Capítulo 28
2830 Palavras
~ Alana ~
Mas... Que pressão insana é essa?
Nunca senti nada como isso antes, é sufocante.
Logo após as palavras de Eleonor, o lugar inteiro ficou insuportável de um segundo ao outro. O ar está pesado, todo o poder manifestado de uma vez é assombroso de dão colossal, causando uma ventania envolta de trevas de forma que é possível sentir o chão e toda a estrutura da casa tremendo com essa escuridão emanada de uma vez.
A sensação de ameaça que sinto em mim é tão grande que estou suando frio, meu corpo inteiro está tremendo de medo, tanto que é difícil permanecer aqui.
Não consigo acreditar que meu irmão esteja causando tudo isso. Nunca o vi assim.
Se continuar assim, essa casa irá cair em cima de nós... Não, não é só isso... Talvez, todas as três vilas poderão ser destruídas.
Preciso chegar até meu irmão e parar ele, mas como?
Caso tentasse chegar nele, as bruxas me notariam e conseguiriam me impedir... E mesmo que conseguisse passar despercebida, toda essa energia não permite nada se aproximar dele. Mesmo a mãe das bruxas, que está à frente das filhas, demonstra uma nítida cautela com meu irmão, e sequer tenta se aproximar.
O que posso fazer?
O repentino som das correntes sendo forçadas chama minha atenção. Olho para meu irmão, notando seu poder serpenteando em torno das correntes, as repuxando de um lado ao outro sem parar.
Seus punhos fecham e ele começa a puxar seus braços, e por mais uma vez é possível sentir como a estrutura da casa sofre com isso. Apesar de todo o barulho, o som das correntes cedendo e as paredes se partindo é bem audível.
- O que ele está fazendo?! – Consigo escutar a voz de Mari em meio a tantos ruídos.
- Ele está tentando romper as correntes! – Ouço Eleonor respondendo.
- O que?! Ele não pode fazer isso! – Espio com cuidado, procurando por uma brecha para conseguir atacar. Reparo uma das filhas se aproximando da mãe com bastante dificuldade – São correntes fortalecidas com vários feitiços, ele não pode romper elas com força bruta... Mas se conseguir... A casa inteira pode desabar! Acabaremos todas esmagadas!
- Fiquem calmas, mas estejam preparadas! – Eleonor diz sem desviar sua atenção.
Antes que qualquer uma delas se pronuncie, o som das correntes partindo se sobressai dos demais barulhos. Posso ver os olhares perplexos e feições boquiabertas de todas as bruxas, acompanhando as várias correntes caindo pesadamente no chão.
Em meio às correntes, vejo meu irmão pairando com o corpo rodeado por uma densa e violenta aura de trevas, e a pressão que já havia antes, se intensifica ainda mais.
O nível de ameaça que sinto percorrer meu corpo, deixando todos os meus sentidos em alerta, é a mesma de quando vi Alaarn pela primeira vez.
Não consigo reconhecer meu próprio irmão... Ele está assustador.
Nesse estado, me pergunto se a escuridão está tomando sua mente.
Observo as filhas, apesar de claramente amedrontadas, se aproximando da mãe sem desviar seus olhos do meu irmão. Elas estão tensas, mas estão mesmo dispostas a tentar enfrentar meu irmão nesse estado. A única quem realmente está conseguindo se manter calma é a mãe. Calma e focada.
A mãe passa a mão a sua frente lentamente e logo em seguida a ergue, e quase no mesmo instante diversos fantasmas emergem do chão, todos pairando em torno da bruxa e logo avançando para rodear meu irmão.
Eles direcionam seus finos braços contra meu irmão, claramente direcionando ataques de várias direções diferentes, alguns movendo os braços como se tentassem criar arranhões profundos, outros tentando perfurar meu irmão, porém a energia sombria é tão forte que mesmo seus corpos espectrais não conseguem sair ilesos ao se aproximarem demais. Os fantasmas tem seus corpos despedaçados pela escuridão antes mesmo de conseguirem atingir meu irmão.
Eleonor direciona a mesma mão que usou para invocar os fantasmas ao meu irmão, e fechando seus dedos, todos os fantasmas presentes disparam em um ataque unilateral. Mesmo aqueles que ainda não se regeneraram completamente atacam junto aos demais. E apesar da intensa aura envolvendo meu irmão, muitos dos fantasmas conseguem atingir seu ataque em cheio... Mas para a surpresa de todas nós, meu irmão mal se move com os ataques recebidos.
Ele permaneceu imóvel, parecendo até nem ter sentido os golpes dos seres que antes conseguiam derrubar ele com grande facilidade.
Os vários fantasmas começam a ter seus corpos lentamente incinerados por toda a escuridão, porém de repente escuto algo semelhante a um rugido de uma criatura monstruosa, e uma grande explosão de escuridão acontece em torno do meu irmão, uma explosão que destroça completamente todos os fantasmas a sua volta.
O impacto dessa explosão foi tão grande que senti atingir todo meu corpo, e por um instante meu fôlego desapareceu.
Volto a olhar para o confronto à minha frente, ainda tentando procurar por brechas para conseguir me aproximar do meu irmão e tentar fazer algo para ajudar, mas ainda não encontro um espaço para isso.
Sem se pronunciar, meu irmão começa a avançar, em passos lentos que fazem a escuridão ir se espalhando pelo chão. Uma das filhas abre o livro que tem em mãos, e dizendo algumas palavras que não consigo ouvir, ela ergue uma das mãos ao meu irmão, e imediatamente um tipo estranho de raízes esverdeadas surgem arrebentando o chão, envolvendo meu irmão e o prendendo.
A bruxa sorri satisfeita, porém seu sorriso se desmancha ao perceber a escuridão envolvendo as raízes, e em questão de segundos elas perdem seu tom vivo de verde, escurecendo e definhando, até por fim se tornarem raízes secas e apodrecidas, que partem com cada movimento do meu irmão.
Toda a energia sombria serpenteia pelo chão como chamas negras, explodindo do chão em alguns pilares que logo se dissipam. As bruxas tentam se proteger dos pilares, e torço para que meu irmão não faça com que um desses pilares apareça justamente onde eu estou... Caso ele faça e um desses pilares de escuridão me atinja, eu irei brigar muito com ele quando tudo isso acabar.
Ele terá que me pagar muitos doces para compensar!
De repente um pilar imenso surge bem no meio das bruxas, conseguindo afastar elas ao jogá-las para direções bem opostas. Observo que ao caírem, cada uma das bruxas é envolvida pela escuridão imediatamente, prendendo seus corpos ao chão sem a menor chance delas escaparem. Somente Eleonor consegue se libertar ao conjurar um feitiço rápido que faz a escuridão ser repelida de seu corpo.
A bruxa mãe, porém, mal consegue ter tempo de qualquer reação. Meu irmão já está com a mão erguida a ela, projetando uma imensa onda de chamas negras que encobrem completamente o corpo da bruxa, e é possível ver somente sua silhueta se contorcendo por entre as chamas.
Eleonor grita de dor por entre as chamas, porém por um instante tenho a sensação que seus gritos não são apenas gritos... Mas também, se assemelham muito a uma risada macabra envolta em diversão.
Meu irmão então ergue sua mão ao teto, e um imenso pilar de sombras se manifesta, elevando-se do chão e batendo contra o teto do quarto, causando ainda mais tremores na casa. O pilar se desfazer, e o corpo da bruxa cai pesadamente no chão, esboçando poucas reações.
A mulher se levanta devagar, oscilando entre gemidos doloridos e risadas. Um pouco ofegante a mulher sorri, tendo alguns poucos ferimentos pelo rosto e corpo, ela bate as mãos pela roupa toda rasgada pelo ataque.
- Sinceramente... Isso foi mais do que o esperado... – Eleonor diz satisfeita, tendo os olhares surpresos das filhas em suas costas, cada uma delas não acreditando no que acabou de ver. Meu irmão segue indiferente, continuando a avançar, mas a mulher não muda sua feição – Impressionante, Cria do Abismo... Tem mais poder do que eu imaginava, você será mesmo um excelente alimento.
Eleonor junta suas mãos, e delas um intenso clarão branco surge no exato momento que meu irmão atacou com grandes quantias de trevas envolvendo principalmente seus braços. O clarão se intensifica de forma que minha visão ofusca, e um forte estrondo ocorre, um que me faz pensar como essa cada ainda não desabou em cima de todos nós.
Quando volto a enxergar alguma coisa à minha frente, vejo meu irmão de pé, levemente encurvado para frente. Ele torna a avançar, e mais um clarão surge das mãos de Eleonor. Ele é levemente arrastado para trás, mas permanece de pé, mal reagindo aos ataques recebidos.
A mulher sorri e seu olhar parece brilhar por um segundo. Ainda de mãos unidas, ela as aproxima do rosto, bem perto da boca, e as afastando um pouco, a bruxa sopra uma névoa branca que avança rapidamente contra meu irmão.
A nevoa se expande, tomando uma forma bem estranha. É algo que se assemelha muito a humanos esguios e desfigurados, tendo rostos tortos, corpos retorcidos, braços longos que flácidos que mais se parecem com tentáculos. Eles envolvem meu irmão, restringindo seus movimentos da mesma forma que aconteceu com as raízes momentos atrás.
Balançando seus dedos, Eleonor conjura uma orbe de tom carmesim em sua mão, e sem demora ela lança a orbe a frente, que intensificando seu brilho ao extremo, ela imediatamente altera a estrutura dos corpos surgidos da névoa.
Os vários corpos absorvem o tom carmesim para si, passando a soltar o vapor de seus corpos que logo se incendeiam, e percebo como a temperatura no lugar começou a aumentar muito rápido.
Meu irmão fecha suas mãos, causando uma explosão de trevas em torno de si novamente, conseguindo fazer com que a anomalia que o prendia desaparecer.
A bruxa mãe não parece se incomodar ao ver meu irmão se libertando, mas ela se surpreende ao ver ele saltando em sua direção, e tudo aconteceu muito rápido, até mesmo para mim. Mal pisquei, e o corpo da bruxa bate contra o chão num impacto que parece ter quebrado todo o espaço ao redor, e com ambas as mãos erguidas, meu irmão cria esferas de chamas negras, e as direcionando a mãe, chamas sombrias se projetam continuamente a ela, a cobrindo por inteira.
Por longos segundos as chamas são lançadas contra ela, enquanto as quatro filhas assistem a tudo abismadas, da mesma forma que eu mesma estou. Quando por fim o ataque cessa, as chamas cessam devagar, revelando uma bruxa mãe desacordada.
A aura de trevas ainda rodeia meu irmão, que ergue seu rosto e devagar, sua atenção se volta para as quatro filhas, que se amedrontam e até tentam se desvencilhar da escuridão que as envolve e mantém presas ao chão, mas não conseguem.
Ele começa a caminhar devagar a elas, enquanto as trevas serpenteiam concentradas em torno das mãos do meu irmão, e duas longas lâminas vão se moldando entre seus dedos. Tenho o impulso de sair de onde estou e tentar impedir ele, mas paro meu passo quando percebo algo.
A bruxa mãe vira no chão, e apoiando uma mão na cabeça, ela se levanta cambaleando um pouco, e voltando seus olhos ao meu irmão, ela salta na direção dele, passando os braços ao seu redor em uma tentativa de impedi-lo de avançar, o que consegue a princípio por atrair sua atenção novamente.
Mas suas tentativa não dura muito, já que meu irmão consegue se soltar dela ao girar seu corpo bruscamente e com isso lançá-la ao chão em uma queda pesada. Mas antes de qualquer nova ação da bruxa mãe, meu irmão a ergue novamente e avança com seu corpo contra uma parede, a prendendo ali por um momento, e logo a lançando ao chão por mais uma vez.
A mulher permanece no chão, sem esboçar muitas reações. Meu irmão volta-se as irmãs, e nesse instante, mesmo caída, a bruxa ergue seus braços trêmulos devagar.
Ela move seus dedos na direção das paredes, e logo as direcionam ao seu alvo. Sua boca se move, mas palavras não podem ser ouvidas, e com isso um cintilar forte surge, encerrado no momento que a mulher bate suas mãos. Várias correntes, muito mais que antes, emergem das paredes e se prendem ao meu irmão, o suspendendo no ar sem demora. Se antes ele tinha poucas brechas para se mover, agora ele não possui nenhuma.
A mulher ergue-se devagar, passando as costas de sua mão pela testa suada, afastando alguns fios de cabelo grudados em sua pele. Seu olhar agora muito mais afiado que antes entrega sua seriedade, ela está arfando e andando com certa dificuldade, apertando suas mãos pouco abaixo do seio, mas... Ela continua sorrindo, como se estivesse aproveitando deste confronto a todo momento.
- Acho que por hoje, já chega de brincadeiras meu caro. – Eleonor diz sorrindo, com a voz um pouco alterada pelo aparente cansaço, e endireitando a postura e cruzando seus braços, ela observa meu irmão expandindo sua escuridão novamente em toda a intensidade, aparentemente muito satisfeita pelo que está vendo diante de si – Nem tente, essas correntes são diferentes das anteriores. Não conseguirá quebrá-las, mesmo com todo o seu poder.
Mesmo com essas palavras, ele não responde. Ele continua liberando suas trevas continuamente, um poder que está se intensificando a cada segundo, cada vez mais violenta, agressiva e destrutiva, a ponto das tais correntes começarem a tensionar, tremendo sem parar tamanha a força aplicada. Um nível de poder que nunca imaginei ver antes.
Cada vez mais a escuridão se espalha, manchas negras crescem pelas paredes, estacas afiadas surgem do chão e do teto, a névoa sombria torna difícil de respirar, e a cada segundo parece que meu corpo será esmagado.
Me dou conta que várias rachaduras estão surgindo pelo chão e paredes, é possível escutar som de coisas quebrando ao redor. A casa inteira está sendo destruída.
Desse jeito, acho que meu irmão sequer precisará romper as correntes. Daqui a poucos instantes, já não haverá estruturas para segurar elas... Se continuar assim, é certo que as vilas desaparecerão muito antes do amanhecer.
Olho novamente ao meu irmão, já entendendo que não terei uma brecha para conseguir chegar até ele em segurança. Não conseguirei falar com ele diretamente.
Mas ainda existe um meio de conseguir acalmar ele... Um único meio.
Não gostaria de recorrer a isso... Mas nessas circunstâncias, não tem outro jeito.
E também, essa será a primeira vez que entrarei no corpo de alguém, desde que recebi meu próprio corpo. Mesmo que por muito tempo essa tenha sido minha natureza e necessidade desde que deixei o Abismo pela primeira vez, não posso dizer que estou ansiosa, ou até animada por precisar fazer isso... Mesmo que seja para ajudar meu irmão.
Mas preciso fazer, e para isso... Preciso criar uma distração.
Junto às minhas mãos e, precisando de um curto instante de concentração, libero boa quantia de ar frio. Uma quantidade mais que suficiente para inundar completamente este quarto, fazendo com que uma camada de gelo surja pelo chão, paredes, móveis, e até mesmo cresça em tecidos.
A temperatura caí muito rápido, e a mudança tão brusca cria uma densa neblina no interior do quarto, tingindo tudo com tons pálidos, e fazendo com que seja difícil enxergar pouco mais de um palmo a frente.
Meu irmão e as bruxas estão a poucos metros de mim, mas nesse instante eles são apenas silhuetas mergulhadas na densa neblina.
- O que está havendo?! – Mari questiona, e sua voz é trêmula – Que frio!
- Tá crescendo gelo em mim! – Talita diz com a respiração mais aflita. – Minhas roupas estão congelando! Mamãe, nos solte!
- Acalmem-se minhas filhas. – Eleonor diz, se virando para as filhas – Mas assim tão de repente... O que causou isso?
Saio do meu esconderijo com o máximo de cautela possível para que não me notem. Fito a bruxa mãe, que está voltada para suas filhas aparentemente total alheia a minha presença, e olho novamente para meu irmão, que está envolto pelas trevas.
- Mamãe, isso é coisa da irmã dele! – Nicole diz de repente – A Alana é quem consegue gerar todo esse ar frio!
- O que? Então a irmã dele está aqui?! – A mãe questiona, só que agora, ela está bem impaciente – Tadeu e sua família me garantiram que a encontrariam... Tudo bem, lidarei com eles mais tarde. Agora, precisamos achar aquela garota!
Preciso achar logo, ou serei vista. Essa é minha única chance.
Mesmo com toda a densa aura de escuridão em torno do meu irmão, numa força que consigo sentir como me empurra para trás, não hesito e avanço.
Minhas mãos invadem a intensa escuridão, e imediatamente sinto minha pele arranhando e queimar sem parar assim que todo esse poder envolve meu corpo. Solto um gemido pela dor que me invade, mesmo assim, consigo alcançar e segurar meu irmão com força.
Com apenas esse toque, sinto a intensa conexão se manifestando entre nós, e permito com que esse elo cresça cada vez mais... Da mesma forma que consigo sentir em meu corpo, consigo sentir também o corpo do meu irmão como se fosse o meu.
Fecho meus olhos, permitindo com que meu corpo seja envolvido por uma malha invisível e suave como seda. Os sons ao meu redor ficam distantes, e cada vez menos sinto o peso do meu próprio corpo, até que por fim, me encontro em meio ao silêncio.
Desta forma eu entendo. Estou dentro do corpo do meu irmão.
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