a dor que todos sentem. Volto a encarar ele, sentindo a irritação crescendo em mim.
Nessa distância, sei que consigo atacar ele diretamente, mas se estou certa sobre esses fios que saem do livro, todos a minha frente serão afetados pelo meu ataque. Minha situação não está boa.
- Renda-se e venha comigo criança, e a dor deles para. – Ele diz em uma calma assombrosa. – E então, o que me diz?
Olho para os quatro que acabaram muito mais envolvidos do que deviam em toda essa situação. Apesar de tudo, nenhum deles concordou com a ideia de apenas me entregar e ir com ele, Rafaella balança a cabeça e Danilo tenta me dizer para não fazer isso.
Como posso resolver isso?
Lentamente fecho minhas asas, e afrouxando meus punhos, meu olhar vai ao chão. Inspiro fundo, soltando todo o ar pela boca, dando um passo à frente. – Tudo bem... Irei com você.
Ouço o homem rindo – Foi muito mais fácil do que eu esperava... Vejo que você é muito inteligente criança.
- Só peço que solte os quatro e deixe que vão embora... – Digo em voz baixa apertando meus olhos, dando um novo passo – Nenhum deles tem nada a ver com isso. Sou eu quem vocês querem... Não é?
- De fato, você é quem queremos. – Ele responde sem rodeios. Passo no meio de todos, e paro em frente ao pai de Tadeu, voltando a encará-lo esperando por sua resposta. – Está certo criança. Libertarei eles...
- Não faz isso Alana! – Ouço Danilo praticamente suplicando, seguido dos demais que dizem coisas semelhantes.
Ergo ambas as mãos em frente ao corpo, sem focar em nenhum deles. Meus olhos voltam ao chão – Me desculpem... Mas não vejo outro jeito...
O pai de Tadeu ergue sua mão livre na minha direção e começa a recitar algo, e nesse instante, foco meu olhar nele, e apontando ambas as mãos para o homem, projeto uma intensa corrente de ar congelante contra ele.
O homem recebeu o ataque inteiro diretamente, mas para minha surpresa, ele está resistindo a contínua corrente de ar frio que não permito fraquejar nem por um único segundo.
Cerrando o olhar, o homem aperta seus dentes e com dificuldade inclina seu corpo para frente, e em sua mão livre, uma esfera flamejante se manifesta. Ele empurra sua mão em minha direção, e a esfera se expande num intenso mar de chamas que me envolve por completo, seguida de uma explosão que consegue me arremessar para trás.
Resmungo de dor já no chão, e arfando me ergo devagar, sem acreditar na distância a qual fui arremessada pela explosão.
O homem respira fundo por algumas vezes, sorrindo num ar confiante... Para não dizer arrogante – Imaginava que não seria assim tão fácil.
- Ainda está muito fácil. – Digo já ficando de pé e recuando uma mão para lançar outro ataque. – Vou me certificar que fique mais difícil!
Sem espera lanço outra rajada de ar frio, repleta de cristais de homem. Uma rajada muito mais ampla do que a anterior. Por causa do calor das chamas próximas, posso aproveitar para que o fogo derreta o gelo e crie uma densa névoa ao nosso redor, o que talvez abaixe um pouco mais da temperatura daqui. Ela durará pouco, mas o suficiente para que eu consiga bloquear sua visão e atirar uma única lança de gelo contra o homem.
Um único ataque será o bastante, mas preciso ser rápida.
Todo o frio presente não me fará mal algum, mas poderá ser fatal para os quatro que agora quero resgatar.
Todo o meu esforço em continuar lançando meu ar frio vai me desgastando, e a cada segundo a exaustão cresce em mim, e ainda não consegui atingir o resultado que queria. Não posso esperar mais, preciso agir.
Com a mão livre, concentro toda a força que posso entre meus dedos, disparando toda esse poder congelante para frente, que se projeta em uma ampla ponta de lança de energia direcionada ao homem. Ele, entretanto, move uma de suas mãos, e noto que Jackson foi puxado e recebeu o golpe em seu lugar.
Ao atingir o rapaz, toda a energia congelada se expande e um estouro ocorre, criando uma grande nuvem de gelo e fortes ventos com a explosão, forte o bastante para cobrir todos. Não perco um segundo sequer e avanço, tanto para me certificar se o pai de Tadeu sofreu algum dano, e se todos estão bem.
Escuto alguns gemidos doloridos assim que chego perto. A nuvem é densa e não consigo enxergar ninguém, mas consigo identificar o brilho emitido pelo livro que o homem carregava consigo. Aproximo correndo do livro e, sem demora, me apresso em destruir o livro o congelando e por fim arremessando contra o chão com toda a força. Com isso, o último deles se torna inofensivo contra mim.
Olho em volta, e para meu alívio, vejo o homem desacordado no chão, e ao seu lado está Jackson, com uma mão no ombro que recebeu o ataque. As cordas que o envolviam desapareceram, talvez isso ocorreu com a destruição do livro.
Sem demora o puxo para longe do bruxo e tento me certificar que ele está bem. Seu ombro foi perfurado e uma camada de gelo se espalhou por parte de seu corpo, e não apenas isso, existem marcas de queimadura onde antes estavam as cordas. Apesar de estar desperto, seus ferimentos são bem graves, e não sei dizer se ele irá sobreviver.
- Vocês estão bem?! – Grito enquanto levanto Jackson e em passos lentos, vamos nos afastando, e a princípio, não tenho respostas.
- Estamos inteiros... – Jessica diz com dificuldade. Nossos olhares seguem na mesma direção, onde vemos Danilo ajudando Rafaella a se levantar. – Bem eu já não sei.
- Precisamos ir. – Digo sem demora, encarando de um lado ao outro em busca de uma forma de sairmos daqui.
- Mas para onde vamos? – Danilo questiona.
Balanço a cabeça – Eu ainda não sei... Mas precisamos sair daqui o quanto antes. Encontrar algum lugar onde vocês possam ficar.
Nenhum deles está em um bom estado. Preciso encontrar um lugar para que eles se escondam e, principalmente, para que possam tratar dos seus ferimentos.
Sinto algo mórbido passando através de mim, e de imediato paro meu caminhar.
Olho para trás com certo temor, e percebo que onde está o corpo desmaiado do pai do Tadeu, outras pessoas estão caídas ao redor. Apertando os olhos, reconheço as vestimentas, e sei que toda a família está ali, e não somente isso, existe algo parado próximo deles.
A mesma figura escura que encontrei quando estava chegando na vila.
A criatura sombria permanece estática entre os corpos dos quatro membros da família, e dele, uma aura profundamente escura emana ao seu redor, e percebo que algo acontece com a família.
Pequenos fios brancos saem de seus corpos, acompanhados de pequenas fagulhas cintilantes que os rodeiam silenciosamente, e lentamente vão se aproximando da criatura, que vira sua cabeça sem face para mim.
De repente o ar torna-se cada vez mais pesado, e a pressão nesse instante cresce absurdamente. Formas distorcidas saem dos corpos caídos e são puxadas em direção ao espectro, girando ao seu redor, perdendo qualquer formato coeso e expandindo-se num gigantesco turbilhão, que parece atingir o ponto mais profundo da minha alma.
Me dou conta de outra coisa, os vários fantasmas que estavam ao redor são puxados para dentro do turbilhão, aumentando ainda mais sua velocidade e a pressão causada.
O som de várias vozes começam a ecoar no céu, ofuscadas apenas pelo ruído do vento presente nesse instante. Uma névoa macabra surge do chão, tornando o lugar assustadoramente frio, não do jeito que estou acostumada... É um frio mórbido.
Por dentro do turbilhão, duas esferas brancas surgem, destacando-se na densa penumbra da noite, e numa explosão muda, uma criatura já conhecida se manifesta.
As pesadas couraças metálicas que envolvem seu corpo e o brilho de seus olhos brancos me causam medo, por saber o que está a minha frente.
Um dos fantasmas gigantes está aqui.
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