7
[passado]
– Louis, sai daqui, seu idiota!
A porta quase bateu no rosto dele. Ao seu lado, Harry arregalou os olhos com a mão tapando a boca, chocado pelo grito escandaloso de Dayse e o choro alto de Phoebe.
Ele fica estressado e indignado, então bate com a mão fechada contra a madeira para chamar a atenção delas:
– Dayse, não bata a porta na nossa cara, ainda somos os mais velhos!
– Saia você também, Harry!
– Nós somos seus primos, só estamos tentando ajudar!
– Você não é nosso primo! – É Phoebe que responde e instantaneamente os olhos de Harry se enchem de lágrimas.
Ele segura a respiração e Louis parece prestes a explodir de raiva contra a prima, quando um chinelo voa e passa de raspão batendo na parede ao lado. Os dois pulam espantados e olham para trás ao mesmo tempo.
– O que está acontecendo aqui? – a avó apareceu no corredor, de braços cruzados e uma carranca de aviso que estão todos encrencados.
– Harry e eu só estamos querendo ajudar, mas a Dayse enlouqueceu e a Phoebe não para de chorar.
– O quê – a avó se aproxima ameaçadora e os dois se encolhem um contra o outro – está acontecendo – seria engraçado, porque a vovó é tão pequenininha, mas Louis e Harry estão com medo do outro chinelo na mão e o olhar dela – aqui?
Os dois falaram ao mesmo tempo:
– Phoebe tá sangrando.
– É a menstruação.
Vovó Olívia respirou fundo e Dayse gritou de dentro do quarto, onde consola a prima mais nova:
– Louis pare de anunciar para a casa inteira!
Ele faz uma careta como se não entendesse e Phoebe chora mais alto lá dentro.
– Você está fazendo para incomodar sua prima, Louis Tomlinson?
– Eu juro que não, eu só – ele bate os braços na lateral do corpo, cansado e indignado porque quando tenta ser legal, as pessoas ainda acham que ele só está fazendo traquinagem, mas caramba – nós quatro estávamos voltando do lago quando começou a aparecer sangue e ela surtou, eu só queria ajudar e dizer que está tudo bem.
– Não é assim – a avó respira fundo de novo, pronta para solucionar aquela bagunça – santo Deus, minhas crianças, não é assim que vamos ajudar a Phoebe. Venha os dois comigo para a cozinha, agora.
Harry segurou a barra da camisa úmida de Louis para irem juntos atrás dela. Ele está roendo as unhas em nervosismo, mas Louis está relaxado, pronto para a bronca. Eles sentam de frente para ela na mesa.
– Meninos, a Phoebe está passando pela menarca, é normal que esteja constrangida, ainda mais se isso aconteceu na frente dos primos.
– Ela disse que eu não sou primo dela – Harry desabafou, segurando a voz embargada porque Franklin vive dizendo que homem não chora e Harry chora demais pra alguém da sua idade – quando eu tentei ajudar, ela disse que não sou seu primo.
– Ela só está nervosa, meu amor. Eu vou ter uma conversa bem séria com suas primas sobre o que significa ser família nessa casa, muito além de biologia – Ela fala em seu sotaque caipira, o mesmo que toda a família puxava: – Mas agora vocês precisam ser pacientes e se quiserem ajudar, ajudem indo na cidade para comprar absorventes para ela.
– O quê?
– O avô de vocês tá trabalhando, Louis já tem dezesseis e sabe dirigir. Vou chamar Dayse para ir junto e ajudar, enquanto converso com a pequena Phoebe. Agora vão trocar essas roupas molhadas para irem logo, vão, vão!
A vovó levantou com dificuldade, torcendo um pouco a boca, parecendo com dor. Harry observou ela se afastar devagar e Louis obedeceu resmungando sobre saber dirigir, mas odiar fazer isso beirando a noite.
No carro, cansados e em silêncio, os dois esperam por Dayse na única farmácia da pequena cidade rural. Harry sempre costuma ser idôneo e o que mais se preocupa com todos, em ajudar, em cuidar, enquanto Louis geralmente é o mais sentimental, dramático e emotivo, mas individualista. Agora os dois inverteram os papéis ou talvez seja o excesso de convivência os fazendo espelhar o comportamento um do outro.
– Eu só queria ajudar – Louis reclamou – não é justo.
– Eu sei – Harry ainda estava com vontade de chorar pelo o que ouviu – eu vi você tentando.
– Você tá triste?
– Eu nunca tratei Phoebe mal, por que ela tinha que dizer aquilo só pra me atingir se sempre nos apoiamos?
– Foi cruel.
– Foi idiota.
Louis o puxou para um abraço, os dois precisando se entortar no banco da caminhonete para se ajustar um ao outro. Harry aproveitou que estavam a sós para traçar os dedos de leve no braço de Louis de uma forma mais carinhosa do que as pessoas julgariam normal para dois primos-amigos.
– Você é da família como todos os outros, bebê, não deixe isso te machucar.
– Eu não sou primo de sangue e sabemos disso – Harry afastou o corpo, mas não a mão – na verdade é até melhor que eu não seja seu primo biológico, mas o que me chateou foi o modo como ela falou pra me magoar de propósito, quer dizer, o que eu fiz de errado pra Phoebe ter chegado a esse ponto de tentar ser tão malvada?
Louis tinha o cenho franzido em confusão.
– Por que você acha até melhor não ser meu primo biológico?
– O quê?
– Você disse que é melhor não ser meu primo biológico, qual o problema? – Louis parecia um pouco incomodado com o comentário ao mesmo tempo que confuso por ainda não fazer sentido no que havia sido dito tão naturalmente.
– Eu não disse isso – Harry travou, sentindo o nervosismo subindo pela garganta e o constrangimento marcando sua pele.
– Você disse, você acabou de falar com essas palavras.
– Não disse não.
– Qual é, vai mentir pra mim numa coisa que acabou de fazer?
Harry fez careta, percebendo que só havia piorado a situação com sua reação instantânea.
Então ele tem esse minuto enquanto Louis espera a resposta, para pensar na solução mais óbvia. O que poderia dar errado ao ser honesto? Muita coisa, mas ele também sente muito mais coisas do que as que podem dar errado. Ele pensa que sim, pelo menos. Anos depois ele irá culpar sua impulsividade pelos hormônios e a ilusão adolescente de se estar encantado pelo primeiro amor, tomando coragem pra fazer coisas absurdas como declarar sua paixão imoral e proibida.
Mas no momento, Harry só precisa dividir o que sentia com quem sentia.
Louis e ele estavam muito mais próximos. Muito mais mesmo, de um jeito que Harry jamais viu outro alguém estar. E também tem o fato de que os dois confiam muito um no outro. Louis pode aprontar todas em todos os cantos daquela fazenda, pode colocar fogo em cada centímetro de todos os hectares daquelas terras, que Harry jamais iria dedurar ele ao Franklin – e olha que todos costumam chamá-lo de garoto de ouro do vovô. Assim como Harry poderia fazer qualquer uma de suas estranhezas, ser extremamente grudento e sensível demais para um garoto (são as palavras de outros homens mais velhos que viviam ali) que Louis jamais iria rir dele, Louis gosta de provocar confusões e constrangimentos nos primos, mas não para Harry. Eles tinham muito carinho um pelo o outro e, bem, era essa a questão. O carinho, tanto carinho que laçou o coração dele.
– Não é por algo ruim, eu sinto que é algo bom – respondeu sentindo as bochechas esquentarem.
Com essa resposta poderia deixar tudo tranquilo e terminar esse assunto por ali, mas gradualmente o rosto de Louis se modifica de confuso para uma compreensão simpática, não só empática, mas simpática porque ele entende. Ele pareceu entender de uma maneira como se estivesse se identificando com o que Harry queria e não tinha coragem de dizer. Louis riu tímido e Harry o acompanhou, mas aliviado por não ter ficado estranho.
– Lembra aquela vez que roubamos o trator na colheita de algodão no verão anterior? – Louis perguntou com o tom de voz tão baixo quanto apreensivo – Fomos a uma quermesse na mesma semana e você ficou obcecado por algodão doce igual ao que comemos lá, você teimou que queria mais algodão doce e não tinha quermesse tão logo e a cidade ficava longe demais pra ir a pé. Mesmo sua mãe te explicando que algodão doce era feito de açúcar você teimou e foi na plantação de algodão colher alguns, você me levou junto e disse que íamos colher pra fazer com açúcar refinado da vovó – Harry gargalhou se lembrando – Eu tinha acabado de aprender a dirigir, ainda não tenho carta, mas peguei o trator escondido, o Phil me ajudou a encontrar, mas foi eu que dirigi com você grudado no meu ombro até a cidade atrás do bendito algodão doce de verdade.
– Eu tinha quatorze anos e você quinze.
– Sim, foi ano passado.
– Por que está me contando essas coisas?
– Porque na volta pra fazenda – ele explicou devagar sem tirar seus olhos azuis dos olhos verdes arregalados ao seu lado no banco passageiro – quando você me ajudou a devolver o trator sem ser visto e beijou meu rosto pra me agradecer – Louis engoliu seco e piscou tomando coragem para concluir: – eu quis te beijar de verdade.
Harry não disse nada, continuou estático, absorvendo ter sido correspondido.
– Eu não sabia o que todas essas emoções significavam. Naquele dia eu fiquei assustado, mas depois só fui aceitando que gosto de você muito mais do que um jeito de primo.
Harry sorriu, mas continuou parado, tentando assimilar o que ouviu. Louis rolou os olhos e riu, em seguida olhou pela janela para conferir se Dayse ainda estava na farmácia, mas ela não estava nem na fila do caixa ainda. Assim, aproveitando a brecha, puxou Harry pela nuca e o beijou.
Louis tocou os lábios nos seus levemente, um toque suave, carinhoso. Harry conseguia sentir ele tremer, mas não podia ser só nervosismo porque Louis tinha certeza e segurança naquele gesto.
Harry deixou as duas mãos segurando o rosto dele e aprofundou o beijo, só com a ponta da língua pedindo timidamente para fazer parte daquele momento. Pousou a mão nas coxas de Louis e apertou, sentindo seu suspiro fazer cócegas nos lábios.
Deveria ser assustador, mas não era. Deveria ser uma surpresa, mas honestamente, os dois sabiam que uma hora ou outra aconteceria. Deveria acontecer, porque toda vez que Harry dava risada ou falava devagar, Louis tinha os olhos azuis brilhando, presos em seus lábios. E toda vez que Louis fazia bico ou sorria, Harry sentia que poderia derreter em vontade de tocar nele.
É o primeiro beijo deles e é juntos, nessa caminhonete, na frente de uma farmácia enquanto esperam a compra do absorvente da prima deles.
– Meu Deus – Louis se afastou e piscou atônito – Como isso é bom.
– Eu não sei o que dizer.
– Nem eu – eles riram, lábios inchados e olhos brilhantes – não ainda, tô assustado, mas é bom, muito bom.
– Dayse está voltando – Harry resmungou deitando de lado a cabeça no banco com um bico nos lábios, encarando Louis de uma forma intensa, alimentado pelo beijo que acabou de ganhar.
– Desculpa fazer repentinamente, acho que… não sei, eu só-
– Não pede desculpas, eu sonhei com esse momento.
– Faz tempo que eu queria te beijar, eu só não consigo explicar o que tô sentindo.
– Eu sei – Harry respondeu mais calmo, sorrindo.
– O que está acontecendo com a gente?
– Vamos conversar, chato.
– Você- nós…
A porta traseira foi aberta e Dayse entrou com uma ferocidade totalmente contrastante com o clima suave anterior. Ela ainda estava brava com eles pela discussão mais cedo.
Sutilmente, Harry afastou a mão das coxas de Louis e eles se endireitaram em seus bancos. Antes de ligar o carro, Louis olhou para Harry de esguelha, conferindo se estava tudo bem, para depois dirigir para casa mantendo o sorriso de quem acaba de dar seu primeiro beijo com o garoto por quem sempre foi apaixonado e ser correspondido.
🌾🚜
provavelmente irei trazer
muito mais do passado deles
porque é fofo e também para
explicar algumas coisas do
presente, tudo bem?
espero que tenham gostado,
foi simples, mas foi feito de coração
beijinhos de @_shakesqueer
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