two. home
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Com cabelos trançados em sua cabeça tomando a forma de uma coroa digna de uma rainha, Nestha Archeron parecia ainda mais mordaz do que era quando humana. E isso não se tratava apenas de sua beleza, era muito além. Então a observando com cuidado durante o banquete posto em uma longa mesa de mármore, enfeitada por pequenas jóias que distribuíam suas cores vibrantes pelo salão inteiro conforme as luzes solares lhes atingiam. O espetáculo cuidadosamente pensado era digno de apelidos e aqueles olhares dominados por um fascínio genuíno vindos da mulher agora feérica, Elain Archeron.
É a primeira refeição que compartilhava com as irmãs Archeron desde toda a batalha que ocorrera em Hybern e a tensão silenciosa dançava pela mesa, sendo fortemente ignorada por Helion que se perdia aos poucos ao ingerir enormes quantidades de vinho, apenas buscando pelo motivo ideal para se refugiar nos lençóis macios de sua cama, após deixar Demetria lidando com as recém-feéricas.
Encolhendo os ombros e tendo uma feição distraída no rosto, Elain espetou um pedaço de carne, analisando-o por um breve momento, antes de descartá-lo no prato junto ao talher. Nestha olhou para a irmã, parecendo silenciosamente lhe repreender pela atitude. Não escapara nos olhos de Demetria que a Archeron cujos cabelos são castanhos apresentava uma imagem perigosamente magra, como se não tivesse ingerido alguma comida desde que pisara na Corte Diurna. Algo na sua figura a fez lembrar de si mesma e isso fez com que distanciasse as mãos do próprio prato, enrolando os dedos em torno do tecido sedoso de seu vestido.
─ A Corte Noturna nos espera, então, iremos até ela quando o sol nascer.─ Diz, sem sequer hesitar quando ergueu o queixo, encarando a irmã mais velha.
Como esperava, ela a enfrentaria, um espírito indomável igual ao de Nestha não se manteria quieto.
─ Acredito que, em sua visão, sejamos uma bagagem, sem alguma opinião para expressar.─ Dispara, os ombros retos e a típica arrogância aristocrata rondando seu olhar.─ Por que não podemos ficar aqui? Devemos ir para Corte Noturna, por quê?
Demetria respirou ruidosamente, não havia sido proposital o tédio explícito em suas feições, porém, adormecer estava se tornando uma tarefa árdua, tanto por estar pensando na reação de seu parceiro, em como deveria estar sempre atenta, caso quisesse mantê-lo longe através do laço, quieto para que Rhys não pudesse saber seu paradeiro, apesar de suas preocupações estarem lhe atingindo ao ponto de deixá-la com os olhos abertos durante a noite toda.
Estar presa em uma cela trouxe algo que desejava esquecer, lhe fez lembrar dos cinquenta anos passados dentro de uma montanha fria e cruel. Sua magia ainda não tinha se acalmado por total, agitando-se em seu âmago, rastejando por debaixo de sua pele quase como se estivesse obedecendo um chamado de algo desconhecido, essa sensação também estava lhe deixando acordada e buscando por uma resposta por uma pergunta que sequer sabia qual era.
─ Corte Noturna é o melhor lugar para vocês, o bem-estar de ambas será a prioridade, algo que jamais acontecerá aqui.─ A Dama dos Pesadelos respirou, as pontas dos dedos encostando nos cabelos castanhos.─ Helion têm preocupações maiores em sua Corte para prestar atenção nas duas humanas que acabaram de se transformar.
─ O que difere esse Grão-Senhor do seu?─ Questiona, ainda com a mesma ferocidade que se tornou encantadora aos olhos de Cassian.─ Qual é a garantia desse bem-estar que tanto fala?
─ Eu não preciso me agarrar na palavras de machos para garantir o óbvio, Nestha Archeron.─ Demetria declara, erguendo a sobrancelha e os olhos tornando ainda mais prateado.─ Garanto seu bem-estar na Corte Noturna por ser capaz de fazê-lo, uma vez que sou sua Grã-Senhora e meu poder me permite ser capaz de inúmeras coisas, incluindo proteger suas irmãs.
─ Proteção já me foi prometida e veja onde viemos parar.─ Rebate com agressividade, os dedos indicando para suas orelhas arqueadas, o rosto imortal que não nascera com.
Aqueles olhos azuis-acinzentados tão parecidos e tão distantes de Feyre estão fixos em sua figura quando se ergue, silenciosamente pondo um fim no banquete, olhando rapidamente na direção de Helion que se levantou, parecendo aliviado ao ofereceu seu braço para a Dama dos Pesadelos.
─ No entanto, você ainda não esteve debaixo das minhas asas.─ Declara, já caminhando para longe. Nestha teceu uma feição ofendida, perdendo as palavras.─ Prepare-se e aguarde. Estaremos na Corte Noturna antes que a lua atinja seu pico, Archeron.
Então, as portas se fecharam em suas costas, bloqueando as Archeron de presenciar qualquer cena que ocorrerá. Caminhando pelos corredores, passos sincronizados e balançando levemente as cabeças para uma ou outra criada que vagavam por ali, buscando cumprir os desejos das belíssimas convidadas do Grão-Senhor, Helion observou o rosto inexpressivo de Demetria, a maneira que mantinha o rosto erguido e olhos solenes. Tornou-se um hábito não fitá-la por um longo tempo, isso se deveria ao fato de ter notado recentemente o quanto a Dama dos Pesadelos lhe lembrava Lionel, pois eles poderiam não irmãos de sangue mas compartilhavam semelhanças como aquela de guardar os próprios sentimentos para si, se revestindo com uma armadura invisível, protegendo não só a si, mas a todos. Ou, pelo menos, é isso que pensava.
─ Está silenciosa e, ─ O macho encara as paredes de sua mansão com um falso interesse.─ geralmente, isso significa perigo.
A fêmea pisca os olhos, encarando-o por um momento e a característica risada de sinos soa ao longo do corredor, trazendo uma lembrança distante de um verão no qual se interessou minimamente pelo sol durante um breve descanso. Helion pisca os olhos âmbar e Demetria continua a sorrir.
─ Não matarei ninguém, ─ O macho espreitou suas orbes, como se soubesse que havia mais.─ ainda.
─ E isso é algo que deveria ser a maior preocupação de todos desse continente.─ Helion sorriu para ela, sendo retribuído.
O sorriso da Dama ainda está ali quando retorna a fitar sua frente, mas diminuí de forma drástica, forçando o macho a cobrir aquela palma pequena agarrada em seu braço com a sua, oferecendo conforto para o coração da fêmea. Mais alguns passos após a breve troca de palavras, ambos param em frente aos aposentos daquela que nasceu na morte. Silêncio flutuando entre eles, esperando por uma única palavra que precisava ser dita.
Demetria ergueu o queixo, girando os calcanhares para fitar Helion com seus olhos brilhando levemente, cheios de apreensão e dúvida, sentimentos que mal se podiam enxergar na sua figura sempre exalando uma confiança natural.
─ Rhysand é meu destino e eu o dele, isso é óbvio, afinal somos parceiros.─ Dita, parecendo ter ensaiado suas palavras. Helion a estranhou por um instante, nunca viu Demetria soar tão insegura dos próprios pensamentos.─ Então, me diga o motivo pelo qual isso sempre acontece. Por que sou o motivo do sofrimento de Rhys?
Por um instante, não a respondeu, questionando-se mentalmente a razão pela qual estava sendo questionado tão profundamente sobre aquela situação e, então, percebeu que Demetria apenas desejava entender a progressão desses eventos e o quanto eles poderiam afetar sua vida, pois, quando se trata dos seus sentimentos em torno de Rhys é uma fêmea inexperiente que se permitia a tudo daquele relacionamento, porém não chegava a entendê-lo por completo, pelo menos não ao ponto de saber que não era sua culpa, mesmo perdendo tempo se convencendo do contrário.
Logo, o macho expressou um sorriso compadecido, tocando a cabeça da fêmea, um breve gesto de carinho.
─ Sinto informar, mas, nada que ocorrera é sua culpa.─ Diz, acariciando seus cabelos.─ São as circunstâncias que o destino preparou junto à Mãe e, por mais que não esteja acostumada, culpá-los jamais será pecado. Então, me escute.─ Ela o fitou, verde e âmbar trocando confissões que não diriam em voz alta.─ Amor é algo extremamente complicado, sentimentos ao todo são e nunca saberá lidar com eles. Olhe para mim, vivo para amar e nunca saberei como suportar toda vez que ele se vai. No entanto, são apenas amores, alguns mais intensos do que outros, mas ainda assim, amores. Eles vêm e vão. Dói como o inferno, mas me recupero.─ Demetria balançou a cabeça, aceitando cada mísera palavra.─ Rhysand é seu parceiro, estarão sempre ligados um ao outro, isso não é apenas amor, é muito mais e jamais poderá chegar a entender por completo. Há muitas palavras para isso, mas, o que quero deixar claro é que Rhys sempre estará lá para resgatá-la por conta desse amor que os une e você será capaz de incendiar o mundo para salvá-lo pela mesma razão. Não há culpados, apenas parceiros tentando salvar o pedaço mais importante de seu coração.
Ela não dissera nada e permitiu que o macho rodeasse seus braços em seu redor, abraçando-a. Lágrimas não caíam por seu rosto, porém, sentiu que estava chorando quando se enroscou no conforto de Helion, deixando que ele beijasse sua cabeça como faria por uma criança perdida e confusa. Em seu íntimo, pois jamais admitiria pelo simples medo de aumentar o ego do macjo, Demetria reafirmou que Helion é um amigo querido para si mesma e o coração estava aquecido quando surgiu os sussurros de Lionel em sua mente.
"Você nunca estará sozinha, meu bebê pesadelo"
Ainda estava escuro quando pôs os pés fora do palácio de Helion, trajando um vestido que parecia brilhar na luz da meia-noite e olhos sequer parecendo se obscurecer em meio a escuridão que lhe rodeava como um manto, Demetria teve sua atenção presa em Nestha que tinha a mão firmemente agarrada ao pulso de Elain, a jovem parecendo pronta para protegê-la. A Dama dos Pesadelos ignorou o jeito que a irmã mais velha parecia silenciosamente afirmar capaz de proteger alguém da feérica, algo no qual julgava impossível. Não há como proteger ninguém de Demetria, provara isso para todos que pertenciam às cortes mais de uma vez.
Palavras não foram trocadas no momento que estendera uma palma na direção das irmãs, elas trocaram olhares cheios de dúvida.
─ Eu disse que a ensinaria ser fatal.─ Começa, sustentando sua mão no ar.─ No entanto, precisa ter o mínimo de confiança em mim para eu consiga fazê-lo, não por mim, mas por você. Afinal, tem uma promessa que deve cumprir.
Nestha pareceu parar até mesmo de respirar, conforme considerava.
Ela não confiava em Demetria. A forma que a fêmea se parecia demais com as lembranças que tinha da própria mãe não lhe confortava nem um pouco, pois ela é o monstro polido pela matriarca Archeron e os Deuses estão cientes do quanto Asphodel Deirdre Archeron não fora gentil na criação de nenhuma das filhas. Havia sido fria e desigual com as mesmas até sua morte. Tratando Nestha como se sua primogênita fosse firme igual a uma rocha, apesar da mesma mal conseguir andar sem tropeçar no auge dos seis anos. Agindo como se a delicadeza de Elain lhe agradasse por julgar algo bom a ser encontrado nas boas moças da aristocracia. Ignorando a existência de Feyre como se encará-la ou escutá-la fosse desagradável ao ponto de passar dias dentro de seus aposentos quando raramente ocorria da mais nova conseguir atrair os olhos frios para si.
Asphodel odiava cada uma das filhas de forma individual, porém era um cristal aos olhos de outros nobres com sua beleza facilmente refletida nas três irmãs e educação indo muito além dos demais, afinal ela pertencia a outro reino e achava adorável vender a história de que possuía um sangue real tão mágico quanto puro, muitos interpretavam suas palavras na forma que queriam, logo surgindo histórias sobre as mulheres Archeron compartilharem uma linguagem com algum feérico.
Ela não deixara nenhuma das irmãs com alguma lembrança suficientemente agradável. E Demetria agia exatamente como ela. O queixo erguido, ombros retos e semblante sem deixar qualquer emoção brotar, a não ser que fosse necessário. Nestha odiava as associar, uma vez que também acabava tendo noção do quanto sua mãe tentou fazê-la ser sua imagem e quando conseguiu, não estava presente para parabenizá-la.
A irmã mais velha balançou a cabeça, afastando os pensamentos, tomando uma resposta no exato momento que Elain apertou seu pulso, dando um passo para que pudesse ficar na frente de Nestha.
─ Você pode nos fazer ficar normais?─ Questionou, genuinamente curiosa. Demetria mordeu os lábios rosados e suspirou, negando com a cabeça.
─ Não posso, está muito além de toda magia que há nesse mundo.─ Ela encolheu sua mão, limpando uma poeira que nunca fora vista em suas saias.─ O Caldeirão as alterou por inteiro, é como se tivessem nascido assim.
Elain aquietou-se por um breve instante, seu rosto ficando abatido e os olhos apagados. Estava óbvio que sua única esperança se fora, no entanto, ela ergueu a cabeça novamente. Parecia levemente insegura e seu olhar foi de Nestha para Demetria repetidas vezes, até suspirar.
─ Mas, pode fazê-lo pagar.─ Ela afirmou para si mesma, virando-se na direção da irmã com os lábios repuxados no que seria um sorriso.─ Faça, torne-se fatal, seja cruel com ele. Não por mim, nem por você. Mas por tudo que sabemos muito bem que já está longe de nossas mãos.
Nestha a encarou, espreitando o olhar levemente, parecendo ver Elain pela primeira vez em toda sua vida, dúvida brilhou nas orbes azul-acinzentadas, sumindo em seguida. A de cabelo castanho tocou nas mãos da irmã com cuidado, entrelaçando seus dedos nos delas. As duas Archeron trocam olhares cheios de uma cumplicidade que se cultivou acompanhando o tempo.
─ Tem certeza?─ Nestha perguntou.
─ Com todo meu coração.─ Elain disse.
Demetria sabia muito bem que aquela era a certeza que Nestha tanto precisava e novamente estendeu a mão que hesitantemente foi aceita. Houve um arrepio, uma pequena sensação de familiaridade quando ambas trocaram um breve aperto, é como se aquela magia incontrolável reconhecesse a presença de Demetria, ronronando igual a um gato com seu dono. A Archeron franziu o cenho, confusa diante do formigamento que se espalhava por seu corpo.
Demetria mexeu os ombros, não se sentindo nem um pouco afetada quando agarrou o antebraço de Nestha e o ombro de Elain, puxando-as para perto, então um pequeno passo é dado.
Elas não estão mais na Corte Diurna. E conforme caminhava para a borda da varanda, a primeira coisa que Nestha sente falta é dos campos de esverdeados silenciosos e grandiosos, bonitos de se olhar durante o pôr-do-sol, pois a luz alaranjada cobria a extensão de grama fazendo-o brilhar em uma estranha combinação vibrante entre verde e laranja. No entanto, a cidade que se estendia até alcançar o mar, onde navios se encontravam ancorados, se igualava na questão de beleza. Ela parecia brilhar como as estrelas que enfeitavam o céu e possuir vida própria.
Ao seu lado, Elain também parecia encantada. Nestha entreabriu os lábios, pronta para dizer algo quando o som de portas se abrindo foi o que as fez se virar na direção, onde Demetria estava.
Aquela mulher deslumbrante de cabelos dourados estava parada, os olhos castanhos fitavam a Dama dos Pesadelos como se ela fosse um sonho no qual desejava muito realizar. É um instante de olhares sendo trocados, antes de Demetria sorrir, parecendo se conter.
─ Pela Mãe, Tria.─ Choraminga a feérica loira, se lançando nos braços da mais baixa, apertando-a em um abraço que deixava claro o carinho compartilhado.
A Dama dos Pesadelos balançou a cabeça sem ter um real motivo para fazê-lo, deixando-se ser dominada pela saudade e preocupação de Mor. Não demorou muito para que passos fossem ouvidos, a porta aberta revelou a figura de Rhys.
O Grão-Senhor fraquejou, incapaz de dar um passo na direção de sua parceira e prima justamente por não ter a certeza de que se manteria em pé ao fazê-lo. Um segundo se passou, a única coisa que fizera foi observar Demetria tendo a certeza de que ela estava bem, o vestido simples estava imaculado sem sinal do ferido que havia recebido quando fora capturada. Ele respirou no momento que aqueles olhos esverdeados recheados por aquelas manchas prateadas pararam nele, as preocupações se tornaram pó e a única coisa que desejava era tê-la em seus braços.
Rapidamente, como se o pensamento tivesse flutuado até ela, Demetria se desfez de seu enlace com o de Mor, quase que correndo na sua direção, parando por um momento com hesitação. A Dama dos Pesadelos o encarou e ele fez o mesmo com ela.
Até que Rhys sorriu, puxando-a com tanta brutalidade que Demetria soltou uma exclamação surpresa, prendendo-a em um abraço. Ele pressionou um beijo não só em sua cabeça, mas por todo o rosto da fêmea que pareceu soltar uma risada baixa quando o fizera. Rhysand fitou os olhos verde-prata.
"Você voltou" Ronronou em sua mente, aflição e saudades torcendo aquela voz que Demetria amava.
Erguendo a mão, arrastando os dedos pelos cabelos escuros, ela sorriu. Aos olhos do macho, pareceu tão brilhante que sua vista doeu por um minuto conforme seu sussurro penetrava em sua mente.
"Eu prometi"
E Demetria encarando Rhysand, ela imediatamente soube que desperdiçou tempo presa à suposições tolas quando ele, seu parceiro, esteve lhe esperando. Rhys a beijou. Demetria sabia que estava em casa.
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