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thirty six. stuck in itself


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Feyre se mantive quieta, apenas com seus olhos fitando e absorvendo cada detalhe das ruas iluminadas, preenchidas por risadas infantis e uma melodia que refletia a calmaria daquele lugar. Ela seguiu Demetria pelas ruelas entre passos perdidos hesitantes, incapazes de acompanhar a Dama dos Pesadelos que parecia flutuar, conforme se guiava por um caminho completamente desconhecido para a Grã-Feérica que já foi humana.

Ela não conseguia acreditar no que lhe rodeava. Ela não conseguia crer nos prédios esguios, na felicidade que tingia cada feição dos feéricos que a observavam com curiosidade.

A Corte dos Pesadelos, foi o que Demetria disse a ela. Aquele lugar emanava luz contrariando qualquer boato que a ex-humana chegou a ouvir de Rhysand e sua terrível corte que pregava a crueldade e violência.

Intocada, aquela cidade era intocada. As risadas, os sorrisos, as crianças e a música ecoando entregava aquilo.

Mesmo durante o domínio de Amarantha sobre Prythian, o que que Rhysand tenha feito, o que quer que tivesse vendido ou barganhado. Ela não havia tocado naquele lugar. O restante de Prythian havia sido destruído e abandonado para sangrar por cinquenta anos, mas a Corte dos Pesadelos...

─ Como?─ Questionou, sua voz não passava de um mero sussuro mas ainda assim, Demetria cessou seus passos e virou-se, aqueles olhos verde-prata não revelaram.

─ Como é que ele fez isso? Como que o restante de Prythian foi devastada enquanto esse povo e essa cidade permaneceram a salvo?

Demetria não disse nada, uma de mãos afastou um grão invisível da saia de seu vestido cintilante iguais às suas orbes salpicadas por prata. O ambiente ao redor pareceu se silenciar com as palavras de Feyre.

─ Ele sequer chegou a pensar em abrir essa cidade para mais alguém ou para um outro lugar?

A Dama dos Pesadelos não parecia realmente surpresa com a reação da ex-humana pela forma que apenas piscou os olhos antes de erguer o olhar para fitar o céu daquele lugar que estava acima delas e logo um sorriso lento se abriu naqueles lábios rosados, voltando a encarar os olhos azul-cinzentos de Feyre.

─ Não faça perguntas sobre o que não tem conhecimento como se soubesse a maneira que funciona este mundo.─ Demetria ergueu uma mão e a balançou levemente, então os sons retornaram ao redor das duas, a música e conversas acompanhadas com risada, parecia que ela tivesse acabado de liberar uma espécie de feitiço, mesmo que Feyre não tivesse detectado algum resquício de magia em seu entorno.─ Você ter a aparência de uma feérica ou ser tratada como uma feérica mas isso não muda que nasceu como uma humana e jamais deixará de ser uma.

Feyre deixou-se atingir pelas palavras ditas, mesmo que seu cenho tenha se franzido com uma pontada de irritação e seus lábios tenham se separado levemente, pronta para retrucar. Porém, antes que o fizesse, mãos agarraram os ombros dela, balançando-os levemente.

─ Nossa, o que temos aqui?─ Uma voz levemente rouca soprou em seu ouvido, seguida por uma risada. Feyre se livrou do toque e piscou os olhos, fitando as asas semelhantes às de morcegos que despontavam nas costas do homem de cabelos castanhos, bronzeado e de olhos avelãs. Ele sorriu na direção da fêmea, guiando suas mãos para seus quadris revestidos por sua armadura de couro, as asas membranosas farfalharam em suas costas. Havia algo selvagem nas suas feições, algo que lhe lembrava bastante os lobos que costumava cruzar quando ainda era uma jovem humana que lutava para alimentar sua família. Ele não possuía orelhas arqueadas, como as suas ou como Demetria que apenas observava toda a cena que se desenvolvia em sua frente com um mísero sorriso no rosto belíssimo.

─ Você é a noiva da primavera.─ Uma voz disse na esquerda de Feyre fazendo ela se afastar levemente, pronta para defender-se do homem de cabelos loiros e olhos cinzentos. Ela franziu o cenho em confusão mais uma vez ao ver as sombras se abraçavam com força ao corpo coberto também por uma armadura de couro. Feyre concluiu que pela forma que ambos lhe fitavam, deveria ter cuidado com os dois machos em sua frente.

Um estalo de dedos soou e os dois desviaram seu olhar da fêmea de cabelos castanhos-loiros para poderem se curvar levemente em uma reverência a fêmea de cabelos castanhos e olhos cintilantes.

─ Não a assustem.─ Ela disse, leve.─ Feyre será nossa convidada durante o resto desta semana, então a tratem bem.

Os machos se entreolharam antes de balançar a cabeça de forma suave, retornando a encarar Feyre que recuou um passo, algo que não passou despercebido por nenhum dos dois. O primeiro a apresentar foi aquele de cabelos castanhos e olhos avelãs, as asas farfalharam em suas costas mais uma vez quando se curvou para Feyre, levando os dedos da fêmea até seus lábios para que pudesse depositar um beijo casto nas costas de suas mãos.

─ Guerreiro Zion ao seu dispor, Senhora da Primavera.─ Ele disse, piscando os olhos de forma charmosa na direção de Feyre que apenas afastou sua mão do toque do macho de cabelos escuros que apenas soltou uma risada maliciosa, acabando por levar uma cotovelada daquele que era envolvido por sombras. Eles trocaram mais um olhar, o de fios loiros revirou suas orbes e virou-se para Feyre.

─ Ludovik ao seu dispor.─ Disse ele, simples. A ex-humana não deixou de notar o quão diferente ele era do macho ao seu lado. Não possuía asas membranosas e também não parecia ser uma casca de algum espírito com o desejo de sangue, Ludovik lhe parecia um dos príncipes que tanto ouvira Elain desejar para si durante a infância com o cabo dourado de uma espada sendo despontava de suas costas. Um retrato de um belo homem que poderia facilmente ser um rei nos terrenos humanos, caso não tivesse um sangue dominado por magia.

─ Bom, já que todos estão devidamente apresentados, que tal uma xícara de chá?─ Soltou Demetria, os lábios se curvando em um sorriso repleto por uma malícia mal disfarçada que acendia o cintilar de seus olhos.


Feyre lhe parecia um espelho do que havia sido quando estava presa nas garras de Amarantha em sua temível corte. Demetria piscou os olhos cintilantes, guiando a xícara de porcelana até seus lábios enquanto observava a recém-féerica lançar olhares desconfiados para todo o ambiente ao seu redor, parecendo ignorar os flertes vindos de Zion e o olhar atento de Ludovik que possuía suas sombras enroladas em suas orelhas, sussurrando palavras que apenas o encantador poderia desvendar.

Vendo o estado da fêmea em sua frente, ela compreendia complemente a forma que Lucien se encontrava cada vez mais desesperado para retirar Feyre da Corte Primaveril e deixá-la bem longe da forma distorcida que Tamlin demonstrava amor. A inesperada aparição de Lucien lhe fez perceber que a situação estava pior do que imaginava, principalmente quando ouviu o emissário lhe contar entre grunhidos de ódio que Tamlin quase havia machucado Feyre em um acesso de raiva, após uma discussão entre os dois. Foi necessário muito para que o macho de cabelos carmesim se acalmasse por completo e retornasse para a Corte Primaveril. Demetria possuía um plano para libertar a ex-humana das garras de Tamlin, mas infelizmente era necessário que a própria Feyre notasse que o comportamento do Grão-Senhor da Primaveril era um perigo para si própria ou algo perto disso.

─ Deveria comer algo, Senhora da Primavera.─ Disse Zion, piscando os olhos e suas orbes avelãs pareciam analisar a magreza excessiva que deformava o corpo de Feyre.─ A comida não está envenenada, mas caso queira saber...─ Ele se inclinou na direção da fêmea que encostou as pontas dos dedos em um garfo, uma ameaça nada disfarçada. Aquilo fez Demetria sorrir.─ Carmie só colocaria veneno na comida do Grão-Senhor.

Ludovik franziu o cenho e piscou os olhos, suas orbes cinzentas viajaram entre a fêmea que já havia sido uma humana e o macho illyriano antes de suspirar, seus dedos agarraram o doce que estava no prato que pertencia à Zion e mordeu a massa, mastigando-a com lentidão.

─ Ela não é a Senhora da Primavera, Zion.─ Soltou o macho de cabelos dourados. Feyre guiou seu olhar até ele, não disse nada.─ Não ouviu os boatos?Nosso Grão-Senhor a sequestrou antes que chegasse ao altar.

O guerreiro illyriano lançou um olhar para Ludo com o cenho franzido, porém antes que proferisse alguma palavra referente ao assunto, a voz suave de Demetria falou:

─ Rhysand a buscará antes do anoitecer para levá-la até o Palácio.─ Seus olhos esverdeados repletos por manchas prateadas fitaram os olhos azul-cinzentos de Feyre.─ A não ser que prefira ficar aqui em minha corte.

A ex-humana franziu o cenho, confusa ao notar algo que chamou sua atenção nas palavras da Dama dos Pesadelos que esticou os lábios em um sorriso, parecendo prever a próxima questão que sairia pelos lábios de Feyre.

─ Sua corte?─ Perguntou ela.

─ A Corte dos Pesadelos também recebeu as consequências pela ascensão de Amarantha como Grã-Rainha, Feyre.─ Disse Demetria.─ Em uma quantidade menor que as outras cortes mas ainda assim, a crueldade daquela vadia nos alcançou. Isso não é aparente, pois eu estou aqui, dando suporte ao meu povo e fazendo de tudo para que sol continue a brilhar aqui. Sinto muito se seu Grão-Senhor não consegue fazer o mesmo por seu povo.

─ Não ouse falar assim, Tamlin está fazendo de tudo que pode para que...─ Feyre foi interrompida pela mão erguida de Demetria.

─ Cobrando um tributo para um povo destruído que mal tem esperanças de retornar a ser o que era?─ Questionou a de olhos cintilantes.─ Tamlin deveria se preocupar em garantir que seu povo acredite que está livre das garras de Amarantha, mas, não que apenas trocou de tirano.

Feyre mostrou os dentes para Demetria que apenas exibiu um sorriso malicioso, inclinando levemente a cabeça para o lado.

─ Você demorou.─ Sussurou a Dama dos Pesadelos, os olhos cintilaram. Então que Feyre o notou ali, parado na entrada da pequena loja de doces em que estavam, vestindo uma túnica preta e botas escuras até o joelho. Um sorriso enfeitava seus lábios sensuais e os olhos púrpuras com pequenas manchas que lhe lembravam estrelas. Rhysand deu um passo a frente, suas mãos entrelaçadas em suas costas.

─ Olá, Feyre, pronta para nossa semana?

Rhysand insistiu por alguma reação sua, insistiu que ela se unisse a ele para que encontrassem uma forma de impedir a guerra que caminhava na direção deles sem que nenhuma corte tivesse algum preparo. Ele demonstrou preocupação e ódio pela maneira que Tamlin parecia estar lhe tratando, mas ela não ousou sair daquele estado de entorpecimento e parar de negar aquela união com o Grão-Senhor da Corte Noturna, pois acreditava que Tamlin estava tentando. Ele havia aliviado a presença dos guardas, permitiu que ela caminhasse com um pouco de mais liberdade. Ele estava tentando. Os dois estavam tentando e ela não arriscaria aquilo.

Rhysand continuou a pedir que ela escrevesse e lesse as frases que desejava, a maioria delas continuavam a ser elogios banhandos com uma arrogância inabalável. Continuou a tentar seus escudos mentais, mas em uma noite, uma pilha de livros na sua porta com um bilhete, avisando que teria assuntos a tratar em outro lugar e que qualquer coisa que precisasse de sua presença, era só chamar. Dias se passaram e ela não precisou.

O Senhor da Noite retornou no fim da semana. Feyre tomou o hábito de hábito de ficar em uma das pequenas salas que davam para as montanhas, e quase lera um livro inteiro na poltrona de estofado macio, prosseguindo devagar enquanto aprendia novas palavras. Mas aquilo preenchera seu tempo, lhe dera a companhia silenciosa e constante daqueles personagens, os quais não existiam e jamais existiram, mas, de alguma forma, a faziam sentir menos sozinha.

Aquela mulher que empunhara uma lança de osso contra Amarantha. Ela não sabia maisonde ela estava. Talvez tivesse sumido naquele dia em que seu pescoço se partiu e aimortalidade feérica tomou conta de suas veias.

Quando Rhysand passou por duas das grandes poltronas com dois pratos de comida nas mãos e os apoiou na mesa baixa diante da ex-humana, ela estava terminando um capítulo especialmente bom e um vespertino raio de sol amanteigado aquecia seu rosto. 

─ Como parece determinada a um estilo de vida sedentário ─ Disse ele ─, pensei que poderia me adiantar e lhe trazer comida.

Seu estômago já se revirava de fome, e Feyre apoiou o livro no colo.

─ Obrigada.

Uma risada curta.

─ Obrigada? Nada de "Grão-Senhor e criada"? Ou: "Não importa o que queira, podeenfiar na bunda, Rhysand"? ─ Ele emitiu um estalo com a língua.─ Que decepcionante.

Feyre não disse nada, apenas estendeu a mão para o prato. Rhysand podia se ouvir falar o diainteiro se quisesse, mas ela queria comer. Agora. Seus dedos tinham quase tocado a borda do prato quando ele simplesmente o deslizou para longe. Feyre estendeu o braço de novo. Mais uma vez, uma espiral do poder de Rhysand puxou o prato mais para trás.

─ Diga o que posso fazer.─ Falou Rhys.
─ Diga o que posso fazer para ajudá-la.

Rhys manteve o prato além do alcance. Ele falou de novo, e, como se as palavras que saíram afrouxassem o controle dele sobre o poder, garras de fumaça se espiralaram sobreos dedos de Rhysand e enormes asas de sombras se espraiaram de suas costas.

─ Meses e meses, e você ainda é um fantasma. Ninguém por lá pergunta que diaboestá acontecendo? Seu Grão-Senhor simplesmente não se importa?

Ele se importava. Tamlin se importava.
Talvez demais.

─ Ele está me dando espaço para resolver.─ Falou ela, com tanta irritação que mal reconheceu sua própria voz.

─ Me deixe ajudá-la.─ Falou Rhysand.─ Passamos por coisas demais Sob a Montanha.

Feyre encolheu seu corpo.

─ Ela vence.─ Sussurrou Rhys.─ Aquela cadela vence se você permitir se desfazer.

A recém-feérica se questionou se ele estava se dizendo isso havia meses, se perguntou se Rhysand também tinha momentos quando as próprias memórias, às vezes, o sufocavam profundamente à noite. Mas ela ergueu o livro, disparando três palavras pela ligação entre eles antes de erguer os escudos de novo.

Fim da conversa.

─ Ao inferno que acabou.─ Grunhiu Rhysand.

Um estrondo de poder acariciou a ponta dos dedos da fêmea, e, então, o livro se fechou em suas mãos. Suas unhas se enterraram nocouro e no papel, inutilmente. Devagar, ela ergueu o olhar para Rhys. E sentiu, não um temperamento colérico, masódio frio e reluzente. Quase conseguia sentir aquele gelo nas pontas dos dedos, beijando as palmas das mãos. E por um instante, jurou que gelo cobriu o livro antes que ela o atirasse contra a cabeça de Rhysand. Ele se protegeu tão rápido que o livro quicou para longe e deslizou pelo piso de mármore atrás dos dois. 

─ Que bom.─ Disse ele, com a respiração um pouco irregular.─ O que mais você tem, Feyre?

O gelo se derreteu em chamas, e seus dedos se fecharam em punhos. E o Grão-Senhor da Corte Noturna pareceu sinceramente aliviado ao ver aquilo; ao ver a ira que a fazia querer explodir e queimar. Um sentimento, pelo menos. Não como aquele silêncio vazio e frio. E ao pensar em voltar àquela mansão com as sentinelas e as patrulhas e os segredos. Feyre se afundou de novo na poltrona. Congelada, mais uma vez.

─ Sempre que quiser alguém com quem brincar.─ Disse Rhysand, empurrando oprato na sua direção com um vento salpicado de estrelas.─, seja durante nossamaravilhosa semana juntos ou em outra ocasião, avise.

Ela não conseguiu pensar em uma resposta, exausta do pouco de temperamento que demonstrou e percebeu que parecia em uma queda livre infinita. Estava nela havia um tempo. Desde que esfaqueei aquele jovem feérico no coração.

Ela não encarou Rhys mais uma vez enquanto devorava a comida.


Durante a primeira semana de volta, Feyre não pude sair da vista da casa.  Alguma ameaça sem nome tinha invadido as terras, e Tamlin e Lucien haviam sido chamados para lidar com ela. A ex-humana pediu que seu amigo lhe dissesse o que era, mas Lucien tinha aquele olhar que sempre exibia quando queria, mas a lealdade a Tamlin ficava no caminho. Então, não perguntou novamente.

Enquanto estavam fora, Ianthe retornou para lhe fazer companhia, lhe proteger de algo que não compreendia o que era. Ela era a única cuja entrada foi permitida. O bando semipermanente de senhores e damas da Corte Primaveril na mansão fora dispensado, assim como seus criadospessoais. Feyre ficou grata por isso, por não mais esbarrar com eles enquanto caminhavapelos corredores da mansão, ou pelos jardins, e não precisar desenterrar da memória osnomes, as histórias de cada um, não precisar mais aturá-los tentando não encarar atatuagem, mas ela sabia que Tamlin gostava de tê-los por perto. 

Sabia que alguns eram, na verdade, velhos amigos. Sabia que Tamlin gostava que a mansão estivesse cheia de som e risos e conversa mas achava que todos conversavam como se fossem parceiros de luta. Palavras bonitas mascaravam insultos afiados.

Ela estava feliz com o silêncio, mesmo quando se tornou um peso, mesmo quandopreencheu sua mente até que não restasse nada dentro dela além de vazio. Eternidade. Seria essa sua eternidade?

Ela lia avidamente todos os dias: histórias sobre povos e lugares dos quais jamaisouvira falar. Talvez fossem a única coisa que impedisse que Feyre caísse no desespero total.Tamlin voltou oito dias depois, deu um leve beijo em sua testa, lhe olhou de cimaa baixo, e então seguiu para o escritório. Onde Ianthe tinha notícias para ele, notícias que ela também não deveria ouvir.

Sozinha no corredor, observando enquanto a sacerdotisa encapuzada levava Tamlin pelas portas duplas na outra ponta, um lampejo vermelho e seu corpo ficou tenso, o instinto percorreu o corpo quando virou-se. Não era Amarantha, mas sim Lucien. O cabelo vermelho era dele, não dela. Ela estava em casa, não naquele calabouço. Os olhos de meu amigo, tanto o de metal quanto o de carne, estavam fixos em suas mãos. Nas quais unhas cresciam, se curvavam. Não como garras de sombras, mas garras que tinham destroçado sua roupa íntima diversas e diversas vezes.

Pare.

Pare.

Pare.

Pare. 

Pare.

E então, como uma vela soprada, as garras sumiram com um fiapo de sombra. O olhar de Lucien passou para Tamlin e Ianthe, que estavam alheios ao que acontecera, e depois ele silenciosamente inclinou a cabeça, indicando para que Feyre o seguisse. Eles pegaram as escadas espiraladas para o segundo andar, os corredores estavam desertos. A fêmea não olhou para as pinturas de cada lado. Não olhou além das janelas altas, para os jardins iluminados. Eles passaram pela porta do quarto da feérica de coração humano, passaram pela porta do emissário até adentrarem em um pequeno escritório no segundo andar, quase não utilizado. Lucien fechou a porta, assim que ela adentrou no cômodo e se recostou no painel demadeira.

─ Há quanto tempo as garras aparecem? ─ Perguntou ele em um tom baixo. Os olhos

─ Foi a primeira vez.─ A voz dela soou vazia e inexpressiva aos ouvidos. Lucien a observou. O vestido fúcsia vibrante que Ianthe selecionara naquela manhã, o rosto, ao qual não se deu o trabalho de moldar em uma expressão agradável.

─ Não posso fazer muito.─ Explicou Lucien, a voz rouca.─ Mas vou perguntar a ele esta noite. Sobre o treinamento. Os poderes se manifestarão, treinando você ou não, não importa quem esteja por perto. Vou perguntar a ele esta noite.

Mas Feyre já sabia qual seria a resposta. Lucien não a impediu quando abriu a porta contra a qual ele estava encostado e saiu sem dizer mais uma palavra. Ela dormiu até o jantar, despertou o suficiente para comer. Quando desceu as escadas, as vozes elevadas de Tamlin, Lucien e Ianthe lhe lançaram de volta para o alto dos degraus.

Eles a caçarão e matarão, sibilara Ianthe para Lucien.

Lucien grunhiu em resposta: Farão isso de qualquer forma, então que diferença faz?

A diferença, respondera Ianthe, fervilhando, está em termos a vantagem desseconhecimento, não será apenas Feyre o alvo devido aos dons roubados daqueles Grão-Senhores. Os filhos de vocês, disse ela para Tamlin, também terão tal poder. Outros Grão-Senhores saberão disso. E, se não matarem Feyre imediatamente, poderão perceber o que eles têm a ganhar se forem agraciados com filhos dela também.

Seu estômago se revirou diante da inferência. De que ela poderia ser roubada e presa para procriação. Certamente, nenhum Grão-Senhor iria tão longe. Feyre forçou-se acreditar naqueles pensamentos.

Se fizessem isso, replicou Lucien, nenhum dos outros Grão-Senhores ficaria ao lado deles.Encarariam a ira de seis cortes unidas contra eles. Nenhum deles é tão burro a esse ponto.

Rhysand é burro a esse ponto, disparou Ianthe. E com aquele poder, teria o potencial deresistir. Imagine, disse ela, a voz abaixando quando, sem dúvida, se voltou para Tamlin,pode chegar o dia em que ele não a devolverá. Você ouve as mentiras venenosas que Rhysand sussurra ao ouvido dela. Há outras formas de contornar isso, acrescentara Ianthe, o venenosilencioso em suas palavras. Talvez não consigamos lidar com ele, mas há amigos que fiz do outro lado do oceano.

Não somos assassinos, interrompeu Lucien. Rhys é o que é, mas quem tomaria o lugar dele...

O sangue de Feyre gelou, e podia ter jurado que gelo tomou as pontas de seus dedos.

Lucien continuou em tom de súplica: Tamlin. Tam. Apenas deixe-a treinar, deixe queela domine isso... se os outros Grão-Senhores vierem de fato atrás dela, deixe que tenha uma chance...

O silêncio caiu enquanto deixaram que Tamlin considerasse. Os pés começaram a se mover assim que ouviu a primeira palavra que saiu da boca de Tamlin, pouco mais que um grunhido.

Não. E a cada passo escada acima, ela ouviu o restante. Não demos motivos para eles suspeitarem que ela possa ter qualquer habilidade, algo que o treinamento com certeza fará. Não me olhe assim, Lucien.

Silêncio de novo. Então, um grunhido cruel e um tremor de magia que agitou a casa. A voz de Tamlin saiu baixa, mortal. Não me pressione neste assunto.

Feyre não quis saber o que estava acontecendo naquela sala, o que ele tinha feito com Lucien, e que cara fizera Lucien para causar aquele pulso de poder. Ela trancou a porta do quarto e não se deu o trabalho de jantar. Tamlin não a procurou naquela noite. Ela chegou a imaginar se ele, Ianthe e Lucien ainda debatiam seu futuro e as ameaças contra sua existência.

Havia sentinelas do lado de fora do quarto na tarde seguinte quando finalmente se arrastou para fora da cama. De acordo com as sentinelas, Tamlin e Lucien já estavam entocados no escritório. Sem os cortesãos de Tamlin xeretando, a mansão estava, novamente, silenciosa conforme ela, sem mais o que fazer, seguia para uma caminhada pelas trilhas do jardim, jápercorridas tantas vezes que se surpreendeu pela terra pálida não estar permanentemente marcada com suas pegadas. Apenas seus passos soavam nos corredores reluzentes conforme ela ultrapassava guarda após guarda, armados até os dentes e tentando ao máximo não a olhar boquiabertos. Ninguém falou consigo. Até mesmo os criados tinham passado a se restringir à ala deles, a não ser que fosse absolutamente necessário. Talvez ela tivesse se tornado preguiçosa demais, talvez sua preguiça tivesse a tornado predisposta a rompantes de raiva. Qualquer um poderia ter lhe visto no dia anterior.

E embora jamais tivesse falado a respeito, Ianthe sabia. Sobre os poderes. Háquanto tempo sabia? A ideia de Tamlin contar a ela... Seus chinelos de seda se arrastavam na escadaria de mármore, a cauda do vestido verde serpenteava atrás de si. Tanto silêncio. Silêncio demais. 

Precisava sair daquela casa. Precisava fazer alguma coisa. Se os aldeões não queriam sua ajuda, tudo bem. Ela poderia fazer outras coisas. O que quer que fossem. Estava prestes a virar no fim do corredor que dava para o escritório, determinada a perguntar a Tamlin se havia qualquer tarefa que pudesse realizar, pronta para implorar a ele, quando as portas do escritório se abriram e Tamlin e Lucien surgiram, ambos pesadamente armados. Nenhum sinal de Ianthe.

─ Vai embora tão cedo?─ Questionou, esperando que eles chegassem ao saguão.O rosto de Tamlin era uma máscara sombria quando os dois se aproximaram.

─ Tem atividade na fronteira com o mar oeste. Preciso ir.─  Aquela mais próxima de Hybern.

─ Posso ir junto?─ Jamais tinha perguntado diretamente, mas Tamlin parou. Lucien continuou andando, atravessou as portas abertas da entrada dacasa, quase incapaz de segurar um encolher do corpo.

─ Desculpe.─ Pediu Tamlin, estendendo o braço para ela. Feyre se desviou de seu alcance.

─ É perigoso demais.

─ Sei como permanecer escondida. Apenas... me leve com você.

─ Não vou arriscar que nossos inimigos coloquem as mãos em você.

Que inimigos? Conte, conte alguma coisa.
Ela olhou por cima do ombro de Tamlin, na direção em que Lucien esperava, nocascalho além da entrada da casa. Nenhum cavalo. Imaginou que não eram necessários dessa vez, pois os dois eram mais rápidos sem eles. Mas talvez ela conseguisseacompanhar. Talvez esperasse até que partissem e...

─ Nem pense nisso.─ Avisou Tamlin.

Sua atenção se voltou para o rosto de Tamlin que grunhiu:

─ Nem tente vir atrás de nós.

─ Eu posso lutar.─ Tentou de novo. Aquela era uma meia verdade. Certa manhapara sobreviver não era o mesmo que uma habilidade treinada.─ Por favor.

Jamais odiara tanto uma palavra. Tamlin fez que não com a cabeça e cruzou o saguão até as portas da entrada. Feyre o seguiu e disparou:

─ Sempre haverá uma ameaça. Sempre haverá um conflito ou inimigo ou alguma coisa que me manterá aqui.

Tamlin parou subitamente do lado de dentro das imensas portas de carvalho, tãoperfeitamente restauradas depois que os seguidores de Amarantha as destruíram.

─ Você mal consegue dormir uma noite inteira.─ Disse Tamlin, com cautela. A fêmea replicou:

─ Você também.

Mas ele apenas prosseguiu:

─ Mal aguenta estar perto de outras pessoas...

─ Você prometeu.─ A voz falhou. E não se importava de estar implorando.─  Preciso sair desta casa.

─ Peça que Bron leve você e Ianthe para uma cavalgada...

─ Não quero cavalgar!─ Abriu os braços.─ Não quero cavalgar, ou fazerpiquenique, ou colher flores selvagens. Quero fazer algo. Então, me leve junto.

Aquela garota que precisava ser protegida, que desejara estabilidade e conforto... elamorrera Sob a Montanha. Ela morrera, e não houve ninguém para lhe proteger daqueles horrores antes que seu pescoço se partisse. Então, ela mesma o fiz. Não iria, não poderia abrir mão daquela parte que despertara e se transformara Sob a Montanha. Tamlin recuperara seus poderes, se tornara completo de novo, se tornara aquele protetor e provedor que desejava ser. Ela não era a garota humana que precisava ser paparicada e mimada, que queria luxo e facilidade. Não sabia como voltar a desejar essas coisas. A ser dócil.

As garras de Tamlin dispararam para fora.

─ Mesmo que eu arriscasse, suas habilidades destreinadas tornam sua presença um risco mais que qualquer outra coisa.

Era como ser atingida por pedras com tanta força que conseguia sentir-se  quebrando. Mas ergueu o queixo e falou:

─ Vou junto, queira você ou não.

─ Não, não vai.─ Tamlin passou pela porta, as garras golpeando o ar na lateral docorpo, e chegou à metade das escadas antes que eu alcançasse o batente da porta. Onde Feyre se chocou contra uma parede invisível. Era idêntica àquela que construíra naquele dia no escritório, e vasculhou os cacos de sua alma, seu coração, buscando por um fio que lhe levasse àquele escudo, imaginando se ela tinha se bloqueado, mas nenhum poder emanava deseu corpo. Ela estendeu a mão para o ar na porta. E encontrou resistência sólida.

─ Tamlin.─ Disse, rouca. Mas ele já estava na entrada e caminhava na direção dos imensos portões de ferro. Lucien permaneceu ao pé das escadas, o rosto muito, muito pálido.

─ Tamlin.─ Falou novamente, empurrando a parede.Tamlin não se virou.Choquei a mão contra a barreira invisível. Nenhum movimento... Nada além de arendurecido. E ela ainda não aprendera o suficiente sobre meus poderes para tentar forçar, para destruir aquilo...

Ela deixou-se ser convencida a não aprender sobre essas coisas pelo bem dele por Tamlin.

─ Nem se dê o trabalho de tentar.─ Avisou Lucien, baixinho, quando Tamlin passou pelos portões e sumiu. Ele fez a travessia.─Ele ergueu um escudo sobre a casa inteira em volta de você. Outros podem entrar e sair, mas você não. Não até que ele erga o escudo.

Tamlin tinha lhe trancado ali dentro. Feyre atingiu o escudo de novo. De novo. Nada.

─ Apenas... seja paciente, Feyre.─ Pediu Lucien, encolhendo o corpo ao seguir Tamlin. ─ Por favor, a ajuda está chegando, só seja paciente.

Ela mal ouvir a voz quebradiça de Lucien por cima do rugido em seus ouvidos. Não esperou para vê-lo passar pelos portões e atravessar também.

Tamlin tinha lhe trancafiado. Ele a selou dentro da casa.

Feyre disparou para a janela mais próxima no saguão e a abriu. Uma brisa fria de primavera entrou e seus dedos passaram por ela, apenas para que meus dedos ricocheteassem de uma parede invisível. Ar liso e duro empurrou sua pele.

Respirar se tornou difícil. Ela estava presa. Estava presa dentro da casa. Podia muito bem estar Sob a Montanha. podia muito bem estar dentro daquela cela de novo.

Ela recuou, seus passos estavam leves demais, rápidos demais, e se chocou contra a mesa de carvalho no centro do saguão. Nenhuma das sentinelas próximas foi investigar.

Ele tinha a  prendido ali dentro. Ele tinha lhe trancafiado.

Parou de ver o piso de mármore, ou as pinturas nas paredes, ou a escadaria espiral que se erguia atrás de mim. Parou de ouvir o canto dos pássaros da primavera, ou o sopro da brisa pelas cortinas. Então, uma escuridão sufocante a atingiu por cima e se ergueu sob seu corpo, devorando e rugindo e rasgando. Ela fez o possível para evitar gritar, para evitar quebrar-se em dez mil pedaços quando afundou no piso de mármore, curvando-se sobre os joelhos, e envolvendo o corpo com os braços.

Ele lhe prendeu.
Ele lhe prendeu.
Ele lhe prendeu.

Precisava sair, porque mal conseguira escapar de outra prisão antes, e dessa vez, dessa vez...Atravessar. Ela podia sumir para o nada e surgir em outro lugar, algum lugar aberto e livre. Buscou seu poder, qualquer coisa, alguma coisa que pudesse lhe mostrar a forma de fazer aquilo, a saída. Nada.

Não havia nada, e ela tinha se tornado nada e não podia sequer sair.

Alguém gritava seu nome de muito, muito longe. Alis.

Mas eu estava envolta em um casulo de escuridão e fogo e gelo e vento, um casulo que derreteu o anel de seu dedo até que a liga de ouro escorresse para o vazio, e a esmeralda saiu quicando atrás dela. Ela envolveu seu corpo com aquela força violenta, como se pudesse evitar que as paredes lhe esmagassem por inteiro, e talvez, talvez conseguir um mínimo fôlego...

Ela não podia sair.
Não podia sair.
Não podia sair.

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