seven. filthy hands
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Feyre acordou em sua cela, aquele pedaço de tecido que ousaram chamar de tecido em volta de seu corpo e tudo girava. Girava. A humana mal conseguiu se erguer sem colocar tudo que havia ingerido na noite passada após aceitar o vinho de Rhysand. Ela esvaziou o estômago em um canto da cela, então, se arrastou para o lado contrário, desabando em um sono. O mundo ainda rastejando ao seu redor, dando rodas e mais rodas.
Não é necessário dizer que, sim, Feyre vomitou inúmeras vezes naquele dia até a noite chegar e com ela, uma refeição quente que ousou beliscar. Até o momento que a porta se abriu em um rangido nada suave, um rosto de uma raposa dourada aparecendo ao lado de um olhar de metal semicerrado.
─ Merda.─ Resmungou Lucien.─ Está congelando aqui.
Feyre ergueu a cabeça, se esforçando para manter a comida dentro de si. O feérico desprendeu a manta sobre seu corpo, colocando-o em volta dos ombros da humana que se encolheu dentro daquele calor pesado. O rosto do de cabelos carmesim se contorceu levemente em uma careta ao analisar a tinta borrada em certos pontos na cintura da mortal.
─ Olhe só para tudo isso. Desgraçado.
─ O que aconteceu?─ Sua memória não passava de um borrão escuro de uma música selvagem, ela nem mesmo tinha certeza que realmente queria uma resposta.
Lucien piscou, e se afastou.
─ Não acho que queira saber.
Feyre observou os poucos borrões ao longo de sua cintura, como se mãos tivessem segurado ela.
─ Quem fez isso comigo?─ Perguntou baixo, os olhos ainda seguindo o arco da tinta manchada.
─ Quem você acha?
Seu coração se afundou dentro do peito quando ergueu seu olhar e encarou Lucien por momento, antes de voltar seus olhos para o chão.
─ Ele... Tamlin viu isso?
O feérico balançou a cabeça.
─ Rhys só estava fazendo isso para provocá-lo.
─ E funcionou?─ Ela não conseguia sequer olhar para Lucien. As marcas... Alívio invadiu Feyre quando notou que não, ela não havia sido violada.
─ Não.
─ O que... o que eu fiz o tempo todo?─ Mais um aviso de Alis que se tornou inútil.
O grão-feérico deu um suspiro forte, e mergulhou os dedos no cabelo ruivos.
─ Rhysand obrigou você a dançar para ele durante a maior parte da noite. E, quando não estava dançando, estava sentada aos pés dele.
─ Que tipo de dança?─ Feyre insistiu.
─ Não o tipo executada com Tamlin no Solstício.─ Respondeu Lucien. Um borrão das memórias da noite inferior lhe lembrou da proximidade de um par de olhos violeta, olhos acesos com malícia.
─ Diante de todos?
─ Sim.─ Respondeu Lucien em um mais gentil que Feyre já o ouvira direcionar a ela. Quando a humana enrijeceu o corpo, ele novamente soltou um suspiro e seus dedos tocaram a pele da garota, examinando a tatuagem que se espalhava pelo braço esquerdo.─ Em que estava pensando? Não sabia que eu viria assim que possível?
Em um ato grosseiro, Feyre puxou seu braço para si.
─ Eu estava morrendo! Com febre, mal conseguia ficar consciente! Como poderia adivinhar que viria? Que sequer entendia quão rapidamente humanos podem morrer desse tipo de coisa? Você me disse que hesitou naquela vez com os naga.
─ Fiz juramento a Tamlin...
─ Não tive escolha! Acha que vou confiar em você depois de tudo o que falou para mim na mansão?
─ Eu me arrisquei por você durante a tarefa. Não bastou?─ O olho de metal rangiu baixinho.─ Você ofereceu seu nome a mim; depois de tudo o que eu falei para você, tudo o que fiz, mesmo assim ofereceu seu nome. Não percebeu que eu a ajudaria depois daquilo? Com ou sem juramento?
Feyre engoliu seco; ela defitivamente não percebeu que aquilo havia significado alguma coisa para ele.
─ Não tive escolha.─ Disse em um único fôlego, ficando ofegante.
─ Não entende o que Rhys é?
─ Entendo!─ Ela suspirou.─ Entendo.─ Repetiu em um tom mais baixo.─ Está feito. Então, não precisa cumprir qualquer que seja o juramento que tenha feito a Tamlin para me proteger, ou sentir que me deve alguma coisa por tê-lo salvado de Amarantha. Eu teria feito aquilo apenas para arrancar o sorrisinho dos rostos dos seus irmãos.
Lucien emitiu um estalo com a língua, o olho que lhe restava brilhou.
─ Fico feliz por ver que não vendeu seu espírito humano vivaz ou sua teimosia.
─ Apenas uma semana de minha vida todo mês.
─ Sim, bem... vamos ver quanto a isso quando o momento chegar.─ Grunhiu Lucien, o olho de metal se voltando para a porta.─ Preciso ir. O turno vai mudar.
O grão-feérico de um passo para a porta quando Feyre disse:
─ Desculpe... por ela ter punido você mesmo assim por ter me ajudado durante a tarefa...─ A garganta da humana se apertou.─ Soube o que ela obrigou Tamlin a fazer com você.─ Lucien deu de ombros.─ Obrigada. Por me ajudar, quero dizer.
O grão-feérico caminhou até a entrada, movendo-se com rigidez.
─ Foi por isso que não pude vir mais cedo.─ Disse, a garganta oscilando.─ Ela... usou os poderes dela, os nossos, para evitar que minhas costas melhorassem. E quando... ─ Ele piscou, as mãos se fechando em um punho levemente.─ alguém tentou me ajudar, ela destruiu suas mãos. Não consegui me mover até hoje.
“Quando alguém tentou me ajudar, ela destruiu suas mãos” A imagem de Demetria adentrando no quarto de Rhysand com suas mãos destruídas, seus dedos torcidos e sangrando. A feérica havia tentado ajudar Lucien e foi punida por ter o feito. O ar se tornou difícil, Feyre não conseguia respirar direito.
─ Aqui.─ Ela tentou entregar o manto que estava em seus ombros, mas Lucien dispensou o jeito com um balançar de mão.
─ Fique com ele. Tirei de um guarda que estava dormindo a caminho daqui.─ À luz fraca, os olhos azul-cinzentos pode ver um símbolo de um dragão adormecido reluziu. O brasão de Amarantha.─ Além do mais ─ Um risinho.─, já vi o suficiente de você através desse vestido para durar uma vida inteira.
Vermelho surgiu nas bochechas da humana enquanto o feérico abriu a porta.
─ Espere!─ Exclamou, atraindo o olhar do emissário.─ Tamlin... Tamlin está bem? Quero dizer, quero dizer, esse feitiço que Amarantha lançou sobre ele, para deixá-lo tão silencioso. Ele está bem?
Lucien franziu o cenho, confuso. Um minuto de silêncio foi quebrado com um murmurar do grão-feérico.
─ Não há feitiço.─ Algo dentro de Feyre pesou.─ Não ocorreu a você que Tamlin se mantém calado para evitar contar a Amarantha qual de seus tormentos o afeta mais?
Não, não tinha. Mas aquilo doía... saber que Tamlin não havia feito nada...
─ Mas ele está jogando um jogo perigoso.─ Disse Lucien saindo pela porta.─ Eu, acredito que todos dentro dessa montanha estão jogando, Feyre.
Noite após noite, a humana foi vestida da mesma forma, depois de ser banhada, sendo acompanhada até o salão do trono. Feyre havia se tornado o brinquedo de Rhys, a meretriz da vadia de Amarantha. Acordando no dia seguinte em sua cela com apenas fragmentos da noite anterior em sua mente, onde ela dançava na frente de Rhysand, no meio das pernas, enquanto ele se mantinha sentado na cadeira, rindo com as mãos se manchando de azul quando as deslizava pelos braços da humana, nunca um lugar além. Rhys a fazia dançar até enjoar e pôr tudo que havia ingerido para fora, quando terminasse de vomitar, ele ordenava que ela voltasse a andar. Repetitivas vezes.
Feyre não havia visto Demetria em nenhum lugar no salão do trono, não estava aos pés de Amarantha ou entre os rostos feéricos. Seu coração estava começando a se apertar com as dúvidas que tinha em relação à grã-feérica, ela havia sido brutalmente ferida por curar as costas de alguém que estava sofrendo. Talvez estivesse se escondendo para evitar ser punida injustamente. E quando entrava na sala do trono, ela só tinha um lampejo de Tamlin. Um lampejo que ela utilizava para deixar todo seu amor explícito em seus olhos quando se encontrava com os dele.
O corpo da humana tinha acabado de ser pintada e um vestido de tule possuía cor de toranjas naquela noite quando a porta se abriu, revelando uma figura feminina envolta de um tecido azul que mal cobria suas coxas por inteiro. Enquanto Feyre observava andar em sua direção, ela tentou ignorar os hematomas que se espalhavam pelas as pernas expostas de Demetria.
─ Estão dispensadas.─ Sussurou para as grã-feéricas sombreadas que ofereceram uma suave reverência com um aceno de cabeça, antes de sumir nas sombras. Feyre piscou os olhos, sendo atingida por uma realidade que estava bem explícita em sua frente com um sorriso mínimo nos lábios pálidos.
─ O que está fazendo aqui?─ Demetria inclinou a cabeça para o lado.─ Onde está Rhysand?
A feérica piscou, as mãos magricelas sendo passadas pelo tecido azul do curto vestido e um estalo de língua foi emitido.
─ Rhysand está ocupado. E, ─ Ela tocou o nariz da humana por um breve momento.─ irei levar você para o salão hoje.
Feyre piscou e deu um passo para trás. Demetria havia adentrado em sua cela com a ajuda delas, das criadas da Corte Noturna. Ela as dispensou, da mesma forma que Rhysand havia feito em todas as noites anteriores. Demetria...
─ Quem é você?─ Ela deu mais um passo para trás, enquanto os olhos da feérica cintilaram.─ Quem você era antes de tudo?
Demetria soltou mais uma de suas risadas de sinos e então, os olhos cintilaram mais uma vez, um brilho perigoso e magia explodiu no ambiente. Feyre concentrou toda sua força em suas pernas diante da demonstração de poder, a magia contida debaixo da pele pálida.
─ Eu?─ Um piscar de olhos e um crescer de um sorriso gatuno.─ Bom, sou a Grã-Senhora da Corte Noturna.
Ar se tornou rarefeito para os pulmões de Feyre, ela piscou os olhos e encontrou forças apenas para soltar um murmúrio com o fio de voz.
─ Isso é impossível.
A feérica piscou e toda a opressão que a humana sentia daquela magia antiga desapareceu, Demetria soltou mais uma de suas risadas de sinos, e, afastou os fios castanhos espalhados em seus ombros.
─ Existimos em um mundo que magia domina, nada é impossível.─ A feérica suspirou, as mãos sendo colocadas em sua cintura.─ Mas estou, sim, brincando com você.
A humana piscou, confusa.
─ Por enquanto, não há nenhuma Grã-Senhora. E o que eu era antes de Amarantha não importa, é passado e passado não volta, querida.─ Demetria esticou uma de suas mãos para a humana, um cintilar atravessou seus olhos verde-prata por um momento.─ Venha, não tenha medo, não sou eu que deveria temer.
Feyre não aceitou a palma estendia em sua direção, ela mirou seus olhos azul-cinzentos nela por um momento e os levou até o rosto da feérica, que ergueu uma sobrancelha em uma pergunta.
─ Quem você é? Faz parte da Corte Noturna, não faz? Que tipo de jogo, ─ Ela respirou fundo.─ você e Rhysand estão jogando?
Demetria franziu o cenho, e recolheu sua mão e guiou os dedos até os lábios.
─ As paredes tem ouvidos, Feyre.─ Ela gesticulou com uma de suas mãos para o cômodo, mas então, descansou suas mãos na cintura.─ Certas coisas não podem ser ditas, mas saiba que é um jogo perigoso, mas é um jogo que pode libertar não só a mim, mas como toda Prythian, incluindo Tamlin. E, sim, você é importante para que tudo dê certo.─ Novamente, Demetria piscou, inclinando a cabeça e estendendo a mão para a humana.─ Então, Feyre, vai pegar minha mão ou não?
Havia um significado oculto por trás de cada palavra dita, a humana não era tola ao ponto de ignorar eles. Demetria poderia estar lhe usando, mas era porquê tinha fé que seria capaz de vencer os desafios propostos pela rainha feérica, tinha confiança que a frágil humana seria capaz de realizar tudo aquilo. E, talvez aquilo fosse o que Feyre precisava. De alguém que tivesse fé e confiança nela.
Feyre respirou fundo, antes de aceitar a mão de Demetria, mas não sem antes mirar seus olhos naquela imensidão verde-prata e falar:
─ Me diga o plano. Se vou ser uma peça nesse jogo, eu quero saber o plano. Tudo.─ A feérica sorriu.
─ Então, você não é tão tola quanto pensei que era.─ Feyre bufou, exigindo uma resposta. A de cabelos castanhos longos puxou a humana para perto e então, sussurou.─ Tudo bem, irei contar o plano. Mas, só depois de amanhã à noite, depois da sua tarefa.
Ao lado de Demetria, Feyre caminhou pelos corredores para chegar no salão do trono. A humana se preparou para ser drogada e desgraçada novamente quando colocou os pés no piso vermelho, mas toda a multidão lançou olhares para a feérica, eram ela quem os irmãos de Lucien vigiavam. Demetria não se encolheu diante dos olhares, na verdade, ela puxou Feyre para mais perto e mergulhou ainda mais no mar de rostos ansiosos, famintos e maliciosos.
─ Fique de boca fechada.─ Murmurou ela ao ouvido da humana, até finalmente chegarem na borda da multidão. Feyre obedeceu, principalmente quando seus olhos enxergaram o motivo pelo qual todos os feéricos pareciam tão ansiosos. O motivo pelo qual Rhysand não havia buscado a humana naquela noite.
Um Grão-feérico de pele marrom chorava no chão diante do altar, as mãos em torno do rosto. Amarantha sorriu para ele como uma cobra, com uma determinação cruel brilhando nos olhos ébano. Ao lado dela, Tamlin continuava como uma pedra. A lateral da multidão se abriu como se estivesse pegando fogo, passos casuais soaram pelo salão silencioso e então, Rhysand apareceu, as mãos ajeitando as lapelas de seu casaco.
A rainha feérica acariciou o anel, observando os movimentos do Grão-Senhor da Corte Noturna que se aproximava lentamente. Havia um grão-feérico alto e bonito de pé no limite da multidão, próximo a Feyre e Demetria, os cabelos em uma tonalidade branca e olhos de um azul impressionante. Sua boca contraída enquanto seu olhar transitava entre Amarantha e Rhysand. O Grão-Senhor da Corte Estival. Em algum momento, Feyre viu sua pele brilhar, quase que vazando uma luz dourada. Mas agora, parecia que a mulher vinda de Hybern havia drenado todo seu poder.
O feérico da Corte Estival no chão se urinou ao ver Rhysand. Os dedos de Demetria se apertaram em torno do braço de Feyre.
─ P-p-por favor.─ gaguejou, tremendo. Seu murmúrio flutuou pela multidão silenciosa.
O feérico de olhos púrpura virou-se, ficando de costas para elas. Ombros relaxados, nenhum tecido fora de seu lugar, mas todos sabiam que garras haviam tomado a mente do macho que parou de tremer no chão.
Dor, a mais pura dor podia ser vista nos olhos impressionantes do Grão-Senhor da Corte Estival. Feyre lembrou-se rapidamente que a Corte do Verão havia sido uma das únicas que se rebelou contra Amarantha. O silêncio foi cortado brutalmente com a voz sedosa de Rhys.
─ Ele queria escapar. Chegar à Corte Primaveril, atravessar a muralha e fugir para o sul, para o território humano. Não tinha cúmplices, e nenhum motivo além da própria covardia patética.─ O feérico inclinou o queixo para a poça de urina sob o macho. Mas, pelo canto dos olhos, Feyre pode notar que o Grão-Senhor fraquejar, o bastante para que a humana pudesse pensar nas escolhas de palavras de Rhys quando invadiu a mente do macho, o que havia ocultado. Amarantha relaxou no trono com um revirar de olhos.
─ Destrua-o, Rhysand.─ Disse. E fez um gesto de mão para o Grão-Senhor da Estival.─ Você pode fazer o que quiser com o corpo depois.
Feyre notou quando Demetria soltou ar pela boca, inclinado seu corpo o suficiente para que suas bochechas encostassem na pele da humana. O Senhor do Verão fez uma reverência, como se tivesse recebido um presente, e olhou para seu súdito que ficou imóvel, calmo, abraçando os joelhos. Pronto e aliviado.
Rhys retirou a mão do bolso e a soltou sobre uma das laterais do corpo, garras fantasmas reluziram na ponta de seus dedos.
─ Estou ficando entediada, Rhysand.─ Falou Amarantha com um leve suspiro, os dedos brincando com o osso pendurado em seu pescoço. Não ergueu os olhos para Feyre e muito menos para Demetria que mergulhou o rosto na pele da humana, parecendo não querer ver o que aconteceria ali. As mãos de Rhysand se fecharam em punhos e tão rápido, o feérico morreu.
Os olhos se arregalou e brilharam quando ele desabou para o lado em uma poça dos próprios dejetos. Sangue vazou de seu nariz, orelhas e empoçando-se no chão. Tão rápido, tão fácil, tão irrevogavelmente... Morto, ele estava.
─ Eu disse para destruir a mente dele, não o cérebro.─ Disparou Amarantha. A multidão murmurou ao redor, se agitando.
Feyre se encolheu, os dedos se encostando no rosto da feérica quando o fez. Tamlin não havia movido um mísero músculo. Que horrores teria ele testemunhado em sua vida longa e imortal para não ter nem se encolhido diante do horror em sua frente?
Rhysand deu de ombros, e a mão deslizou de volta para o bolso.
─ Peço desculpas, minha rainha.─ Ele se virou, sem ser dispensado, os olhos violetas se concentraram em Feyre e ela soube o que deveria fazer. Ela olhou para Demetria que já havia se afastado dela, as mãos magricelas seguraram a humana por um momento, antes de deixá-la seguir Rhysand em meio a multidão.
Vadia, sibilaram alguns, fora do alcance dos ouvidos da rainha; vadia de Amarantha. Outros soltaram murmúrios e sorrisos hesitantes, de reconhecimento. Que bom que o matou; que bom que matou o traidor.
Imaginou se por algum momento alguém havia notado que a morte havia sido por piedade. Feyre poderia facilmente apostar que outros estavam envolvidos com aquela fuga, talvez até o próprio Grão-Senhor Estival pela forma que agiu. Talvez tivesse sido mais um dos jogos de Rhysand. Porém,
Rhysand não havia cessado nenhum de seus passos ao longo da caminhada até a mesa de comida que se estendia aos fundos do salão. O macho não disse nada para ela, apenas lhe ofereceu o vinho feérico e deixou com que Feyre caísse no esquecimento.
Rhysand vomitava. O estômago colocava tudo para fora, enquanto a vergonha e o terror do que havia feito naquela noite começava a consumi-lo. Suas mãos poderiam estar visivelmente limpas, porém, ele podia ver. O sangue daqueles que matou durante cinquenta anos a mando de Amarantha. Podia ver as marcas que nunca iriam desaparecer, tudo que havia feito para proteger a fêmea que agora adentrava seu quarto com a ajuda das gêmeas mestiças.
Demetria gesticulou para Nuala e Cerridwen, elas desapareceram nas sombras enquanto ela caminhava na direção dele. Os joelhos se apoiaram no chão, as mãos hesitaram tocá-lo, principalmente quando tinha noção que Rhys se recusava aceitar seus toques após momentos como aquele. Aquilo quebrava algo dentro da feérica, quebrava por saber que seu parceiro não se achava digno dela ao ponto de receber aqueles toques de conforto.
Rhys vomitou mais uma vez na latrina, e se inclinou para trás, desabando no chão. Lágrimas brilhavam naqueles olhos violetas que Demetria aprendeu a admirar. Ela soltou um suspiro, seus dedos tocaram a tez suada do macho, deslizando elas até os lábios contraídos do Senhor da Noite, limpando os últimos resquícios de vômito que havia ali, antes de se levantar. Rapidamente, ela saiu do banheiro deixando Rhysand sozinho, apenas tempo suficiente para conseguir achar uma taça.
─ Aqui.─ Sussurrou ela, colocando a taça preenchida com água próximo dos lábios do Grão-Senhor que agarrou o objeto e a água se movimentou em sua boca, antes dele cuspir ela no piso. ─ Venha, você precisa de um banho.
Demetria levantou-se novamente, apenas para ter a certeza que a banheira estava cheia e a água estava minimamente quente. Os minutos seguintes foram dedicados a despir Rhysand, com a ajuda do mesmo. Era um trabalho com o qual ela havia se acostumou a fazer. Um trabalho que fazia para impedir que Rhysand, o Grão-Senhor da Corte Noturna e seu parceiro, se desmanchasse por inteiro. Ser o mártir de Rhysand. E deixá-lo ser seu mártir. Era uma responsabilidade que ambos assumiram e não sabiam se um dia deixariam ela de lado.
Rhysand, desprovido de qualquer vestimenta, se afundou na água e se encolheu. Os braços se apoiando nos joelhos dobrados, sua cabeça inclinada para baixo. Ele deixou com que a fêmea molhasse seus cabelos, limpando seu corpo e, principalmente, suas mãos, depositando um beijo nelas antes de esfregar-las com cuidado.
─ Sei que você já sabe, mas, estou aqui.─ Ela murmurou, deslizando as mãos por suas costas, lhe dando o conforto que precisava em um momento como aquele.─ Estou aqui, Rhysand.─ Demetria depositou um beijo em um dos braços tatuados.─ Estou aqui. Vejo você, e não me importo com o que enxergo.
Aquelas palavras pareceram a válvula necessária para que Rhysand iniciasse seu choro, lágrimas escorrendo por seu rosto e se misturando com a água, os ombros temendo enquanto seus soluços se tornavam o único som que soava dentro daquele banheiro, dentro daquele quarto.
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