ten. blood is paid with blood
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Para sua última tarefa, Feyre recebeu de volta sua velha túnica e a calça. Todas elas manchadas, rasgadas e fedidas. Porém, apesar do fedor, ela manteve seu queixo erguido durante todo o caminho até o salão do trono. Portas se abriram, e o silêncio lhe recebeu. Ela aguardou as provocações e os gritos, esperou ver ouro reluzir nas mãos dos apostadores, mas, daquela vez, todos os feéricos lhe encararam, os que estavam mascarados pareciam particularmente atentos.
Esperança. Demetria disse que viu esperança nela. Mas, Feyre não achou que fosse apenas preocupação estampada em seus rostos. Ela precisou engolir seco quando alguns dos feéricos levaram seus dedos aos lábios e depois, estenderam as mãos para ela; era um gesto para os caídos, um adeus aos mortos honoráveis. Não havia malícia naquilo. A maioria daqueles feéricos pertenciam às cortes dos Grão-Senhores... Tinham pertencido àquelas cortes muito antes de Amarantha lhes tomar as terras, as vidas. Lucien havia lhe dito que acreditava que, todos ali dentro daquela montanha, estavam jogando. Talvez ele estivesse certo...
A humana seguiu pelo caminho que eles tinham liberado... diretamente até Amarantha. A rainha sorriu quando ela parou ao lado do trono. Tamlin ocupando o lugar de sempre, próximo dela, mas Feyre não olharia para ele; ainda não.
─ Duas tarefas você já deixou para trás.─ Disse Amarantha, limpando um grão de poeira do vestido vermelho-sangue. Os cabelos da coloração mais intensa e reluzente que ameaçava engolir sua coroa dourada por inteiro.─ E falta apenas uma. Imagino se será pior fracassar agora, quando você está tão perto.─ Ela fez um biquinho, e por um momento, esperaram as gargalhadas dos feéricos.
Mas apenas poucas soaram vindas dos guardas de pele avermelhada. Todo o resto se manteve em silêncio, até mesmo os irmãos desprezíveis de Lucien, até mesmo Rhysand em meio à multidão, talvez próximo a Demetria, apenas esperando o momento ideal para agir.
Feyre piscou para limpar os olhos ardentes. Talvez, como com Rhysand e Demetria, os juramentos de lealdade dos feéricos, as apostas em sua vida e seu comportamento desprezível tivesse tido um espetáculo. E talvez agora que o fim estava próximo, também enfrentariam minha potencial morte com qualquer que fosse a dignidade que lhes restava. Amarantha direcionou um olhar contendo raiva para seu público, mas quando seu olhar recaiu sobre a humana em sua frente, ela deu um sorriso largo e amável.
─ Alguma palavra antes de morrer?
Uma infinidade de xingamentos passou por sua mente, mas em vez de dize-los, ela olhou para Tamlin. Como sempre, ele não reagiu, as feições eram como pedra. Desejou poder ver seu rosto por inteiro, no entanto, ela só precisava ver aqueles olhos verdes.
─ Amo você.─ Declarou de forma firme.─ Não importa o que ela diga a respeito disso, não importa se é apenas meu tolo coração humano. Mesmo quando queimarem meu corpo, vou amar você.─ Seus lábios estremeceram, e sua visão se anuviou antes de várias lágrimas mornas descerem por seu rosto frio. Feyre não limpou as lágrimas.
Tamlin não reagiu, nem mesmo apertou os braços no trono. Por um momento, a humana se pegou imaginando que aquela fosse a forma de Tamlin suportar aquilo, mesmo que aquilo matasse ela por dentro.
Amarantha sibilou, com meiguice:
─ Terá sorte, minha cara, se sequer sobrar o bastante de você para queimar.
Feyre encarou seriamente por um bom tempo, deixando com que o ódio preenchesse seus olhos azul-cinzentos. As palavras de Amarantha não foram recebidas com provocações, sorrisos ou aplausos da multidão. Apenas silêncio. Aquilo deu coragem para a humana, lhe fez fechar os olhos, acolher aquela tatuagem em seu braço. Ela derrotara a rainha feérica, de forma justa ou não, e não se sentiria sozinha quando morresse. Não morreria sozinha, e isso era tudo que poderia pedir.
A fêmea vinda de Hybern apoiou o queixo em uma das mãos.
─ Você não desvendou meu enigma, não foi?─ Nenhuma resposta, e ela sorriu.─ Que pena. A resposta é tão adorável.
─ Acabe logo com isso.─ Grunhiu a humana.
Amarantha olhou para Tamlin.
─ Nenhuma última palavra para ela?─ Perguntou-o, erguendo uma sobrancelha. Quando Tamlin não respondeu, ela sorriu para Feyre.─ Muito bem, então.─ Amarantha bateu palmas duas vezes.
A porta se abriu, e três figuras com sacolas marrons amarradas na cabeça. Dois homens e uma mulher foram arrastados pelos guardas, seus rostos escondidos se viravam para todos os lados conforme tentavam discernir os sussurros que irromperam pelo salão do trono. Os joelhos de Feyre fraquejaram levemente quando se aproximaram. Com golpes fortes e empurrões bruscos, os feéricos foram obrigados a ficar de joelhos, ao pé da plataforma, mas de frente para a humana. Os corpos e as roupas não revelavam quem eram.
Amaramtha bateu palmas novamente e três criados vestidos de preto surgiram ao lado de cada um dos feéricos ajoelhados. Nas mãos pálidas e longas, cada um tinha uma almofada de veludo escuro com uma única adaga de madeira polida. Com a lâmina não de metal, mas de freixo. Freixo, porque...
─ Sua última tarefa, Feyre.─ Cantarolou Amarantha, indicando para os feéricos ajoelhados.─ Apunhale cada um dessas infelizes almas no coração.
Feyre olhou para ela. Sua boca se abriu e então, se fechou.
─ Eles são inocentes, não que isso devesse importar para você.─ Continou a rainha.─ Pois não foi uma preocupação quando matou a pobre sentinela de Tamlin. E não foi uma preocupação para o querido Jurian quando ele assassinou minha irmã. Mas, se é um problema... bem, pode se recusar. É claro que vou tomar sua vida em troca, mas um acordo é um acordo, não é? Se me perguntar, no entanto, considerando seu histórico em assassinar nosso povo, acredito que estou oferecendo um presente.
Recuse-se e morra. Mate três inocentes e viva. Três inocentes, por seu futuro. Por sua felicidade. Por Tamlin e sua corte, e pela liberdade de uma terra inteira.
A madeira das adagas afiadas tinha sido tão cuidadosamente polida que reluzia sob os lustres de vidro colorido.
─ Então?─ Perguntou ela. Amarantha ergueu a mão, deixando que o olho de Jurian olhasse bem para humana, olhasse para as adagas de freixo, e, então, ela ronronou para o anel.─ Eu não iria querer que você perdesse isso, velho amigo.
Não podia. Ela não podia fazer aquilo. Não era como caçar; não era por sobrevivência ou defesa. Era assassinato a sangue-frio; o assassinato deles, de minha alma. Mas por Prythian, por Tamlin, por todos ali, por Alis e os meninos... Feyre desejou saber o nome daqueles deuses antigos se tornaram esquecidos para implorar que intercedessem, desejei saber qualquer oração para implorar por orientação, por absolvição.
Mas ela não sabia aquelas orações, ou os nomes de nossos deuses esquecidos; apenas os nomes daqueles que permaneceriam escravizados caso não agisse. Silenciosamente recitou todos aqueles nomes em sua mente, mesmo conforme o horror do que estava diante de si começou lhe consumir por completo. Por Prythian, por Tamlin, pelo mundo deles e pelo meu... Aquelas mortes não seriam em vão, mesmo que me arruinassem para sempre.
Feyre se aproximou da primeira figura ajoelhada com o passo mais longo e cruel que já deu em toda sua vida. Três vidas em troca da libertação de Prythian, três vidas que não seriam desperdiçadas em vão. Ela poderia fazer aquilo. Poderia fazer, mesmo que Tamlin estivesse assistindo. Poderia fazer aquele sacrifício. Sacrificá-los... Ela... Poderia fazer aquilo.
Seus dedos tremeram, mas a primeira adaga acabou em sua mão, o cabo liso e frio, a madeira da lâmina mais pesada do que eu esperava. Havia três adagas, porque ela queria que Feyre sentisse a mão até a faca diversas vezes. Queria que significasse algo.
─ Não tão rápido.─ Amarantha riu, os guardas que seguravam a primeira figura de joelhos arrancaram-lhe o capuz do rosto. Um bonito jovem Grão-Feérico. Feyre não o conhecia, jamais o vira, mas os olhos azuis do rapaz suplicavam quando ele a olhou.
─ Assim é melhor.─ Disse a Grã-Rainha, gesticulando com a mão denovo.─ Prossiga, Feyre, querida. Aproveite.
Os olhos do rapaz era da cor de um céu que a humana jamais seria capaz de ver novamente caso recusasse a matá-lo. Uma cor que jamais tiraria da cabeça, da qual jamais se esqueceria, não importando as vezes que a pintasse. Ele balançou a cabeça, aqueles olhos se arregalando tanto que o branco se destacou ao redor. O jovem jamais veria aquele céu também. E aquelas pessoas ao redor tampouco o veriam, caso falhasse.
─ Por favor.─ Sussurou o jovem, o olhar disparando da adaga de freixo até o rosto da humana.─ Por favor.
A adaga em suas mãos tremeu e Feyre a segurou com mais força. Três feéricos eram tudo que havia restado entre ela e a liberdade, antes de Demetria realizasse seu plano, liberando seu ódio sobre Amarantha... Não em vão, disse a si mesma. Não em vão.
─ Não.─ Implorou o jovem feérico quando ergueu a adaga.─ Não!
A humana tomou fôlego e arquejou, seus lábios tremiam enquanto hesitava. Dizer "Sinto muito" não bastava. Ela jamais pudera dizer isso a Andras, e agora... agora...
─ Por favor!─ Implorou ele e os olhos se encheram de prateado. Alguém na multidão começou a chorar. Ela estava tirando alguém que possivelmente o amava tanto quanto amava Tamlin...
Não podia pensar sobre aquilo. Não podia pensar em quem ele era. Ou em nada daquilo. Amarantha sorria com uma alegria selvagem, triunfal. Mate um feérico, apaixone-se por um feérico e seja forçada a matar um feérico para manter aquele amor.
Era genial e cruel, ela sabia disso.
Escuridão irradiou perto do trono, então, Rhysand surgiu com seus braços cruzados, como se tivesse se aproximado para ver melhor. O rosto era uma máscara de desinteresse, mas a mão de Feyre formigou. Faça-o, disse o formigamento.
─ Não.─ Gemeu o jovem feérico. A humana começou a sacudir a cabeça. Ela não podia ouvi-lo. Tinha que fazer aquilo imediatamente, antes que ele conseguisse convencesse ela do contrário.─ Por favor!─ A voz do rapaz se elevou até virar um grito.
O som havia lhe perturbou tanto que avançou. Com um soluço irregular, ela mergulhou a adaga dentro do peito dele. O jovem gritou, se debatendo nas mãos dos guardas conforme a lâmina atravessava carne e osso, suavemente como se fosse metal de verdade e não freixo. Sangue quente e brilhante banhou uma das mãos de Feyre. Ela chorou, puxando a adaga, as reverberações dos ossos do feérico contra a lâmina lancinaram sua mão. Os olhos do rapaz, cheios de choque e ódio, permaneceram sobre ela conforme ele desabava, amaldiçoado-a e aquela pessoa na multidão soltou um choro agudo.
A adaga ensanguentada quicou no piso de mármore quando ela cambaleou vários passos para trás.
─ Muito bom.─ Disse Amarantha. Enquanto Feyre encarava, incapaz de pensar, sentir e gritar.─ Agora, o próximo. Ah, não pareça tão arrasada, Feyre. Não está se divertindo?
Seus olhos azul-cinzentos foram postos na segunda figura encapazuda. Uma fêmea dessa vez. O feérico de preto estendeu a almofada com a adaga limpa, e os guardas que a seguraram puxaram o capuz. O rosto da mulher era simples, cabelos castanho-dourados como os da humana em sua frente. Lágrimas desciam por suas bochechas redondas, e os olhos cor de bronze da feérica acompanharam a mão humana quando a mesma foi levada até a segunda faça.
Feyre... Ela queria cair de joelhos e implorar por seu perdão, dizer que sua morte não seria em vão. Desejava... Aquele sangue em sua mão lhe enojava, ela não o suportava... Mas, continuaria... e isso estava lhe destruindo. Lentamente.
─ Que o Caldeirão me salve.─ Sussurou com sua voz linda e calma como música.─ Que a Mãe me acolha.─ Continuou ela.─ Guie-me até você.─ Feyre se via incapaz de erguer a adaga em sua mão, incapaz de dar o passo que quebraria a distância entre elas.─ Permita-me passar pelos portões; permita-me sentir o cheiro daquela terra imortal de leite e mel.
Lágrimas silenciosas escorriam pelo rosto da humana, deslizando até o pescoço e encharcando o colarinho imundo da sua túnica. Enquanto a mulher falava, Feyre soube imediatamente que aquela terra imortal estaria para sempre fechada para ela. A qualquer que fosse a Mãe que ela se referia, jamais lhe acolheria. Para salvar Tamlin, ela se condenaria.
─ Não me permita temer o mal.─ Sussurou a feérica, encarando a humana, olhando para sua alma que se partia.─ Não me permita sentir dor.
Um soluço saiu de seus lábios.
─ Desculpe.─ Gemeu a humana.
─ Permita-me adentrar a eternidade.─ Sussurou a mulher com tranquilidade. Feyre chorou quando entendeu.
Mate-me agora. Era o que dizia. Faça rápido. Que não seja doloroso. Mate-me agora.
Os olhos bronze estavam firmes, não tristes. E aquilo era infinitamente pior que o feérico que morrera suplicando.
Feyre não conseguiria. Mas a feérica encarou ela e assentiu.
Quando a humana ergueu a adaga e a fincou no peito da mulher. Algo dentro de seu corpo, sua alma se quebrou tão completamente que não havia esperança de algum dia concertar. Não importava quantos anos se passassem, não importava quantas vezes ela pudesse pintar o rosto dela. Mais feéricos choraram. O corpo da mulher desabou no chão e Feyre estava muito, muito, muito longe de si mesma.
Mais um feérico... E todos estariam livres, porém, por que Amarantha ainda sorria com apenas uma pessoa restante entre mim e a liberdade?
O criado feérico ofereceu a última adaga e ela estava prestes a agarrá-la quando o guarda retirou o capuz do macho ajoelhado diante dela. As mãos se desabaram, inúteis, nas laterais do corpo. Olhos esverdeados salpicados por âmbar lhe encarou.
Feyre virou-se para Amarantha, para o trono ao lado da vagabunda, ainda ocupado pelo Grão-Senhor. O seu Grão-Senhor. A Grã-Rainha riu ao estalar os dedos. O Tamlin ao seu lado se transformou em Attor que sorriu malicioso.
Enganada. Feyre fora enganada por seus sentidos novamente. Devagar, ela se virou para o verdadeiro Tamlin.
─ Algo errado?─ A feérica no trono perguntou.
─ Não... Não é justo.─ Respondeu a humana.
─ Justo? Eu não sabia que vocês humanos conheciam esse conceito. Você mata Tamlin, e ele está livre. E, então, pode ficar com ele para você.─ Disse com o sorriso mais terrível que já existiu em seu rosto.─ A não ser que ache mais apropriado abrir mão de sua vida. Afinal de contas: qual é o objetivo? Sobreviver apenas para perdê-lo. Imagine todos aqueles anos que passariam juntos... subitamente sozinha. Trágico, na verdade. No entanto, há alguns meses, você odiava nosso povo a ponto de nos massacrar; então, certamente vai superar isso com facilidade.─ Ela deu tapinhas no anel.─ A amante humana de Jurian o superou. Então, o que vai ser, Feyre?
De joelhos, os olhos de Tamlin ficaram muito brilhantes, desafiadores. A humana encarou a adaga de freixo. Alis estivera certo quando lhe disse que nenhum humano que já entrou ali saiu. Feyre não era a exceção... Não havia como escapar daquilo... Alis estivera certa. Mas... dissera algo... Algo para ajudá-la. Ela havia lhe dito para prestar atenção no que ouvira, como se Feyre já tivesse aprendido de tudo que precisava. Devagar, a humana encarou Tamlin.
Ele mentira para ela sobre tudo. Mas a maldição apenas não foi permitida para que ele falasse.... Não, Tamlin mentiu e explicara do melhor jeito possível...
O Attor no jardim, Tamlin lhe encondera. Disse para ficar parada e levara o Attor até ela, permitiu que ela ouvisse a conversa. Sempre deixava as portas abertas quando falava com Lucien sobre a maldição... Ele queria que ela ouvisse, prestasse atenção em todas as informações que lhe entregavam.
Minha senhora não faz acordos que não sejam vantajosos para ela.
Amaramtha jamais mataria o que desejava; não Tamlin, não depois de o cobiçar tanto. Conversa após conversa foi revivida até ouvir as palavras de Lucien soprando em sua mente.
─ Para alguém com coração de pedra, o seu certamente anda molenga ultimamente.
Ela olhou para Tamlin, os olhos se voltando para seu peito.
─ Embora você tenha o coração de pedra, Tamlin, certamente mantém um punhado de medo dentro dele.─ dissera o Attor.
Amarantha jamais arriscaria matá-lo, porque sabia que Feyre não podia fazê-lo. Não se o coração dele tivesse sido transformado em pedra.
Observou o rosto de Tamlin, procurando um lampejo de verdade. Mas só encontrou aquela revolta ousada em seu olhar.
Talvez estivesse errada... Mas arriscaria. Principalmente quando havia um leve sorriso nos lábios que amava quando levou sua mão até a adaga de freixo.
Feyre acreditava no Destino. O Destino havia se certificado que ela estava para ouvir as conversas, porque o Destino havia sussurado nos ouvidos de Tamlin que a garota fria que ele arrastara para casa iria quebrar a maldição. O Destino permitiu que ela estivesse viva até aquele ponto.
E ali estava ele, seu Grão-Senhor, seu amado, ajoelhado diante dela.
─ Amo você.─ Falou e então, apunhalou Tamlin.
O Grão-Senhor da Primavera gritou quando a lâmina perfurou seu peito, partindo o osso. Tamlin se curvou para frente, o rosto pálido e Feyre arrancou a adaga de seu peito, erguendo a adaga e ali estava, a ponta estava quebrada, dobrada sobre si mesma.
Olhares foram trocados em meio a multidão conforme Demetria caminhava, o vestido azul e dourado ondulando em seus pés enquanto se aproximava do trono, passos lentos e cautelosos como os de um gato, o frasco de pó branco pesando no bolso escondido em meio ao tecido de sua vestimenta. Ela cessou seus passos na borda da multidão quando Amarantha se ergueu, e os feéricos começaram a murmurar ao seu redor, Rhysand sorrindo de orelha a orelha no altar e Tamlin segurando seu peito enquanto ofegava, o ferimento cicatrizando. Devagar. A máscara não caíra.
─ Ela venceu.─ Disse alguém na multidão.
─ Liberte-os.─ Ecoou outro. O rosto de Amarantha ficou pálido, as feições se contorcendo até se tornarem verdadeiramente viperinas.
─ Vou libertá-los quando achar que devo. Feyre não especificou quando eu precisaria libertá-los, apenas que eu precisaria. Em algum momento. Talvez quando você estiver morta.─ Terminou ela com um sorriso de ódio.─ Presumiu que quando falei de liberdade instantânea com relação ao enigma, ela se aplicava às tarefas também, não foi? Humana tola e burra.
Feyre recuou enquanto assistia Amarantha descer os degraus da plataforma e Demetria avançou em passos rápidos, agarrando o braço da humana e se pondo na frente dela.
Os olhos negros de Amarantha queimaram, os dedos se contraiam em garras.
─ Saía.─ Rosnou, mas a feérica não se moveu, apenas ergueu uma sobrancelha e o queixo. Um desafio.─ Saía, sua maldita, ou irei destroçar você da mesma forma que fiz com seu maldito amigo.
Em uma risada, Demetria deu um passo para trás, fazendo com que Feyre fizesse o mesmo.
─ Não, Amarantha.─ Ela sorriu, os olhos verde-prata encarando a Grã-Rainha.─ Eu que vou destroçar alguém aqui e será você, não se preocupe que farei o possível para que seja da mesma forma que Jurian fez com sua amada Clythia.─ Mais um passo, recuado. Todos estavam atentos demais para os movimentos da feérica, Amarantha tremeu e rosnou em aviso.─ Me pergunto se quando gritar enquanto eu a parto em milhões de pedaços lembrará Clythia para Jurian.
Algo nos olhos de Amarantha flamejou, como as lambaredas que queimavam o inferno, prometando uma morte dolorosa quando erguia um dedo e o apontava diretamente para o rosto da pequena fêmea. O sorriso de Demetria apenas se alargou, e então, espirais negros brotaram em sua pele, surgindo em seus braços expostos.
─ Vou matar você.─ Os dentes de Amarantha reluziu, ficando afiados. Os olhos se deslocaram entre as duas em sua frente.─ Vou matar as duas. Vou fazer com que pague por sua insolência.
Alguém gritou e Demetria não conseguiu convocar uma barreira com o que restava de seu poder quando uma forte onda de magia atingiu não só ela, mas como Feyre, acabarando por derrubar as duas no chão.
Feyre gritou quando uma dor que jamais havia sentiria em toda sua vida atravessou seu corpo enquanto Demetria fora lançada para o meio da multidão, seu corpo de bruços sendo pressionado contra o piso vermelho, a pressão da magia sobre si fazendo com que se fugisse de seus pulmões.
─ Admita que não o ama de verdade, e vou poupá-la.─ Sussurou Amarantha, caminhando na direção da humana.─ Admita que é um pedaço de lixo covarde, mentiroso e inconstante.
Não, Feyre não diria, mesmo que aquilo significasse que seria destroçada no chão. Demetria se debateu no chão, os olhos verde-prata vagando pela multidão ao seu redor, buscando por olhos cor de âmbar. Ela trincou os dentes com força, resistindo a vontade de gritar quando o peso posto em si se intensificou.
─ Feyre!─ Rugiu alguém. Lucien tentou avançar na multidão, na direção da humana mas foi interceptado por um de seus irmãos que sorriram maliciosos e antes de sequer conseguir chegar na borda da aglomeração de feéricos, o filho mais novo do Grão-Senhor Outonal tinha seu rosto pressionado contra o chão, lutando para se libertar do aperto. Amaramtha continuou se aproximando da humana.
─ Acha que é digna dele? Um Grão-Senhor? Acha que merece qualquer coisa, humana?─ As costas de Feyre se arquearam, e as suas costelas se partiram, uma a uma. Lucien gritou novamente, conseguindo se livrar daquele aperto por um momento com um soco no maxilar de seu irmão, mas novamente foi derrubado e dessa vez, por Eris que grunhiu entredentes:
─ Observe.
A dor apagou a humana mas Amarantha lhe despertou.
─ O que você é, senão lama e ossos e alimento para vermes?─ Vociferou ela.─ O que é você em comparação com nosso povo, para achar que é digna de nós?
Feéricos começaram a gritar que aquilo era injusto, exigiram que Tamlin fosse libertado da maldição e chamaram Amarantha de ardilosa e trapaceira. Em meio à névoa que se espalhava por sua visão, Feyre conseguiu enxergar Rhysand agachado ao lado de Tamlin. Não para ajudá-lo, mas para pegar a...
─ São todos porcos, todos porcos imundos e ardilosos.
Feyre chorou em meio aos gritos quando o pé de Amarantha se chocou contra as costelas quebradas da humana. De novo. E de novo.
─ Seu coração mortal não é nada para nós.
Rhysand se levantou com a faca ensanguentada em mãos, disparando para cima de Amarantha, ágil como uma sombra e a adaga apontada para o pescoço da Grã-Rainha. Amarantha ergueu a mão, sem sequer olhá-lo, e o Grão-Senhor da Corte Noturna foi atirado para trás por uma parede de luz.
A dor parou por um momento, o suficiente para que Feyre visse Rhysand atingir o chão, ouvir os gritos de Demetria soando pelo salão quando o viu avançar contra Amarantha com as mãos terminando em garras, chocando-se contra a parede invisível que ela havia erguido em volta de si e atirando Rhys pelos ares. Tão concentrada que nem ao menos notou o Grão-Senhor que se aproximava dela, tão cuidadosamente que apenas se deu conta da presença dele quando as mãos tocaram a barreira em sua volta, destruindo- a completamente.
Amarantha virou-se, seus dentes expostos para o macho que lhe lançou um sorriso presunçoso e ela não conseguiu dizer nada, pois quando sua boca se abriu enquanto sua magia golpeou Rhys novamente. Demetria levantou-se e no momento que a cabeça do Senhor da Noite se chocou contra as pedras com tanta força que o fez deixar a faca cair de seus dedos, ela avançou.
Com uma ferocidade jamais vista em seus olhos esverdeados, o corpo magro de Demetria se chocou contra o de Amarantha e as duas foram ao chão. O punho de dedos magros se fechou, chocando-se no maxilar da rainha com força, alguns dedos se quebraram com o ataque mas a feérica não se importou nem um pouco. Amarantha rugiu abaixo dela, transferindo um tapa no rosto pálido da fêmea vinda da Corte Noturna com tanta força que feriu o rosto da feérica e um soco no maxilar que conseguiu derrubar a de olhos verdes no chão, porém, a feérica de cabelos castanhos não desistiu e puxou os cabelos vermelhos ao ponto de arrancar mechas. Amarantha soltou outro rugido e sentou-se no tronco da feérica menor, lhe dando outro soco que lhe fez ver estrelas.
─ Sua imundície traidora.─ Fervilhou, as mãos com garras em volta do pescoço de Demetria, sufucando-a. Rhysand gritou.─ Você estava planejando isso esse tempo todo.
O choro de Feyre se intensificou, quando a feérica abriu sua boca, tentando trazer ar para seus pulmões.
─ Pare.─ Sussurou ela, sangue encheu sua boca quando esticou a mão na direção da Grã-Rainha e de Demetria.─ Por favor.
Uma risada de corvo veio de Amarantha.
─ Pare? Pare? Não finja que se importa, humana.─ Cantarolou ela emcima de Demetria, uma de suas mãos se ergueu e um dedo se dobrou. Feyre arqueou as costas, a coluna se estirando quase ao ponto de quebrar e novamente, Lucien gritou o nome dela.
Helion deu um passo para trás, se voltando para Feyre e prestes a ajoelhar diante da humana, uma criatura de pele verde se lançou no Grão-Senhor da Corte Diurna, suas garras se fincando na pele escura e arrancando o sangue do feérico que lhe mirou um olhar sanguinário, chocando seu punho contra a boca da criatura.
─ Diga que não o ama!─ Gritou Amarantha com seu olhar preso na humana sendo destroçada no piso vermelho, acabando por dar a brecha que Demetria precisava ao afrouxar o aperto no seu pescoço. Em um gesto ágil, uma de suas mãos adentraram no bolso escondido em seu vestido e então, seus dedos se fecharam em um frasco. Os olhos esverdeados salpicados de prata cintilaram quando seu punho se encontrou com a traqueia da general, fazendo-a perder ar por só míseros segundos. Segundos, mas tempo suficiente para que ela conseguisse colocar o frasco dentro da boca de Amarantha e fechá-la com força fazendo com que o frasco se quebrasse, contido pelos lábios da fêmea vindo de Hybern. Enquanto Amarantha se arrastava para longe de Demetria com os olhos flamejando em puro choque, a feérica se virou para a humana e disse:
─ Fale, Feyre. Você precisa falar agora!─ E ela o fez. Ela respondeu.
─ Amor.─ Sussurou, arquejo de surpresa soou pela multidão de feéricos enquanto a palavra se esvaía na escuridão, seus olhos azul-cinzentos fixos nos olhos esverdeados do Grão-Senhor que amava. Uma pausa na magia de Amarantha que, agora, olhava para a humana.─ A resposta ao enigma...─ Disse, engasgando no próprio sangue.─ é... amor.
E foi a última coisa que disse antes de sua coluna se partir sem parar.
Longe, estava longe mas ainda assim, via. Mas por olhos que não eram seus, olhos presos a uma pessoa que, devagar, se levantava de onde estava em um piso ensanguentado. Ali, estava seu corpo. Prostrado no chão, com sua cabeça virada para o lado em um ângulo terrivelmente errado. Mãos entraram em seu campo de visão, seu hospedeiro agora olhava para as próprias mãos, ajoelhado naquele piso vermelho. E tocaram seu rosto, retirando algo. Uma máscara de raposa. O olhar foi até Tamlin, o rosto ainda mascarado quando se transformou em algo realmente lupino quando ele ergueu o olhar para rainha e grunhiu, presas se projetando.
Mas, ao contrário do que muitos pensavam, Amarantha não recuou. Lentamente, se ergueu do chão, os olhos brilhando em puro desafio. Próxima dos pés dela, Demetria gritou quando foi jogada na direção mais próxima, atingindo a parede com força antes de encontrar com o chão. Helion ainda estava envolvido em uma luta física com a estranha criatura quando também foi jogado na mesma direção de Demetria, mas ao invés de cair no chão, ele se manteve preso na parede. Garras invisíveis agarrando seu corpo fortemente e o impedindo de se mexer enquanto seus olhos caíam na feérica também se encontrando no mesmo estado, novamente presa ao chão.
O rosto de Amarantha assumiu o inexpressivo quando ergueu uma sobrancelha, e rosnou na direção de Tamlin:
─ Venha.
O Grão-Senhor soltou um rugido que estremeceu a montanha inteira ao se lançar contra ela, assumindo sua forma bestial da forma mais rápida que Feyre já vira. Amarantha ergueu a mão, um clarão de luz branca surgiu e atingiu a fera que voou pelo ar, rachando as pedras quando foi empurrado contra elas por uma força invisível.
A general riu.
─ Realmente achou que seria tão rápido assim?─ Riu novamente e suas palmas se encontraram enquanto se curvava levemente para frente, os olhos ferozes correndo contra os feéricos eufóricos.─ Acreditaram que seria fácil me derrotar?─ Sua risada cessou, assumindo uma postura predatória, aquela que assumia antes de uma batalha.─ Se ajoelhem diante de sua Grã-Rainha!
Seu grito reverberou por todo salão, conseguindo estremecer a montanha novamente, alguém na multidão soltou um fraquejo de horror e muitos começaram a se ajoelhar. Amarantha abriu um sorriso satisfeito, não parecendo se importar com o fato que Tamlin avançava novamente em sua direção, mas, novamente não conseguiu tocá-la, pois uma corrente de vento atingiu o corpo da Grã-Rainha. Uma magia vinda do macho feérico que brilhava em meio a multidão, vestido de dourado e rubi. O Grão-Senhor da Corte Crepuscular.
E antes que pudesse sequer pensar em como retribuiria o golpe enquanto deslizava pelo piso, a rainha feérica foi atingida novamente. Por uma jato de água que lhe lançou pelos ares, atingindo seu trono e o destruindo por inteiro. Tarquin e Thesan, os nomes flutuaram pela mente de seu hospedeiro. Os Grão-Senhores estão se revoltando. Foi pensamento que surgiu no momento que chamas foram disparadas na direção da Grã-rainha que já se erguia, preparada para liberar sua fúria sobre todos. De cabelos castanhos e de um rosto parecido com o de Lucien, o Grão-Senhor da Corte Outonal abriu um sorriso enviesado, as mãos flamejando.
Um rugido soou. Amarantha rugiu. Aquele poder sombrio somado ao poder dos Grão-Senhores que acabaram de lhe atacar fez com que a montanha tremesse por inteira. Muitos feéricos começaram a recuar, temendo a fúria da mulher que se ergueu com seu olhar, parecendo que a escuridão mais absoluta havia tomado conta da general de Hybern. As sombras se movimentaram ao redor da rainha, se aproximando de sua figura. O poder que pertencia a Rhysand estava perto de ser posto sobre todos eles, mas os Grão-Senhores não recuaram, não quando tudo que precisavam para finalmente obter sua liberdade era resistir. E foi exatamente o que fizeram quando aquele poder sombrio se chocou contra todos eles, os sobrepujando completamente.
Quando aquela força foi posta sobre si, lhe pressionando cada vez mais contra o piso vermelho, Demetria resistiu. Ela resistiu, por aquele laço que eternamente lhe ligava com o macho que também era pressionado contra o piso vermelho. Ela resistiu por seu povo, as pessoas que viveram por tempo demais na escuridão e só puderam encontrar a luz quando abriu o caminho para que todos os Pesadelos se permitissem sonhar. Resistiu por Lionel, a pessoa que mais amava e morreu de forma cruel, sem receber a chance de ser enterrado como a pessoa amada e digna que era. E resistiu por si, a feérica que foi torturada por cinquenta anos, sendo colocada em um limite que sua alma sempre estava prestes a ser quebrada.
Todos ali resistiram até o peso invisível colocados sobre todos evaporasse. Até que o pó do frasco que havia quebrado na boca da rainha fizesse efeito, até que a magia sumisse. E, quando isso ocorreu, pela primeira vez em cinquenta anos, Demetria liberou todo seu poder. Aquele mísero resquício que estava lentamente se tornando ao o que já havia sido. Ela se tornou escuridão, bruta e incontrolável. Demetria retornou a ser uma Dama dos Pesadelos.
Conforme se erguia, lançando seus cabelos para trás e os deixando atingir suas costas, as trevas acompanharam seu movimento, como fizessem parte dela. Os olhos se abriram, revelando as orbes esverdeadas respingadas por prata que se tornaram a única luz em meio ao manto de sombras que lhe cobria. Ela ficou ali, parada. O Grão-Senhor da Corte Diurna caiu ao seu lado e se ergueu com um sorriso convencido nos lábios.
─ Amarantha, você está sendo condenada pelo assassinato de cinquenta crianças da Corte Invernal, ─ A voz firme do macho feérico soou pelo salão. A Grã-Rainha não se mexia, seus olhos cor de ébano continuavam encarando suas mãos, como se não acreditasse no que estava acontecendo.─ pelo assassinato de Um Grão-Senhor, pela queima de boa parte das bibliotecas da Corte Diurna. O preço cobrado por sua absorção é a sua morte, não há escapatória. Trate de se render sem resistir, afinal não tenho o tempo do mundo para puni-lá, sua maldita vadia odiosa.
Amarantha virou sua cabeça e assistiu Demetria dar um passo na sua direção. Havia um sorriso nos lábios da feérica menor quando sua palma tomada por espirais negros foi erguida e a rainha feérica engasgou ao visualizar aqueles olhos verde-prata sanguinários, prontos para observar seu sangue se espalhar pelo piso, da mesma forma que o fez no momento que destroçou a garganta de Lionel. Ela deu um passo para trás, recuou diante da própria morte. Lhe encarando com malícia e com sede de sangue. Mais um passo foi dado. E foi naquele momento que Demetria avançou, como uma sombra, ainda mais sombria e silenciosa.
Em um minuto, a Dama dos Pesadelos estava parada ao lado de Helion e no outro, uma de suas mãos estavam segurando o pescoço de Amarantha e na outra mão, sendo segurado com força por seus dedos, estava a adaga que Feyre havia utilizado para apunhalar um feérico.
─ Eu lhe disse e você não acreditou.─ Disse a feérica, suave e calma. Os olhos cor de ébano de Amarantha se arregalou.─ Lhe disse que estava amaldiçoada, e você não acreditou.
Ela soltou a Grã-Rainha que desabou em seus pés, decidindo não atacar mas sim, recuar. Se arrastando para longe de Demetria que sorriu na direção da lâmina em sua mão.
─ Eu não menti, Amarantha.─ Murmurou, os olhos fixos na rainha feérica que se ergueu rapidamente, preparando-se para fugir.─ Não menti, pois eu sou sua maldição.
A rainha feérica tremeu. Não de ódio, mas de medo. A adaga nas mãos da feérica menor também tremeu e então, avançou, cortando carne e osso, banhando a mão de quem lhe segurava de sangue. Amarantha engasgou com seu próprio sangue, os olhos cor de ébano encararam os olhos esmeraldinos.
─ Sangue se paga com sangue.─ E em um gesto rápido demais para olhos humanos acompanhar, Demetria retirou a adaga do peito de Amarantha e cortou sua garganta com a lâmina. Aquela que se autonomeou como Grã-Rainha de Prythian caiu. Os olhos arregalados e sem vida fitaram a multidão. Demetria deu passos para trás, as sombras lhe abandonando quando um soluço escapou por seus lábios trêmulos. Suas mãos banhadas por sangue se encontraram em seu rosto, lágrimas mornas descendo por suas bochechas magras enquanto se curvava para frente.
Seu choro de alívio ecoou por todo salão do trono quando se ajoelhou no sangue que escorria para fora do corpo de Amarantha. Ela finalmente...
Mãos cobriram seus ombros e Rhysand a puxou para seu peito, ali, Demetria desabou por completamente entre soluços e lágrimas pelo que havia perdido naqueles cinquenta anos que se passaram. Pelo que havia lhe destruído naqueles cinquenta anos.
Ele pegou seu corpo inerte e quebrado, aninhando-o contra seu peito. Tamlin ainda não havia removido a máscara, mas Feyre viu as lágrimas que caíram em sua túnica imunda e ouviu os soluços estremecidos emitidos por ele conforme Tamlin lhe balançava, acariciava seu cabelo.
─ Não...─ Sussurou seu hospedeiro, não... Lucien. Muitos feéricos e Grã-Feéricos observavam a cena com olhos cheios d'água enquanto Tamlin segurava Feyre.
A humana queria chegar a ele. Queria tocá-lo, implorar seu perdão pelo que tinha feito, pelos outros corpos no chão, mas Feyre estava muito longe. Alguém surgiu ao lado de Lucien, o Grão-Senhor da Corte Outonal. Lucien não olhou para seu pai, mas enrijeceu o corpo quando o macho feérico se aproximou de Tamlin e estendeu a mão fechada em punho para ele.
Tamlin só ergueu o rosto quando o Grão-Senhor abriu e virou a mão. Uma faísca reluzente caiu, se inflamou e sumiu quando tocou seu peito.
Outras duas figuras de aproximaram. E pelos olhos de seu hospedeiro, as reconheceu. O Grão-Senhor da Corte Estival e o Grão-Senhor da Corte Invernal. Ambos de queixo erguido, ombros esticados, eles também soltaram aquelas sementes brilhantes sobre Feyre. O Grão-Senhor da Corte Crepuscular também jogou uma gota de luz sobre seu corpo falecido, assim como o Grão-Senhor da Corte Diurna que ofereceu um sorriso triste para Tamlin antes de afastar, havia uma mancha roxa em seu maxilar.
Rhysand deu um passo adiante, Demetria estava atrás dele, bochechas vermelhas e olhos ainda brilhando em lágrimas. Tamlin encarou o Grão-Senhor da Corte Noturna.
─ Pelo que ela deu ─ Falou Rhysand, estendendo a mão.─, concederemos o que nossos predecessores concederemos a poucos no passado.─ Ele parou.─ Isso nos deixa quites.─ Acrescentou. Feyre sentiu o brilho de seu humor quando Rhys abriu a mão e deixou que a semente de luz caísse sobre seu corpo morto.
Tamlin afastou carinhosamente seus cabelos castanho-dourados. Sua mão brilhando forte como o sol nascente, e, no centro da palma, aquele broto estranho e brilhante se formou.
─ Amo você.─ Sussurou o Grão-Senhor da Corte Primaveril, e beijou os lábios da humana ao pousar a mão sobre o coração de Feyre.
Escuro, quente e espesso. Coberto de tinta, mas emoldurado com ouro. Estava nadando, chutando em busca da superfície, onde Tamlin lhe esperava, onde a vida esperava. Mais e mais para cima, desesperada por ar. A luz dourada aumentou e a escuridão se tornou em vinho espumante, mais fácil de nadar, as bolhas criando ao seu redor e...
Arquejou, o ar invadindo seus pulmões.
E então, Feyre estava viva novamente. Mas, não como humana, mas sim, como Grã-Feérica.
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