Capítulo 27
3179 Palavras
Já a algum tempo caminho sem rumo.
Meus passos ecoam em meio a este ambiente sombrio, onde nada além de mim existe. Mudei a direção, continuei avançando, mas não encontro nada.
Não encontro sentidos. Nem encontro razões. Não encontro nada.
Não sei a quanto tempo estou vagando, podem ser anos.
Anos vagando sozinho.
Em meio ao vazio sem fim.
Buscando por algo que eu mesmo desconheço.
Mas a cada passo silencioso, memórias revivem em mim.
As memórias fazem meu peito ser esmagado pela angústia, crescente e sufocante.
Da angústia, surge a esmagadora tristeza. E a tristeza faz reviver a dor.
Uma dor a qual não consigo aplacar, não importa quanto tempo passe.
A cada novo dia ela retorna para me atingir, de uma forma ou de outra.
Sempre tornando a me atormentar, fazer com que me lembre daquele dia.
Me obrigando a reviver aqueles momentos, e a forma como eles me atravessaram.
Quantas vezes tentei esquecer.
Quantas vezes tentei escapar.
Quantas vezes...
Muitas.
Mas mesmo assim, não consigo esquecer.
As lembranças, as sensações, as sombras. Sempre em meu encalço.
Esperando pela menor brecha para me golpear com toda sua força.
Golpes que invadem minha pele, dilaceram meu peito e atormentam minha mente.
Trazendo à tona tudo que luto para esquecer, numa guerra interminável.
Minhas pernas param e meus olhos miram o chão inexistente, e em meio a um suspiro dolorido, sinto a brisa fria envolver meu corpo.
Minha mão ergue silenciosa, alcançando meu peito onde mais sinto doer.
Agora compreendo...
Este vazio sem fim... Reside dentro de mim.
Talvez seja por isso que me pareça tão familiar desde o começo.
Mas mesmo que a dor me seja tão familiar, não consigo me acostumar a ela.
Talvez seja por isso que eu esteja vagando tanto. Estou buscando por algo que faça a dor desaparecer, ou que talvez... Me faça desaparecer.
Uma busca que talvez seja eterna.
Percebo algo. No horizonte, uma estranha luz começa a surgir de repente. É intensa e por um instante ela ofusca minha visão.
Cubro os olhos com o braço, tentando entender o que está havendo, posso perceber um som repentino surgindo, junto a um odor desagradável.
Quando a luz torna-se mais fraca, me dou conta que o espaço vazio desapareceu, e agora estou em um condomínio diante de um grande prédio, e para meu choque, ele inteiro está em chamas.
Não apenas o prédio a minha frente. Todos os outros ao redor também estão.
Mas... O que é isso? Por que estou aqui?
- Por favor... Precisamos de ajuda... Onde você está? – Ouço uma voz conhecida ecoando em minha mente.
- Está doendo... Estou com medo... Você está vindo não é? – Uma outra voz também conhecida também surge em minha mente.
Essas... Essas vozes... São meus irmãos?
Espera, esse momento... Eu me lembro desse momento.
Tento me mover, mas meu corpo não obedece. Não consigo sair do lugar, por mais que tente, e diante dos meus olhos e de toda minha impotência, os prédios continuam sendo consumidos pelo fogo.
- Você está vindo... Sei que está... Vai ficar... Tudo bem... – Ouço as vozes de ambos, muito mais fracas...
Meu peito aperta com cada palavra, quando finalmente todas as chamas se apagam, e em meio a fumaça escura, enxergo a porta do prédio.
Meu corpo torna a me obedecer, e devagar avanço, passando pela porta e notando como o ambiente se alterou de um segundo ao outro, e me encontro em um lugar muito familiar na minha antiga vida.
A dor cresce em mim conforme observo como a minha volta perdeu sua cor, roubada pelas chamas e o forte cheiro de queimado.
Tudo foi reduzido ao cinza mórbido, mergulhado no silêncio. Olho de um lado ao outro, encarando com pesar o ambiente cinzento que antes foi minha casa. Um lugar completamente vazio e sem vida.
Não sei por quanto tempo permaneço onde estou, olhando a tudo, refletindo como toda minha vida foi reduzida a nada. Quando me viro novamente para a porta, encaro suas figuras diante de mim.
Ambos me olham fixamente, trajando roupas chamuscadas, e marcas de queimadura em seus rostos e corpos pálidos. Ambos não esboçam reações.
As duas crianças que me olhavam com brilho nos olhos, que vinham correndo quando eu chegava, que adoravam pegar no meu pé e dar risadas, agora possuem olhares cinzentos e sem o menor sinal da vida que um dia existiu neles.
- Por que não estava lá? – Minha irmã pergunta.
- Por que nos abandonou? – Desta vez é meu irmão quem pergunta.
- Eu... – Tento dizer e me aproximar dos dois. – Não os abandonei, eu...
- Você prometeu que iria cuidar de nós... – Minha irmã diz novamente.
- Prometeu que sempre estaria com nós... – Meu irmão completa.
- Por que você não estava lá? – Ambos perguntam ao mesmo tempo.
Fecho os punhos e meus olhos vão ao chão, onde tudo começa a apagar gradualmente. As sombras crescem a partir dos meus pés, espalhando-se suavemente pelo ambiente chamuscado, até que tudo à minha volta seja a mais completa escuridão.
As crianças à minha frente permaneceram, sem se mover, sem se pronunciar. Elas apenas me olham em silêncio. Aos poucos a escuridão começa a subir por seus pés, avançando pelos pequenos corpos de ambos.
Sem esperar um único segundo disparo na direção dos dois, tentando impedir que ambos também sejam consumidos pelas trevas que tomaram este lugar, mas as sombras são mais rápidas. A escuridão cresce por eles e faz com que desapareçam no ar antes que minhas mãos consigam alcançá-los.
Nada mais existe a minha volta. Nada além da profunda escuridão silenciosa.
- Você não estava lá! – Suas vozes ditas juntas ecoam no ar, altas o bastante para que eu não consiga escapar. – Por que nos abandonou? Você nos odeia?
- Não! Não deixei vocês! Eu tentei! – Grito para o alto – Eu tentei! Juro que tentei!
- Você nos odeia? Você nos odeia? Você nos odeia? – As duas vozes repetem cada vez mais altas, ecoando no ar, invadindo minha cabeça.
- Não... Não... Não...! – Digo entredentes, batendo ambas as mãos contra o chão com toda a minha força – Eu não odeio vocês... Nunca odiei...
- Então por que? Por que nos deixou morrer? – Suas palavras estremecem meu corpo.
Fecho meus olhos e respiro fundo, voltando a ficar de pé – Eu... Não consegui chegar a tempo... Não fui rápido o bastante...
- Você não cumpriu o que nos prometeu... – Suas vozes parecem mais distantes nesse momento. – Você não estava lá quando precisamos... Você não cuidou de nós como disse que faria...Você falhou, e por sua culpa todos nós morremos.
Suas vozes desaparecem no ar, e após alguns segundos entendo que ambos desapareceram, engolidos pelas sombras.
Encaro minhas mãos por alguns segundos, por onde o poder da escuridão se manifesta em uma delicadeza macabra. – Eu atraí isso... É minha culpa... É tudo minha culpa.
É a verdade da minha vida... Sou o único culpado de tudo.
- Sim... É tudo sua culpa. – Ouço atrás de mim e me assusto com a voz. Viro-me de uma vez, e encontro sua feição, tomada pela raiva misturada ao nojo. – Você causou isso... Você trouxe a desgraça para eles... Você trouxe a morte a todos...
Não... Ela também não.
Ela ergue sua mão, com o indicador apontado para mim. Estão tão baqueado que não consigo avançar ou recuar. As palavras me faltam.
- Você ameaçou aquilo que é importante para mim... Você corrompeu o que era especial... Você trouxe desespero para minha vida... Você! – Seu olhar incendeia em desprezo e medo, e sinto meu corpo inteiro tremer – Eu te odeio... Eu te odeio... Eu te odeio com todas as forças... Vá embora, nunca mais quero te ver... Você é um monstro!
- Espera, eu... – Consigo falar e tento avançar, porém ela recua imediatamente.
- Fica longe de mim! – Ela responde em um grito de puro medo, o que me paralisa.
Ela recua alguns passos, desviando seu olhar de mim e avançando para as trevas, onde mãos a envolvem e puxam suavemente para fora de meu alcance.
- Monstro... – Sua voz sussurrada ecoa no ar.
- Você falhou... – As vozes das crianças ressurgem, também sussurradas.
- É sua culpa... – A voz dela novamente pode ser ouvida.
- Você nos abandonou... – As crianças dizem em uníssono.
- Monstro... Eu te odeio... Vá embora... – Ela fala novamente.
Suas palavras se repetem, ecoando cada vez mais alto. Palavras que invadem meus pensamentos e cada vez apunhalam mais e mais fundo.
Palavras ditas pelas pessoas que um dia, foram as mais importantes para mim.
Tapo os ouvidos tentando parar de ouvir, tentando escapar disso, mas não consigo.
Continuo ouvindo, as palavras me invadem, e antes que perceba, minha própria voz está repetindo tudo, dentro da minha mente.
Mãos sombrias surgem de repente, envolvendo e puxando meu corpo. Não uma ou duas, mas incontáveis dessas mãos, emergindo e me segurando de forma a qual não consigo me desvencilhar.
Olho para baixo, vendo meus pés afundando no nada, e aos poucos meu corpo também passa a afundar por inteiro, sendo engolido por completo.
Conforme sou puxado, minha cabeça submerge em neste mar de sombras. O frio invade meu corpo me fazendo tremer, a pressão sobre mim cresce mais e mais, busco respirar mas não consigo, e em cada segundo sinto-me sufocar em mim mesmo e em minhas próprias angustias, que crescem cada vez mais.
Tento resistir, debato meu corpo tentando me libertar, mas as várias mãos continuam me contendo, me puxando para cada vez mais fundo.
- Você falhou... – Ouço as vozes ecoando por mais uma vez.
- É sua culpa... – Continuo ouvindo, e mesmo procurando, não encontro nada.
- Monstro... Eu te odeio, vá embora... – A última voz se destaca.
Não, não... Não!
*****
- Não! – As palavras desesperadas escapam da minha boca ao mesmo instante em que abro meus olhos, arfando em desespero.
Olho de um lado ao outro repetidas vezes, não reconhecendo onde estou e sem conseguir lembrar o que aconteceu.
Consigo sentir meu coração doer em cada batida, enquanto que o suor escorre pelo meu rosto e corpo. Meu corpo inteiro está tremendo, por tantos motivos ao mesmo tempo que sequer consigo distingui-los agora.
Lampejos daquelas pessoas retornam em minha mente, e apenas lembrar de seus rostos faz com que meu estômago se revire num intenso desconforto, e uma forte tristeza recaia em mim.
Foi mais um pesadelo...
Mais um maldito pesadelo que faz lembrar o que sou, e o que perdi...
- Nosso convidado acordou. – ouço e reconheço a voz, e olho diretamente na direção dela, ainda me sentindo completamente desorientado de mim mesmo.
Encontro a dona da voz de pé um pouco à minha frente, de braços cruzados ainda mantendo o pequeno crânio em uma das mãos, e ostentando um sorriso de canto e olhar curioso para minha condição.
- Eleonor? – Sussurro apertando os olhos, e ela aumenta seu sorriso.
Percebo também que suas quatro filhas estão presentes. Apesar de mais afastadas, consigo sentir cada uma delas me analisando em todos os detalhes.
Corro meus olhos de um lado ao outro tentando identificar onde estou, logo escutando um som metálico. Presto mais atenção aos detalhes, e me cai a ficha de que estou acorrentado. – Que lugar é esse?
- A acomodação que preparamos para você. Gostou? – Eleonor se aproxima, me olhando de cima a baixo.
Aperto um pouco a boca, olhando para as correntes novamente – Mais ou menos. Esse não é exatamente o lugar mais confortável que já estive, tem até uma boa decoração, isso me agradou, mas acho que seria melhor se... Se eu não estivesse acorrentado. Provavelmente eu gostaria mais.
- Creio que você entenda os motivos de estar acorrentado agora. – Eleonor aumenta seu sorriso, passando os dedos pelo crânio em sua mão.
- É, entendo sim. Um método bem convincente para me incentivar a ficar. Sabem que podiam só ter me convidado, não é? Seria bem mais fácil... – Acompanho a mulher caminhando até mim, parando já bem próxima – Então no fim, vocês eram as responsáveis pelos fantasmas.
- Sim, eles são meus servos. – Responde – Os utilizo para controlar as vilas.
- Me impressiona conseguir manifestar tantos de uma vez. – Digo me lembrando principalmente de quando a vila estava tomada pelos fantasmas.
- Não é tão difícil, por que acha que eles tomam a energia das pessoas? – Ela diz com um sorriso tranquilo.
- Era por isso? – Sacudo a cabeça uma vez – Tá, faz sentido... Mas pra que controlar as vilas? O que ganha com isso?
A mulher solta uma curta risada – Particularmente nada. Meus interesses não estão em controlar as pessoas, mas no que elas possuem.
- O que possuem...? – Sussurro pensativo – Quer os bens delas? Dinheiro?
- De alguns sim, mas não é isso. Quero algo mais valioso. – Ao dizer isso, algo pálido e levemente transparente emerge do chão, tomando forma de um fantasma, que se aproxima de Eleonor – Quero suas almas.
Penso em perguntar o motivo disso, mas me calo quando Eleonor toca o fantasma. A criatura por inteiro começa a brilhar, e vejo nitidamente como esse brilho vai passando para o corpo da mãe das bruxas, que sorri em satisfação e desejo.
A criatura lentamente perde sem tom pálido e já é muito difícil enxergá-lo. O fantasma mais se assemelha a um borrão sem forma, que desaparece no ar lentamente.
- Mas o que você... – Paro de falar ao notar as reações tomadas por admiração das quatro filhas.
- Almas jovens sempre são ótimas. – Eleonor diz com satisfação.
- Eu concordo. – Sarah se pronuncia de repente. As demais irmãs a observam de canto de olho. Seus olhares são um misto de inveja, e também de empolgação.
- Sua primeira alma foi o de uma criança, não é Sarah? – A mãe pergunta, e sua feição demonstra o orgulho que tem da filha mais velha.
- Sim mamãe, de um menino de uns seis anos. – A mais velha responde abrindo um largo sorriso, passando a ponta do dedo nos lábios – Nunca me esqueço do sabor daquela alma cheia de vida.
- Ficam falando assim só para nos fazer vontade... – Mari resmunga baixinho, e Sarah mostra a língua em resposta.
- Não se preocupe com isso Mari. – Eleonor solta um riso nasal – Essa noite, você terá sua primeira vez... Vocês três terão.
Aperto os olhos encarando cada uma delas, tentando encontrar sentido em tudo que estão fazendo. – Qual o intuito de consumirem almas?
- É simples. – A mãe responde – Elevar nosso poder.
Ergo uma sobrancelha – E irão usar tantas pessoas para isso?
- E por que não usar? – Eleonor devolve a pergunta – Entenda meu caro, são apenas negócios. Pessoas usam pessoas, e estou usando as pessoas deste lugar. Estou cuidando de mim mesma... E das minhas filhas...
Sacudo o corpo tentando de alguma forma afrouxar um dos meus membros, mesmo que somente um pouco, mas não consigo – Mas se é assim... Por que me prender? Por que vir atrás de mim e da minha irmã?
- Vocês dois são diferentes. – Eleonor responde sorrindo de canto – Conseguem enfrentar nossos servos, e provavelmente seriam capazes de resistir ao nosso ritual. Por isso, estive pensando em uma outra forma de lidar com vocês.
- Garantimos que será divertido... – Talita diz risonha, erguendo seus ombros levemente – Para nós, é claro.
- Por que não me surpreendo? – Respondo ironicamente – Tá, qual seria essa forma?
- Acha mesmo que te diremos? – Sarah aperta os olhos.
- Já estou aqui a mercê de vocês, não é? – Zombo com um riso contido – Então, o que custa me contar?
- Não se preocupem tanto minhas filhas. Ele tem um ponto válido. – Eleonor toma a frente, num ar bem maldoso – Se quer saber, eu mesma te falo.
Não gosto do tom usado pela mãe. Não gosto nem um pouco. Só de ouvir suas palavras, uma sensação muito estranha se instalou no meu corpo. Um calafrio subiu minha espinha diante da intensa ameaça mascarada pelas palavras da bruxa... E ela estar chegando tão perto de mim só está piorando essa sensação.
- Seu ritual será diferente querido. – A mulher passa a língua pelos lábios. Engulo em seco ao ver isso. – Nós usaremos você de outra forma. Você alimentará nossos corpos, e somente então nossas almas.
- Espera... – Digo encarando o fundo dos olhos de Eleonor – O que quer dizer com "alimentar seus corpos"?
- O que você acha? – Eleonor toca seu ventre, e sinceramente, eu preferia não ter entendido. – Nosso Coven precisa e deve crescer. E qual o candidato melhor que uma Cria do Abismo para nos dar novos membros?
Me calo diante dessas palavras, mas faço uma careta.
Não gostei dessa ideia, definitivamente odiei, e a única coisa que tenho em mente agora, é encontrar uma forma de sair deste lugar antes que queiram realizar esse ritual.
Falta muito pouco para que eu esteja completamente recuperado para usar o poder da vontade sem grandes consequências, mas acho que já não poderei esperar por esse tempo restante.
Acredito que consiga arrebentar essas correntes utilizando somente minha escuridão, mas para lidar com elas, não tem outro jeito. Precisarei recorrer ao poder da vontade.
Mas não faço ideia do quanto isso pode me custar.
Um detalhe, porém, surge em meus pensamentos, me impedindo de tomar qualquer atitude por enquanto. Minha irmã.
- E quanto a minha irmã? – Questiono pendendo o corpo para frente, fazendo as correntes reagirem ruidosamente.
Nenhuma delas me responde. Tanto mãe quanto filhas me observam em silêncio, e a cada segundo disso, meu nervosismo cresce.
Sei quanto poder minha irmã tem, e também sei que ela consegue se virar muito bem sozinha. Mas contra todas elas juntas, mesmo alguém como Alana teria sérias dificuldades, e com toda certeza não sairia ilesa.
- Respondam! – Exijo me debatendo com mais força. Puxo ambos os braços, forçando as correntes a tencionarem imediatamente – O que planejam fazer com minha irmã?!
- Sobre sua irmã... – Nicole começa, porém se cala quando Eleonor ergue uma de suas mãos, a sinalizando para parar. – Mamãe...?
- Deixe que eu dou essa notícia a ele minha filha... Ele merece saber. – A mãe responde num tom estranho, caminhando para longe de mim. Ela afaga o cabelo da filha caçula e então vira-se me encarando. – O que planejamos... Ou o que já fizemos?
Suas palavras me pegam como se fossem um trem. Fico atordoado, e cada vez mais meus pensamentos são nublados por densas nuvens escuras. – Que...? – Consigo dizer entredentes.
Nesse momento, nada além da raiva ardente existe em mim. Nada mais passa em meus pensamentos.
- Enquanto você dormia, fomos atrás de sua irmã. A encontramos no chalé onde vocês estavam hospedados, e a trouxemos para cá. – A mulher abre um sorriso... Um sorriso macabro – Ela não é tão útil para nós como você é... Ela não pode nos dar filhos... Porém, tinha uma alma excelente, repleta da essência e poder do Abismo... Vou te contar, ela resistiu bastante até ter sua alma completamente arrancada... Tão comovente ver ela se debatendo, gritando de dor e pedindo pra parar, que quase chorei com a cena.
Não, isso de novo não... Isso não pode estar acontecendo.
Minha irmã... Minha única família, a única pessoa que ainda me restava foi arrancada de mim... E eu... Eu não pude fazer nada pra impedir, não estava lá para cuidar dela.
Por mais uma vez, eu não estava lá quando precisaram de mim.
Já chega... Isso foi a gota d'água.
Agora não me resta mais nada. Não me importa mais nada.
Eu vou destruir tudo!
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