fourteen. daring
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Lionel franziu o cenho, cruzando os braços e se encostando no batente da porta do quarto que pertencia a pequena fêmea se deslocando pelo cômodo, abrindo gavetas e baús em busca de algo que ela ainda não havia revelado a ele.
─ Pode me dizer o que está procurando, bebê pesadelo?─ Demetria se virou, mirando seus olhos verdes nas orbes castanhas do macho por um mero momento antes de abaixar a tampa do baú que tinha acabado de abrir.
─ Lembra da minha caixa de jóias?─ Lionel inclinou a cabeça, confuso.
─ Está falando daquela que você só coloca as jóias mais importantes?─ Questionou, recebendo um pequeno manear de cabeça da mulher. Rapidamente, os olhos castanhos do macho foi até a mão direita de Demetria, até o dedo que ostentava um anel de fios entrelaçados de ouro e prata, logo um sorriso surgiu nos seus lábios.
─ Irá guardar o anel que recebeu do Grão-senhor?─ A fêmea piscou, parecendo surpresa com a pergunta. Lionel se aproximou dela, colocando suas mãos nos ombros da amiga e os balançando suavemente.─ Pensei que o odiasse, Demi.
Ela revirou os olhos esverdeados, dando pequenos tapas nos braços do ex-espião e se afastando dele.
─ É uma peça bonita.─ Disse Demetria.─ Então, lembra ou não?
Lionel apenas soltou uma risada soprada. Há quatro anos, a mulher apareceu na grandiosa mansão, que se tornou o lar dos dois companheiros após a morte do marido de Demetria, com um porta jóias feito de ébano e detalhado em ouro. Ela nunca revelou quem havia lhe dado o objeto, mas sempre guardou todos os objetos que considerava preciosos dentro da pequena caixa. Se a Dama dos Pesadelos estava procurando pelo seu porta jóias, então aquele anel em seu dedo tinha se tornado algo importante e considerando que havia recebido ele diretamente do Grão-senhor. Um sorriso nasceu nos lábios de Lionel.
─ Está escondido na penteadeira, selado com sua magia para que ninguém tocasse, lembra?─ Respondeu-a, lançando um olhar para a tal penteadeira, observando Demetria andar até ela, colando a palma de sua mão já dominada por espirais negros em uma das gavetas do toucador. Segundos foram suficientes para que magicamente uma pequena caixa escura surgisse nas mãos da Dama dos Pesadelos. O ex-espião se deixou na cama pertencente à amiga, observando a pequena fêmea abrir o objeto com delicadeza, antes de retirar o belo anel da sua delicada mão e colocá-lo na caixa.
─ Ainda não me respondeu.─ De repente, falou quando Demetria tinha acabado de esconder sua caixa de jóias. Ela lhe lançou um olhar confuso, ainda agachado no chão revestido por tábuas de madeira.─ Você não odiava o nosso competente Grão-senhor?
─ Eu nunca disse isso.─ Balbuciou, sentando ao lado de Lionel na cama, seus olhos na mão, no dedo em que estava o anel. Ela suspirou, seu olhar indo até o teto.─ Ele é um péssimo Grão-senhor, muitas pessoas dessa cidade e das estepes sofreram por culpa da incompetência dele. Isso me fez desgostar de suas ações, mas foi incentivou a tomar toda essa cidade. Acolher os illyrianos só foi uma pequena consequência e até gosto dela, deixamos um general sem seu exército e um Grão-senhor sem suas principais armas em uma guerra.
Lionel soltou uma risada desacreditada, se aproximando da fêmea e abraçando sua cintura com um sorriso nos lábios.
─ Você planejou tudo, desde muito antes de libertar Keir, não foi?─ Demetria franziu o cenho, olhando para seu companheiro, confusa.
─ Claro que sim, realmente achou que eu não esperava todos esses acontecimentos?─ Perguntou ela, retórica.─ Certo que não previ Amarantha e o problema que se tornaria, ou que ela seria o motivo pela união da Corte dos Sonhos com a Corte dos Pesadelos. Mas, o resto foi tudo conforme o planejado. Cada ação de Keir, a união com os illyrianos e claro, roubar um dos livros de magia do Grão-senhor da Diurna para conseguir fazer com que a Cidade Escavada fique sempre iluminada, recebendo a luz solar do sol, mesmo estando dentro de uma montanha.
─ Tudo, até sua ida até a Tecelã?─ A mulher revirou os olhos, dando um tapa fraco na cabeça de Lionel.
─ Você sabe que não, mas eu sobrevivi, e isso que importa.─ O ex-espião se afastou na mulher, saltando para fora da cama e se ajoelhando em frente da sua Senhora, colando suas palmas nos joelhos da mesma.
─ Afinal, se sobreviver é o que importa, ─ Ele mirou suas orbes castanhas nas orbes esverdeadas.─ por qual motivo não para de pensar no que ocorreu lá?
Demetria piscou, surpresa, mas mesmo assim, abriu um suave sorriso, suas mãos criando um caminho até os ombros do ex-espião fazendo um pequeno carinho lá.
─ Mudou tudo, Nelly.─ Disse ela.─ O que aconteceu lá, aquilo mudou tudo para mim.
E Lionel não duvidou das palavras da mulher, mesmo que tivesse desejado profundamente que ela colocasse todas as cartas na mesa, revelando tudo, apenas para que ele pudesse abraça-lá e prometer que tudo ficaria bem no final, da mesma forma que ela sempre fez com ele.
Deitado em sua cama, milhões de pensamentos conflituosos dominavam a mente de Rhysand. E claro que todos eles giravam em torno da Dama dos Pesadelos, a mulher que simplesmente tinha virado seu mundo, sua Corte de cabeça para baixo em poucos dias e de forma tão discreta que só haviam descoberto a união entre a Cidade Escavada e os Illyrianos quando Cassian tinha ido visitar o Acampamento Refúgio do Vento, voltando para Velaris com todos os músculos de seu corpo tensos e um olhar cheio de desespero. Não era mistério para eles que o general poderia odiar os illyrianos e seu jeito arrogante que irritava todos eles de forma profunda, porém Cassian se importava com eles. Sim, de uma forma que um general cuidava de seus soldados, mas ainda assim, ele se importava e aquele desaparecimento preocupou o bastardo illyriano que havia se esforçado durante anos para manter as fêmeas daquele povo longe da cruel tradição e do comportamento machista em busca de impedir que outras mulheres sofressem o mesmo que sua mãe. E de repente, todo o povo tinham abandonado as estepes para se refugiar na Cidade Escavada sob o comando de Demetria.
Ela havia tirado boa parte do poder da Corte Noturna em poucos dias deixado eles sem opções, além de irem até ela e fazer com que uma união seja forjada. Claro que nada ocorreu conforme o planejado. Afinal, o ex-espião da Corte Noturna e agora, Lorde dos Pesadelos ao lado de Demetria havia proposto um teste de confiança, fazendo com que Rhysand levasse a sua parceira até a Tecelã para recuperar seu anel de noivado, não que ela tenha consciência daquele fato e talvez jamais tenha. Afinal, ela o odiava.
Demetria odiava Rhysand, e essa era uma das maiores verdades de Prythian. Ela depositou todo seu ódio nele e com a maior razão do mundo, pois, se um dia, Demetria sofreu na Cidade Escavada, a culpa havia sido completamente dele que não cumpriu seu devido dever como Grão-senhor de todo o território da Corte Noturna.
─ Está pensativo demais.─ A breve frase atraiu sua atenção até a porta, onde Mor estava com um pequeno sorriso em seu rosto. Ela vestia apenas um suéter vermelho e calças escuras, coladas em suas pernas torneadas.
─ Digamos que tenho grandes motivos para estar pensativo assim.─ Respondeu ele, sentando na cama com seus olhos estrelados presos na fêmea que adentrou no quarto, se sentando no lado dele. Ambos ficaram em silêncio por um bom tempo, até que Mor tocasse em uma das mãos de Rhysand.
─ Não precisa se afogar em dúvidas, ela vai gostar você.─ A loira sorriu suavemente, deitando sua cabeça no ombro do primo.
─ Não, ela não vai, Mor.─ Suspirou.─ Demetria me odeia, isso fica bem claro quando ela me olha e franze as sobrancelhas, parecendo que pensar em todos os problemas que minha morte poderia significar pra ela, desistindo da ideia para apenas voltar a pensar nela.
Mor soltou uma risada, divertida. E o meio-illyriano sabia que ela tinha motivos para estar rindo. Vê-lo naquele estado deveria ser inexplicavelmente hilário, principalmente quando Rhys lembrava-se claramente de ter dito em uma das noites de bebedeira no Rita's que jamais se apaixonaria. O macho franziu o cenho. Realmente, a Mãe tinha um senso de humor meio duvidoso.
─ Ela odeia você, o Grão-senhor. E não, você, o verdadeiro Rhysand que é capaz de se sacrificar para salvar quem ama e todos que moram em Velaris, aquele que é adorado por todas as ruas dessa cidade, o que me salvou quando precisei e que colocou dois bastardos illyrianos nos cargos mais importantes de uma corte.─ Ela disse, da maneira mais suave e sincera.─ Ela vai esse você quando o conhecer, ela vai gostar e até matá-lo. O que quero que ocorra logo, estou louca para saber onde Demetria arranja aqueles vestidos maravilhosos.
Rhysand soltou uma risada soprada, passando um braço por cima dos ombros da sua prima em um abraço meio desengonçado.
─ Não entendi o que engraçado, estou falando sério!─ Mor falou.─ Ela tem um ótimo senso de moda.
E ali estava Demetria, encolhida dentro de um casaco negro que lhe mantinha quente no meio daquela imensidão estéril, sozinha. Afundando suas botas na neve, traçando um caminho até A Prisão, parando apenas quando a face superior da montanha se tornou uma muralha diante dela, mada além de encostas granadas se estendiam atrás, muito abaixo, até onde elas fluíam para o mar cinzento. A fêmea respirou fundo, uma de suas mãos tocando levemente na parede de pedra nua, fazendo com que uma pequena brecha se abrisse naquele enorme muro, como se o amontoado de pedras fosse um pequeno desenho aterrorizante e uma borracha tivesse sido passada em cima de uma pequena parte, apenas o suficiente para que ela passasse pelos portões pálidos, tão altos que o topo parecia perdido entre a névoa, e adentrasse na caverna de um preto tão semelhante ao narquim.
Ela caminhou na escuridão, sem se importar em como aquele silêncio poderia se tornar fatal para si. Novamente, parando para colocar sua palma sob uma pedra lisa revelando uma porta feita de ossos, assim como os portões daquela prisão. Um arrepio subiu pelo corpo de Demetria no momento em que a porta se abriu, os olhos verde-prata analisando rapidamente os desenhos entalhadas no portal. Breu, mal discernível do corredor, era como aquela cela é.
A Dama dos Pesadelos colocou suas mãos dentro dos bolsos de seu casaco, tentando esconder o jeito que suas mãos tremiam quando uma pequena criança surgiu em seu campo de visão. Cabelos curtos e em um tom um pouco mais escuro de castanho, olhos verdes brilhantes. Uma feição séria se mantinha no rosto infantil, antes que um pequeno sorriso se abrisse.
─ Não trouxe nada, e sabe muito bem que nunca o farei.─ Soltou a administradora da Cidade Escavada, entrando na cela, sem a permissão do tão temido Entalhador de Ossos.
─ Sua ousadia ainda causará sua morte, Demetria.─ Seu pequeno ronronar na voz feminina e infantil não passou de um mero deboche da alma antiga direcionado ao pesadelo em sua cela.
─ Prefiro morrer como ousada do que como covarde.─ Respondeu, balançando os ombros, ainda com os olhos verde-prata presos na criança.─ Mas, no final, isso não importa então diga logo o que desejo saber.
Os olhos infantis cintilaram em um brilho perigoso, os cabelos castanhos se balançaram suavemente quando a criança mexeu sua cabeça, um sorriso nos pequenos lábios.
─ Você me lembra muito sua mãe, sabia? Ousada o suficiente para fazer um acordo com a morte.
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