Capítulo 30
3601 Palavras
Meus olhos pesam e o cansaço recai contínuo em meu corpo.
Brigo contra a fadiga para despertar e fugir das garras que tentam me arrastar de volta ao sono profundo, e consequentemente, aos pesadelos que ali habitam.
Finalmente consigo abrir meus olhos, e após alguns segundos me adaptando a pouca luminosidade presente apenas por algumas velas, consigo distinguir a figura das cinco bruxas a minha frente, cada uma me encarando em expectativa.
- Acordou? – Eleonor questiona em tom sereno, estando em frente as filhas.
Tento me mexer, mas de imediato o som do metal entrega que estou envolto em ainda mais correntes do que antes. Dessa vez são tantas, que a única coisa que consigo mover é minhas mãos, e muito pouco do pescoço.
As correntes estão bem mais apertadas. Sinto os pulsos, cintura, peito e pernas doerem de tão apertadas. E as correntes no meu pescoço estão dificultando bastante minha respiração. Me sinto sufocado.
Após alguns segundos tentando livrar pelo menos o pescoço para respirar melhor, finalmente consigo ar para responder – Me impressiona ter despertado novamente. Ainda não começaram o ritual?
- Ainda faltam alguns... Preparativos. – Eleonor vira seu rosto em direção a Nicole e lança um discreto aceno. Relutante, Nicole responde com um mesmo aceno, e vem até mim, tendo um punhal e um cálice prateado, ambos com pedras brilhantes encrustadas no metal – Faça!
- Sim mamãe! – A mais nova responde com firmeza, parando bem a minha frente, com um punhal erguido.
Sua voz não condiz com o nervosismo presente em seus olhos, que focam diretamente nos meus. De repente, seus lábios se movem devagar, nenhuma palavra foi dita... Mas consegui entender o que foi dito.
Nicole acabou de dizer "Me desculpa".
Sem desviar seu olhar do meu por um instante, a garota afunda o punhal no meu braço, e a sensação do fio gélido invadindo meu corpo me causa um calafrio. Enrijeço o braço devido ao incomodo do corte unido ao escorrer lento do meu sangue.
A jovem bruxa aproxima o cálice bem abaixo do meu braço por onde meu sangue goteja silenciosamente, e ali permanece coletando uma quantia considerável. Nesse momento, Nicole não sustenta seu olhar em mim, mas reparo como aperta a boca e também como segura o cálice com uma falsa firmeza.
Após alguns segundos que mais pareceram horas, ela finalmente se afasta de mim, e com o olhar fixo no sangue recém recolhido, a garota afasta-se, deixando o quarto sob o olhar de satisfação de sua mãe.
- Por que isso? – Questiono cerrando o olhar.
- Como eu disse, faltam alguns preparativos. E esse era um deles. – Eleonor vira-se para mim, dando um passo à frente – Esperem lá fora minhas filhas. Quero ficar a sós com nosso convidado.
- O que? – Sarah questiona, olhando da mãe para mim – A senhora não irá nos enrolar de novo, não é mamãe?
- Isso não irá acontecer Sarah. Quero apenas conversar com ele. – A mãe diz com um sorriso de canto. Nenhuma das filhas faz menção de se mover, e parecendo notar isso, Eleonor as olha sobre o ombro – Não se preocupem. Todas vocês aproveitarão.
Sarah aperta seu olhar, claramente desconfiada das palavras da mãe, porém ela não diz mais nada. Com um gesto silencioso, a mais velha vira-se e deixa o quarto, seguida de suas irmãs, sendo Mari a última, encostando a porta atrás de si.
O quarto mergulha na penumbra silenciosa, rompida unicamente pela luz das velas presentes pelo local e o baixíssimo som do queimar das chamas.
A bruxa me olha com um sorriso angelical, capaz de ocultar muito bem o poder esmagador que ela possui. Quem a olha nesse instante, jamais poderia desconfiar que Eleonor é uma bruxa... Ainda mais uma tão poderosa.
Deixo escapar um suspiro – Não faço ideia do que queira falar comigo.
Eleonor avança devagar, com o som de seus passos se destacando na quietude do cômodo. Mantendo sua feição angelical, ela passa a língua pelos lábios... E isso não foi uma coisa que me agradou muito.
A mulher toca meu rosto suavemente, percorrendo seus dedos ao meu cabelo. Sua outra mão toca meu peito desnudo, descendo para minha barriga em um leve arranhar de suas unhas.
Fecho os olhos e aperto meus punhos, sentindo o corpo estremecer e a respiração falhar por um segundo devido aos seus toques. Não posso negar que não esperava por um toque tão suave e até tão agradável vindo dela.
- E quem disse que quero apenas falar com você? – Ela pergunta em tom provocante.
- Você mesma, a nem um minuto atrás? – Questiono tornando a olhá-la.
Eleonor morde o lábio enquanto junta seu corpo ao meu, e com um intenso olhar, ela fita o corte no meu braço. Sem que eu esperasse, ela avança, juntando seus lábios na minha ferida, e no mesmo instante consigo sentir sua língua passando pelo corte.
Observo incrédulo, sentindo cada movimento de sua língua na minha pele ferida e até mesmo sugando de leve, e é completamente notável como ela está aproveitando. Isso é agoniante.
De repente ela afasta sua boca, e com um sorriso satisfeito, ela recua devagar, passando sua língua pelos lábios levemente manchados de sangue – Delicioso.
- Ahn... Obrigado? – Digo com uma sobrancelha erguida, sem fazer a menor ideia de qual seja minha feição – Mas... Mas o que foi isso? Além de bruxa, você também é uma vampira?
A mulher solta uma gargalhada divertida, ajeitando as poucas mechas de cabelo que caiu frente ao rosto, caminhando para longe de mim – Gosto de experimentar o sangue daqueles que irão me alimentar... E estava curiosa quanto ao sabor de uma Cria do Abismo.
- Então posso chutar que foi decepcionante. – Ela me olha sobre o ombro com ar de curiosidade – Meu corpo é de um humano, e não de um ser do Abismo.
- Seu corpo pode ser humano, mas seu poder não é o de um humano. – Rebate tocando a ponta do indicador na boca – Sabe por que utilizamos sangue em nossos rituais meu querido?
Penso por um instante, e como consigo, balanço a cabeça negativamente – Não faço a mínima ideia.
- Porque no sangue é onde está a energia vital de todos os seres... – Eleonor diz como se recitasse algo – Sangue é vida, é onde reside o poder, e uma forma de criarmos um profundo elo com nossa ação. Qual a melhor forma de elevar um ritual, senão utilizando o poder existente na vida?
- É... Começou a fazer sentido. – Concordo – Mas espera... Isso funciona mesmo usando um sangue que não é o seu?
- Deve ser um de alguém que está envolvido com o ritual que está prestes a ser realizado... Tal qual faremos com você. – Assinto com o olhar, e ela passa a me olhar de uma maneira um tanto diferente – Por que quer saber sobre isso?
- Estou preso aqui, sem nada para me distrair... Acho que posso me permitir ser um pouco curioso. – Observo com atenção o crânio que Eleonor tem em mãos – O que é esse crânio? Notei que você sempre está com ele em mãos.
- Isto? – Eleonor encara o crânio, sorrindo num misto de carinho e também com uma macabra feição de quem tem um troféu em mãos – É apenas a cabeça do meu primeiro filho.
- Não, você está brincando comigo. – Dou uma risada fraca, mas ao ver como o sorriso e olhar de Eleonor se mantém, me calo – Você está brincando, não é?
- Eu mesma o matei. – Diz serenamente, e sinto um choque com essa informação.
- Espera, o que foi que você disse? – Questiono com a voz falha.
Eleonor esboça um riso, percorrendo a ponta dos dedos pelo crânio – Ele foi meu primeiro filho, muito antes da Sarah... Era um menino tão belo, tão frágil, tinha os meus olhos... Lembro-me da sensação de tê-lo em meus braços pela primeira vez.
- Mas... – Gaguejo, tentando encontrar palavras – Por que o matou?
- Porque... – Eleonor assume um semblante macabro – Ele era um menino. Não era útil para mim.
Batidas fortes na porta rompem nossa conversa – Mamãe! – É a voz da Sarah – A senhora já está demorando demais!
Eleonor suspira, balançando a cabeça negativamente – Está tudo bem minhas filhas, por hora terminamos nossa conversa. Já podem entrar.
A porta é aberta, e a mais velha entra apertando seus olhos para a mãe. As demais irmãs entram logo na sequência, cada uma delas com olhares atentos em mim. É possível ver uma alta expectativa nelas.
- Impaciente como seu pai. – Eleonor diz para Sarah, que faz uma careta.
- Herdei minha impaciência dele mamãe. – A mais velha responde.
- Sei bem disso, a impaciência era um charme dele. – A mãe ri, e por fim passa seu olhar por cada uma das filhas – Vocês já realizaram seus preparativos?
- Ainda não mamãe. – Talita se pronuncia – É que nós...
As quatro filhas se entreolham, e então Mari toma a frente – Queremos saber qual de nós será a primeira.
A mãe cruza seus braços, voltando-se para mim – O que vocês acham?
- Eu, que sou a mais velha. – Sarah caçoa, recebendo olhares fulminantes.
- Isso não é justo Sarah! – Talita rebate de imediato – Você sempre diz isso.
- Porque é um fato. Como a filha mais velha, tenho o direito de ser a primeira. – Ela diz de forma convencida, sorrindo de canto. – Preciso saber se será adequado para minhas irmãs, por isso devo ir antes de vocês.
- Você se aproveita, isso sim! – Mari se junta ao debate – Creio que eu quem deveria ser a primeira, porque afinal, posso fazê-lo durar bem mais tempo.
- Abusando de suas poções? – Talita questiona – Meus feitiços podem fazer o mesmo, então eu poderia ser a primeira.
- Acalmem-se minhas filhas. Eu já tenho uma escolhida. – Eleonor diz, gesticulando com a mão livre para que as filhas se acalmem.
Todas as quatro a olham com expectativa – Quem é mamãe? – Mari questiona.
A mãe olha para as quatro – A primeira será Nicole.
- O que? – As quatro questionam em uníssono.
- Mas... – Nicole, que até então esteve calada, finalmente se pronuncia, notavelmente atordoada com a informação – Mamãe... Por que logo eu?
- Porque essa foi uma conquista sua minha filha. – A mãe observa as demais – Temos uma cria do Abismo para nosso mais marcante ritual graças a você. Por isso, não é preciso pensar demais para saber que escolher você é a decisão justa.
As demais irmãs parecem um pouco descontentes com as palavras da mãe. Elas trocam olhares, encaram a mais nova, que permanece calada.
- Alguma objeção? – Eleonor questiona as três filhas, que ficaram caladas.
- Não mamãe, nenhuma. – Sarah responde primeiro.
Mari acena a cabeça – Acho que a senhora tem razão... É a primeira vez da Nicole, então seria justo ela ser a primeira a consumar o ato.
- Se formos pensar bem, nem deveríamos ter nossa vez. – Talita sussurra pensativa, olhando para as demais irmãs, que a encaram de volta com uma careta – Ele foi o escolhido da Nicole, e não nosso... A mamãe está abrindo uma exceção.
- E também, não vamos esquecer... – Sarah sorri com certa satisfação – Essa noite é a primeira vez da nossa caçula. Ela quem deve dar início e fim, e não nós.
Sorrindo, a mãe ergue o rosto, num ar mais dominador que antes – Estão de acordo com minha decisão?
As três acenam afirmativas. Nicole ainda mal reage, nesse momento não tenho ideia o que passa em seus pensamentos.
- Muito bem, agora vamos minhas filhas. Devemos deixar sua irmã começar. – Eleonor se pronuncia, caminhando para fora do quarto. – Todas teremos nossa chance, mas Nicole é quem deve ser a primeira.
- Concordo, é a primeira vez que ela dá uma dentro. – Talita diz encarando a irmã de canto, e logo então me olha com malícia – Nada mais justo.
- Só não vá ser gulosa e tomar tudo pra si, nós queremos também. – Mari diz já seguindo para a porta. – Não canse demais nosso convidado, senão irei brigar com você Nicole.
- É verdade, queremos aproveitar também. – Talita incita – Mal posso esperar pela minha vez.
- É a primeira vez da Nicole, deixem ela se divertir como e o quanto quiser. – Sarah é a última a sair. Ela para antes de fechar a porta – Boa diversão irmãzinha.
A porta é fechada e o pesado silêncio se instala nesse quarto. A garota suspira profundamente, se virando para mim com relutância.
Nicole e eu nos encaramos em silêncio por alguns instantes. Ela está claramente nervosa, e não tenta se aproximar como achei que faria.
Ela está assustada, é possível ver isso estampado em seu rosto.
- Sua família é bem carinhosa com você, não acha? – Questiono a observando, porém a jovem bruxa não me responde, apenas desvia o olhar ao chão.
Mesmo diante de seu silencio, percebo como minhas palavras a afetaram. Pelo que percebo, a implicância que todas pareciam ter com Nicole todo esse tempo não era fingimento. Realmente existe alguma inimizade entre elas.
Nicole caminha devagar, esfregando uma mão nos olhos devagar, oscilando entre se aproximar de mim e afastar novamente. Ela cruza seus braços, indo de um lado ao outro, visivelmente perdida.
- O que está pensando? – Questiono, já imaginando não obter uma resposta.
E é isso que acontece.
Nicole caminha de um lado ao outro, passando as mãos pelos cabelos os jogando para trás, respirando fundo e soltando o ar pela boca.
Ela se encosta próxima a porta, deslizando as costas na mesma, a garota senta-se no chão, abraçando os joelhos e por fim escondendo seu rosto.
Em meio ao silêncio, consigo escutar ela sussurrar um "o que eu faço?".
Por alguns longos minutos, que até poderia dizer que foram horas, é isso. Nicole não diz nada, não se aproxima mas também não se afasta, e tudo que posso fazer é observá-la, sem saber o que passa em seus pensamentos.
A única coisa que sei, é como ela está nervosa... E também, parece bem dividida.
Respiro fundo e, fechando meus olhos, decido apenas aguardar mais um pouco.
- Você estava inquieto enquanto estava desacordado. – Ela fala com uma voz fraca de repente, me pegando de surpresa por ser esse o assunto que ela abordou. Ao observá-la, percebo que ela ainda esconde o rosto – Estava tenso, deixando vazar muito poder de uma vez... Parecia atormentado.
- Não parecia, eu estava sendo atormentado. – Respondo seriamente, observando a garota se levantar novamente e caminhar pelo quarto, indo pegar algo numa escrivaninha que não notei até então.
- Atormentado? – Ela pergunta com cautela. – Pelo que?
- Pelos meus pesadelos. – Finalmente a jovem bruxa me olha, com certa surpresa em seu rosto – Tenho pesadelos envolvendo meu passado em todas as vezes que adormeço. Por esse motivo eu nunca durmo... Acredito que já te disse isso.
- Isso era verdade? Eu... Achei que você estava exagerando, ou... – Ela para de falar.
- Mentindo? – Completo, e ela não tenta contra argumentar – Não tenho motivos para mentir Nicole, ainda mais depois do que mostrei ao meu respeito.
- É comum das pessoas mentirem. – Diz sem me olhar. – Não devemos confiar.
- É, não nego que você tem um bom ponto. Levarei isso de "não confiar" em consideração para a próxima vez. – Respondo a observando.
Nicole me encara, se aproximando em passos apressados – Você acha que vai ter outra vez? Você acha mesmo?! – Suas palavras deixam claro seu nervoso... Mas por algum motivo, não sei se tal nervosismo é apenas por se aproximar de mim.
- É claro, não tenho dúvidas de que sairei daqui, e faço questão de levar essa sua dica para a próxima vez. – Respondo.
- Você não entende? Não vai ter próxima vez! – Ela diz com força, apertando seus punhos no tecido de seu vestido e logo abaixa a cabeça. Aperto os olhos observando isso – Não vai ter próxima vez para você... Minha mãe não vai permitir que tenha...
Sorrio de canto observando a garota – Sinto muito, mas sou eu quem decidirá isso.
A garota ergue seus olhos para mim, incrédula com minhas palavras, porém logo seu olhar se enfraquece e Nicole encara o chão. – Não... Não era nem mesmo para ter essa vez, mas você não viu meu aviso...
Apesar de ter sussurrado, consegui escutar suas palavras perfeitamente – Aviso? Espera, explica isso direito. Então foi por isso que você esteve estranha o tempo todo? Você estava tentando me avisar?
A jovem bruxa aperta seus olhos com força – O que importa agora? Você está aqui, já está feito e não tem mais como voltar atrás!
- Tem razão... – Viro meus olhos para o lado, erguendo apenas o indicador onde vislumbro uma chama surgindo na ponta do meu dedo, e é exatamente isso que acontece instantaneamente, sem piores consequências.
Finalmente estou recuperado.
Completamente recuperado.
- O que? Fogo? – Nicole recua um passo, me olhando sem acreditar – Mas... Mas você disse que seu poder é a escuridão.... Não falou que controla o fogo.
- De fato, eu não controlo o fogo. – Digo tranquilamente com um sorriso. Cesso as chamas e fecho meus olhos, a qual tenho em mente todas essas correntes se rompendo de uma vez sem a menor resistência. – O meu poder é outro, muito além da escuridão.
Todas as correntes que envolvem meu corpo se partem quase que ao mesmo instante e vão ao chão em uma ruidosa queda, e posso finalmente sentir meu corpo livre, e meus pés tocam o chão em uma queda nada suave.
Nicole cobre o rosto com as mãos se protegendo da onda de impacto propagada da destruição das correntes, e por fim me olha, completamente horrorizada.
- Meu poder é minha vontade. – Digo diante de seu choque.
- O que é você...? – Ela diz com a voz tremula, recuando um passo.
- Eu já lhe disse o que sou garota. – A jovem bruxa ergue suas mãos em minha direção, pelo jeito decidida a tentar me enfrentar, porém vejo a silhueta de Alana surgindo bem atrás dela – E vocês perderam.
Alana golpeia a bruxa pelas costas com toda a força. Nicole sequer grita de dor, seu corpo pende para frente e ela cai, já desacordada.
Observo a garota desmaiada por alguns segundos, e então ergo meu olhar devagar, encontrando minha irmã em meio a penumbra deste quarto.
Após alguns segundos parado apenas olhando Alana, tendo a certeza de que é ela mesmo quem está aqui, avanço em sua direção em passos apressados e a abraço com força, aliviado por saber que minha irmã está bem.
- É muito bom te ver aqui irmãzinha... – Digo em um sussurro – Eu achei que...
- Estou bem irmãozão. – Alana me responde com a voz abafada e um pequeno riso, e então se afasta de mim devagar – Não me aconteceu nada.
Olho para ela por alguns momentos, já sentindo alguma falta do abraço da minha única família que antes achei ter perdido, mas estou feliz por isso não ter acontecido.
Devagar olhamos para a bruxa desacordada, e me encontro pensativo.
Apesar dos problemas que minha irmã e eu nos encontramos agora, não deixo de me sentir mal pela jovem bruxa... De certa forma, acho que me afeiçoei a ela.
Sem falar que, suas palavras ficaram na minha mente. Ela tentou me avisar?
- Como você está? – Minha irmã questiona.
- Até que bem. Melhor do que imaginava. – Respondo me esticando.
- Isso é bom... E agora, o que faremos? – Ela cruza os braços.
- Por mim iriamos só embora, mas sei lá... Ainda temos que lidar com isso dos fantasmas. Pelo jeito hoje é a "grande noite" delas. – Digo refletindo. – O quanto você ouviu da conversa?
- A conversa inteira. – Alana me responde. – Elas querem usar a nós e a cidade inteira como sacrifício para elevarem seus poderes.
- Você já está sabendo de tudo, então não precisarei explicar nada. – Dou um sorriso satisfeito, junto de uma demorada espreguiçada. – Irei atrás delas. Você vem?
- Não, quero voltar para o hotel e ver como estão todos.
- Todos? – Ergo uma sobrancelha.
Minha irmã salta os ombros – Sim, estive com Rafaella e Danilo, e descobrimos algumas coisas que nos levaram a descobrir que Nicole e a família são as culpadas. Deixei eles no chalé, era o lugar mais seguro, mas estou preocupada.
- Entendi, acho que não preciso de mais detalhes de tudo isso... – Digo pensativo sobre a situação. – Pode ir, irei cuidar de tudo por aqui.
- Espera... – Minha irmã me segura pelo braço, e um silêncio se arrasta entre nós. – Quando eu estava na sua mente, vi o que esconde, vi seus pensamentos... Tudo o que te atormenta... Até mesmo sei o que falou com Nicole...
- Esquece isso. – Digo sem olhar para minha irmã – Falei mais do que devia, e assim como você, agora ela sabe um pouco do que existe na minha cabeça... E você sabe bem que o que passa na minha cabeça não deixa ninguém feliz.
- Por que você faz isso...? – Alana solta meu braço devagar, e a ouço suspirar – Você... Você continua tentando conter tudo sozinho...
- Eu sei. – Respondo me virando para minha irmã, que nesse momento encara o chão com um semblante triste. Devagar pouso a mão sobre sua cabeça – Este é um problema complicado, mas é um que preciso lidar sozinho... Não quero te envolver ainda mais.
- Você é meu irmão, só isso já faz eu querer me envolver... – Ela diz com a voz fraca – Não precisa lidar com tudo isso sozinho...
Minha irmã mantém o olhar no chão, porém não me diz mais nada. Sei o que passa em sua cabeça, e como isso a incomoda... Não quero preocupá-la ainda mais com meus problemas.
Deslizo a mão em seu cabelo, e deixo um carinho de leve em seu ombro. Alana sustenta seu olhar em mim, e dou um sorriso a ela – Relaxe... Este é o meu inferno, e sobrevivi a isso até hoje. Continuarei sobrevivendo.
Viro-me para Nicole, caminhando até ela e me abaixando. Observo a garota por alguns segundos, e por fim pego meu sobretudo de volta, o vestindo sem demora.
- E quanto a ela? – Minha irmã pergunta, parando ao meu lado.
- Vamos deixar Nicole aqui. – Digo em voz baixa, a erguendo devagar – Apesar de tudo, não desejo fazer mal algum a ela... Acho que me afeiçoei um pouco a ela, e se possível, quero deixa-la fora disso.
Observo a bruxa desacordada, e a encosto ao lado da porta com cuidado. Aproveito para olhar seu rosto uma última vez, e por fim me levanto. Acho que essa será a última vez que a verei... Espero que seja.
- Bom Alana, hora de resolvermos todo esse problema. – Digo estralando os dedos, sorrindo ansioso pela diversão que me aguarda. – Preparada?
- E ainda me pergunta? – Ela rebate – Tenha certeza que sim.
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