forty three. i have you
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Proprietária do último andar de um prédio que possuía três andares ao lado do rio Sidra, um apartamento de teto inclinado para os dois lados que resultavam em duas imensas janelas, uma mostrando o rio e suas águas calmas e a outra mostrando uma praça arborizada que havia pessoas perambulando entre risadas e conversas. Demetria estalou a língua, sentada de forma confortável no piso, próxima a janela do rio, seus olhos se mantinham na mobília espalhada pela casa, como se sua dona a movesse de forma constante.
Amren mantinha seus olhos mercúrio no livro de metal, os lábios lívidos pressionados um contra o outro e rosto ainda mais pálido.
─ Imaginei que a encontraria pronta para colocar uma corte abaixo, pela audácia de pôr um rubi de sangue em sua cabeça.─ Falou Demetria, afastando uma poeira invisível na saia de seu vestido.
O monstro preso em um corpo feérico ergueu a cabeça, analisando rapidamente as feições da Dama antes de lentamente fechar o Livro e o deixar na mesa em sua frente.
─ Tenho preocupações maiores que uma birra de uma criança como Tarquin.─ Disse Amren.─ Mas, foi aquilo que me convenceu a não destruir Adriata.
Demetria fitou a direção que Amren apontara com o queixo. Era a cômoda, no topo, estava um colar formado de diamantes e rubis que brilhavam de forma estonteante debaixo do sol da tarde. Não demorou muito para que a Dama dos Pesadelos sorrisse, erguendo levemente uma de suas sobrancelhas.
─ Sendo cortejada por um príncipe, besta?
Amren estalou a língua.
─ Tentador, mas não.─ A fêmea de olhos enevoados sorriu, lenta.─ Infelizmente, o glamoroso príncipe de Adriata não sabe decidir se me odeia ou me quer.
Demetria riu, sinos tilintando.
─ Bom, acho que o presente já é um começo de uma decisão.─ A Dama dos Pesadelos suspirou, e rapidamente se levantou, as mãos novamente afastando um grão de poeira invisível de suas saias.─ Já que você não está indo massacrar alguém, irei deixá-la com isso.─ A fêmea disse, lançando um olhar para o livro de metal. Em silêncio, Amren balançou a cabeça e inclinou a cabeça, analisando rapidamente a janela que dá visão a uma praça.
Demetria se moveu na direção da porta. E a voz de Amren soou, como um mero sussurar:
─ Não é mais necessário agir igual à uma fêmea que você não é.
A Dama dos Pesadelos parou. Por um momento, seu cenho se franziu, os lábios se abrindo e se fechando, palavras se perdendo.
─ Do que está falando?─ Perguntou, baixo o suficiente para que sua voz não passasse de um sussuro por cima do suave som da música que vinha das ruas. Amren respirou, agarrando algo no chão, um lampejo de cor surgiu na visão dos olhos prateados.
─ Os vestidos. Não precisa usá-los para provar algo, você não é mais aquela fêmea, é a Dama dos Pesadelos.─ Asseverou aquele monstro enjaulado.
Demetria piscou os olhos, erguendo uma sobrancelha e recuando lentamente um passo, virando-se na direção da imediata.
─ Eu gosto dos vestidos e ─ Respondeu ela.─ não sei o que diabos quis dizer com isso.
Amren a fitou e os lábios se esticaram em um sorriso misterioso.
─ Imaginei que não.
Demetria se manteve em silêncio por longos segundos antes de estalar a língua.
─ Imagino também que nunca parará de fingir que as jóias não são para admirar e sim para nunca estar no escuro da forma que esteve dentro daquela cela.─ Disse a fêmea de cabelos castanhos. O olhar de Amren se tornou afiado em meio a névoa e Demetria se aproximou da porta, a abrindo.─ Feyre virá amanhã, espero que aproveite a companhia.
Havia um sorriso brincando nos lábios de Rhys conforme seus olhos violetas acompanhavam a fêmea retirando os sapatos entre chutes e praticamente arrancando o vestido para fora de seu corpo. Ele deve confessar que soltou uma risada baixa ao vê-la abrir os armários com tanta violência e deslizar o tecido fino de sua camisola pelo seu pequeno corpo. O macho encolheu levemente as asas, abrindo os braços para recebê-la no instante que ela subiu na cama. O cintilar de seus olhos esverdeados pareceu se acalmar quase que instantaneamente quando o viu de braços abertos e sorrindo daquela forma que fazia seu coração acelerar.
─ O que Amren disse que a deixou tão irritada, bebê pesadelo?─ Ele murmurou, aninhando a cabeça da fêmea contra seu peito. Demetria resmungou algo incompreensível. Rhys riu novamente, permitindo que ela abraçasse seu torso, tomando cuidado para que seus dedos não encostassem nas asas.
O macho piscou os olhos, guiando seu olhar para baixo, fitando as feições delicadas contorcidas em uma careta levemente emburrada com o cenho franzido e lábios formando um suave bico que facilmente poderia ser chamado de infantil. Demetria pressionou ainda mais a bochecha contra seu peito, e ele sabia que as orelhas arqueadas ouviam claramente seu peito acelerado.
─ Eu amo você.─ Ele sussurou, deslizando a ponta do dedo ao longo do seu braço, depositando um beijo no topo da cabeça da Dama.
─ Eu sei.─ Ela resmungou, erguendo a cabeça lentamente e o fitando com aqueles olhos esverdeados recheados por manchas prateadas.─ Também o amo.
─ Eu sei.─ Repetiu-a. Demetria sorriu, aquele erguer de lábios que mostrava brevemente seus dentes brancos e quase que fazia seus olhos desaparecer. Era um dos aqueles raros sorrisos, um daqueles que só enxergou um mero lampejo quando estava ao lado de Lionel.
─ É claro que sabe.─ Resmungou ela, cutucando seu abdômen com o dedo indicador, arrastando o dedo pela pele bronzeada, alcançando a tatuagem de montanhas em seu joelho. Demetria cutucou os desenhos de três estrelas no topo de cada cadeia montanhosa com lentidão, quase como se estivesse como preguiça de realizar aquilo.
Ela sabia o significado delas. Lembrava-se de soltar uma risada ao ouvi-lo dizer que as tatuagens representavam que ele não se curvaria para nada e ninguém além de sua coroa. Suas risadas haviam deixado suas bochechas vermelhas e se lembra claramente de ter lançado um olhar mortal para Rhys quando ele a empurrou para fora da cama em tentativa de fazê-la parar de zombar dele.
Ela aconchegou-se ainda mais nos braços do macho. Não havia dito nada a respeito mas sentiu falta de Rhysand, dormia melhor com a certeza que ele estaria ao seu lado quando os pesadelos fossem violentos demais, e exatamente por saber disso que fechou os olhos, abraçando-o com mais força conforme lentamente adentrava no mundo dos sonhos.
Feyre estava prestes a cair no choro, ou pelo menos tentando, após de longas horas conversando com Morrigan os mais diversos assuntos, chegando até mesmo ouvi-la contar entre risadas sobre a época que conheceu Demetria, o jeito que ela continuava a mesma mas ainda assim, completamente diferente. A ex-humana afundou ainda mais sua cabeça no travesseiro quando a casa simplesmente estremeceu, emitindo um gemido. Não demorou muito para que ela sentasse na cama, lançando um olhar para as janelas e franzindo o cenho quando percebeu que os céus estavam simplesmente limpos.
Escuridão, como ondas, escorria pelas as rachaduras na porta. A casa estremeceu mais uma vez. A ex-humana reconhecia aquela escuridão, afinal vivia uma mísera parte daquela magia dentro de si. Ela disparou para o corredor, sendo recebida por aquela escuridão como um vento cheio de estrelas e bater de asas. Dor, desespero, culpa e medo lhe atingiram como um soco.
Cega, Feyre tentou seguir aquele fio frágil e mágico criado pelo acordo, buscando pelo quarto de onde aquela escuridão vinha. A fêmea tatuou o vazio e tropeçou algumas vezes nos próprios pés, um grito surpreso escapou de sua boca quando seu corpo se chocou contra um outro.
─ Feyre?─ Murmurou Demetria. A ex-humana balançou a cabeça, esquecendo-se por um momento que a feérica de cabelos castanhos não lhe enxergava. Feyre abriu a boca, pronta para perguntá-la sobre Rhysand quando sentiu seu braço ser agarrado por mãos pequenas.
─ Está sonhando.─ Dissera como se tivesse lido a mente da ex-humana, puxando-a levemente para o lado e então, os cabelos loiro-acastanhado voaram ao serem atingidos por mais estrelas e vento.
─ Rhysand.─ Chamou Demetria, não pareceu bem um chamado, era baixo demais. Feyre notou que ela estava usando seus dons de daemati, arranhando e gritando para os muros que cercavam a mente de Rhysand, empurrando-os, forçando-os para que pudesse entrar, tirá-lo de seu terror noturno.
─ Rhysand!─ Gritou Demetria, após um longo silêncio angustiante. Feyre sentiu quando ela se afastou, tentou segui-la apenas para se deparar com uma barreira, uma que sabia muito bem que quem havia a colocado ali era a Dama dos Pesadelos.
Feyre não viu quando Demetria chiou no momento que suas canelas se chocaram com força na cama, subindo na mesma e tateando o colchão, procurando pelo seu parceiro, onde o vira antes de descer até o primeiro andar e tomar um chá quando acordou no meio da madrugada. Primeiro, suas mãos alcançaram o que sentiu ser sua barriga, deslizando para cima até que seus dedos roçassem em seu queixo. Demetria franziu o cenho, preocupada, a pele do macho estava fria debaixo de suas palmas.
─ Rhysand.─ Chamou ela mais uma vez. Mais uma vez, gritando contra aqueles muros cercando a mente dele. Ela mordeu os lábios, sentindo o gosto de sangue explodir. Não deveria ter o deixado sozinho, não depois de enxergar as sombras em torno de seus olhos púrpuras. Deveria saber que a situação de Tarquin, as dúvidas que geraram e as lembranças que trouxeram acabaria sendo um gatilho para ele. Deveria saber...
Com uma respirar fundo, uma mão se ergueu, afastou-se e atingiu o rosto do macho. Uma, duas, três vezes. Demetria continuou a rugir para seus muros mentais, puxando o laço que os ligava, o estapeando até que sua palma estivesse vermelha o suficiente. Seus olhos já estavam cheios de lágrimas não-derramadas quando seu corpo foi pressionado contra o colchão.
Demetria piscou os olhos, respirando quando encontrou aquelas orbes violetas a fitaram, arregaladas e analisando.
─ Demetria, ─ Ela tossiu, notando que sua voz fraquejou levemente.─ seu demônio, lembra?
Aos poucos, a escuridão se foi, a luz prateada da lua adentrou no quarto acompanhada do som das ruas de Velaris.
─ Demetria.─ Repetiu Rhys, a respiração irregular. Ela balançou a cabeça. O macho respirou fundo, os olhos indo até as mãos que agarravam os pulsos da fêmea, prendendo-a no colchão e a soltando instaneamente.
Demetria sentou-se enquanto Rhysand desabava ao seu lado, as mãos esfregando seu rosto com força. Ela lançou um olhar para Feyre. A ex-humana fechou os olhos, respirando fundo, parecendo aliviada quando recuou e saiu do quarto. Demetria piscou os olhos, lágrimas escorreram por suas bochechas mas ela tratou de limpá-las com rapidez.
─ Vou trazer algo para você.─ Disse, escorregando para fora da cama e saindo dali em passadas rápidas. Demetria enganchou seu braço no de Feyre, assim que a encontrou encostada em uma parede próxima das escadas, parecendo a esperar.
Quieta, Feyre observou Demetria retirar a panela pequena do fogo, despejando a água aquecida ali em uma xícara já com folhas de chá. A Dama dos Pesadelos não disse nada quando chegaram ali e a primeira coisa que fez foi deslizar um prato com um único pedaço de torta na direção da Quebradora da Maldição, guiando-se para o fogão.
─ Faz quanto tempo?─ Perguntou Feyre, partindo um pedaço da torta e a guiando até seus lábios, sem realmente sentir fome. Demetria ergueu o olhar, lentamente abaixando a mão e depositando a pequena panela na superfície da mesa. Ela espreitou os olhos e então, piscou os olhos como se tivesse acabado de despertar.
─ Faz quanto tempo que, você sabe, os pesadelos?─ Perguntou, triturando a massa macia da torta com os dentes.
─ Desde de Sob a Montanha.─ Respondeu, algo em seu tom disse a Feyre que era melhor não perguntar mais sobre aquele assunto e ela entendia. A situação não podia ter sido a melhor mas se lembra claramente de como se sentiu na primeira noite que Tamlin acordou após um pesadelo, o jeito que ele se transformou em fera e velou seu sono.
Seus pensamentos foram cortados com um suspiro de Demetria, agilmente ela cortou um pedaço da torta, pegando o doce entre os dedos e mordendo-o enquanto virava de costas para Feyre. Ela ficou em silêncio por um instante, mas logo, fungou. A ex-humana piscou os olhos, surpresa ao notar que Demetria estava chorando. O cheiro de sal que infestava o ar não lhe contradizia.
─ É minha culpa. Ninguém diz e provavelmente jamais irá, mas eu sei.─ Ela disse, enchendo os pulmões de ar, erguendo as mãos e livrando as bochechas das lágrimas.─ Cinquenta anos sendo chamada de vadia, o Grão-Senhor mais poderoso sendo tratado como nada.─ Ela respirou mais uma vez. Tentando se acalmar, notou Feyre.─ Nada teria acontecido se eu...─ Ela se interrompeu, balançando a cabeça e quando se virou novamente para a ex-humana, era a Demetria que ela conhecia, a Dama dos Pesadelos.
Sem dizer mais nada, ela pegou a xícara de chá e saiu da cozinha em passos lentos, segurando com força a porcelana entre seus dedos. Feyre abaixou o olhar, encarando a torta em seu prato, se dando conta que todos dentro daquela casa estavam quebrados e de uma maneira confusa, tentavam se apoiar do jeito que conseguiam.
Cassian retornou das Terras Humanas, irritadiço. Demetria sabia disso, antes mesmo que o general adentrasse na biblioteca e a encontrasse movendo uma peça de xadrez no tabuleiro sem pressa. Era mais uma semana de espera, aguardando que Amren reaprendesse uma língua morta e a resposta das rainhas ao pedido de um encontro, esse último sendo o motivo pelo qual o illyriano general havia ido até a residência das Archeron na vila mortal em que moravam.
─ Deveria tomar um banho.─ Dissera a ele, os ombros se movendo levemente quando encostou-se no estofado da poltrona em que estava sentada. Cassian a olhou e Demetria o olhou.
─ Talvez devesse tentar ser um pouco mais clara na próxima vez e dizer que estou fedendo logo, demônio.
─ Tudo bem.─ A fêmea sorriu, lenta e de uma forma que fez com que ele se arrependesse de ter a provocado mais uma vez, sabendo que ela costumava responder de uma forma pior.─ O vento não dispersou o cheiro, então se não quer ouvir as perguntas de Mor, acho que deveria tomar um banho. Fui clara o suficiente, bastardo?
Cassian resmungou incompreensível, chutando o invisível e quase atingindo a mesa em frente a Demetria. A fêmea estalou a língua, lançando um olhar repreensor na sua direção fazendo com que o macho instaneamente encolhesse os ombros. Meio século se passou e ainda possuía aquele medo quase incompreensível do cintilar que habitava nas orbes esverdeadas, a sensação que aqueles olhos passavam era quase a mesma de quando ultrapassou os limites de toda sua estupidez inconsequente ao mergulhar na direção do poço de escuridão da biblioteca das sacerdotisas.
─ Se ver Azriel, ─ Ela soltou quando ele estava prestes a atravessar as portas da biblioteca, indo se banhar da forma que a fêmea havia sugerido.─ diga a ele que eu estou ordenando que pare de se forçar contra as malditas barreiras daqueles castelos e descanse um pouco.
Cassian virou-se, as asas farfalharam no momento que Demetria se inclinou, voltando a mover as peças no tabuleiro.
─ E por que você mesma não fala isso para ele?
─ Acredite, bastardo, se eu pudesse jogaria Azriel por estas escadas só pela audácia de me ignorar.─ O general analisou as feições da Dama dos Pesadelos e soltou uma risada nem um pouco discreta.
─ Ele tá fugindo de você?─ E a careta que Demetria fez lhe pareceu uma resposta e um aviso o suficiente para ele, se lançar nos corredores da Casa do Vento, ainda liberando risadas.
Demetria e Rhysand se encontravam em Cesere na companhia de algumas sacerdotisas sobreviventes para discutir a reconstrução do templo destruído por Hybern. A Dama dos Pesadelos franzia levemente o cenho, os dedos tambolizando na superfície da mesa de madeira enquanto seus olhos se encontravam fechadas, as orelhas arqueadas se movendo, reagindo até o barulho mais baixo ao seu redor.
Rhysand respirou fundo, cruzando os braços e mantendo os olhos estrelados na sua parceira. Ele já havia notado que fazia dias que a fêmea parecia arrumar todas as desculpas possíveis para evitar estar sozinha em um cômodo com ele.
Sempre escorregando para fora da cama antes do amanhecer e se deitando quando tinha certeza que ele estava no mais profundo sono. Demetria estava fugindo, desde aquela noite e Rhys não entendia o porquê.
Ela já havia o acolhido em seus braços após seus costumeiros pesadelos, que sem dúvidas eram piores quando estavam Sob a Montanha. Mas, agora não precisa sequer suportar o mesmo ar que o dele.
Sua parceira, aquela que amava mais do que a si mesmo, estava lhe evitando. Às vezes, aquilo fazia com que seus pensamentos fossem longe demais, dando atenção demais aos mínimos sinais de insegurança que sentia desde que encontrou Demetria, cinquenta anos atrás.
A reunião com as sacerdotisas haviam terminado cedo demais. Foi acordado que as sacerdotisas podiam escolher ficar na Cidade Escavada ou em Velaris, na biblioteca enquanto as reformas aos poucos seriam feitas, ambos deixaram bem claro que elas estariam protegidas completamente em ambos os lugares e assim tudo aquilo terminou.
Porém, Demetria e Rhysand continuaram ali, haviam recebido o convite que jantarem na companhia das seguidoras do Caldeirão e não tiveram coragem de recusar.
─ Irá continuar até quando?─ Perguntou ele, estalando a língua. Lentamente, Demetria virou o rosto para fitá-lo. Rhys ignorou aquele aviso que fez com que seus poderes tremeluzassem dentro de seu ser, como se soubessem o que aquele cintilar nos olhos da fêmea significavam.
─ Seja claro, Rhysand.─ Ela disse.─ O que quer dizer com “irá continuar até quando”?
─ Apenas um curioso querendo saber até quando sua parceira irá o ignorar como se não fossem nada.─ Falou ele, sem notar que seu tom soou agressivo demais, o suficiente para que Demetria piscasse os olhos, o cintilar se tornando mais forte quando se inclinando na direção do Grão-Senhor, quase que imperceptivelmente.
─ Eu não conversar isso com você, agora.
Rhys riu, o deboche pareceu inundar o ambiente, impedindo de Demetria de respirar por meros instantes.
─ E vai conversar quando? Quando se esconder na Casa do Vento para não olhar no meu rosto?─ Casualmente, cutucou a madeira da mesa com a ponta do dedo.
Demetria torceu o nariz. Ela não deveria se sentir tão irritada. Ele só queria uma conversa, discutir um assunto que às vezes tirava seu sono, mas aquele tom... Pela Mãe, como ela o odiava.
─ Não faça isso, Rhysand.─ Ela tambolizou os dedos na superfície da mesa mais uma vez. Os olhos se tornando cada vez mais afiados. O Grão-Senhor não recuou.
─ E o que eu deveria fazer?─ Perguntou.─ Vamos, me diga, Dama dos Pesadelos. O que devo fazer quando minha parceira me ignorar? Será que devo aceitar seu silêncio ou talvez aceitar que ela sempre foge?
Demetria não disse nada.
─ É a mesma coisa, Demetria. Você se depara com uma situação que não sabe lidar e sempre me evita, me ignora e simplesmente age como se eu não existesse.
─ O que você quer?─ Questionou ela, a voz mal passando de um sussuro. Rhys se levantou, o som da cadeira em que estava sentado soou quando a mesma caiu no movimento feito. Demetria piscou os olhos vendo espalmar as mãos na mesa.
─ Rezei para quem estivesse ouvindo, todos os dias, apenas por esse momento. Apenas sonhando e desejando que as estrelas cumprissem meu desejo de finalmente estar ao seu lado. Para que cumprissem meu desejo de beijar você todos os dias e deixá-la saber que nunca, jamais, irei sair do seu lado, mesmo que peça e implore para que eu vá.─ Ele respirou, apertando as mãos em forma de punhos.─ Sou seu, Demetria, mas você foge de mim, só me diga a porcaria do problema para possa abraçá-la e protegê-la.
O silêncio dentro daquela sala só era cortado pelo som de suas respirações aceleradas, de seus corações batendo em sincronia. Os olhos verdes como o mar da costa da Corte Estival, mas ainda assim tão encantadores quanto, continuaram fixos nele, até mesmo quando a fêmea se levantou lentamente, uma mão se esticando e tocando em sua pele, entrelaçando seus dedos nos dele.
─ Você não merecia tudo aquilo, sabe disso, não sabe?─ Ela murmurou. Rhys se viu surpreso, ele acreditava que nunca ouvido a voz da Dama dos Pesadelos tão frágil.─ Ser chamado de vadia e ser fodido até quase esquecer quem era, você não merecia passar por tudo isso, Rhysand. Eu o tornei em nada. Como consegue olhar para mim todos os dias e saber que tudo que passou naquele lugar foi por minha causa?
Rhysand não disse nada por um instante. Apenas se manteve fitando seu rosto, não demorou que desfizesse o entrelaçar de seus dedos com a fêmea e então, recuando um passo para desaparecer. Demetria piscou os olhos, por um momento seu coração parou ao notar que Rhysand havia atravessado. Um suspiro surpreso escapou por seus lábios rosados quando sentiu uma respiração contra sua pele, mãos puxaram sua cintura em um abraço forte.
─ Jamais vou culpá-la por algo que estava fora do nosso controle.─ Disse Rhysand, apertando o corpo da fêmea contra o seu.─ Nunca fui nada, eu tinha você ao meu lado e isso bastava. Você me manteve inteiro quando tudo parecia estar prestes a me quebrar, você me deu as forças que precisava para aguentar tudo e muito mais. Demetria, me escute...─ O macho a virou, encostando sua testa na dela e fitando seus olhos de perto, notando que aquelas orbes esverdeadas que pareciam brilhar mais naquele momento.─ Posso até ter sido nada, mas ainda era seu e isso bastava para mim. Eu tinha você e isso é o suficiente.
Demetria piscou os olhos, abaixando a cabeça e guiando a mão para seu rosto, liberando uma risada trêmula que aos poucos foi sumindo deixando claro os soluços que escapavam por seus lábios.
Rhysand não hesitou em abraçá-la mais uma vez.
─ Eu amo você e nunca vou parar, meu bebê pesadelo.
A fêmea assentiu, ainda com o rosto mergulhado nas suas palmas. Rhys sorriu suavemente, depositando um beijo nos fios castanhos da fêmea, continuando apertá-la.
Surtada, pq a fic chegou a 100K e
meu deus não tenho nem palavras,
juro-
Muito obrigada a
todo mundo que lê 'Corte dos
Pesadelos' e comenta, me divirto
muito com os surtos! Obrigada por
todo mundo que fez com que a fic crescesse e se tornasse o que é
agora. Sério, vocês melhoram meus
dias e, vamos parar aqui senão eu
choro...
Enfim, muito obrigada!
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