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Quando decidiu ir para Nova Iorque, Harry sabia que seria uma das coisas mais difíceis a se fazer na sua vida, portanto, teria que ser forte nessa nova etapa.
Ele não nasceu na cidade rural, nem na fazenda no meio do nada. Ele não tinha brotado dela como os algodões. Na verdade, Harry havia nascido em Holmes Chapel, uma cidade comum da Inglaterra, nem grande e nem pequena demais.
E quando ainda era um bebê se mudou para Nova Iorque, que já era bem diferente, provavelmente dez vezes maior que Holmes em tamanho e demografia.
Viveu em Manhattan como qualquer criança da cidade, estudando em uma das melhores escolas do país e morando em um apartamento de luxo em uma das regiões mais movimentadas da cidade.
Mas então, antes mesmo de entrar na adolescência, estava sendo levado a viver uma vida completamente diferente, outra vez.
Enquanto crescia e se tornava um homem, formando seu caráter, Harry passou a viver na zona rural em uma das cidades mais interioranas e conservadoras dos Estados Unidos, longe de qualquer coisa parecida de onde foi sua natalidade ou sua infância.
De repente, ele era um broto sendo plantado novamente em outra terra e criando raízes num solo completamente diferente, mas que também poderia ser seu.
Imagina só como era para ele, se adaptar a outros costumes, outra região, uma outra vida de novo, e de novo, e de novo.
Não era sobre exaustão, era sobre ser difícil deixar para trás um pedacinho da sua história para começar uma nova. Era difícil ir embora e não ter memórias nesse novo lar. Olhar para uma árvore qualquer e não se lembrar de uma vez em que quase caiu da copa quando subiu para colher as frutas do pé. Andar por uma rua que não era de terra e nem fazia parte das suas memórias sobre ser seu trajeto diário em dias de chuva e dias de Sol. Sobre respirar e perceber que até o ar parecia ter uma densidade diferente para os seus sentidos.
Teria que colocar isso em mente, que o desconhecido não era sinônimo de perigo ou solidão. Não era porque tudo era novo que seria como uma peça de roupa recém comprada que ainda não se ajustava ao corpo e o tecido pinicava.
Essa experiência de mudar de cidade e de casa deveria ser menos assustadora por, supostamente, ser sinônimo de esperança e recomeço. Um lugar onde ninguém o conhecia e ele poderia se reconstruir sem pressão de olhos acostumados a vê-lo como um homem que só vivia em função de cuidar mais dos outros do que de si mesmo.
Mudar de cidade era um passo para quem queria mudar de vida, foi por isso que atualmente Harry decidiu estar ali, em Nova Iorque.
Para se desprender do passado, porque sabia que seria difícil transitar pela vila onde ficava a fazenda ou qualquer cidade ao redor em Louisiana, e não agir como o mesmo homem com as mesmas atitudes conduzidas pela emoção e costume. Seria difícil não agir como o homem que queriam que ele fosse ao invés de quem gostaria de ser.
Harry queria mudar, queria ser melhor para si mesmo, alguém capaz de se perdoar e parar de sentir dor por amar demais. Queria ter o direito de viver a própria vida sem se preocupar o tempo todo com a vida de uma outra pessoa que não o valorizava da mesma forma.
Ele queria, mas não era fácil.
No domingo anterior, Harry estava assistindo um documentário com Anne porque aparentemente sua mãe era do tipo que assistia documentários sobre diversos assuntos como um lazer em seus dias de folga. Eles estavam de moletom e meias grossas porque estava frio demais abaixo das cobertas, mesmo com o aquecedor ligado. Nova Iorque poderia ser cruel em novembro, estava literalmente sentindo na pele. Harry teme que dezembro possa ser pior. Ele torce para que não, porque não estava acostumado àquela temperatura.
Dividiam um balde de pipoca enquanto assistiam sobre a experiência de pessoas que estavam se desintoxicando das drogas, pessoas que lutavam para sair do vício. Os relatos eram pesados, traziam muitas reflexões a cada depoimento. Parecia tão horrível quanto uma overdose o sofrimento dos viciados em processo de desintoxicação: sudorese, febre alta, delírio, dores, convulsões.
Uma completa agonia.
Harry não queria comparar uma situação tão delicada e de saúde com a sua saudade e readaptação de vida, que parecia até boba, mas foi inevitável pensar naquilo quase que instantaneamente como o seu próprio caso, em como todo dia que acordava era uma luta para não largar tudo e voltar para Louisiana.
Tinha dias que Harry sofria pela falta, tomado de ansiedade, e se questionava se não estava sendo ridículo ficar longe de onde pertencia porque a cada instante a dúvida o sufocava, as mágoas lhe atormentavam e as lembranças o perseguiam de maneira que ele nem conseguia se reconhecer de tão frágil que se sentia.
Tinha medo de estar cometendo um grande erro com decisões tão radicais como aquela de estar distante de onde pertencia. Ele ainda não chorava, era uma coisa que estava trabalhando com a ajuda da terapia, mas sentia até em seu corpo o reflexo dessa ansiedade se transformando em agonia.
No entanto, estava tentando dia a dia, e tentar já parecia ser uma grande evolução vindo de alguém que por anos se negligenciou.
Estava tentando se libertar daquele sentimento de culpa, como se devesse sua existência a prestar gratidão e serviços à fazenda. Harry precisava se desvincular desse sentimento por Franklin, que antes lhe fazia espelhar no velho a representatividade de um pai que não teve.
Teria que fazer isso por si mesmo e pela vida que queria levar no futuro.
Harry não sabe quais são os planos de Louis sobre a relação que manterão com a família Tomlinson. Se passaram quase três meses, mas talvez ainda seja cedo para decidir se iriam romper relações com a família, se apenas manteriam distância ou se deveriam insistir em conviver até que os aceitassem, mas de qualquer maneira, em breve Harry será legalmente um deles e não apenas mais uma parte considerada como antes.
Ele seria um Tomlinson oficialmente muito em breve, de papel passado e aliança.
Então, se desvincular de alguns sentimentos e ressentimentos por Franklin teria que ser trabalhado para que pudesse viver o que queria, de maneira feliz ao lado de quem o amava e valorizava sua existência de verdade.
Agora, Harry até se sente mais adaptado na cidade do que nos primeiros meses. O trabalho pode ter ajudado porque se manter ocupado e tendo o apoio de sua doce mãe, contribuiu para se sentir à vontade e bem recebido. Mas se for honesto consigo mesmo e também com a Dra. Robbins, Harry admite que a terapia estava surpreendentemente mudando muito mais o seu ponto de vista.
Ele teve que morder a língua, no fim das contas. Quando sua mãe insistiu tanto e Louis incentivou que Harry procurasse ajuda para sua saúde mental, ele achava ser bobagem. Franklin dizia que essas coisas de psicólogo não dava em nada, que eram coisas de gente fresca ou louca e que homem de verdade segurava as pontas e aprendia apanhando da vida. Harry chegou a acreditar nesse discurso ignorante por um longo tempo, mas não concordava mais. Com a terapia ele passou a compreender muito mais de si do que apenas usando o que lhe fez sofrer como armadura e argumento.
Aprender que tinha valor, que ele também tinha que se cuidar, que tinha o direito a enxergar da sua perspectiva e não do ponto de vista da sua figura paterna, que não devia gratidão e sua eterna serventia em troca de amores frágeis, eram muitas das coisas que Harry vinha entendendo sobre a vida com a ajuda da Dra. Robbins.
Aprendendo a ter orgulho de si mesmo e se permitir mimos também.
Aliás, um dos seus mimos é lindo e o deixa morrendo de saudades.
Toda vez que Louis liga e eles passam horas conversando sobre tudo, Harry se sentia cheio de vida, como sentia quando era mais jovem. Era uma sensação tão abençoada, tão grande e forte, mas ao mesmo tempo suave com uma sensação limpa e fresca, que o fazia perceber o quanto se privou a vida toda de se presentear com as melhores coisas da vida, enquanto gastava sua energia em cuidar de quem não lhe dava um terço dessa sensação.
É claro que a fazenda em si era algo que ele não poderia desdenhar agora. Não precisava mentir para si mesmo que viver lá o fazia mal só para reforçar o quanto sua convivência com Franklin causou desgaste físico e emocional.
Olivia' s Farm sempre irá carregar muitas das melhores lembranças de sua juventude e aquele lugar sempre será um pedaço de paraíso que ama.
Mas ver isso de fora, em outra perspectiva, fazia Harry compreender as coisas e o quanto de valor deveria depositar em cada uma delas.
🌾🚜
Naquela manhã, estava encarregado de apresentar a gravadora para os novos artistas. Era uma banda de rock com cinco integrantes, não jovens demais, mas o suficiente para serem descolados e conquistar essa faixa de público. Anne tinha muitas expectativas com o contrato, estava super animada.
A função de Harry era fazer companhia entre uma reunião e outra, já que teriam quatro delas com essa mesma banda em um único dia, com patrocinadores, compositores, direção e agenciamento de carreira. Ele levou os integrantes para conhecer o estúdio onde puderam testar e usar os instrumentos como se estivessem ali visitando uma galeria de arte, impressionados com o ambiente e admirando tudo o que havia à disposição.
Era divertido ver a animação e esperança desses novos artistas, essa era a parte boa do trabalho.
À tarde eles tiveram a terceira reunião, da qual Harry foi dispensado, por isso pôde usar o tempo livre para trocar mensagens com Louis sobre o dia deles. Depois, voltou a levar os artistas para conhecerem as dependências da gravadora, antes de um coffee-break.
Nesse momento, ele estava alheio às conversas animadas dos integrantes com um dos produtores musicais e o empresário, enquanto prestava atenção no vídeo que Louis enviou para Harry de Elis aprendendo a pedalar uma bicicleta sem rodinhas. Ele estava sorrindo bobo para a tela, sentindo as bochechas arderem de tanto sorrir e riu quando Rose gritou no vídeo uma comemoração correndo atrás da irmã.
Sentia tanta falta deles que era um daqueles momentos que tinha que se controlar para não largar tudo e ir para casa, mas aí era diferente, ao invés de querer correr para a fazenda o sentimento era direcionado para a sua futura família. Uma sensação nova e assustadora também, porque, meu Deus, em breve essa seria a sua família.
- Sorriso bonito - foi surpreendido pelo elogio da vocalista da banda, uma mulher por volta dos seus vinte e cinco anos, com um sorriso bonito também.
Ela estava olhando para Harry daquele jeito, enquanto adoça o café na mesa ao lado, durante o final do coffee-break.
- Obrigado.
- Então... vou te ver por aqui sempre que eu vier gravar? - Ela perguntou com um tom carregado de expectativas e um flerte que ele não tinha a menor intenção em retribuir - Vai tornar meu trabalho mais interessante.
- Provavelmente sim, porque eu trabalho aqui, mas não por muito tempo.
- Ah, que pena - ela deu um gole no café e deu um passo em sua direção - Por que?
- Pretendo sair da cidade, vou morar com meu noivo quando tiver terminado de resolver algumas questões - ele não contaria algo tão pessoal para qualquer um, mas era uma questão de gosto aproveitar a oportunidade para usar a palavra "noivo" enquanto se livrava do flerte unilateral dela de forma eficaz e sutil - eu estava sorrindo enquanto falava com ele - balançou o celular para figurar o que disse, sem repetir o sorriso - com o meu noivo.
- Legal - ela arqueou as sobrancelhas e se afastou, entendendo o recado.
No dia seguinte, durante a terapia com a Dra. Robbins, ela elogiou Harry sobre seu avanço em dizer abertamente sem nem hesitar que estava em um relacionamento com um outro homem, porque realmente deveria, porque era para ser normal, exatamente como ele disse por mais de uma vez sem esforço e se sentindo confortável.
Harry ficou feliz por si mesmo. Aquela era mais uma de suas vitórias particulares.
🌾🚜
Aos sábados, na gravadora, não havia muito o que se fazer porque o trabalho era opcional, quase como um ponto facultativo. Quem quisesse podia trabalhar em casa, ir para a empresa ou simplesmente folgar.
Harry preferia ir para a gravadora durante as manhãs e folgar a tarde, porque não tinha muito o que fazer aos sábados e não queria perder aquele hábito de acordar bem cedo.
Sua mãe fazia o mesmo, porque o trabalho dela era mais atribulado e ela precisava deixar tudo organizado para tirar uma folga decente aos domingos.
Naquele sábado, a gravadora estava praticamente vazia. Provavelmente porque era um dia raro de Sol no outono de Nova Iorque e todos os funcionários queriam aproveitar para absorver um pouco de vitamina.
Não tinha nenhum cliente agendado para visitas, nem encomendas para se receber e Anne dispensou a assistência do filho no escritório, então Harry procurou algo a se fazer.
Pegou uma vassoura, pá, panos secos, borrifador, lustra móveis e foi limpar o estúdio que irão usar na segunda-feira para finalizar a gravação do álbum de uma cantora mais famosa e exigente. Era melhor deixar tudo limpinho para recebê-la e evitar chiliques como o que ela deu da última vez por causa da poeira nos equipamentos.
Harry fecha a porta, coloca música country numa playlist em seu celular e começa a tirar pó das superfícies enquanto canta. O tempo todo ele está pensando em Louis, principalmente os trechos de música mais românticos, ele fica se lembrando dos momentos de amor e promessas que faziam um ao outro. Ele estava varrendo e cantando mais alto, sorrindo, apaixonado.
Alinhou os tapetes e os instrumentos em seus lugares. Pausou a música para mandar um áudio para Louis dizendo que estava pensando nele como sempre e voltou ao trabalho depois de ter uma resposta do outro, que escreveu sobre ter sonhado com Harry na noite passada e que o amava.
Harry sentou no sofá para ler a mensagem repetidas vezes com um sorriso bobo. Ele relaxou olhando para a tela do celular, suspirou, olhou para o lado e viu o violão. Pegou o instrumento só por bobeira, sem nenhuma intenção extra a princípio, mas no primeiro toque já descobriu estar desafinado. Harry não precisava de aplicativo para afinar violão porque sempre teve essa habilidade nata, a audição boa, pra achar a afinação certa.
Inclinou o ouvido próximo ao instrumento e foi afinando, testando, lembrando de um acorde de uma de suas músicas preferidas, uma antiga de Johnny Cash. Até isso fazia ele lembrar de Louis porque sabia que seu noivo adorava também. Harry toca mais um pouco para testar a afinação.
- Filho?
Ele colocou o violão no sofá rapidamente, assustado pelo flagra.
- Eu só estava afinando - se justificou. Sua mãe arqueou as sobrancelhas e sorriu gradualmente - não me olhe assim.
- Eu não disse nada - Anne riu erguendo as mãos em sinal de desarme - só vim te chamar pra almoçar comigo naquele restaurante do outro lado da rua antes de irmos pra casa.
- Ok.
- Se quiser, pode ficar pra você - apontou para o violão - os artistas costumam trazer seus próprios instrumentos. Esse é só um reserva, temos outros dois guardados.
- Não, obrigado, não precisa.
- Harry - ela respira fundo e engancha o braço no dele para caminharem lado a lado até o restaurante.
- Anne.
- Juro que não estou te pedindo para gravar, só estou oferecendo um instrumento para lazer. Sei que gosta de tocar e aqui você não precisa só trabalhar como fazia na fazenda, pode se divertir também - ela inclinou a cabeça enquanto o elevador descia para o térreo, Harry ficou encarando ela, sustentando um sorriso porque sua mãe era engraçadinha quando tentava - Aceite o presente.
- Tá bom, dona Anne, quando voltar do almoço para fechar o escritório eu levo o violão. Satisfeita? - Ela beijou a bochecha dele dizendo sim - Você é engraçada.
Eles almoçam conversando sobre a cidade e como Anne também teve um pouco de dificuldade para se adaptar quando chegou ali, vinda de Londres.
- Sabe, estou acostumada a viver sozinha e para mim não é um problema, mas quando você for embora eu vou sentir falta da sua companhia.
- Quando eu for embora... tá me expulsando também? - brincou, rindo.
- Jamais! Mas com certeza quando você e Louis se casarem, vão se mudar para viver juntos, estou errada?
- Não - Harry sorriu, pensando paralelamente em como teria que se adaptar mais uma vez a outra cidade, quando for para a cidade em que Louis trabalha, mas que isso não era um problema - pelo menos é o que pretendemos.
- Já comprou as alianças de noivado?
- Eu estava pensando em pedir sua ajuda para escolher.
- Vamos escolher hoje mais tarde, podemos aproveitar o final do dia livre. Ontem eu perguntei para o Louis o número do tamanho do dedo dele porque já estava pensando em te incentivar a ir resolver isso logo.
- Você está animada.
- É claro que sim, eu já disse, fico feliz com o meu único filho feliz. Essa sensação é imensurável, quando for pai vai entender o que quero dizer.
Eles fizeram tudo o que tinha que ser feito. Fecharam o escritório, levaram o violão, compraram as alianças de noivado e depois Anne arrastou Harry para o shopping para comprar roupas de frio para os dois. Foi um dia agradável, ele até conseguiu ignorar a vontade de usar os sábados para pescar, cuidar dos seus cavalos ou dormir numa rede na varanda de casa.
🌾🚜
Um mês depois, fazia compras para o dia de ações de graças sozinho, porque sua mãe estava trabalhando em casa com uma papelada que Harry não compreendia. Estava agoniado preso naquele apartamento, como se estar morando num pedaço de pedra numa cidade de pedra já não fosse chato o suficiente, por isso decidiu oferecer alguma utilidade.
Anne fez uma lista imensa de compras, entregou ao filho e enxotou ele para cumprir essa tarefa, então, lá estava ele transitando entre os corredores de um hipermercado lotado.
Harry nunca vai se acostumar com o fato de existir uma loja desse tamanho com tantas pessoas enfileiradas e amontoadas. Tanta gente que tiveram que construir milhares de casas uma em cima da outra para elas viverem nessa cidade, vários prédios sem graça, na opinião dele, com moradores sem graças vivendo nelas também.
Se fosse na sua vila em Louisiana os vizinhos estariam se preparando para cumprir a tradição do dia de ações de graças e indo visitar uns aos outros com caçarolas cheias, cestos com comidas plantadas em seus próprios terrenos e recepções calorosas. Completamente diferente de Nova Iorque, onde as pessoas parecem esquecer o sentido disso, sugados pela modernidade e a pressa imediatista da urbanização. Provavelmente apáticos com o evento, planejando passar o dia trancados fazendo ações de graças para si mesmos e não aos próximos.
Na volta para casa, Gertrudes tem mais um problema no carburador. Ela anda cheia de problemas ultimamente, mesmo depois de voltar da oficina. Harry tem que parar no acostamento e tentar resolver a falha sozinho.
- Talvez seja hora da madame se aposentar - conversou com ela, dando um tapinha de consolo na lataria.
Pelo menos entendia muito bem dessa lata velha e a maioria das crises dela Harry sabia resolver sem precisar apelar para um guincho e mais serviço caro de mecânico. O problema mesmo era estar frio. No final de novembro, era um grande sacrifício ter que tirar as luvas para mexer nas peças de aço do carro.
Quarenta minutos depois, terminou de arrumar e entrou no carro esfregando as mãos na frente do rosto, soprando a respiração quente para se aquecer antes de vestir as luvas. Pegou o celular no painel e se deparou com quatro chamadas não atendidas de Louis, uma de sua mãe e sete de Rose.
Tentou ligar para todos, mas ninguém atendeu. Ele dirigiu para o apartamento onde morava com Anne e planejou descarregar as compras aos poucos, levando primeiro os frios, coisas que precisavam ser colocadas na geladeira. Ele vai voltar depois para pegar o restante das compras.
Subiu pelo elevador assobiando e quando saiu para o corredor do seu andar, estranhou a porta de casa aberta. Antes de entrar, escutou vozes conhecidas e se apressou. A primeira pessoa que viu foi Elis, que correu em sua direção, abraçando suas pernas onde alcançava.
- Tio, Harry! - Ele largou as sacolas no chão e puxou a enteada no colo, dando um abraço tão apertado, com tanta saudade, que poderia desmontar a pequenininha, então se lembrou de tomar cuidado com a criança e soltou o aperto para receber beijinhos no rosto como ela adorava fazer e riu de alegria - Nós chegamos, viemos de avião, sabia? Eu nunca tinha voado, o papai me deixou sentar do lado da janela e eu vi as nuvens! - ela tagarelou animada com as novidades enquanto Harry caminhava com a criança no colo e um coração disparado, ouvindo tudo com muita atenção, carinho e felicidade em vê-la - Parecia algodão, só que se desmanchava quando eu entrava nelas e eram enooooormes - ela esticou os braços para demonstrar o que dizia e lhe fez rir, encantado ainda mais.
Quando chegou na cozinha, Harry deixou Elis no chão em segurança e encontrou o que tanto queria. Lá estava Louis, com uma xícara de café na mão e um sorriso travesso nos lábios, daquele jeito de quem aprontou uma grande surpresa e estava se gabando disso.
- Feliz dia de ações de graça, amor.
- Você... chato.
Harry sorriu e se aproximou rapidamente enquanto Louis deixou a xícara na pia para abraçá-lo de volta.
- Senti sua falta - sussurrou em seu ouvido, no aperto do abraço quente.
Harry beijou o rosto dele, passou a ponta do nariz em sua bochecha gelada com carinho para sentir o cheiro gostoso e a textura da barba, depois se afastou, sem tirar os olhos do seu.
- Por isso não me ligou ontem?
- Queria te surpreender.
- Pois conseguiu. Onde está Rose?
- Bem aqui - ele se virou assustado, encontrando ela com cara de tédio, sentada ao lado de Anne na mesa, que ele nem havia visto tamanho foco em seu noivo - esperando vocês dois terminarem essa melação pra eu ganhar um abraço seu também.
- Chata Junior, você veio, que ótimo! - Harry brincou, indo em direção dela para dar o abraço pedido.
- Chata junior?
- É uma coisa carinhosa, acredite - Louis disse rindo para a filha e puxando Harry pela mão para ficar ao seu lado, incapaz de ficar mais um minuto sequer longe - Você tá lindo, está bem?
- Melhor agora, como foi a viagem?
- Cansativa, mas tudo bem.
- Foi bem legal! - Elis disse de novo, entrando na cozinha aos gritos, pulando e girando como se estivesse presa no sonho realizado dela ainda - Nós atravessamos o céu!
Louis e Harry sorriram um para o outro de um jeito carinhoso, um pouco tímidos por terem trocado afeto com tanta intensidade na frente de Anne e Rose pela primeira vez, mas felizes de estarem ali, finalmente juntos.
Para Harry, a partir disso, foi fácil o auto entendimento de que o melhor lugar do mundo era onde Louis estivesse porque de repente, Nova Iorque parecia perfeita.
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