━━━━━━━★━━━━━━━

Prologue: O DESTINO E AS VIDAS QUE ELE ENTRELAÇA

━━━━━━━★━━━━━━━

Há alguns anos...

ADHARA WALBURGA BLACK ERA UMA CRIANÇA QUE PODERIA FACILMENTE ser comparada com uma pequena e astuta raposa, o brilho malicioso em seus olhos era uma das milhares coisas que tinha em comum com seu irmão gêmeo, Sirius.

Talvez fosse mais uma daquelas coisas que nem mesmo os bruxos poderiam explicar ou até, fosse por culpa daquele tal de destino, mas naquela estranha tarde chuvosa de 3 de Novembro de 1968, os gêmeos estavam completando nove anos. Como toda a tradição de aniversário - pois os Black gostavam de aparentar ser uma família normal - as duas crianças poderiam escolher a programação do dia, desde que, obviamente, fosse algo aceitável para uma família respeitada de puros sangues.

De qualquer forma, os gêmeos escolheram passar o dia inteirinho passeando pelo o Beco Diagonal. Infelizmente, os pais ignoraram a parte do dia inteiro e na verdade, eles ganharam apenas uma tarde, pois de noite seria a festa de aniversário de ambos com todos os primos.

Por isso, naquele momento, Adhara estava alheia ao mundo ao seu redor enquanto olhava atentamente para as enormes prateleiras de livros da loja Floreios e Borrões após implorar para esperar os pais e os irmãos ali depois de Sirius insistir que queria ir na loja de artigos para Quadribol. A garotinha de longos cabelos pretos, que usava um vestido verde escuro e pequenos brincos de esmeralda, pegou um dos milhares livros, analisando com atenção a capa dura com detalhes em alto relevo do livro, que percebeu se tratar sobre Transfiguração, um assunto pelo o qual era apaixonada.

— Oi!

A garota franziu a testa e se virou lentamente, mal humorada por alguém ter lhe atrapalhado - ainda mais sendo um desconhecido.

Adhara observou o garoto que havia lhe atrapalhado, ele era alguns poucos centímetros mais alto que ela, cabelos castanhos verdadeiramente bagunçados (talvez ele não tivesse uma escova em casa?), óculos, olhos castanhos com um pouquinho, quase nada de verde, usando uma camiseta de um desenho bruxo extremamente bobo.

— Desculpe?

— Até que enfim eu encontrei alguém da minha idade aqui — o garoto diz animado — eu passei o dia inteirinho tendo que ficar fazendo coisas chatas de adultos com os meus pais, mas agora, encontrei uma companhia, você.

O garoto deu um enorme sorriso, que fez a garota segurar o livro que segurava com força, confusa.

— Hã... Legal?

— Eu sou o James, James Potter, agora somos amigos. Qual o seu nome?

Adhara forçou um sorriso, secretamente achando aquele garoto estúpido e sem noção, sua mãe teria definitivamente concordado com ela.

— Adhara Black.

O sorriso de James aumentou, agarrando o pulso da garota e a arrastando até uma das mesas espalhadas pela loja.

— Adhara é o nome de uma estrela, não é? Tenho quase certeza que a minha avó já falou algo sobre, ela é completamente apaixonada por estrelas, sabe?

A garota suspirou baixinho, olhando desconfiada para o garoto.

— É a segunda estrela mais brilhante da constelação Cão Maior — murmurou — a estrela mais brilhante é Sirius, que por acaso, é o nome do meu irmão gêmeo...

Os olhos de James brilharam.

— Você tem um irmão gêmeo? Deve ser muito legal! Eu sou filho único, é meio chato às vezes.

Adhara sentou-se ao lado dele na mesa, o encarando incrédula.

— Está falando sério? Meu sonho era ser filha única — retrucou — tenho dois irmãos, é horrível! Sirius vive aprontando com a gente e o Régulus sempre chora e corre para a mamãe quando não tem o que quer.

— Mas nunca deve ficar entediante.

A garota bufou.

— Você é louco.

James deu de ombros.

— Minha mãe me chama de criativo, é diferente. Quer dar uma volta? Meus pais foram no Gringotes e provavelmente vão demorar uma eternidade e eu realmente queria um sorvete agora.

— Mas está chovendo...

Ele revirou os olhos.

— Adh, poderia estar nevando e mesmo assim eu iria querer um sorvete. Vamos? Eu pago.

— Se meus pais voltarem e eu não estiver aqui, vou ganhar um castigo, daqueles dos grandes — murmurou nervosa — não sei se é uma boa ideia, eu não quero ficar de castigo logo no meu aniversário.

O garoto arregalou os olhos.

— É o seu aniversário? Mais um motivo para irmos tomar sorvete!

Antes que a garota retrucasse, James já estava agarrando novamente seu pulso e a puxando para fora da loja. Adhara olhou desanimadamente para o livro que havia sido esquecido em cima da mesa que estavam sentados, segundos antes.

James a puxou pelas ruas do Beco Diagonal até a sorveteria Florean Fortescue, a garota tremeu, imaginando o que sua mãe faria se descobrisse que ela estava prestes a comer sorvete sem permissão e pior, antes do jantar. Definitivamente nem o fato de ser a garotinha do papai iria lhe ajudar se ela descobrisse aquilo.

Ou se ela descobrisse que sua companhia era um Potter! Uma das famílias conhecidas por serem estúpidos traidores de sangue.

— Vai querer sorvete de que, Adh?

— Morango e chocolate.

O garotinho suspirou dramaticamente.

— Você é tão sem graça.

— Do que vai querer então, ó senhor incrível?

James sorri, orgulhoso.

— Chocolate e Framboesa com nozes picadas, o melhor sorvete, é óbvio.

— Você é estranho.

Ele riu, a puxando até o balcão e fazendo o pedido, em seguida os dois sentaram-se em uma das diversas mesas vazias.

— Me conta sobre você! Quer dizer, ok, você tem dois irmãos, um deles é gêmeo e tem nome de estrelas — James diz ansioso — Mas o que você gosta de fazer?

Adhara se acomodou na cadeira, era estranho falar com crianças que não fossem seus primos ou que seus pais haviam decidido previamente que deveriam se tornar amigos, pois haviam sido aprovados por eles.

— Ler, eu gosto de ler.

— O que mais?

Ela bateu os dedos nervosamente em cima da mesa, o garoto rapidamente notou e colocou sua mão sobre a dela, dando um sorriso motivador.

— Música, sei tocar piano, violino, violoncelo e harpa.

James piscou, surpreso.

— Uau, é muita coisa.

— Um pouquinho, mas eu gosto — murmurou tímida — e você?

O garoto riu.

— Eu definitivamente não sei tocar nada disso, mas sei um pouquinho de violão? Bem pouco, meu pai toca e eu estou tentando aprender, acho que não sou muito bem, mas irei melhorar com o tempo — diz animado — Oh! Eu também gosto de Quadribol e de ler.

Os olhos de Adhara brilharam e ela se inclinou na direção dele, ansiosa.

— O que gosta de ler?

— Fantasia e coisas de super heróis, imagina ter super poderes e salvar o mundo?

Para a surpresa dele, a garota riu baixinho.

— Prefiro livros clássicos e romance.

James bufou.

— Tão chato.

— Ei! Não é tão ruim.

— É coisa de garotinha, mas tudo bem, minha mãe também gosta.

Adhara revirou os olhos.

— Também gosto de livros de terror, mas minha mãe diz que não são livros para damas como eu — resmungou desanimada — mas meu pai acha legal e sempre lê eles comigo, escondido da mamãe.

Ele a encarou com curiosidade.

— Sua mãe é...

—... Complicada — ela deu de ombros — você se acostuma.

O sorvete dos dois chegou e repentinamente Adhara percebeu que a mão dele ainda estava com a sua e se afastou, envergonhada.

James sorriu.

━━━━━━━★━━━━━━━

APÓS AQUELES LONGOS MOMENTOS que as duas crianças passaram juntas, Adhara voltou para a loja onde estava anteriormente, não muito tempo depois, seus pais voltaram junto com Sirius, que parecia extremamente animado enquanto exibia orgulhosamente um embrulho que lembrava uma vassoura.

O garoto se aproximou da sua irmã gêmea com um sorriso animado.

— Olha o que eu ganhei, uma vassoura novinha!

Adhara revirou os olhos.

— Quadribol é tão chato — resmungou entediada — Não sei como você gosta.

Sirius lhe encarou incrédulo.

— Você também é chata e nem por isso fico falando sobre — retrucou num resmungo baixinho, para os pais não ouvirem — Se divertiu com seus livros?

— Sim, engraçadinho.

Ela sorriu inocente e se aproximou do pai, segurando os livros que havia escolhido.

— Papai, posso levar esses?

Orion Black lhe encarou tentando disfarçar o sorriso, não era segredo para ninguém que ele tinha certo favoritismo pela garota, ela era sua princesinha e o homem não fazia questão de esconder aquilo.

— Só quatro? Estou surpreso.

— Só quatro hoje.

Ele riu baixinho e conduziu a garota até o balcão, onde rapidamente pagou pelos livros e conduziu a família para fora da loja.

O que nem Adhara e nem James sabiam era que aquela simples tarde havia sido o suficiente para formar uma amizade, quando a garota chegou em casa, encontrou uma pequena pulseira colorida em suas coisas com um bilhete rabiscado lhe desejando feliz aniversário.

Ambas as crianças tiveram diversos outros encontros no Beco Diagonal ao longo dos próximos anos, livros sendo trocados por meio do simpático dono da Floreios e Borrões que sempre os ajudava e entregava os livros e bilhetes que o outro pedia.

O destino era algo engraçado, de fato.

O destino havia juntado James Potter e Adhara Black naquela tarde chuvosa do dia 3 de Novembro de 1968 e voltaria a lhes juntar diversas vezes durante suas vidas, sempre os levando de volta para o outro.