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De certa forma, Louis sentia alívio por ter levado Phoebe ao altar no lugar de Harry.
Isso porque há muito tempo que não se importa com o que a família pensa dele ou não. Ele não procura mais aprovação e nem espera demais dos Tomlinson mais velhos.
Só que, mesmo assim, não deixou de ser difícil caminhar com todos aqueles olhos sobre ele entre os pés de laranja na colina.
Louis conhece o coração do seu amor, o tempo pode ter passado e eles terem mudado através dele, e às vezes Harry pode até tentar agir como um homem duro como foi educado, mas só Louis sempre conheceu seu íntimo, só ele vê a sensibilidade que é parte imutável do fazendeiro. Harry seguraria as pontas até o altar se estivesse fazendo o caminho, mas depois, livre desses olhares, ele deixaria doer sozinho, e machucaria muito.
Mas ocorreu tudo bem.
Phoebe chorou de felicidade quando disse sim e Tom fez ela se sentir a mulher mais feliz desse mundo durante toda a cerimônia. É assim que fazemos quando amamos, cuidamos para que o outro se sinta bem e seguro o máximo que podemos.
Adam não subiu ao altar e quando viu Louis de braços dados com Phoebe, também se retirou do assento entre os convidados, mas a noiva ignorou o pai egoísta para focar no seu próprio momento e prioridades. Louis tem empatia e compreensão do que é chegar num ponto onde se tem que parar de implorar atenção e perdão só por causa de laços de sangue.
Como se laços de sangue realmente importassem no fim das contas. A exemplo disso foi Harry sendo por anos muito mais Tomlinson do que alguns daqueles que se comportaram de maneira tão intolerante e desprezível na noite anterior, esquecendo que acima de tudo eles eram uma família.
Mas não foram todos, Louis deve reconhecer. Na verdade, durante a festa de casamento no celeiro decorado, a maioria dos primos e tios vieram aos poucos confirmar se Louis estava bem e perguntar onde estava Harry porque pareciam genuinamente preocupados e envergonhados de não terem agido para a sua defesa.
Foi uma festa bonita, aliás. É verdade que a maior parte do tempo Louis queria correr procurar por Harry e saber se estava tudo bem (colocar o seu plano em prática de pedir a mão dele o mais rápido possível também porque esse clima todo de casamento mexia com seu lado romântico) mas por outro lado, estar com Elis, Rose e Zayn ajudava muito a se sentir melhor e menos ansioso.
Louis também não poderia ir embora tão cedo porque Phoebe já estava com a mãe dela presente, mas carrancuda. O pai egoísta estava ausente e Harry, que era o seu melhor amigo entre os primos, não podia estar ali. Até mesmo a cobra de sua tia Johanna não apareceu. Ela não poderia estar sem Louis agora também. Além disso, Elisabeth e Roselin precisam de mais atenção dele, o que Louis faz questão de dar às suas filhas.
O infeliz e detestável Franklin também estava lá, mantendo-se sentado o tempo todo em uma das mesas mesmo após o jantar do casamento, porque não tinha forças para ficar em pé tantas horas da noite. Mas como de costume, o avô ignorou a existência dele, que tratou de fazer o mesmo.
Depois do jantar, Louis teve a boa surpresa de ser cumprimentado por Anne de forma muito carinhosa.
- Finalmente te encontrei, estou tão feliz em te ver!
- É bom rever a senhora também, tia Anne.
- Meu Deus - ela colocou as duas mãos nos braços dele e se afastou para analisar o sobrinho ao todo - da última vez que te vi era um garoto, agora está um homem tão forte e bonito, mal te reconheço! - Louis sorriu sem jeito - meu filho tem bom gosto, isso ninguém pode negar - ela piscou, deixando Louis mais tímido ainda.
- Opa, eu não esperava por isso.
- Querido, sinto muito, Harry me contou tudo. Fiquei furiosa com Franklin, por mim eu nem pisava mais meus pés aqui, mas, hum - ela procura o velho entre a multidão de convidados e seu rosto se desmancha em desprezo - eu tenho mais direito do que ele de estar aqui, os incomodados que se retirem, é o que dizem.
- Como assim?
- Você vai saber muito em breve, só preciso me assegurar antes, mas agora quero que saiba que vocês dois podem contar comigo.
- Eu ainda estou surpreso, não imaginava que teríamos o seu apoio.
- Oras, e por que não teriam?
- Sei lá, eu só - coçou a testa tentando se auto analisar para entender também - acho que estava acostumado a pensar que minha família me rejeitaria e sem querer acabei incluindo todos nessa ideia. Quando eu era mais novo, tinha medo que a senhora tratasse o Harry como minha mãe tratou quando soube.
- Na verdade eu sempre soube, sempre desconfiei de você, mas sobre o Harry... estava preparada, sou mãe dele, mesmo longe eu o amo e conheço o meu filho. Não vou mentir, quando vocês eram crianças eu fiquei com o pé atrás porque tinha o fator primos no meio, mas agora, bem, não importa mais.
- Obrigado, tia Anne, é muito importante saber que pelo menos alguém está feliz por nós.
- Eu tô! - apertou a mão dele com carinho - E agora além de sua tia eu vou ser sua sogra, não é legal?
Era mais que legal, Louis pensou feliz, era um sonho se realizando.
Pouco depois, dançou com Rose, mas teve que ceder a vez na pista para René porque também não havia nada demais em deixar a filha aproveitar o namorado dela. Zayn estava acompanhado (flertando) de algumas amigas do noivo e Louis não queria incomodar, então, quando a caçula começou a reclamar de cansaço, ele tinha um álibi para voltar para o casarão com ela no colo, sem mais ânimo para festa. Já tinha dado o suficiente de si. Começaria a arrumar suas coisas para ir embora mais cedo do que previa, evitando mexer nos pertences de Rose porque da última vez que fez deu confusão.
Obviamente, a casa deveria estar vazia. Louis deixou Elis na cama com um livro de colorir enquanto fazia as malas e cantavam juntos uma cantiga de letras do alfabeto. Ele ouviu o som alto de algo caindo no piso em outro cômodo e parou atento para ouvir. Elis também ouviu porque parou de cantar e olhou na direção da porta.
- Espere aí, ninã, vou ver o que é - ela anuiu quietinha, voltando a pintar.
Louis estava devagar e silencioso por instinto, pé por pé, até a origem do barulho. Vinha do quarto de Franklin, o que ele estranhou mais ainda porque o idoso não tem essa capacidade de vir para casa sozinho e nem acompanhado em tão pouco tempo. Estava estranho demais, havia algo de errado.
Ele espiou pela fresta aberta da porta e se assustou, mas não reagiu alto enquanto tentava entender o que via: Johanna revirava o quarto de seu avô.
Então era ali que ela estava ao invés do casamento de sua própria sobrinha?
Todas as gavetas da cômoda estavam abertas com papéis jogados para todos os lados. Piorou quando notou que ajudando a procurar algo debaixo do colchão, estava o tio Adam. Antes de se anunciar, Louis ligou a câmera tremendo de nervoso e filmou pela fresta o flagra, enviando para Mark a seguir.
Aqui se faz, aqui se paga, pensou enquanto o vídeo era feito.
- Anda logo, Johanna!
- Você disse que queria me ajudar a achar o testamento, mas está só me deixando nervosa.
- O velho é arcaico demais pra guardar em um lugar seguro, tem que estar aqui em algum lugar.
- Tem uma cópia no cartório?
- Eu não sei em qual cartório e se temos permissão, mas é agora ou nunca. Franklin vive vegetando aqui dentro, não teremos outra chance.
Era uma espécie de caça ao tesouro, Louis estava fervendo em raiva.
Feito o vídeo e enviado, agora com Johanna sentada na cama lendo alguns papéis que puxou da gaveta e o tio Adam vasculhando o guarda roupa, Louis abriu a porta de supetão para assustar os dois e gargalhou sátiro do grito que a mãe deu e o palavrão frouxo de susto do tio.
- Te peguei, mamãezinha!
- Louis!
- Porra.
- Que merda vocês estão fazendo? - Ele tinha tanta adrenalina nas veias que o fazia sorrir mesmo que aquilo não fosse nada engraçado.
- Não é da sua conta! - Adam ralhou - Johanna, tire o seu filho asqueroso daqui e faça ele ficar de bico fechado.
- Ontem também não era da sua conta e você não só se meteu como fez uma cena - Louis disse baixo fingindo estar tranquilo, caminhando cinicamente até os papéis para ver o que era. São só documentos velhos de Franklin e Olivia - Vocês dois são nojentos mesmo, tisc, tisc, tisc - balançou a cabeça negativamente lendo uma nota fiscal antiga que não servia de nada - Você, Adam, puxou ao Franklin. Patético e hipócrita igual ao seu pai.
- Sai fora daqui!
- Eu vou, eu vou - ergueu as mãos e saiu de costas sorrindo - mas vou porque minha filha está no outro quarto e ela já se assustou demais com a bagunça de ontem. Tivemos drama o suficiente, o restante de nossos assuntos - apontou para a bagunça que fizeram na invasão - vamos resolver com a lei e os nossos advogados.
Ele sai, batendo a porta.
Soltou o ar que nem tinha percebido prender e se apoiou inclinado nas coxas para não gritar de raiva. Tinha vontade de chorar porque, embora tenha fingido frieza, estava se sentindo péssimo e traído com o que acabou de ver. Se achava ter tido o coração partido por eles na noite anterior, agora parecia ter sido pisoteado. Adam e Johanna falavam tanto sobre valores e família, mas aquilo ali era claramente os dois apunhalando a todos pelas costas.
Louis voltou para o quarto e quando encontrou Elis desenhando serenamente e inocente, foi até ela e a puxou em seus braços. A criança arfou e retribuiu o abraço como se entendesse que o pai precisava do seu afago mais do que tudo no mundo. Ela é o seu anjinho, Louis sentia o coração quase sendo colado cuidadosamente de novo.
Ele segurou o choro para não assustar a filha, mas o coração estava acelerado, quase batendo na boca. Respirou fundo repetidas vezes como Laura o ensinou até se acalmar, até que a sensação de sufoco aliviasse.
Demorou tanto para se recompor que sua dorminhoca já estava praticamente babando em seu terno. Louis deixou ela confortável em cima do seu peito e passou um tempo ao seu lado, desatando o nó na garganta, até pegar no sono também.
🌾🚜
Durante a manhã, descobriu que Harry já tinha buscado os pertences dele na fazenda quando estavam todos na festa. Enviou uma mensagem dizendo estar com as suas coisas prontas para ir embora também e que antes de partir gostaria de encontrá-lo para conversar sobre a situação deles.
Harry respondeu para Louis encontrá-lo no hotel fazenda para conversar e levar Elis e Rose para ele ver, dizendo que lá também tinha atrações de fazenda para elas conhecerem enquanto os dois resolviam as coisas.
Rose não quis porque queria passar um tempo com o namorado dela, já que Louis não permitiu que a filha ficasse para o fim do verão depois de todo o caos que ocorreu. Elisabeth também negou por quase o mesmo motivo, porque queria brincar com os priminhos no lago antes de ir embora. Elas estavam tristes por ter que voltar para a cidade, Louis tinha que deixar as filhas aproveitando o resto do tempo que haviam.
- Onde vai? - perguntou para Zayn quando o viu todo arrumado saindo ao mesmo tempo que ele.
- Encontrar Liam.
- Encontrar, tipo... - uniu e esfregou os indicadores numa insinuação de caso - um encontro?
- Eu não estou vivendo uma história de romance como você, se é isso o que quer saber. Liam e eu somos amigos.
- Curioso.
- Só vamos até o Celeiro Ritz e ver no que dá porque eu vou embora com você hoje, não é nada demais.
- Então tá - Louis deu de ombros rindo e girou o molho de chaves nas mãos - quer carona?
- Tá indo falar com ele?
Zayn sabe que Harry estava no terreno ao lado, no Hotel Fazenda. Não precisava se explicar muito.
- Definitivamente.
- Parece importante.
Eles foram juntos e Louis aproveitou para desabafar sobre o que viu sua mãe fazendo na noite anterior. Sabia que Mark já estava informado e provavelmente toda a família, porque escutou gritos de discussão de manhã, mas pegou suas filhas e foram caminhar na fazenda porque ele não queria que elas tivessem que passar por um tumulto novamente. Deu graças a Deus que Phoebe já tinha saído para a lua de mel, porque ela não merecia ter um dia desses logo depois do seu casamento.
Zayn não fica surpreso porque já sentiu na pele as implicâncias de Johanna e via nisso um sinal de tendência para caráter ruim.
- Mas você e Harry, como ficam?
- Vou pedir ele em casamento.
- Mesmo? - Zayn sorriu surpreso pela firmeza da decisão - Cara, estou orgulhoso de você.
- Eu também.
- O que acha que ele vai pensar disso?
- Bem, eu espero que Harry diga sim, por isso estou fazendo o pedido - Respondeu antes de entrar no terreno do Celeiro Ritz para deixar Zayn em seu destino, que riu junto dele - tenho esperanças de que sim, ao menos.
- Não tem pra quê dizer não se ele te ama.
- É, mas o amor não é tudo. Nós dois já estivemos em uma posição de priorizar outras coisas em nossas vidas ao invés do nosso amor, mesmo que fosse um amor genuinamente verdadeiro.
Louis ainda permanece no estacionamento finalizando a conversa com Zayn, quando viu a Gertrudes sendo coincidentemente estacionada ao seu lado.
Harry desceu da caminhonete e se aproximou deles. Barba por fazer, óculos escuros e boné ao invés do chapéu de cowboy de costume. Estava lindo, mas parecia cansado. Zayn abaixou o vidro do passageiro, dando ao outro a chance de se apoiar na janela para cumprimentar os dois dentro do carro. Louis se inclinou um pouco no volante e o olhou em expectativa.
- Bom dia, pessoal.
- Dia - Zayn cumprimentou.
- Bom dia, querido - ele não liga do compadre ouvir o apelido carinhoso agora, mas Harry sorriu sem jeito e virou o rosto, disfarçando a timidez ao olhar na direção do bar - O que faz aqui?
- Tava pensando em uma cerveja enquanto te esperava chegar.
- Parece bom.
Ele resgata o seu olhar, enviando toda a paixão boba através dele e do sorriso meigo. Harry combina com a manhã, Louis pensa, admirando a luz do sol brilhar na pele dele.
- Vocês podem almoçar com a gente e depois conversarem - Zayn convidou, tentando sair logo do meio desse campo de tensão sexual matinal - só vamos pegar a estrada por volta das quatro da tarde mesmo, não é Lou?
- Você quer, Harry?
- Acho que... - apontou para a caminhonete - talvez depois.
Louis olhou para Gertrudes também, como se ela fosse um simbolismo entre eles para insinuar ter uma conversa sobre a relação. Meio que era sim, porque ela já foi campo de muito dos seus momentos a sós.
- Vá curtir seu encontro, irmão. Diga ao Liam que não vou esquecer de me despedir dele antes de ir, peça para ele ficar por perto para nos ver partir, por favor.
- Vocês dois não vem ao Celeiro?
- Talvez depois, acho que Harry e eu precisamos conversar primeiro a sós.
Os dois compadres saíram do carro, seguindo seus caminhos. Louis sofre de novo com a porta da caminhonete emperrada até Harry ajudar a entrar e ocupar o banco passageiro.
- Quer ficar aqui no estacionamento? Podemos conversar e depois você pede sua cerveja.
- Pode ser. Se importa se eu fumar?
- Não, fica à vontade - ele desligou o celular enquanto Harry acendia a palheiro - O que anda pensando?
- Ontem eu estava muito nervoso, mas hoje de cabeça fria - Harry tragou o tabaco virando para o outro lado pra soprar a fumaça fora do carro - conversei com minha mãe.
- Ela me disse que te deu um conselho, só não quis me dizer o que era.
- Sim, um conselho radical, mas não é o que pretendo fazer exatamente.
- Você pode me dizer? - perguntou sem pressão - Se não quiser, tudo bem, eu entendo.
- Pra você eu posso falar tudo sempre, acho que minha mãe só não te disse porque sabia que isso era o tipo de coisa que você e eu temos que conversar primeiro e juntos.
- Como um casal.
- Como um casal - Harry afirmou, sério, mas ainda assim tirando um sorriso de Louis - Anne tem umas ideias malucas, mas não penso o mesmo, apesar disso, me fez pensar que passei tanto tempo preso nessa fazenda que nem conheci o mundo direito. Preciso me encontrar agora que não sou mais bem vindo no único lugar que eu achava que pertencia, entende?
- Acho que sim.
- Vou começar morando com minha mãe em Nova Iorque e pedir para ela um emprego na gravadora, pode ser até na faxina, não tenho medo de serviço, mas seja o que for eu só quero recomeçar e depois vou ajeitando a minha vida.
- Em Nova Iorque - Louis ficou instantaneamente triste, Harry odeia vê-lo assim, então joga a bituca fora e puxa seu ombro para abraçá-lo de lado como era possível no carro - mas eu moro em Nova Orleans.
- Eu sei, me desculpe, você vai ficar chateado comigo?
- Não, é claro que não - Louis afastou a cabeça para olhar nos olhos de Harry.
Ele entendeu. Não podiam cometer o mesmo erro de novo, de exigir a presença um do outro sem considerar outros fatores. Não dava para ficar bravo porque seria egoísta diante das circunstâncias, eles já aprenderam essa lição da forma mais dura antes. Já estiveram nesse mesmo lugar, agora com a segunda oportunidade de fazer diferente e melhor.
- Eu não queria ir para longe de você, mas também não posso te pedir para deixar tudo e me seguir, você tem duas crianças lindas para cuidar e uma mudança assim poderia ser difícil pra elas. Me lembro quando minha mãe se mudou da Inglaterra para Nova Iorque, depois para a fazenda, depois para Nova Iorque de novo e isso me deixava machucado, deixando a cada parada um pedaço do meu coração - Harry disse calmo, acariciando o braço de Louis e sentindo a respiração dele em seu pescoço - eu não quero que Rose e Elis tenham que passar por essa bagunça também.
- Mas eu posso te pedir para vir comigo, não posso? - tinha um fio de esperança e tristeza na voz dele que deixava Harry sensível, com um nó na garganta, mas ele ainda não era capaz de chorar - Você pode vir morar com a gente em Nova Orleans.
- Amor, não, eu só sei plantar, não sei trabalhar na cidade e com a economia em crise de Louisiana dificilmente vai ter emprego para alguém sem experiência como eu. Em Nova Iorque a minha própria mãe pode me empregar, o que é uma certeza. Eu não posso ir para a sua casa e ficar dependendo de você até me ajeitar.
- Eu não ligo de te ajudar o tempo que for necessário.
- Mas eu ligo.
- Isso é só questão de orgulho.
- Que eu tenho bastante - tentou não soar ríspido, mas Louis revirou os olhos e ele respirou fundo - Olha, Lou, obrigado por tentar me ajudar - Harry segurou seu rosto entre as mãos e deu um selinho - mas nós dois sabemos que esse é o melhor para mim, mesmo que seja difícil.
- Não precisa ser difícil.
- Louis.
- Você pode ir para Nova Iorque e ainda assim...
Louis se afastou e procurou algo à sua volta, encontrando material de pesca no porta luvas, como a linha e um alicate que seriam úteis. Harry perguntou o que pretendia fazer e ainda não obteve respostas, assistindo sem entender o outro usar o alicatinho para cortar dois pedaços de fio.
- Eu vim aqui hoje para te fazer um pedido e não desisti de fazer, sabe porquê? - Harry negou, prestando atenção - Porque do mesmo jeito que você sabe o que precisa para o seu bem, eu sei o que é bom para mim e nós dois sabemos que somos bons um para o outro.
- Nós somos - ele sorriu.
- Harry, eu amei a Laura de verdade. Ela foi minha esposa e mãe das minhas filhas, não foi um casamento lamentável, mas também foi o casamento fruto de um amor diferente, um amor lindo e importante, nem melhor e nem pior, só diferente. Mas o que eu sinto por você agora, é a mesma paixão avassaladora que senti na adolescência e não tem nada a ver com nostalgia, tem a ver com a pessoa que você é, com a sua existência que combina com a minha, e a sua capacidade de sempre me causar sentimentos tão intensos, isso aqui - Louis coloca a mão no peito de Harry - vai muito além do tempo e distância, porque você é o amor da minha, sempre foi, sempre será.
- O que você quer dizer?
- Que desde sempre... não quero que pense ser um ato de desespero pra não te perder agora, porque desde quando éramos jovens eu sonho que se case comigo.
- Louis.
- Você vai estar longe, mas não importa, porque já estivemos longe e separados por tantas coisas, mesmo assim estamos juntos aqui de novo. Se nós já resistimos ao tempo, resistiremos também à distância. Quer casar comigo?
Ele termina de fazer o pedido amarrando o fio no próprio dedo enquanto espera que Harry dê uma resposta que demora a vir. O outro está um pouco pasmo, tendo sido pego de surpresa, mas pensativo no que responder. Louis sentou de forma que pudesse ficar mais próximo e olhando em seus olhos.
- Você não está sendo pressionado a me dizer sim, eu só quero me casar com você porque te amo e quero você do meu lado, já cansei de perder tempo com você longe.
- Mas estaremos longe de qualquer jeito, eu ainda vou para Nova Iorque.
- Eu sei - Louis respirou fundo - não tô te fazendo um pedido para te impedir de ir, você pode ir e ainda assim ser meu noivo.
- Seria um relacionamento a distância, de qualquer forma.
- Só uma distância física, porque nós dois ainda saberemos que estamos juntos e comprometidos a passar por esse momento difícil até podermos estar juntos de novo como merecemos.
Harry ainda pensa um pouco, encarando o fio de pesca na mão de um Louis paciente.
- Você acha que vai dar certo?
- Podemos tentar fazer dar certo, eu tô pedindo a sua ajuda pra isso. Não posso mais continuar vivendo sem tentar ficar com você.
- Você não acha que estamos sendo precipitados?
- De jeito nenhum - Louis estendeu a mão para Harry dar a sua e abrir espaço entre os dedos para amarrar o fio em volta dele - precipitado seria se você não soubesse o que quer e o que sente, mas eu não sou você e ainda assim consigo sentir no meu coração que você tem a resposta para essas duas coisas.
Harry deixou o nó ser feito e de repente tinha uma aliança improvisada com fio de pesca em seu dedo. Louis o olhou em expectativa e ele não conseguiu segurar a risada curta, mas apaixonada.
- Tá, prometo que quando eu começar a trabalhar em Nova Iorque, vou comprar alianças de verdade.
- Isso é um sim?
- Você é muito chato.
Harry o beijou com fervor e vontade, sentindo Louis rir um pouco do apelido e também de felicidade.
🌾🚜
Mais tarde, Louis estava guardando as malas no carro com a ajuda de Zayn quando seu pai apareceu lhe procurando.
- Filho, já está indo embora?
- Vou pegar a estrada enquanto é dia, não gosto de dirigir a noite.
- Posso falar com você no escritório?
Os dois seguiram até lá com Louis tomando a frente. Quando chegaram, ele se sentou, mas Mark ficou em pé organizando papéis na mesa como se a conversa fosse a respeito deles.
- Vou ficar aqui na fazenda por alguns dias.
- Você?
- Harry foi embora, todos estão indo, então preciso ficar para pelo menos contratar uma enfermeira para Franklin e resolver alguns assuntos importantes antes de voltar à cidade.
Ainda bem, Louis pensou. Antes de se despedir mais cedo, Harry o pediu para garantir que Franklin teria pelo menos uma enfermeira para ficar de olho e mesmo contra esse instinto que seu noivo tem, de se preocupar com a segurança de quem nem lhe quer bem, prometeu verificar. Pelo jeito, Mark havia dado um passo à frente, poupando Louis de ter que lidar com as necessidades de Franklin.
- Que assuntos?
- Era sobre isso que eu queria conversar com você - seu pai disse sério, coçando a barba concentrado enquanto passava os olhos pelos papéis na mesa - Sabe o que a sua mãe estava procurando ontem quando você flagrou ela, não sabe?
- O testamento do vovô.
- Ela e Adam não sabiam, mas iam quebrar a cara de qualquer forma porque não existe testamento do vovô.
- Como assim?
- O patriarcado de Franklin nos fez pensar que ele era o dono disso tudo desde que minha mãe Olívia morreu, mas essas terras sempre pertenceram a ela. Quando a mamãe faleceu ela já tinha redigido e registrado o documento empossando a fazenda e outros bens de família da maneira como ela gostaria que fosse. Não existe testamento do meu pai, porque ele não tinha nada demais se comparado ao que Olívia reservou para todos.
- O quê você está dizendo...
- Que esse tempo todo nós baixamos a cabeça para Franklin e acreditávamos que Olivia 's Farm pertencia a ele, mas não - repetiu - Se Anne não tivesse me contado, eu também não saberia.
- E por que só ela sabia disso?
- Porque quem herdou a maior parte foi o filho mais velho, meu irmão Robert, marido de Anne e padrasto de Harry.
- Não sei se entendi.
- O testamento que existe agora é de Robert e a fazenda foi herdada por Anne quando ele também se foi.
Louis estava juntando as peças daquele quebra-cabeça, custando a acreditar.
- Mas por que ela nunca disse nada?
- Anne nunca teve interesse na vida da fazenda, ela fez a própria fortuna com a gravadora muito antes de conhecer meu irmão, mas Robert e ela sabiam que o Harry amava Olivia 's Farm, então, ele estava apenas sendo o guardião deste lugar sem despertar muito alarde.
- Harry nunca me disse isso.
- Ele nunca disse porque também não sabe, só Anne, Robert, Franklin e os advogados de Olivia é que sabem. Agora também nós dois.
- Isso é loucura.
- Minha mãe não nos deixou desamparados, ela tinha outros pedaços de terras na região e deu um pedaço para cada filho além de uma boa quantia, jóias, comércio na cidade grande e poupança para cada um dos netos cursar suas respectivas faculdades. Disso todos sabíamos e estamos usufruindo desde que ela ainda era viva, só achávamos que a fazenda era toda de Franklin, mas era de Robert e ele provavelmente não disse nada porque queria evitar rixas de ciúme ou atitudes egoístas que não respeitassem os desejos de minha mãe, como Adam fez ontem.
- O senhor não se importa?
- Se tenho inveja, você está perguntando? É claro que senti ciúmes porque minha amada mãe entregou o maior patrimônio dela para um único filho que no caso nem era eu, mas se era isso o que ela queria, o que eu poderia fazer?
- Por que eu sinto que tem mais?
- Porque tem.
- Diga logo de uma vez, por favor.
Mark sentou na beira da mesa, perto do filho, sorrindo astuto como se tivesse em mãos a resposta para todos os problemas. E talvez tivesse.
- No documento diz que as terras pertencem ao Robert, mas os lucros de algodão deverão ser divididos entre a família até a terceira geração, sendo... - ele ajeita os óculos de leitura e pega uma cópia do documento que Anne lhe enviou por e-mail - 5% para seu esposo, Franklin Tomlinson além das máquinas agrícolas e os animais de grande porte criados nela. 1% para cada um dos 11 netos, incluindo Harry Styles, seu neto de criação. 2% para cada um dos filhos, exceto o mais velho, Robert, que detém 50% dos lucros desse patrimônio.
Louis era administrador, bom de contas, ele automaticamente reparou que faltava mais um tanto. Além disso, são doze netos se for contar com Harry, e não onze como ele leu no papel. Pelo sorriso animado de Mark, essa era justamente a questão:
- E 20% para seu neto mais velho e o mais querido - ele leu, quebrando o suspense - Louis William Tomlinson, que tem o nome do meio como o nome do seu bisavô e fundador dessa fazenda.
- O que, eu?! - bateu no peito, elevando a voz - Tem certeza do que está falando?
- Absoluta e vamos lá, pensa comigo, se Anne Tomlinson apoia vocês dois e herdou toda a propriedade, além de 50% dos lucros do falecido Robert, mas não se importa em tomar posse e prefere dar ao filho. E se você também obtém 20% dos lucros dessa fazenda, então possuem mais direitos do que Franklin.
Mark parou de falar e ficou encarando o filho, esperando sua reação.
- O que significa que ele... meu Deus - Louis estava pasmo, segurando firme nos braços da cadeira, de queixo caído.
De repente o escritório parecia até menor e se ele exagerar poderia dizer até que sente seu cérebro derreter dentro da cabeça.
- Significa que Franklin não pode expulsar Harry, porque Harry será legalmente o dono dessa fazenda.
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