Capítulo 12
2727 Palavras
Caminhamos pela estrada de terra batida de uma grande propriedade particular em um ritmo bem lento, aproveitando para curtir o ambiente calmo e a bela vista do lugar. A estrada tem pequenas cercas de madeira pintada em ambos os lados, com grama baixa se estendendo ao horizonte.
Logo a frente consigo ver o que parece ser uma grande residência com alguns veículos estacionados ao redor, e mais ao fundo, enxergo o que parece ser um estábulo, e alguns cavalos andando junto de alguns cuidadores. E ao longe, a vista de colinas e das montanhas.
Tudo estaria mais bonito com o céu aberto, mas o clima fechou muito de repente, e agora o clima está muito mais frio, contando com um vento gelado.
Volto minha atenção a todos no grupo, observando a animação de todos. Nicole fez questão de nos apresentar com bastante animação. Já conhecia Mari, então ela nos apresentou Rafaella, uma jovem de cabelos dourados e olhos escuros, e Júlia, uma morena de olhos castanhos.
Os rapazes são Tadeu, um moreno e mais jovem de todos, Danilo, um rapaz de cabelos e olhos castanhos levemente cacheados, e Henrique, este sendo o mais velho, alto e encorpado do grupo deles... E também o namorado de Mari.
Foi uma situação bem curiosa quando ela percebeu que não sabia meu nome e o da minha irmã... Bom, meu nome ela não tem como saber, não tenho um.
Se me olharam estranho antes, foi muito pior quando eu disse não ter um nome. Ainda bem que isso durou bem pouco tempo, e acharam que eu estava brincando.
- Vou indo na frente para já ir adiantando o aluguel dos cavalos. – Nicole se pronuncia, seguindo para o rancho em passos rápidos como o vento.
- Escuta... – Rafaella, que está mais à frente no grupo, vira-se a mim e minha irmã com um ar curioso – Vocês já andaram a cavalo antes?
- É nossa primeira vez. – Alana responde por mim.
- De onde viemos não temos muita oportunidade para andar a cavalo. – Digo tranquilamente, recebendo uma olhada de soslaio de Alana. Provavelmente ela imagina que me refiro ao Abismo... O que não está errado – São Paulo tem concreto demais, sabe?
- A selva de pedra... – Julia comenta – Tenho vontade de visitar algum dia.
- Acredito que vai gostar, mas é bom se programar antes. Não é muito difícil de se perder por lá. – Explico, e ela assente com um ar empolgado.
- Não tinha uma novela com esse nome "selva de pedra"? – Mari questiona olhando o grupo.
- Tinha, a muito tempo atrás... – Danilo diz num ar pensativo – Nem sei quando passou, só sei que é antiga...
- As duas versões são bem antigas mesmo. – Henrique se pronuncia.
- Duas? – Rafaella questiona.
- Sim, a primeira versão passou em 1972, e a segunda passou em 1986... – Henrique responde com olhar ao alto, aparentemente não lembrando com clareza.
Minha irmã se aproxima de leve – Já ouviu sobre essa novela? – Me sussurra.
Confirmo com a cabeça – Já, mas nunca assisti. – Sussurro de volta.
- Pelo jeito você conhece bastante de novelas Henrique. – Alana comenta brincando.
O rapaz balança a cabeça negativamente – Nada disso, é que minha falecida avó adorava me contar sobre novelas antigas, e sempre gostei de ouvir ela.
- De qualquer forma, como é São Paulo? – Mari volta sua atenção a nós.
- Grande, barulhenta e movimentada todos os dias. Mas não é de todo mal, opção pra visitar é o que não falta. – Alana explica toda animada.
- É verdade o que dizem sobre ser uma cidade que não dorme? – Tadeu é quem se pronuncia, o respondo erguendo uma mão e fazendo um gesto de "mais ou menos".
- Acho que toda cidade grande tem um pouco disso. – Digo puxando um pouco das minhas lembranças da cidade – Por exemplo, os horários de maior calma são entre duas e cinco da madrugada... Isso dependendo da região da cidade, porque tem alguns locais que ficam bem agitados durante a madrugada.
- Meu Deus... – Júlia diz chocada.
- Aliás, vocês tem alguns lugares bons para recomendar? – Henrique nos questiona.
- Posso recomendar alguns, mas novamente, adianto que é bom se programarem muito bem antes. – Alana explica, recebendo olhares curiosos – Não é difícil se perder na cidade.
- É a segunda vez que vocês dizem isso. – Rafaella comenta aos risos.
- Pra vocês verem como são as coisas por lá, não é brincadeira não. – Respondo e ganho risos de todos.
A conversa acaba interrompida ao chegarmos em frente ao rancho, e Nicole sair de mãos dadas com um rapaz alto e muito bem arrumado. Nesse instante, percebo que Mari está com os olhos voltados a mim, me analisando friamente.
- Aqui estão eles Jackson. – Ela diz toda sorridente.
Então esse é o Jackson que Mari mencionou naquela cachoeira. Ao que vejo, Nicole tem mesmo algum envolvimento maior que amizade com ele... E não me parece ser apenas um "contatinho" como ela havia citado.
- Uau, é bastante gente. – O rapaz diz num tom surpreso, olhando para cada um de nós. – Não disse que eram apenas dois amigos Nicole?
- Não, eu te falei que são alguns amigos, e dois deles vieram de São Paulo. – A garota olha para nós e nos chama com a mão, e nos aproximamos – Esses dois são os que vieram em viagem... E mais alguns amigos.
Jackson leva as mãos a cintura, fitando cada um de nós – Só existe um problema... Não teremos cavalos para todos. Alguns já saíram para um passeio em grupo, e mesmo se estivessem chegando, precisariam de um tempo para repouso.
- Podemos revezar nos passeios Jackson. – Henrique diz se aproximando, e os dois trocam um cumprimento. – Nós podemos fazer passeios a pé?
- Sim, temos alguns guias disponíveis para trilhas a pé. – Ele responde de forma pensativa, fitando o chão, e logo nos olhando – Se não se incomodarem, dá para fazer dessa maneira.
- Já fizemos o passeio a cavalo algumas vezes... – Mari se pronuncia, e então volta sua atenção a mim e minha irmã – Nada mais justo deixar eles fazerem o passeio sem tanta bagunça, enquanto nós vamos a pé.
- Até que faz sentido. – Comento, quando algo esbarra em mim e sinto meu braço sendo envolvido, e de imediato sinto um choque percorrer todo o meu corpo apenas por ver quem está me abraçando.
O toque dessa garota me afeta de um jeito muito anormal, uma energia profunda a qual nunca senti antes, junta de uma sensação muito estranha e familiar que ela me transmite... Algo extremamente intenso.
A sensação é tamanha, que por um segundo perco completamente minha reação, e olho atônito para a garota que me abraça com força.
- Faço questão de ir com vocês dois. – Nicole diz toda animada, me apertando ainda mais contra si, obviamente não querendo me largar.
Seu olhar a mim continua penetrante e desafiador como sempre, só que muito mais intenso.
- Que? – Questiono com uma sobrancelha erguida, e ao perceber a situação que me encontro volto minha atenção a Jackson, que acabou de endurecer seu semblante.
Até tento me livrar de seu aperto sacudindo o braço algumas vezes, mas pelo jeito, Nicole está mesmo decidida a não me soltar.
- Nicole... – Mari diz em tom de bronca, fitando a caçula.
- Ah o que foi? – Ela rebate manhosa – Eu os trouxe aqui, e quero acompanhar os dois no passeio. Qual o problema nisso?
- É um passeio de irmãos, e também... – Mari olha para a irmã me abraçando, e aponta discretamente para Jackson, que acabou de bufar silenciosamente, tendo Henrique ao lado dizendo algo na tentativa de acalmar os ânimos do rapaz.
Nicole me solta, e caminha até Jackson, espalmando as mãos em seus ombros – Ele pode guiar os dois no passeio... Enquanto que vou para acompanhar o Jackson, serei como uma guia auxiliar.
Difícil não ficar pasmo com a forma que Nicole está levando toda essa situação na conversa... O pior de tudo, é que a situação pode ficar ainda mais complicada do que já está a qualquer instante.
Com um suspiro, Jackson confirma com a cabeça – Tudo bem, se isso não for atrapalhar o passeio deles... – Diz olhando para mim e Alana. Está nítido como ele não está gostando nem um pouco dessa situação.
- Não irá atrapalhar não. – Alana responde com um meio sorriso, e logo em seguida a ouço sussurrar – Eu acho...
- Como nos enfiamos nessa mesmo? – Sussurro de volta, e ela ergue os ombros.
Mari sai balançando a cabeça, puxando Henrique pelo braço dizendo que precisava conversar algo importante com ele, Jackson e Nicole retornam para o rancho para prepararem algo antes de pegar os cavalos, enquanto que eu e Alana permanecemos junto ao grupo, dando uma volta para conhecer o lugar até o começo do passeio.
Agradeço por nenhum deles ter dito algo sobre o que acabou de acontecer, iria ser um saco falar sobre como a amiga deles esteve agindo na frente do suposto namorado.
O que aconteceu foi Julia demonstrar mais de sua curiosidade envolvendo São Paulo, perguntando a mim e Alana sobre a cidade. Danilo e Rafaella acabaram adotando a mesma curiosidade, enquanto que Tadeu permaneceu calado o tempo inteiro.
Nossa conversa envolvendo a cidade perdurou por alguns instantes, quando alguns cavalos passaram próximos e Alana quis ver mais de perto, e foi acompanhada do grupo. Aproveitei essa chance para olhar ao redor com mais calma.
Enquanto caminho observando a tudo, me mantendo de olho na minha irmã e no grupo a todo momento, ouço vozes conhecidas próximas.
- Olha, me explica... – Ouço a voz de Henrique. – Por que você está assim? Eles dois não são tão ruins como está me falando.
- Você não está entendendo qual o problema, não é Henrique? – Dessa vez é a voz de Mari. Estão falando de mim e da minha irmã?
Escoro na parede próxima, e cruzo os braços para ouvir a conversa, tentando me manter atento ao máximo na conversa deles.
- Não, e eu quero entender o que está havendo. – Ele responde.
Ouço Mari bufar irritada – Minha irmã está se engraçando com um total desconhecido na frente do namorado. Ela não cansa de envergonhar a gente?
- Com "a gente" você quer dizer eu e você, ou sua família? – Ele questiona. Apesar da conversa, o tom deles não é tenso ou de briga, apenas sério.
- Minha família, é claro. Isso não afeta nós dois... – Mari responde, dando uma longa pausa. – Jackson é uma ótima pessoa, se preocupa com ela, sempre é presente, é um rapaz inteligente, alguém com um futuro, e a Nicole vai ficar de graça com.... Aquilo?
Ok, agora estão falando de mim.
Uma pausa entre eles acontece – Sei que está preocupada com sua irmã Mari, mas não acha que está exagerando? Ele não parece ser alguém tão ruim.
- Ele não parece tão ruim? Você já olhou para ele Henrique? – Mari reclama. – Aquele cara é todo esquisito, não tem noção nenhuma de estilo, sobretudo e roupas largadas nada a ver, aquele cabelo grande horrível, a cara de cansado e as olheiras fundas... Ele não deve saber o que é uma cama... E com certeza deve ser um quebrado que está sendo bancado pela irmã, que tem um mínimo de decência pelo menos. Como minha irmã foi se interessar por alguém assim?
- Tá eu concordo que ele pode ser diferente e não ter a melhor das aparências, só que em nenhum momento pareceu ser alguém ruim. – Uma nova pausa acontece entre eles – Também achei os dois bem diferentes quando os vi, até um pouco estranhos, não vejo pessoas com a aparência daqueles dois todo dia... Mas vendo como se comportaram com todos, não parecem ser más pessoas... Nenhum dos dois.
- E está na cara que minha irmã está interessada. Não faço ideia de onde vem todo esse fogo dela... – Escuto Mari bufando demoradamente – Logo por um cara que não parece ter nada de bom a oferecer.
- Não vamos negar, a Nicole pode ter algum interesse nele sim. – Henrique diz, dando-se por vencido – Mas a Alana disse que os dois estão passando só alguns dias, e logo estarão indo embora, será pouco tempo, e Nicole perceberá que não vale a pena... Sua irmã não seria imprudente de querer algo com alguém que nem é daqui.
- Espero mesmo, sinceramente... – Mari bufa novamente. – E não é a primeira vez que Nicole inventa de se engraçar com algum qualquer que acabou de conhecer... Não sei o que aquela imbecil de merda tem na cabeça.
Caramba... Que maneira de se referir a própria irmã. Não nego estar surpreso.
- Calma Mari, não precisa falar assim da Nicole... – Henrique tenta apaziguar as coisas. Pelo jeito, ele costuma fazer isso em qualquer aparente conflito.
- Tudo bem, acho que exagerei mesmo... – Ela respira fundo – Mas sei lá... Eu fico inconformada com ela. É a mais nova e a mais inconsequente... Isso irrita...
- Não é a primeira vez que ela se interessa por outro cara, ok... – Henrique fala, com certa cautela na voz – Mas ela já chegou a ter algo a mais com alguém antes?
- Não... – Percebo uma hesitação – Não, nunca... Pelo menos até onde sei, não.
- Então. – Henrique responde – Talvez seja isso. Ela tenha um interesse repentino, mas não faça nada no final, igual nas outras vezes.
- Será Henrique? – Ela pergunta num tom mais manhoso.
- É no que eu irei acreditar Mari... – O rapaz diz com leveza na voz – Vamos tentar confiar na Nicole.
- A Sarah e a Talita vão querer trucidar a Nicole... A mamãe então... – Ela suspira pesadamente. Sarah e Talita devem ser as irmãs mais velhas – Por que ela tem que dar tanto trabalho?
- Não sei... Mas espera um pouco... – Henrique diz, num tom pensativo – Você não disse ontem que sua mãe apoiou Nicole em conhecê-lo?
- Sim, mas porque a mamãe ainda não viu ele. – Mari rebate de imediato. – Não entendo como ela decidiu incentivar isso, ela que sempre apoiou tanto o relacionamento da Nicole com o Jackson por considera-lo ideal.
Um novo silêncio acontece entre eles, um bem repentino. Bem mais longo do que de momentos atrás, dando a entender que já não estão mais ali.
- É falta de educação ouvir a conversa dos outros, sabia? – Ouço a voz da Mari num tom de sermão... Será que... Ela notou minha presença? – Vamos, sei que está aí.
Fecho os olhos um instante, e não contenho meu sorriso – E é falta de educação falar mal dos outros pelas costas, sabia?
Me desencosto da parede, me revelando a eles e aproximando em passos tranquilos, notando que estão no meio de um abraço interrompido.
Henrique me olha numa expressão indecifrável, enquanto que Mari me encara de maneira fulminante. Desta vez seu olhar me perfura como é com Nicole... Agora sim, vejo muito mais semelhança entre as irmãs.
- Chumbo trocado não dói. – Digo em tom provocativo, levando as mãos aos bolsos e passando ao lado deles, sem desfazer meu sorriso. – Não se incomode comigo, estou apenas de passagem...
Não tenho resposta de nenhum dos dois, e me afasto dali sem demora. Não tenho dúvidas que acabei de dar muito mais munição para Mari falar mal de mim... Não que isso faça qualquer diferença.
Sigo meu passo pelo lugar, me direcionando ao local onde minha irmã e o grupo estão. Alana parece encantada olhando os cavalos, e percebo que Nicole e Jackson já voltaram a se reunir com o grupo.
Mal me aproximo, e minha irmã vira seus olhos a mim com um sorriso radiante, e me mostra um dos cavalos próximos – Você voltou! Olha ali, aquele não é muito bonito?
Paro ao lado dela, e com um sorriso, pouso a mão em seu cabelo fazendo carinho de leve. Sempre me agrada ver a animação dela.
Olhando na direção indicada e encontrando o cavalo que ela diz. Um grande cavalo castanho claro com uma longa crina bem cuidada – Sim, ele é bonito mesmo.
- É nele que vou andar. Me falaram que é mansinho. – Diz toda animada com um sorriso radiante.
- Quero ver como será isso. – Respondo rindo animado.
- Estávamos apenas esperando você voltar. – Alana se vira para mim.
- Não precisam mais esperar. – Olho rapidamente de Jackson a Nicole – Podemos ir.
Sem perdermos mais tempo, caminhamos para os cavalos, e também para iniciar nosso passeio.
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