20
Harry queria um nome como Bartolomeu para o cordeiro, mas não era dele, não havia discussão, por isso o filhote foi nomeado como Heaven por sua tutora. Depois de ter dado instruções a Roselin de como dar banho, agora ele segurava o filhote para ela amamentar com a mamadeira.
Ela estava quieta demais para quem acabou de receber um sermão sobre gravidez, aliás, quando fez o pedido, antes de ir para o escritório conversar com Louis, para Harry a encontrar ali depois, ele chegou a pensar que Rose iria desistir de aprender a cuidar do filhote porque não estaria no clima, provavelmente seria uma conversa difícil com o pai, mas foi rápida e lá estava ela, que apesar de ansiosa, não parecia transtornada como Harry imaginava que estaria.
Ele não quer questionar, no entanto. Não quer parecer intrometido num assunto tão delicado e pessoal. Ele só vai falar a respeito se ela der o ponto de partida para a conversa.
– Eu estava pensando em fazer um abrigo especial para ele no celeiro – Rose disse – O senhor deixa?
– É claro que eu deixo, posso fazer pra você, só vou precisar de uma assistência, mas carpintaria pra mim é diversão – ele sorriu, mas ela não sorriu de volta – acho que é o suficiente, vamos deixar Heaven no celeiro agora.
– Harry – ela segurou o braço dele, antes que se levantasse para saírem.
– Oi.
– Tenho certeza que sabe do que se tratava a conversa com o meu pai no escritório, porque estava tenso quando me chamou e está tenso agora – ele não confirmou em palavras, mas comprimiu os lábios, um sinal de que sabia sim – o meu pai disse que encontrou o teste nas minhas coisas, e eu quero acreditar que foi isso mesmo, não que contou pra ele que me viu comprando na farmácia porque eu confio em você e não seria legal saber que foi dedo duro.
– Roselin – Harry se levanta com o cordeiro no colo e instintivamente assume sua posição – eu não sabia que você tinha comprado o teste, foi o seu pai que me contou, mas se eu soubesse o que era, você gostando ou não, eu contaria para ele porque sou seu primo mais velho e me preocupo de verdade – o semblante magoado dela era em discordância, então ele explica melhor: – seu pai te ama e é alguém que se preocupa verdadeiramente com você.
– Você não podia ter tanta certeza.
– Posso e tenho. Conhecendo ele como conheço, posso dizer que é a pessoa com quem você mais poderá contar em toda a sua vida e nesse momento, seja o que for que ele tenha te dito, tenha certeza que ele estará ao seu lado. Se eu soubesse antes dele, pode ter certeza, eu teria feito o que é melhor pra você, assim como ele tenta fazer.
– Eu não estou grávida – ela rebate.
– Eu vi o teste com ele.
– Mas não é meu, vocês dois são muito enxeridos.
– Opa, cuidado como fala – advertiu, bravo – eu trato você com educação e não admito que me trate diferente, ainda sou seu tutor por uma parte do ano, então peço respeito, por favor.
– Desculpa.
– Tudo bem, já estamos cansados e está tarde. Por favor, vá para dentro se limpar para o jantar, seu pai deve estar nos esperando.
Rose se levanta do toco onde estava sentada e segue para dentro como instruído, sem dizer mais nada. Harry fecha os olhos e respira fundo, torcendo para que ela compreenda sobre zelo um dia, e que não fique tão magoada.
🌾🚜
Harry tinha ido se deitar para descansar do longo dia depois do jantar, mas ouviu gritos e uma confusão fora do quarto, por isso, vestiu o chapéu e as botas novamente e saiu para verificar o que estava acontecendo.
Era Lana, sua prima, brigando com Jacob na porta do banheiro.
– Eu cheguei primeiro!
– Você é tão rude!
– Ei, o que tá acontecendo aqui? – Harry interveio quando ela bateu a pequena necessaire que segurava junto da toalha na cabeça de Jacob – de novo brigando por causa do banheiro?
– Todo dia esse idiota espera minha vez de tomar banho só pra correr na minha frente e me irritar!
– Mas como você é chata, Lana, acha que o mundo gira em torno dessa sua cabeçona de melancia.
– Harry, olha o que ele tá falando! – ela grita indignada e volta a bater com a necessaire nele, mas Jacob apenas defende o rosto dando gargalhadas dela.
– Parem, já chega! – Harry puxou Jacob para trás – fiquem quietos, o vovô tá dormindo.
– Sério, você precisa construir outros três banheiros nessa casa antes que todos se matem – Dayse disse saindo do banheiro com uma toalha na cabeça e o vapor pela porta – Mais cedo era a tia Jeane brigando com as crianças porque queria usar e agora são esses dois.
Jacob aproveitou a distração de Lana e correu para dentro, trancando a porta rapidamente assim que Dayse saiu. Lana grunhiu e depois gritou "bastardo!" enquanto socava a porta.
Já estava se tornando parte da rotina, esses dois disputando a vez, agindo pior do que as crianças. Antes Harry achava graça, mas agora estava começando a ficar irritante.
– Se você acordar o Franklin eu te coloco pra dormir no galinheiro – advertiu para Lana, que interrompeu o soco que daria na porta – desse jeito que vocês dois agem juntos sempre, vão acabar se casando um dia.
– Eu odeio ele.
– A gente sabe que não odeia e mesmo se odiasse, o ódio tá bem próximo ao amor em questão de intensidade – Dayse provocou uma careta da outra.
– Credo, ele é meu primo, seria estranho pra caramba.
– Não é estranho – Harry defendeu.
– Tem razão, é pior, é um pecado, e também eu sou louca, mas não a ponto de casar com um idiota desses.
Lana passa por eles voltando ao quarto e Dayse olha para Harry com pesar. É inevitável pensar no que sua prima disse como algo pessoal, sobre sua própria situação. "É pecado" Harry fica estático por um tempo, com a cabeça longe, se martirizando. Ele nunca foi um cara tão religioso assim a ponto de se importar, sua mãe também não, mas seu avô obviamente era e o restante dos Tomlinson cada um acreditava numa coisa à sua medida. O que será que pensariam sobre Louis e ele, se soubessem a verdade?
– Ei, tá tudo bem? – Dayse precisou estalar os dedos para trazê-lo de volta.
– Sim – mentiu – vou fumar lá fora, boa noite, Dada.
– Boa noite – ela nem contestou o apelido que odeia, focada em observar a reação estranha de Harry.
Na varanda, ele encontrou Zayn e Louis conversando e bebendo suco de laranja, deitados na rede. Harry escolheu se escorar contra o parapeito para acender seu palheiro. É possível sentir o peso do olhar de Louis em seus ombros, algo que o aquece, mas não diz nada ainda porque Zayn estava falando e ele não queria interromper.
Eles conversam baixo e assim também dá para ouvir o som relaxante da natureza. Estar ali ouvindo o coaxar dos sapos, os grilos cantando, e o farfalhar suave no campo de plantação, era paz para o coração e mente dele. Quando era mais jovem até queria ter ido embora para estudar como seus primos, que tomaram cada qual o seu rumo, mas hoje em dia Harry não gostaria de sair dali, onde criou raízes nesse solo fértil como os pés de algodão. Ele não trocaria esse pedacinho do céu e suas nuvens particulares em meio a plantação pelo caos urbano, a poluição sonora e visual e a falta de vida na pressa social.
Imaginar viver fora de Olivia' s Farm era difícil.
– Se fosse Rose a estar grávida eu ia querer saber – Louis dizia para Zayn na conversa paralela deles – Por isso fico com peso na consciência.
– O quê? – Harry se meteu, cochichando como eles – Mais cedo eu encontrei Rose, ela estava chateada comigo e por isso dispensei ela, não entramos no assunto, mas eu queria saber…
– Não é ela que está grávida.
– É Claire – Zayn explicou o que acabou de saber através de Louis.
– Puta merda. Ela fez dezesseis anos na semana passada. Phill vai ficar furioso.
– É melhor não contar para ele por enquanto – Zayn aconselha – eu sei que estão se colocando no lugar dele como pai, mas não é a mesma coisa. Se ele for como você me disse mesmo, Louis, não vai aceitar bem a situação e nem lidar da forma que você costuma lidar com delicadezas e suas filhas. É melhor esperar e deixar que a menina decida o que fazer.
– Eu não ia dizer nada mesmo. Prometi para Rose que guardaria segredo, mas mais do que isso, concordo com o que disse. Phill é um troglodita e já percebo que Claire está apavorada.
No seu canto, Harry traga, pensativo. Louis continuou olhando em sua direção com atenção.
– Vou indo agora – Zayn se levantou aparentando cansaço – não se esqueçam que os dois são padrinhos da noiva e amanhã é o grande dia.
Harry acenou em concordância, dando boa noite e Louis ganhou um abraço do compadre antes dele entrar no casarão.
– Oi – Louis o chamou, docemente – que carinha é essa?
– O quê? – Harry apagou e jogou a bituca no cinzeiro – Que carinha?
– Você tá fazendo aquela cara de chateado – Louis o imitou – Fica fofo, mas me deixa intrigado, preocupado, você tá bem?
– Só estou cansado, foi um longo dia.
– Verdade, vem cá – deu espaço na rede – deita aqui comigo.
– Você acha que podemos?
– Está amarrado firme, vai nos suportar tranquilamente.
– Não, eu quis dizer – Harry olhou a sua volta, a casa estava silenciosa e as luzes lá de dentro quase todas apagadas. Todos foram dormir cedo porque o casamento seria no dia seguinte – hum, deixa pra lá, não importa agora – Tirou o chapéu e deitou na rede, se aconchegando ao lado de Louis que sorria derretido.
– No que tanto pensa? Está tão quieto.
– Preciso construir pelo menos dois banheiros novos aqui.
– Tinha briga na porta de novo?
– Dessa vez era Lana e Jacob.
– Esses dois vivem brigando desde crianças, parecem gato e rato.
– O Jacob é o rato?
– Com certeza – Louis riu – fiquei sabendo que o cordeiro se chama Heaven.
– Rose que escolheu.
– Eu sei, se dependesse de você o bichinho teria um nome de velho – "ei!" Harry protestou – Tô brincando, mas é verdade.
Louis riu e o beijou, sendo retribuído, com Harry segurando seu rosto, sereno. Eles passam um tempo trocando beijos castos, trocando carinho, enquanto a rede balança suavemente para frente e para trás.
– Amanhã é o casamento – "Uhum" Louis concordou de olhos fechados e sorrindo enquanto ainda beijava o rosto do outro – E você vai embora depois.
– Só daqui a quatro dias – Harry se ajeita melhor ao seu lado e essa inquietação não passa despercebida: – quer conversar sobre o que te aflige?
– Tô pensando no que fazer. Se devo construir um banheiro ou dois e se Franklin não vai ficar muito bravo comigo por mexer na casa dele. Você acha que nosso orçamento está ruim demais pra isso, nas contas que tá fazendo com o Zayn da papelada da fazenda?
– Não é tão ruim a ponto de não poder construir uma peça a mais no casarão. Depois do casamento Zayn e eu vamos ter uma reunião com você para explicar algumas coisas e tenho certeza que você vai se sair bem para resolver todas elas, mas de qualquer forma, eu vou ajudar.
– Obrigado.
– Harry.
– Sim?
– Fala comigo – Louis tirou o cabelo dele do olho, aproveitando para acariciar seu rosto. Harry respirou fundo e fechou os olhos.
– Eu tô falando.
– Fala de verdade, fala o que está sentindo agora – Harry não respondeu ainda, então Louis incentiva: – Por que você tá parecendo cabisbaixo?
– Não se preocupe, chato. Só foi um dia longo, a gente se assustou com Rose, depois com Claire. Além disso, amanhã tem o casamento onde seremos padrinhos e tem muito estresse dos preparativos, eu devo estar cansado, é só isso – Harry disse lento, como se estivesse melhor do que demonstrava, mas o olhar firme e insistente de Louis lhe arranca a verdade: – Lana disse uma coisa que me chateou.
– O que ela disse?
Harry bufou com o antebraço sobre os olhos.
– Relacionamento de primos é pecado.
– Como foi que ela chegou neste tópico?
– Provoquei uma piada sobre o relacionamento dela com Jacob.
– Não sabia que você era tão religioso assim, estou surpreso.
– Eu não sou, só que… depois que ela se defendeu falando sobre pecado, eu fiquei pensando em como todos vão reagir quando for contar sobre nós dois.
– Agora sim, estou realmente surpreso.
– Por que? – Harry tirou o braço do rosto e o olhou nos olhos.
– Você pensa em contar sobre nós dois.
– Uma hora ou outra teremos que contar. Nossa família é enxerida, não dá pra esconder deles pra sempre.
– Para sempre – Louis repetiu sorrindo – Uau, eu fico feliz que pense em mim a longo prazo – entrelaçou suas mãos – quer dizer, eu sempre soube que você é do tipo de homem sério, sem joguinhos e sem lance, mas é muito bom ser parte dos seus planos.
– Eu queria conversar com você sobre isso depois do casamento, podemos?
– Com certeza, mas pode me adiantar o assunto?
– Nós dois, o nosso futuro, o que sentimos.
– É importante, então – Louis o beijou suavemente – vou ficar ansioso pra te dizer como me sinto.
– Pode me adiantar também? – pediu sussurrando, colocando as mãos por dentro da camisa de Louis e sentindo o afago dos lábios dele passeando pelo seu pescoço, com a barba arranhando e o hálito quente.
Louis o beijou de novo, mais forte, quase debruçado sobre Harry na rede, aceitando o toque dele como incentivo para continuar.
– Chato – Harry pede entre os beijos – me dá uma prévia, por favor, eu também mereço.
– Mas não está óbvio? – "Hum?" – Que eu tô doido por você, me apaixonando de novo, muito mais até do que…
– Que porra é essa?
Harry fechou os olhos com força e travou, mas Louis deu um salto para fora da rede com os olhos arregalados e o cabelo bagunçado.
Pasmos e escandalizados, estavam na porta Johanna e tia Jeane com uma garrafa térmica que caiu da mão dela direto para o chão, e tio Adam ao lado de Phill, com o olhar mais difícil que Louis e Harry já receberam em toda vida.
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