VI - 10 HORAS
— Almeida, muito obrigado pela defesa lá em cima.
— Medeiros, isso não vai ficar assim. Eu vou falar com o governador e vamos resolver essa injustiça.
— Eu realmente não sei o que falar. Não sei se concorde com você, em falar com o governador, ou deixe para lá.
— Nós temos que tentar! O que aconteceu foi injusto!
— Eu sei Almeida. Mas, eu poderia ter parado na imobilização ou ter dado uma tapa no dedo, recuado e dado voz de prisão.
— Você está na negação, minha querida. Não se esqueça que a vítima aqui é a senhora e não aquele filho de uma puta. — Almeida se exalta.
— Posso até não saber o que estou falando agora, mas, talvez eu precise mesmo dessa terapia.
— Sem querer lhe desanimar sobre a terapia, mas, você acha que aquela doutora lá cima, não vai divulgar suas sessões para a corregedoria? Acredita mesmo que ficará somente entre as duas?
— Verdade, isso é possível. Porém não tenho escolhas. Você mesmo acabou de escutar que serei expulsa se faltar uma das sessões. E se vazar eu saberei.
Almeida, abraça a amiga bem forte.
— Nós estamos juntos nessa. — O delegado, com suas mãos no ombro de Medeiros, olha para amiga e diz: — E quando digo que o que aconteceu foi arbitrário, não estou dizendo isso por sermos amigos, mas porque somos profissionais. Sei que você poderia ter dado uma tapa no dedo, sacado a arma e anunciado a prisão dele..., mas, ele é perigoso. Eu li a ficha corrida do cara! — Medeiros franze a testa — E sabe quantos crimes o cara tem? — Medeiros joga os ombros para cima, faz um trejeito com a boca, como quem diz "Não tenho a mínima ideia" — Zero! A ficha dele não tem nada!
— De fato, é bem estranho.
— Exato! Como um cara que é segurança de uma pessoa igual a Karina Werner, que tomava conta daquela casa, não ter nenhum histórico profissional não área de sua atuação? Você não chama uma ovelha para vigiar o gado, Medeiros.
— Verdade. Não faz sentido. Amigo, eu vou pra casa. Eu até pensei em ir lá na casa dos meus pais, mas, vou deixar para fazer isso amanhã.
O celular de Medeiros vibra. Um número desconhecido aparece no display.
— Quem será? Medeiros falando.
— Medeiros, bom dia. Aqui é a Matilda Santos. A profissional que você precisará visitar duas vezes por semana. — Medeiros olha para Almeida e sibilando diz "psicóloga"
— Dra. Matilda, bom dia. Obrigado pela ligação.
— Geralmente eu mando minhas secretárias ligarem, mas, preferi ligar pra você.
— Muito obrigado pela cortesia. — Medeiros olha fixo para Almeida.
— Quais os dias e o horário que você tem disponibilidade? Podem ser dois dias seguidos ou alternados.
— Amanhã é quarta-feira... podemos marcar amanhã e sexta? As dez horas?
— Como disse, você é quem escolhe. E fico muito honrada em poder ter sido indicada para trabalharmos juntas.
Medeiros fica sem saber o que responder e agradece pela ligação. A dra. Matilda informa o endereço do consultório e finaliza a ligação desejando outro bom dia para a detetive.
— Que cara é essa Medeiros?
— Ela não usou os jargões psicológicos. — É a vez de Almeida ficar com a testa franzida — Deixa para lá, só achei estranho..., mas, não um estranho ruim, entende? Achei legal.
— E o que ela disse para você no final da ligação? A sua cara sem "expressão conhecida" foi ótima!
— Ela se disse que se sentia honrada, em podermos trabalhar juntas.
— Só não baixe a guarda. — Almeida, abraça Medeiros se despedindo. Ainda abraçados, a detetive pergunta:
— E a criança recém-nascida que foi achada morta?
— Estou indo agora conversar com Afonso. O bicho está pegando... Nayra está de férias... só espero que não tenha viajado.
— Coitada... — Medeiros sorri — Você já vai mandá-la voltar. — A detetive sentencia sorrindo.
— Eu preciso. Sei que temos mais legistas, porém, confiança é tudo. E Afonso a ensinou direitinho.
Medeiros continua parada, olhando o amigo entrar no carro e sair. Caminhando divagar, ela dirigi-se até seu Opala.
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