thirty five. star among the roses
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Tamlin era e sempre seria um protetor, algo que a própria Feyre havia desejado e precisara para que desse um fim para as proteções criadas por anos à beira da fome que corroía seus ossos. Mas agora, quando ela mais forte, mais rápida e mais letal do que jamais fora em toda sua vida. Agora que ela era a salvadora de um povo inteiro, Feyre Archeron não possuía forças para se questionar o que desejava e precisava naquele exato momento.
Tamlin havia adorado seu corpo com suas mãos, língua e dentes. Não cessou seus pedidos de desculpas nem por um mísero segundo. Ele beijara seus pés de vez ou outra, murmurando pedidos de perdão por ter se deixado guiar pela raiva e a aterrorizar ao ponto de tê-la feito criar um escudo de vento sólido para se proteger dele. Tamlin cumpriu sua promessa, havia menos guardas ao seu redor conforme andava pela propriedade. Alguns restavam, mas nenhum seguia seus passos e Feyre até foi cavalgar pelo bosque sem escolta.
A feérica com coração humano passava seus dias na biblioteca, praticando leitura e escrita. Moldando aquele escudo mental, aumentando-o cada vez mais. Posicionando cada tijolo e camada, os fortalecendo aos poucos. Às vezes, até tentava conjurar novamente aquela parede física de ar sólido.
Alguns dias, ela se mantinha em silêncio. Não falando com ninguém, nem mesmo com Alis. Continuava acordando todas as noites, tendo sempre que se lembrar que eram apenas pesadelos de uma época que não poderia retornar jamais. E ficava aliviada por Tamlin não estar ali para testemunhar suas noites. Quando ela também não o assistia ser arrancado dos pesadelos e acordando ofegante com suor banhando seu corpo ou se tornando na besta e se mantendo acordado até o alvorecer, buscando ameaças em torno da mansão. E então, ela se questionava o que poderia dizer para afastar todas as sombras do coração de seu amado quando era a fonte de tantas sombras?
No entanto, após Tamlin retornar de uma estadia prolongada de duas semanas depois do Tributo, Feyre decidiu que tentaria conversar e interagir. Por si mesma e por Tamlin. Aquele que amava também pareceu ter a mesma ideia e as coisas pareceram normais, ou algo próximo a isso.
Em uma manhã, Feyre acordou ao som de uma voz grave no corredor do lado de fora de seu quarto. A ex-humana fechou os olhos, se aconchegando nos lençóis. Apesar das certas aventuras matinais, ela se levantava mais tarde a cada dia; em certos momentos, sequer ousava se afastar dos lençóis até a hora do almoço.
Um grunhido soou, e seus olhos se abriram novamente.
─ Saia.─ Avisou Tamlin. Houve uma espécie de resposta baixa demais para que ela conseguisse compreender as palavras.
─ Vou dizer uma última vez.─ E sua voz foi cortada por uma risada. Uma risada que se assemelhavam com sinos tilintando após uma ventania. Os pelos nos braços de Feyre se arrepiaram e lançando um olhar para a tatuagem em seu braço, ela se questionou o que aquela feérica estaria fazendo ali, mas então, piscou os olhos ao se dar conta...
Ela chutou os lençóis para longe, conforme se movia para correr até a porta, apenas notando que estava nua no meio caminho, rapidamente cobrindo sua nudez com o cobertor que se encontrava na cadeira mais próxima e enfim, abrindo a porta.
No momento que o som da porta abrindo chegou aos ouvidos feéricos, a fêmea em sua frente virou-se e uma sobrancelha se erguendo quando fixou seus olhos esverdeados repletos por manchas prateados na ex-humana, a analisando por um mero instante.
Feyre piscou os olhos, surpresa com a aparição da fêmea. Ela jamais esperou que fosse encontrar Demetria novamente. As duas pertenciam a cortes inimigas e divergentes. E mesmo que estivesse sendo forçada a cumprir o acordo de passar uma semana na Corte Noturna, ela jamais havia se cruzado com Demetria e Rhysand sequer citou aquela fêmea durante sua estadia em um dos palácios do Grão-Senhor.
No entanto, ali estava ela. Seus cabelos castanhos se encontravam na altura de seu queixo e não pareciam mais desprovidos de vida e brilhavam debaixo da luz dourada do sol que ultrapassava uma das janelas do longo corredor, sua pele continuava pálida mas agora em um tom saudável, da mesma forma que ainda lhe parecia magra porém não da maneira doentia que havia testemunhado Sob a Montanha. Os lábios rosados torceram em um sorriso repleto de desprezo conforme orbes verde-prata se voltava para Tamlin, refletindo uma superioridade incompreensível em todas as suas feições. Demetria continuava terrivelmente bela e ainda mais perigosa pela forma que aqueles olhos cintilaram, um mero prelúdio de um perigo que sempre espreitava em cada ato realizado por aquela fêmea.
─ É mulher de um Grão-Senhor mas se parece com uma morta que anda.─ Soltou a fêmea, afastando uma mecha que caiu em sua tez.
─ O quê?─ Indagou Tamlin. Os olhos verde-prata da fêmea se tornaram ainda mais afiados no momento que estendeu uma mão na direção de Feyre.
─ Vamos.─ Ordenou. Tamlin avançou na direção de Demetria que nem ao menos moveu um músculo, não parecendo notar quem Tamlin era. Não parecendo se importar com a magia que ele possuía e a forma que ele poderia despedaçá-la em um estalar de dedos. Feyre se encolheu.
─ Saía.─ Ele apontou na direção das escadas.─ Ela não irá com você, você não possuí o direito de cobrar o acordo.
Demetria o fitou por um momento e então, riu. Ela simplesmente soprou sua típica de sinos no rosto do Grão-Senhor, uma malícia nada disfarçada brotou naquelas orbes salpicadas de prata no instante que a fêmea ergueu um dedo e tocou o peito de Tamlin com o mesmo, deslizando ele de forma vagarosa pela pele do macho até alcançar seu queixo, segurando entre seus dedos.
─ Cuidado, Grão-Senhor, você não faz a mínima ideia quem eu sou para ousar agir dessa maneira.─ Disse ela, os olhos cintilantes se apagaram e espirais negros brotou em sua pele, enrolando-se em seus dedos. Tamlin rosnou, agarrando a mão da fêmea e apertando-a com força o suficiente para que Demetria contorcesse seu belo rosto em uma careta.
─ É você que não faz a mínima ideia de quem está provocando, Dama dos Pesadelos.─ Grunhiu, garras substituindo suas unhas e arranhando a pele da fêmea da Corte Noturna que apenas torceu o nariz, parecendo só estar encarando um mísero inseto que se encontra lhe irritando profundamente.
Parte de Feyre a admirou pela coragem que seus gestos ao de suas palavras deveriam ter exigido. Ela pensou que se os dentes de Tamlin estivessem a centímetros de sua garganta, ela teria gritado por conta de um profundo pânico.
Demetria torceu o nariz novamente, seu olhar se fixando em Feyre por um mero instante antes de retornar a fitar Tamlin com seu queixo erguido, exibindo aquela mesma audácia que usou quando organizou uma revolta com os Grão-Senhores debaixo do nariz de Amarantha.
─ Saía.─ Rosnou o Senhor Primaveril. A dita Dama dos Pesadelos revirou os olhos com manchas prateadas.
─ Sob ordens do meu Grão-Senhor, estou cobrando as condições do acordo. Se Feyre não for para a Corte Noturna, você sabe muito que a magia cobrará e ela não é justa.─ Ela disse, a voz calma e controlada, mesmo que o cintilar de seu olhar deixasse claro que estava bem próxima de invocar aquela mesma magia que utilizou para dar um fim em Amarantha.
─ Cale a boca e saía.─ Rosnou Tamlin, se pondo ainda mais entre Feyre e Demetria. A fêmea vinda da Corte Noturna fitou o rosto do macho por um momento e então, sorriu. Balançando o braço, livrando-se do aperto de Tamlin, recuando um passo.
─ Vista uma roupa.─ Ela disse, lançando um olhar para Feyre e dando as costas para os dois, começando a andar na direção das escadas, descendo os degraus com calmaria.
Feyre não demorou para entrar no quarto, sendo seguida por Tamlin que bateu a porta com tanta força que lustres se estremeceram, disparando fiapos de luz trêmulos por todas as paredes. A feérica largou o cobertor, caminhando em direção ao armário e o colchão rangeu no momento que o macho se afundou da cama.
─ Como ela entrou aqui?─ Perguntou, já vasculhando as roupas contidas no armário em busca do modelito da Corte Noturna que tinha pedido para que Alis guardasse.
─ Não sei.─ Respondeu Tamlin. Feyre virou-se e o viu pentear os cabelos com a mão. Ela sentiu a mentira que cobriam suas palavras.─ Ela só... é só parte de qualquer que seja o joguinho que Rhysand está fazendo.
A feérica vestiu a blusa curta por cima da cabeça após vestir as calças.
─ Se a guerra está vindo, talvez fosse melhor reparar as coisas.─ Disse Feyre. Ela procurou por sapatos de seda que combinavam.
─ Vou começar a concertar as coisas no dia em que ele liberar você do acordo.
─ Talvez ele esteja mantendo o acordo para que você tente ouvi-lo.─ Falou Feyre, caminhando na direção de Tamlin, notando que a calça estava um pouco mais larga na cintura que no mês anterior.
─ Feyre.─ Disse o macho, estendendo a mão para Feyre mas ela saiu no alcance.─ Por que precisa saber essas coisas? Não basta se recuperar em paz? Conquistou esse direito. Conquistou. Diminuí o número de sentinelas aqui; tenho tentado... tentado ser melhor com relação a isso. Então, deixe o restante...─ Tamlin respirou para se acalmar.─ Não é o momento para esta conversa.
Nunca era o momento para esta conversa, ou para aquela conversa. Mas Feyre não disse. Ela não tinha energia para dizer e as palavras se secaram, tornando-se em pó e aos poucos se vai pelo vento. Então ela se focou em memorizar as linhas do rosto de Tamlin e não resistiu quando ele lhe puxou contra o peito, abraçando-a com força.
O som de algo sendo derrubado no andar de baixo e o corpo de Tamlin se enrijeceu ao seu redor. Feyre piscou os olhos... Bastava de brigas e grunhidos para ela, e voltar para aquele lugar aberto e sereno no alto da montanha... Parecia melhor que se esconder na biblioteca. Ela se afastou e Tamlin se deteve conforme ela caminhava de volta para o corredor, descendo as escadas.
Demetria se encontrava fitando uma das janelas da mansão, semicerrando os olhos para o horizonte verdejante. De braços cruzados e com os raios de sol que atravessavam as janelas pareciam fazer o tecido de seu vestido escuro cintilar, sendo observada por Lucien que se encontrava apoiado em uma parede atrás da Dama. Feyre não evitou compará-la como uma estrela, um pedaço da noite que se perdeu em meio às rosas vermelhas e espinhosas.
─ Diga a Rhysand que se ele encerrar este acordo, eu o darei o que ele quiser. Qualquer coisa.─ A feérica de cabelos curtos virou sua cabeça para fitar o Grão-Senhor que apareceu atrás dela. O coração de Feyre deu um salto.
─ Está maluco?
Tamlin nem ao menos piscou na direção da feérica que amava. Demetria apenas ergueu uma sobrancelha, liberando mais uma de suas risadas de sinos enquanto erguia uma mão na direção de Feyre.
─ Boa tentativa, Grão-Senhor, mas Rhysand já obtém tudo que deseja.─ Ela disse, se aproximando e entrelaçando seus dedos nos de Feyre. A ex-humana sequer teve um momento para dizer antes que um vento as cobrisse e elas desapareceram.
No momento que Feyre abriu os olhos, ela não se deparou com aquele palácio acima das nuvens que estava acostumada a percorrer. Não... Ela se encontrou em meio a prédios que erguiam-se iluminados por brilho intenso do sol, a conversas preenchidas por alegria e risadas que pareciam se estender por toda a cidade da mesma forma que os acordes de um violino tomando o formato de uma calma canção ao ser juntada a uma voz deliciosa também parecia flutuar por todas as ruas, tornando todo o ambiente ao redor de Feyre em algo que ela jamais sonhava encontrar após o caos que Amarantha espalhou, porém ali estava....
Ali estava os feéricos e Grão-Feéricos que perambulavam pelas ruas, alguns sentados em mesas de casas de chá, prontos para aproveitar uma calma e doce manhã. Não havia monstros, escuridão e muito menos medo e desespero.
Demetria se afastou de Feyre. Os olhos dos seres cujo sangue era mágico notaram a fêmea e não demorou muito para que alguns feéricos se curvassem respeitosamente a ela, para a surpresa de Feyre. A fêmea de cabelos curtos e olhos cintilantes esticou os lábios rosados em um sorriso que iluminou suas feições, parecendo tão distante daquela mulher maltratada que encontrou na Corte maldita criada por Amarantha.
─ Bom, Feyre, seja bem-vinda à Corte dos Pesadelos.─ Disse ela, lentamente virando-se para a feérica de coração humano. O olhar de Demetria cintilou e revolta queimou nas veias de Feyre.
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