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II - ACUSAÇÕES

Depois do silêncio reparador, os dois param em frente da Sala da Corregedoria.

Como era de se esperar estão sentados em volta da mesa rendona: Norma, Cosme e Sueli de frente para a porta de entrada.

Ao lado direito da sala, sentada numa cadeira de rodas, uma mulher branca, com cabelos curtos e cortados à Channel. No crachá está escrito "Psicóloga".

A descrição da função está maior que o nome da especialista.

Num lugar, na frente deles, encontra-se um acento reservado para Medeiros. O delegado e a agente entram no recinto.

— Bom dia. — Medeiros cumprimenta a todos, pede licença e senta-se — Espero que todos estejam bem. — Conclui Medeiros.

— Almeida, não deseja pegar uma cadeira lá fora? — Pergunta Norma.

— Obrigado, doutora. Prefiro ficar aqui em pé, ao lado da minha agente.

— Que assim seja então. Vamos começar.

Fala Dra. Sueli pegando um dispositivo tipo um controle remoto e começa a passar o filme de Medeiros agredindo o rapaz. Ao terminar o filme, Dra. Sueli pergunta:

— Agente Rafaelle Medeiros, desde que a denúncia chegou-nos através da nossa polícia civil, estou perguntando-me se você entende o motivo de estar aqui?

— Eu entendo, sim senhora.

— Poderia me explicar, o que perguntei?

— Claro. A Corregedoria investiga determinados casos, onde supostamente um policial descumpriu a lei. É a polícia investigando a polícia. Resumindo.

— E você é rescendente. Essa é a segunda vez na corregedoria. Você poderia nos contar o que houve? — Todos na sala ficam atentos com seus borrões e canetas sobre a mesa oval.

— Do início?

— Da parte que você quiser! — Responde Dra. Sueli mexendo na sua caneta preta, com detalhes dourados e uma estrela na parte de cima.— Lembrando que desde o incidente, o requerente mandou o advogado abrir um processo contra você, em todas as entidades magistradas possíveis. Ele quer sua expulsão da corporação.

— Bem, pelo que me lembro, assim que Kali suicidou-se, eu fiquei parada... sem ação. — Medeiros passa a olhar para o tampo da mesa, voltando para aquele dia fatídico — No início escutei uma voz ao meu lado, era o Laureano falando comigo. Depois, vi o segurança... o corpulento... me xingando, inicialmente. Depois, ele se aproximou e ficou dizendo que a culpa era minha... eu... recordo que Laureano avisou para ele parar... senão seria preso por desacato. Foi aí que ele se aproximou e colocou o dedo na minha cara. O que aconteceu depois vocês já sabem, eu me defendi.

— Agente Rafaelle Medeiros — Cosme começa falando —, você deve lembra-se de mim.

— Sim, senhor. Eu lembro.

— O que você entende por "Eu me defendi"?

— Exatamente como o senhor entendeu. Eu parei a agressão que estava sendo feita contra minha pessoa.

— Medeiros, se você escutasse... ou lesse, nos autos de um determinado processo, que a "vítima ao ser intimidada com um dedo apontado na sua face, se defendeu quebrando o nariz do agressor, duas costelas, joelho direito e mais o maxilar."Você não se perguntaria quem de fato foi a vítima? Quando terminasse a leitura?

— Se eu estivesse lendo os autos do processo na sua integralidade e sem tomar partido, eu responderia: "Sim!". A vítima,  que aqui no caso é a agente Rafaelle Medeiros, se defendeu. — Almeida, tocou no ombro de Medeiros e respondeu por ela.

— O senhor estava presente delegado? — Sueli pergunta olhando para Almeida.

— Com todo respeito, eu não precisaria estar presente para saber de qual lado a vítima se encontrava. Medeiros estava num ambiente hostil, entrevistando uma possível suspeita de múltiplos assassinatos de crianças e que essa mesma mulher a fez presenciar seu suicídio. E, depois de tudo isso, que já havia acontecido, o sujeito lá... começa a xingar a detetive, cruzando todas as linhas do bom senso, e fazendo a agressão. Medeiros apenas se defendeu. Vocês não se defenderiam de uma agressão?

— Meu caro delegado, a nossa instituição afirma que uma defesa, é o ato onde nós, pessoas da lei e que protegemos a lei, não devemos aplicar a força excessiva para o cumprimento da mesma. O suposto infrator não era perigo letal. A agente Medeiros poderia ter se afastado do dedo que estava em riste e ter feito voz de prisão.

— E como saber delegada? Como Medeiros teria condições de saber que o suposto infrator, só meteria o dedo na cara dela? A delegada Norma estava presente, ela pode falar mais detalhes do que aconteceu. — Medeiros olha para a delegada Norma, depois que Almeida a sugere em sua defesa, e não sente segurança no olhar recebido.

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